sábado, 15 de dezembro de 2012


Não. Eu me recuso a responsabilizar o próximo ano pelas mudanças que eu sou capaz de fazer hoje. A vida é dinâmica; vê, depois de um sol flamejante, chove torrencialmente lá fora. Por que a espera se há vida pulsando e sangue correndo nas veias? Não há momento certo: o tempo de mudar é agora.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012



"Os dias que eu me vejo só
São dias que eu me encontro mais
E mesmo assim eu sei tão bem
existe alguém pra me libertar."



E subimos aquela pedra como se fosse a última coisa no mundo para alcançar. O fim, nada, tudo. Para testar nossas asas, para encontrar um rumo e, à beira do precipício, quem diria, respirar fundo e ver o mar. Aquela linha que se desfaz além do horizonte e parece não acabar. Foi-se a dor. À beira do abismo encontrei amor.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Carta a um ausente ( ou sobre desgastes)

Tive dúvidas quanto ao uso do grafite. Não sei se ele merece ser gasto com as palavras que eu vou escrever. Não sei se essa folha em branco merece ser manchada com qualquer coisa que diga respeito a você. Mas faço isso por mim, porque não aceito ultimatos, embora o resultado final seja esse e, por menos ansiado que fosse, em algum momento ele aconteceria. Eu poderia ficar aqui tentando me explicar, expor meus motivos, argumentar para tentar te convencer que as coisas não são preto no branco como você acha que são. Poderia, também, apontar todas as coisas que eu compreendi e suportei pra estar ao seu lado, quando pra mim amar era isso: aguentar firme por algo que parecia, veja só, parecia certo e válido. Agora, eu só posso te dizer isso: não me valeu. O meu objetivo em perder tempo e desgastar meu grafite é apenas te dizer que o amor é paciente. Que o amor, quando é amor, suporta o que é passível de ser suportado. O amor aguenta, resignado, ausências, faltas, falhas, erros, porque o amor é imperfeito, assim como nós, humanos. Se você não conseguiu entender isso, a única coisa que eu posso dizer é que não era amor. Não era amor, não era nada de muito importante, não era. E se era, acabou naquele mesmo instante em que tantas decepções foram causadas pela pessoa que, até então, era o sol da minha vida. O centro, o calor, o sentido. Agora, você não passa de uma pessoa que eu pensava que conhecia. Agora que de fato conheço, não gosto mais. Você pode ter certeza que a dor que dói em você também dói em mim, talvez mais, porque eu não tive chances. Dói porque eu não sinto tanta raiva de você, sinto mais raiva de mim, por ter acreditado que a minha felicidade estava em você, por ter me emaranhado nessa teia. Nunca vou esquecer disso, nunca vou me perdoar por isso. Saio disso que nem sei como nominar com a cabeça erguida, com a certeza de que tentei, pelo menos, fazer dar certo. Que entendi, quando eu poderia ter jogado tudo pro alto. Que chorei inúmeras vezes sem você saber, porque doía demais estar naquela situação e doía mais ainda sair dela. Agora simplesmente não dói. Saio disso com o coração leve e a consciência tranquila, pois não fiz nada de propósito, com a intenção de  magoar, enganar ou trair. Eu não fui desleal. Afinal, esse adjetivo se aplica a você. No mais, acho que escrever com grafite foi o mais adequado. Posso apagar todas essas palavras que não valem a pessoa que as lê agora, posso apagar você e todas as nossas memórias. E por mais que o papel em branco fique manchado, nele posso escrever uma nova história: menos triste, menos dolorida, mais real e mais bonita. E quando essa história acontecer, vou escrevê-la a tinta.


(Julho/2011)

terça-feira, 20 de novembro de 2012


Um punhado de chuva caiu na hora em que virei as costas e decidi, sem você, seguir. A roupa molhada, o vento frio eriçando os meus pêlos, bagunçando, além dos meus cabelos, as palavras. Os dentes batiam enquanto na urgência de calor eu me abraçava. Sozinha, talvez. Mas não solitária. 

Um punhado de areia foi lançado em minha direção enquanto eu caminhava. No desespero da aparente cegueira, meus olhos eu esfregava, mal sabendo que um grão, na miudeza do seu ser, ao incomodar,  fazendo doer, só nos deixa em paz quando cerramos os cílios, transbordando d'água, deixando a lágrima escorrer. O grão de areia vai embora nessa sutileza. Se é choro ou chuva, tanto faz . Deixa ser: que leve embora a tristeza e não deixe voltá-la mais.

Grãos



Há barulho demais nos meus silêncios.

*


Talvez amar seja isto: perdoar, perdoar e, no final das contas, doer e sangrar. Sozinho.


*


E se as nuvens negras se dissipam no meu ato de escrever, é porque com palavras eu planto sementes. E faço chover.



*



Amor, assim como a poesia, a gente sente e cria.
Amor talvez seja apenas mais uma palavra procurando rima




*


domingo, 11 de novembro de 2012

O que sobrou da dor


É que hoje é domingo e o sol anunciou um dia lindo, desses que dão vontade de abrir as cortinas e, intensamente, beber a vida. 
Hoje é um daqueles dias em que você olha pro espelho e ensaia um sorriso, só porque Deus (ou seja lá que força maior) te concedeu calor quando tudo ao redor era triste e frio. Novembro trouxe tanta chuva e, sabe-se lá o porquê, logo hoje o Universo foi gentil contigo.
Então agradeço. Apesar dos vazios que me preenchem por dentro,  e do silêncio que a palavra não alcança, eis o que sobrou da dor: fotografias recém-chegadas do correio que retratam a beleza de outros dias, quando o que havia era poesia e alegria pura e genuína, uma história de verdade; e o sol, trazendo, além de novas     oportunidades, a certeza de que há muito a ser vivido,  quando tudo o que eu sinto agora se encerra nisto: saudade.


terça-feira, 6 de novembro de 2012


Que os teus olhos são espelhos
E me perco ao mirar em você minha retina
A tal solidão de amigos
De quem, embora perdido
Encontra na imensidão do olhar companhia

E abrigo. 

sábado, 3 de novembro de 2012

Adeus a dor

O fim sempre é o mesmo: a gente acaba se rendendo a algumas lembranças e inevitavelmente transforma tudo em lágrimas. O primeiro momento é sempre mais difícil, porque de alguma forma parece que a gente desaprendeu a dar algum passo, estamos sós e meio perdidos, não sabemos o que fazer com todo esse espaço. Depois vai ficando mais fácil, uma sensação de liberdade te invade e você percebe que nada é certo e duradouro e que a dor tem tempo determinado.
Quando se aprende a dizer adeus, não há porque remexer o passado, afinal de contas ainda há páginas em branco e muitas histórias a serem escritas. Quando se aprende a dizer adeus, você limpa a sua retina, passando a enxergar com clareza que solidão também é companhia.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012


E não esquecendo sempre que depois que a neblina se dissipa, um belo e ensolarado dia se anuncia.

domingo, 21 de outubro de 2012




Não há outro jeito para quem nasce com nuvens negras por dentro: só resta mesmo chover.

It's only lies that I'm living
It's only tears that I'm crying
It's only you that I'm losing
Guess I'm doing fine

O que a palavra alcança

Quando o medo paralisa de tal forma que a única ação possível é a desistência. Não é nada grave, os dias só tem sido cinzas demais, tudo se mostra inadequado, me falta paciência. Engulo o grito que surge inesperado, parece uma crise de abstinência. Somem as palavras, não há jeito certo, perde-se o tato. Então eu me tranco no quarto e choro enquanto me consolo, olhos mirados no espelho. Nada demais, me convenço. Tudo passa, não me iludo mais. Sequer tento. Mudar tem dessas coisas, já ouvi por aí. Só não sabia que os abismos seriam tantos. E que todos eles estariam dentro de mim.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Atrás da porta




"Don't fool yourself, she was heartache from the moment that you met her."

Hoje eu fiquei parado na tua porta. Sentado no chão, no meio do corredor, impedindo a passagem. Mas ninguém chegava. Nem você. Nenhuma miragem. Esperava falar tantas coisas, pensava muito e tanto, deixando as lágrimas desenharem sua rota pelo meu rosto, morrendo nos lábios, sal a gosto. Fitava o branco das paredes, aos poucos o sol tecia a manhã, mas ainda estava nublado. Ali os tons são sempre mais cinzas, o clima é muito pesado.
Hoje eu fiquei parado na tua porta numa espera que se mostrou ilógica. No fundo sempre há aquela luzinha verde de esperança indicando uma insistência. Ela só não sinaliza o porquê. São muitas as inconsistências. Isso apavora.
Hoje eu quis ouvir alguma voz do outro lado da linha. O telefone chama e ninguém atende. Ninguém abre quando eu bato na porta. Não há poesia em nada disso, só verdade. E a verdade, quando encarada assim, machuca demais. Dói dentro, dói fora.


Hoje eu fiquei parado na tua porta. Na espera incessante era eu mesmo que me fazia companhia. Todos estamos e somos um pouco sós. E será sozinho que aprenderei a desatar o(s) nós que havia.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Quando o verão chegar

Quando o verão chegar vestirei amarelo, quase nunca ouso (o)usar. Vou me banhar de raios de sol e me pintar com a luz do luar. Quando o verão chegar vou andar descalça pela praia e serei tragada pelas ondas do mar. Vou procurar estrelas, colecionar conchas, contar grãos de areia. Encantarei marinheiros com as canções que eu entoar. Quando o verão chegar vou me transformar em sereia. Quando o verão chegar o céu será de um azul  tão brilhante que se confundirá com a água além do horizonte. Quando o verão chegar boas coisas virão, quentes e sedutoras, próprias da estação.  Quando o verão chegar será o momento apropriado para transformar: todo dia poesia, todo dia há mar.



sábado, 29 de setembro de 2012

Mudança

Girando, girando
Mudando no compasso da dança
Mesmo quando a música para
O ritmo a alcança

Os pés deslizam pelo chão
As mãos insistem em balançar
Tudo é tom, tudo é som
Nada pode fazê-la parar

Bailarina de histórias
Dançarina de lembranças
Com seu vestido mais bonito
Ela se equilibra em esperanças

O ritmo se resume a isto:
Não adianta fechar a porta
A mudança é por dentro
E af(l)ora.

sábado, 15 de setembro de 2012

Epitáfio

Foi-se o tempo
foice que cava
matando a palavra
por dentro
Quando tudo o que resta
do túmulo de sentimentos
jazigo perpétuo do pensamento
É apenas silêncio
Mais nada.

sábado, 1 de setembro de 2012

Quando setembro vier

De tão azul, o céu parecerá pintado. E nós embarcaremos logo rumo à ilhas Cíclades.
Houvesse cortinas no quarto, elas tremulariam com a brisa entrando pelas janelas abertas, de manhã bem cedo. Acordei sem a menor dificuldade, espiei a rua em silêncio, muito limpa, as azaléias vermelhas e brancas todas floridas. Parecia que alguém tinha recém pintado o céu, de tão azul. Respirei fundo. O ar puro da cidade lavava meus pulmões por dentro. Setembro estava chegando enfim.
Na sala, encontrei a mesa posta para o café — leite e pão frescos, mamão, suco de laranja, o jornal ao lado. Comi bem devagarinho, lendo as notícias do dia. Tudo estava em paz, no Nordeste, no Oriente Médio, nas Américas Central, do Norte e do Sul. Na página policial, um debate sobre a espantosa diminuição da criminalidade. Comi, li, fumei tão devagarinho que mal percebi que estava atrasado para o trabalho. Achei prudente ligar, avisando que iria demorar um pouco.
A linha não estava ocupada. Quando o chefe atendeu, comecei a contar uma história meio longa demais, confusa demais. Só quando ele repetiu calma, calma, pela terceira vez, foi que parei de falar. Então ele disse que tinha acabado de sair de uma reunião com os patrões: tinham decidido que meu trabalho era tão bom, mas tão bom que, a partir daquele dia, eu nem precisava mais ir lá. Bastava passar todo fim de mês, para receber o salário que havia sido triplicado.
Desliguei um pouco tonto. Então, podia voltar a meu livro? Discreta e silenciosa como sempre, a empregada tinha tirado a mesa. No centro dela, agora, sobre uma toalha de renda branca, havia rosas cor de chá, aquelas que Oxum mais gosta. No escritório, abri as gavetas e apanhei a pilha de originais de três anos, manchados de café, de vinho, de tinta e umas gotas escuras que pareciam sangue. Reli rapidamente. E a chave que faltava, há tanto tempo, finalmente pintou. Coloquei papel na máquina, comecei a escrever iluminado, possuído a um só tempo por Kafka, Fitzgerald, Clarice e Fante. Não, Pedro não tinha ido embora, nem Dulce partido, nem Eliana enlouquecido. As terras de Calmaritá realmente existiam: para chegar lá, bastava tomar a estrada e seguir em frente.
Escrevi horas. Sem sentir, cheio de prazer. Quando pensava em parar, o telefone tocou. Então uma voz que eu não ouvia há muito tempo, tanto tempo que quase não a reconheci (mas como poderia esquecê-la?), uma voz amorosa falou meu nome, uma voz quente repetiu que sentia uma saudade enorme, uma falta insuportável, e que queria voltar, pediu, para irmos às ilhas gregas como tínhamos combinado naquela noite. Se podia voltar, insistiu, para sermos felizes juntos. Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim, e aquela voz repetiu e repetia que me queria desta vez ainda mais, de um jeito melhor e para sempre agora. Os passaportes estavam prontos, nos encontraríamos no aeroporto: São Paulo/Roma/Atenas, depois Poros, Tinos, Delos, Patmos, Cíclades. Leve seu livro, disse. Não esqueça suas partituras, falei. Olhei em volta, a empregada tinha colocado para tocar A sagração da primavera, minha mala estava feita. Peguei os originais, a gabardine, o chapéu e a mala. Então desci para a limusine que me esperava e embarquei rumo a.
PS — Andaram falando que minhas crônicas estavam tristes demais. Aí escrevi esta, pra variar um pouco. Pois como já dizia Cecília/Mia Farrow em A cor púrpura do Cairo: “Encontrei o amor. Ele não é real, mas que se há de fazer? A gente não pode ter tudo na vida...” Fred e Ginger dançam vertiginosamente. Começo a sorrir, quase imperceptível. Axé. E The End.

(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quando você me deixou

Para Danielle, tão íntima dos abismos quanto eu.


Quando você me deixou. E eu sequer preciso terminar a frase ou elucubrar sobre o assunto. Não há porque continuar a sentença, quando eu mesma simplesmente continuei na vida. Foi ali, exatamente ali, você me deixando, além do amargo na boca e um soco no estômago: você me deu também uma carta de alforria. 
Quando você me deixou. Eu poderia falar sobre a frieza que persistiu no lugar de tudo aquilo que eu sentia, poderia falar sobre a raiva, poderia falar sobre melancolia. Mas não. Tudo de ruim acabou pra mim naquele dia. 
Quando você me deixou. Vê, eu aprendi a usar a primeira pessoa do singular. Eu. Somente eu sei das noites que atravessei construindo barreiras em torno de mim, das insones madrugadas, da tentativa de resgatar alguma coisa bela da ruína para perceber que no fim da linha, não se engane, não sobra nada.
Quando você me deixou. A solidão, andando comigo de mãos dadas, me deu a chance de contemplar os dias, quando uma distorção de você era tudo o que eu via . O escuro da noite me bastaria, mas quando você me deixou, ele serviu apenas de inspiração para poesia.
Quando você me deixou. Eu não preciso de ninguém.
Quando você me deixou. Eu também amanhecia.
Quando você me deixou. 

Amém. 




A - gosto


E aí eu concordo com Caio Fernando quando ele fala que agosto é difícil. E que há métodos de atravessá-lo de forma que o prejuízo seja o menor possível. De forma que a passagem por ele seja menos dolorosa. Talvez você que me lê agora não entenda o porquê das sombras que permeiam o oitavo mês do ano. Caio, sol em virgem como eu, sabia. No fim das contas, repito o que um amigo disse, cético quanto às lendas do inferno astral: "Não, não é agosto. É a vida". O jeito é continuar. 
Setembro chega.
E isso tudo vai passar.


Em 09/08/12.

Even if the road seems really hard to pass by, it always leads to this:
Us

The charming man and the girl with the thorn at her side
Endless love till the end of time

Although storms insist on falling
May sunny days wash it all away
Our bond is strong, our love is true


(it’s just “I love you” I’m trying to say)

domingo, 19 de agosto de 2012

Sobre o que eu não sei dizer


Poderia começar abusando dos clichês: é mais uma daquelas fases, é temporário, vai passar, porque sempre passa. Digo apenas que é preciso. 
Há tempos tenho sentido um descompasso por dentro. Sentimentos contraditórios, pensamentos desconexos e uma sensação de vazio até então inédita. Passei a me acostumar com o fato de talvez estar perdida. Ou ser, não sei. Peço desculpa se pareço dispersa. Essa é a minha vida. 
As palavras fugiam de mim. Quando o encontro, aleatório, acontecia, era porque eu estava de alguma  forma alterada: álcool e cigarro, duas vãs companhias. Eu preciso da distância e da solidão. Preciso desse afastamento do mundo para poder me reencontrar. Perdi minha identidade enquanto tentava modificar a minha vida, e em tentando dar algum passo descobri que o caminho talvez não fosse aquele que eu queria. Pensar por si mesmo demanda coragem, força e auto estima, odeio admitir que passei a enxergar em mim a covardia alheia. Passei a fugir o olhar ao me encarar no espelho. "Quem estou tentando enganar?, era o pensamento que sempre me ocorria. Porque nada estava bem. Porque ir embora era tão mais doloroso que ficar, por isso eu resistia. E de tudo o que aconteceu, um sentimento persistente de inadequação restou, juntamente com as palavras. Muitas delas não - ditas, sufocadas, entrelinhas. Tudo o que eu sentia, mas não sabia dizer. Covardia.

O que eu quero dizer aos poucos está sendo dito. Uma crise desequilibra, traz incertezas, põe nossos pés no chão. Uma crise também nos impulsiona a mudar. Que seja assim, então. 

Dia após dia.


"Make a time to find your way"

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


Há quem diga que o meu trajeto é tortuoso e errado
Porque caminho, aos tropeços, em qualquer direção.
Qualquer passo é válido quando não se quer ficar parado.
Mal sabem eles que adoro a contramão.

Tentativa


Menos um cigarro na boca, menos fumaça embaçando a visão. Dissipo com as mãos o que há de turvo e nebuloso na minha vida, me desprendendo de armadilhas, aprendendo a dizer não. 

Não à insegurança, não à tristeza, não à amargura, não à hipocrisia.
Não à mentira , não à ilusão, não à monotonia.
Não a tudo aquilo que estagna. Não ao medo que paralisa.

Que permaneçam vivas a coragem, a vontade, a mudança, a liberdade. 
Que as palavras andem sempre de mãos dadas comigo, rendendo um romance chamado poesia. 

Pelas novas chances, então: um brinde à tentativa.





A vida é muito frágil. Efêmera. A falsa impressão de que temos tempo de sobra nos ilude diariamente, fazendo com que adiemos projetos, vontades, ideias, sentimentos. É muito triste que esse pensamento apenas nos ocorra quando da perda repentina de pessoas próximas, queridas e jovens, nos enchendo de incertezas quanto ao futuro.
A verdade é que o amanhã não existe. O que importa é o presente. O agora é tudo.

Que a ausência de quem estimamos nos dê a real dimensão de quem somos e do que podemos fazer para alcançar a felicidade. 

"Engraçado as pessoas usarem o termo vida como oposto de morte. O oposto da morte é o nascimento. A vida não tem oposto."

(Em memória de Thabata Saliba e Iwna Mello, que se foram cedo demais. À Jordana Sahib, inspiração de vida e alegria, que há 4 anos deixou um vazio que nada nem ninguém preenche. À vida de cada uma delas que ainda resiste dentro de nós.)

Em 11/08/12

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Carta para alguém de dentro




Foi por fechar os olhos. Por não ter temido arriscar, mergulhar, naufragar. Morrer. É preciso morrer muito durante a vida. É preciso cair inúmeras vezes, rastejar, ralar os joelhos, levantar. Seguir. Foi por fechar os olhos. Foi por não temer, não voltar atrás, foi por querer, eu sei. E a vontade também mata. Foi por fechar os olhos. Foi por esperar, ansiar, arriscar. Perdendo sono, perdendo os nervos, perdendo a sanidade. Sim, foi por fechar os olhos. Foi por achar que as melhores coisas vividas, para serem melhor sentidas, não precisam ser vistas. Foi porque eu acreditei que era verdade.

Foi por fechar os olhos e esperar por alguém que curasse a ferida. Foi por parar no caminho. E só foi por fechar os olhos que ainda não encontrei a porta de saída.

terça-feira, 17 de julho de 2012

"E o teu silêncio
é o som de uma celesta
nos mangues frios
caligrafia
da mecânica celeste"



Para Sérgio Fróes


Eu não te leio, não te entendo
Não te decifro, mas me enleio
Nas tuas tramas, tuas histórias tão certas
Me cegam e me encantam
Devaneio

Esse teu jeito meio Álvares de Azevedo
Meio Gregório de Matos, tão debochado
Esse teu escárnio, esse teu encanto...
Em você me espelho, em você me lanço

Eu nem precisaria colocar em palavras
O que ser Sérgio significa
É aquele que protege, a melhor companhia
Dos sorrisos certos, de cigarros acesos
De ser único e muitos ao mesmo tempo
Gêmeos
E os meus versos mais sinceros nessa poesia.

Sempre dei muito sentido a tudo que me rodeava: uma flor esquecida na janela, um abraço, um sorriso, momentos de alegria e de raiva, uma canção, um amor, uma palavra. Sempre mergulhei intensamente no que eu pensava e sentia e apesar da "pouca idade", vivi muita coisa seguindo essa filosofia.
Algumas cores, antes vivas, desbotaram. Algumas delas, antes cinzas (cor e pó), passaram a ter graça. E o sentido de tudo isso foi o tempo. Porque o tempo, não se engane, ele passa.
O tempo muda a mundo lá fora mas muda a gente por dentro. O tempo marca e apaga. O tempo machuca e repara. O tempo refaz. O tempo faz entender que o momento de ser feliz é agora. Nunca é cedo. Nem tarde demais.

sábado, 7 de julho de 2012

Demora em mim essa saudade
Amor assim dispensa qualquer falta
Noites solitárias, silêncios, vazios
Inconsistências que só a presença mata
Espero no teu peito o meu repouso
Longe de ti, além da dor, não sobra nada

Viver tua ausência é também tortura
Ansiar, te desejar com tamanha urgência
Saudade tem um quê de loucura
Quando o que se sente é uma crise de abstinência
Uma dor que de tão latente rouba o sono
E aos que questionam um possível exagero, digo:
Zombem de mim, porque sim, EU AMO.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Google Imagens
Às vezes eu quero um descanso das palavras, porque, juro, é através delas que deixo fluir sentimentos com mais transparência e clareza. Com mais verdade. É através delas que encaro as respostas para as perguntas que insistem por dentro, porque só escrevendo perco completamente a discrição e o pudor, deixando de lado a razão para encancarar sensibilidade. Disse e repito, as palavras são meu alento. Mas são também meu tormento. Me sinto escravizada pelas letras, talvez esse seja o ônus de muito sentir. O turbilhão de sentimentos passa a ser e ter mais sentido (verbo, substantivo), quando é passado para o papel. Eu sinto muito por não fingir, embora doa: às palavras eu sou fiel.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Veneno

Para a minha metade mais interessante, Mariana.


Diametralmente opostas
Docemente crueis
Inocentemente irônicas
Numa constante inversão de papeis


Incrivelmente parecidas
Para elas não há soro nem antídoto
Destilam seu veneno com maestria
O nome delas poderia ser PERIGO


Virgem e escorpião
Um poço de sensibilidade e contradição
Inspiram rimas em poesias
E versos em alguma canção


Elas se conformam em ser
Tanto razão quanto melancolia
Mas o seu maior orgulho e prazer
É desvendar todas as suas mentiras.

domingo, 17 de junho de 2012

Há algum tempo descobri que coisas inesperadas acontecem se a gente estiver disposto e aberto. Mas às vezes o acontecimento não é mais o bastante, porque esse inesperado não faz mais o coração bater, não coloca um sorriso no nosso rosto, sequer surpreende.  Por vezes, só assusta. Porque já passou tempo demais, porque a surpresa está na sua reação, não no evento inesperado em si. De tanto me acostumar com finais, não consigo crer em recomeços. Talvez isso soe um pouco triste e amargo, mas tentar não é do meu feitio, não quando já se passaram as fases da decepção e da mágoa. A fase dos vazios. Não quando o que sobrou do nó no peito foi uma vaga indiferença, que poderia facilmente ser substituída por nada. Porque de tudo o que aconteceu foi isso que restou.
Então, dispenso qualquer palavra. Para mim tudo isso já passou. Convivi muito bem com ausências durante um longo tempo e já preenchi o espaço que sobrou. Não quero mudar o roteiro. Há tempos esse foi o final da cena: acabou. E se acabou foi porque não valeu a pena.


Para vocês que dividiram histórias comigo. E para quem dispensou uma amizade e achou que uma mensagem bem escrita resolveria alguma coisa. É isso.




Foi então que eu aprendi a abrir espaços e cavar abismos. Retirei as armaduras, joguei fora as asas e mergulhei em mim. Há silêncios por dentro e eles me bastam. Eles são tudo. Tudo o que eu preciso ouvir.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A minha melhor poesia


Vou escrever a minha melhor poesia
Pôr no papel alguma palavra de beleza ímpar
Algo que me motiva, alguma coisa que inspira
Quero usar todas as figuras:
metáforas, sinestesia
Quero esgotar todas as melodias,
As minhas melhores rimas
Talvez um soneto, talvez um cântico
Quem sabe um haicai, mas que tenha encanto
Vou escrever sobre o que dá sentido ao meu querer
Assim latente, assim urgente em ter
Vou escrever a minha melhor poesia
Começa mais ou menos assim:
você


(e não tem fim)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A menina da janela (ou uma autobiografia)


Ela tem um jeito único de encarar tudo em volta para capturar a essência das coisas. Ela olha todo mundo nos olhos para saber com quem está lidando, para saber onde a verdade repousa. Ela acorda de madrugada para passar para o papel seus pensamentos, pois uma ideia depois de perdida quase nunca é alcançada. Escrever é o seu alento.  Escrever é a sua morada. Às vezes ela se agita porque o sentimento é mutável, nunca para, e o jeito dela de lidar com essa efervescência de emoções só se dá através das palavras. Escrever a ampara. 

Ela tem um jeito tímido de sorrir, sua postura é quase sempre séria. Ela não gosta de outdoors, tenta ao máximo ser discreta. Poucas pessoas tem o privilégio da sua descompostura. Se você quer saber onde ela realmente perde o juízo, te digo, é na literatura. Ela é transparente ao máximo com quem pode ser, mas sabe mentir como ninguém quando encara gente mesquinha. Ela gosta mesmo é de abraços apertados, de beijos demorados, de mãos dadas com carinho, de um bom vinho acompanhado com poesia. Ela gosta da simplicidade nas coisas mais verdadeiras. Na cerveja com os amigos, nas conversas inusitadas, no feng shui e nos incensos que trazem bons fluidos, no estudo dos signos, no amor pelos livros.  Ela é observadora como ninguém, então não ouse enganá-la, talvez você não saiba, mas ela vai saber. E vai sair da sua vida discretamente, sem você perceber. E embora tenha sido tarde, o tempo não terá corrido em vão: ela aprendeu muito bem a esquecer, ela sabe lidar com nãos.  Ela se sensibiliza com o belo, sempre rejeita quem tem vazios a mente e coração, embora cheios de preconceito e intolerância.  Ela admira o que é singelo. À imbecilidade ela tem repugnância.
Ela tem a pior crítica do zodíaco. Ela se atem aos detalhes, ao modo de se comportar, à maneira de se expressar. Ela é virginiana. Em tentando acertar, muitas vezes acaba errando, afinal, ela é humana. Mas se age de maneira estúpida, muitas das vezes é pelo seu prazer, afinal, todo mundo tem um lado b.
Ela gosta mesmo de jeans e camiseta, quando acorda não penteia os cabelos e  vezenquando fala um palavrão. Venera o silêncio, ama tulipas e adora o som que emana do violão. Ela poderia até ser considerada romântica, mas é cética demais para tal denominação. Na sua aparente fragilidade e candura, existem sentimentos em turbilhão. Em meio à  suposta ordem, sim, existe  uma grande confusão. Dizem que ela é uma musa, uma poetisa, uma pequena afrodite, uma flor de lótus, um floco de neve, uma bruxa e até uma fada.
De fato, ela é tudo isso e mais; ela é uma apaixonada.


(A menina da janela é Carla, carioca, 21 anos, é bacharelanda em Direito pela Universidade Federal Fluminense nas horas vagas, mas vive a poesia no dia-a-dia. É fã do Renato Russo e as borboletas tem um significado especial, o que explica as duas tatuagens recém-adquiridas. A literatura é, simplesmente, a motriz da sua vida.)

quinta-feira, 7 de junho de 2012


Eu acredito em beijos lascivos
Em mãos que tateiam urgentes
Em abraços fortes que abrigam
Em sorrisos escancarando dentes

Eu acredito em versos rabiscados no papel
Em fotos perdidas na última gaveta
Eu acredito em conversas no bar
Naquelas histórias regadas a cerveja

Eu acredito em quem me olha nos olhos
Em quem dança despreocupado com compasso
Acredito em quem não teme o ridículo
Acredito em quem transforma nós em laços

Acredito em  espíritos, em Deus, em zen-budismo
Em terapia, em macumba, em astrologia
Em sonhos, no amor e qualquer espécie de misticismo
Acredito até nisso que chamam alegria

Eu acredito em tudo o que me faz sentir
Naquilo que é considerado feitiçaria
Em tudo que traz cor e sentido 
Em tudo que encanta a vida

E se eu acredito na minha salvação
E que a minha alma será liberta um dia
É porque a cada batida do meu coração
Eu respiro e vivo poesia.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Prece


Eu que nunca fui muito de rezar
me encontrei de joelhos no chão,
entrelaçando uma mão com a outra,
ensaiando um consolo-oração.


Na companhia da minha solidão
e ao som da minha taquicardia,
pensei algo assim como:
nada na vida é em vão
E se no final das contas não for bom
Pelo menos vale a poesia.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ok

Engraçado você ter me perguntado como eu estou justamente agora. Eu estou em paz. E aí você se indaga sobre como eu posso me sentir assim com tantas decepções, tantas mentiras e tantas mágoas. Talvez a gente aprenda a se desapegar com o tempo, porque jeito certo, te garanto, não tem. A gente só continua, porque esse é o melhor meio, e vai deixando muita coisa no caminho, aprendendo que não há nada de errado em estar sozinho e, vezenquando, é até válido se sentir vazio. Te falar que nem sei mais o que é certo ou errado em tudo isso, juro que nem sei mais no que acredito. Acredito que dá para ter paz de espírito num momento infernal. Dá pra ter equilíbrio. Não estou tentando forçar a barra, tentando dizer o que eu gostaria de sentir, porque assim, de alguma forma, eu me sinto. Eu vivo. Eu amo. Eu sofro. Eu caio.
Eu sigo.

E não tem a ver com amor não, ok? Quer dizer, sempre tem um pouco a se dizer, mas nesse momento eu dispenso as palavras sobre o assunto. O amor que eu tenho em mim me basta. E já que estamos falando sobre seguir em frente, juro que um dia, quando (e não se) esse dia chegar, vai ter uma pessoa especial que eu vou beijar, abraçar, admirar, querer, e será tudo claro, bonito, infinito. Nada faltará. Esse dia vai chegar e esse momento vai acontecer porque eu não estarei bêbada, nem chapada, nem revoltada, a fim de simplesmente consumar uma vingança. Não mesmo. Esse dia vai chegar porque eu quero.
Porque eu não desisti de ter esperança.

Assim espero.

sábado, 12 de maio de 2012

Cabernet Sauvignon

Quando a poesia  nos habita, é bastante a leveza de estar. Só, com a possibilidade de escolhas, de mudanças, de apagar as luzes da sala e, simplesmente, continuar. E ser.
O que há de mais importante reside em mim: encontrei a tão falada e pouco conhecida paz de espírito. Assim me sentindo percebo que o caminho que almejo pode ser facilmente trilhado: é possível encontrar encantamento na simplicidade; é possível fazer do banal algo extraordinário. Sim, é possível encontrar a felicidade. E felicidade é um exercício diário.
Foi quando, em sendo magoada, decidi interromper o curso das lágrimas. Foi quando, em ficando calada, pude ouvir com clareza o som das minhas palavras. Foi quando, em me olhando no espelho, me vi perdidamente apaixonada. 
Desta forma, dispensando toda mágoa e raiva, consegui encontrar um equilíbrio até então incerto e desconhecido. Aprendi a me ler, a respeitar o meu tempo, a me perdoar por ter exigido tanto de mim, quando, na verdade, a única coisa que eu precisava fazer era deixar fluir. 

Minha vida não precisa de outdoors, minha tristeza não merece todo o meu dia. 

E se me perguntarem hoje qual é a minha resposta para tudo o que vai mal, eu diria, com um sorriso tímido nos lábios, bebendo calmamente o meu vinho e ensaiando uma poesia:

a minha vingança para tudo isso é a alegria.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Nãos

Não quero tirar meus sapatos e entrar sorrateiramente pela porta do teu quarto.
Não quero abrir a geladeira, nem beber tuas cervejas abafando o gemido, o sofrimento contido, o choro calado.
Não quero ficar a sós no escuro, no meio da sala, ensaiando um discurso, a minha melhor fala.
Não quero gastar o meu tempo e meu sono poetizando para você que me lê 
Mas não entende uma só palavra.


terça-feira, 17 de abril de 2012

Houve um tempo em que andar de mãos dadas era necessário para que eu desse algum passo. 
Houve um tempo em que o sono só chegava depois de tantos afagos. Agora a insônia não apavora.
Não sinto mais urgências em abraços.

Na busca do que é mais verdadeiro, tenho encarado a solidão.
E ela, ao entralaçar com os meus os seus dedos, não confunde as marcas que deixo no chão.
Gosto do que vejo quando me olho no espelho, só o sentimento me veste, dispenso adereços.


Digo, com uma paixão que jamais pensei existir, àquela refletida no espelho, à única que o meu amor irá verdadeiramente retribuir: 
eu me basto. 

Isso é tudo o que eu preciso sentir; estar comigo é muito vasto.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

"Eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, na mesma porta que não abre nunca."


(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Dos porquês


"Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você."
(Caio Fernando Abreu)

Porque eu adoro o sinal que você tem no canto direito da boca. Porque eu acho o seu sorriso a coisa mais linda da face da Terra. Porque você, quando sorri, quase sempre fecha os olhos.Porque meu coração começa a acelerar quando eu escuto a sua voz, mesmo que seja do outro lado da porta, do outro lado da linha, do meu lado. Porque você é libriano e tem aquela coisa toda do bom gosto, do olhar voltado à arte e do equilíbrio (ou um projeto de, afinal, você é um tanto quanto desequilibrado). Porque você é organizado, minucioso e perfeccionista, tudo culpa da ascendência em virgem. Porque você ironiza toda vez que eu começo com esse papo de astrologia.
Porque você é a personificação daquela frase "good writing is sexy". Porque você é muito sexy e, felizmente, ainda não tem noção disso. Porque, indubitavelmente, você será um professor incrível, embora a sua fluidez de ideias e a  verbalização dos seus pensamentos seja lenta e, muitas das vezes, irritante. Porque você toca violão e porque eu adoro quando você canta. Porque você é um junkie e melhor parceria não há. Porque você sempre acaba dormindo quando a gente assiste a algum filme. E porque quando te flagro com os olhos fechados você tem a cara de pau de me dizer que estava acordado.
Porque você gosta de trident de melancia, The Smiths e torce pro Flamengo.Porque nós dois gostamos de palmito, temos o gosto musical estranhamente parecido e porque na maior parte do tempo você me desconcerta.
Clarice escreveu : "sinto a falta dele como se me faltasse um dente da frente: excruciante." Porque a falta que você me faz pode ser descrita exatamente assim. Porque, pra mim, você é a pessoa mais importante.
Porque tem o seu cheiro...que insiste em me perseguir onde quer que eu esteja, mesmo quando você não está.
Porque você é a pessoa mais inteligente que eu jamais conhecerei. Porque você é uma das pessoas que eu mais admiro.
Porque tem aquela foto na sua mesa e esse motivo já dispensaria todos os outros porquês. Porque ali eu vejo tudo que há de mais bonito e essencial: carinho, cuidado e afeto.
Porque eu  sinto a eternidade nas nossas mãos dadas. Porque existem momentos que são impossíveis de descrever com palavras, porque sinto você sempre e muito. Por dentro, por fora. Porque eu amo o seu toque, o seu beijo, o seu gosto. E gosto. Por você, enfim. Porque não há melhor lugar no mundo do que o seu abraço. Porque você me irrita, me provoca, me afasto, você me puxa dizendo : "para com isso, garota, vem aqui." E me abraça. Pronto. Tudo passa no seu abraço. Porque você me motiva e inspira. Porque você mora em mim. Porque, de um modo surpreendente, a gente combina.

Porque eu amo você.
Porque com você eu me sinto viva.


(Deu pra entender o porquê?)

sábado, 31 de março de 2012

I cannot sit sadly by your side






Tenho ouvido com frequência a triste voz de Margo Timmins cantando aquilo que eu não ouso traduzir, pois o impacto da oração, que nem é pedido, mas constatação, é brusco demais para mim, que me doo tanto.   

Fiz  um voto de silêncio; por ora, me basta ouvir. Os sons que ecoam na confusão da  mente, as palavras murmuradas, rejeitadas, repetidas, ignoradas,  fazem sentir como se eu me levantasse da cama num ímpeto por ter tido outro pesadelo. Só que estou acordada. Já não consigo mais fechar os olhos e, simplesmente, dormir. Ou fugir para um abraço que me conforte. Escolhi sentir, essa é minha sorte.
Eu me sinto perdida na sala, no quarteirão, na minha vida. De certo, só a minha incerteza. Me sinto perdido no mundo. Ou dentro de mim, que seja.

Passei pelas pessoas sem fixar meus olhos nelas. Por um breve momento, me peguei pensando nos porquês - do afastamento, da clausura, da distância -  já que eu sentia que estava caminhando a sós comigo mesma pelas ruas. Tenho tentado fazer as pazes com aquela que reside em mim, tenho tentado pensar em tudo o que me  paralisa e aflige de uma vez só, para nunca mais precisar sentir.  Ou para que de alguma forma eu saiba transformar o que me habita em algo que valha a pena: uma poesia, uma música, um choro resignado no banheiro,  uma lembrança vaga com gosto de melancolia. 

Não há jeito, me olho no espelho e só enxergo esse maldito nó no peito.

E descubro, com agonia, na solidão que me faz companhia, que não ser vazia é meu pior defeito.

domingo, 25 de março de 2012

Meus dedos não hesitam em percorrer o teu corpo. Não há nada que os censure. Nem as cortinas abertas da sala, nem as pessoas circulando pela praça. Enquanto você fecha os olhos, fico atenta a cada movimento teu, ao som da tua respiração, sinais que me mostram se estou no caminho certo. Estou então.
Beijo teus olhos, cheiro o teu pescoço, deslizo as mãos pelo teu rosto, teus cabelos, provo do teu gosto, o teu gozo. 

Eu gosto. 

Meus dedos passeiam pela tua pele a fim de te decorar. Cada sinal, cada pelo, cada marca que deixei ao cravar em você minhas unhas. Teu corpo é fonte inesgotável de inspiração: tantas odes em sua homenagem são testemunhas. Teu corpo é um altar. Te admiro e venero, te idolatro e te quero.

(Acendo uma vela e queimo um incenso para te celebrar).

Se um dia você visse através dos meus olhos, e sentisse através do meu tato, concordaria com meu ponto de vista: a você não há quem resista.

( E os mesmos dedos que te tocam escrevem poesia. 
Obrigada pelas rimas do teu sorriso e pela métrica do teu abraço. 
Além da inspiração, você me inunda de alegria).




sexta-feira, 2 de março de 2012



Eu quero esquecer o passado.
O saudosismo de velhas histórias. 
A nostalgia quase sempre me assusta,
qualquer lamento sobre o ontem me apavora.


Embora haja sempre alguma coisa ausente,
uma urgência quase sempre melancólica
um vazio que pouca coisa preenche,
ficar paralisado no tempo não é a minha resposta.


A escolha que eu faço é tecer meu enredo,
aprendi a viver olhando para a frente
aprendi com a arte do desapego
a amar muito mais o meu presente.


O tempo se encarregou de levar as lembranças embora,
Aprendi a filtrar emoções e descartar velhas fotografias,
fechei algumas (poucas) portas 
curei algumas (muitas)  feridas.


E se eu joguei fora muito do que eu sentia
É porque dentro de mim só resiste o que importa




(eis  que surge uma epifania:
o meu momento é agora).

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Lucidez

Você me indagava sobre entrelinhas e eu respondia, do meu jeito torto e inseguro, que elas representam tudo o que é sentido e, por não fazerem sentido, impossíveis de serem  expressas com meras palavras, por mais bem arranjadas, por mais adequadas. Falávamos das nossas fugas de nós mesmos, e, quando tudo parecia ainda mais nebuloso, voltávamos ao início da jornada, a um tal recomeço: porque o caminho é dentro, lembra? Não há setas indicando avisos. Há apenas escolhas. E nós escolhemos ser ostras. Na nossa reclusão, tentamos construir algo magnífico, talvez mais precioso que uma pérola, pois sentimento não é adorno. 

É impressão minha ou parece mais frio por aqui? É verdade, o vento que chega anuncia a chuva que está por vir. E como gostamos dos pingos de chuva batendo insistentemente na nossa janela. Para que possamos vê - la, nos convida a sair. Rejeitamos o convite. Na verdade, meu bem, nós fomos feitos para sentir. 


(Embora haja a embriaguez...na minha ressaca, agradeço pela lucidez).

Para a minha amada Amanda.

Sobre o que me inspira

O que eu queria te contar é que, depois de uma semana de calor intenso e desconforto, a chuva decidiu transbordar há pouco, quando tirei meus sapatos de salto, enchi meu copo com álcool, e resolvi, descalça e nua, seguir uma nova trajetória. Coloquei a cadeira do lado contrário, afastei as minhas pernas, muito mal comportada, bem sei. De toda e qualquer amarra quero distância.  Para elas estou fechada. Não há jeito certo de seguir. Há jeitos. Tortos, confusos, estranhos. Jeitos. Há escolhas. E a escolha que eu faço, reiterada e diariamente, é sentir.

E depois de deixar a água da chuva escorrer pelos meus cabelos, limpando, além do corpo, tantas mágoas, digo que a única coisa que quero vestir de hoje em diante é a  paixão. 

Pés descalços, mente limpa, vazia de qualquer ilusão. 

Sei que me inspiro. Respiro a poesia a cada batida do meu coração. 

Estou completa.

(Nada falta quando a alma está liberta).

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pelo telefone

"My foundation was rocked/ my tried and true way to deal was to vanish/My departures were old/I stood in the room, shaking in my boots..."(Alanis Morissette)




Foi naquele dia em que eu solucei de tanto chorar, engasgada com as palavras, temendo me ouvir falar...Eu chorava, não havia no mundo melhor meio de desabafar: eu transbordava.
A voz do outro lado da linha me dizia para repousar a cabeça no travesseiro, a fechar os olhos, respirar fundo e simplesmente rezar. Lembrei daquele poema do Henley "A algum deus, se acaso existe, por minha insubjugável alma agradeço". Lembrei porque não cabia naquela situação, estou presa e perdi o jeito certo de me expressar. Lembro também de ter pedido um sinal. Alguma seta que me indicasse o caminho ideal a ser seguido. Porque eu tenho corrido em direção a algo que eu nem sei mais se vale a pena.
Foi naquele dia que, repentinamente, você me disse que seria difícil para alguém como eu trilhar uma vida assim. Pelos motivos óbvios, por aqueles motivos que só estão dentro de mim. E de alguma forma inusitada você me lia. Lembro vagamente de você dizer que essa era mais uma das minhas táticas de fuga da minha própria vida, e, cá entre nós, nem amor, nem dinheiro, nem prazer bastam quando o problema é interno e só existe uma saída. São tantas coisas mal resolvidas, tantas frustrações, tanta dor comedida, tanto sofrimento resignado, tantas decepções, quando a única coisa que fazia o maior sentido do mundo era que eu, excepcionalmente, tinha o dom de pensar. E, pior e mais doloroso que isso, sentir. 

Você expôs tudo claramente, sem rodeios nem meias palavras. O nosso sol é o mesmo, de alguma forma você me ilumina. Deus atendeu ao meu pedido e eu sequer tive que interpretar sinais : você indicou as setas, você me deu o aviso. 

Ainda assim insisti. Ainda assim resisti. Sofro por tudo o que eu não posso controlar e sofro mais por saber que eu sou fraca demais para simplesmente ir. Eu não sei deixar. Embora digam que o tempo faz das suas conosco e que daqui a pouco nada disso será tão relevante, juro, a única coisa que eu queria era não me doer mais. " Sempre existe alguma coisa ausente", foi o que ele disse. É tanto e tão pouco o que me falta. Mas ainda há reticências. Ainda há entrelinhas. E eu me doo, elas sequer são minhas. E nem é mais segredo.

Insisto, pois tenho um coração que anda mais acelerado que a minha respiração. Se o ar é essencial, tudo o que sinto me é vital. 

Eu escrevo sobre amor e dor. E entendo que eles dão no mesmo, afinal.

(Mas, no fim das contas, você tinha razão).



"And yet I wanted to save us, high water or hell
And I kept on ignoring the ambivalence you felt
And in the meantime, I lost myself
In the meantime, I lost myself
I'm sorry, I lost myself... I am..."





É que eu escrevo sobre o que eu sinto, sabe? E o que eu sinto na maior parte do tempo é amor.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Fim da linha

Eu queria fechar as portas. Juro, queria. Mas uma parte de mim ainda insiste em deixar uma brecha, justifico essa atitude com a esperança de que alguma luz possa entrar. Eu sei, você sabe. Ainda te espero voltar. 
Dá um certo trabalho acostumar meus olhos à mudança em volta, quando tudo é nada agora que você não está. Pensei em trocar as cortinas e em colocar alguma música para tocar. Mas ouvir qualquer coisa é muito difícil depois de tudo o que você decidiu falar. O silêncio que permeia essa sala me mata e não há ninguém no mundo capaz de me salvar. 

Não me reconheço ao me olhar no espelho. Encaro nossos fantasmas e tenho medo. Fico apavorada quando, ao tentar responsabilizar alguém pela culpa, percebo que eram todos meus: você , a culpa, os erros. Na tentativa vã e inábil de nos consertar, acabei perdendo algumas partes, tentando remendar o que não se costura. Não há linha que suporte tanta fissura. Nós rompemos. Não há mais laços, há muito não havia, e, por egoísmo, fui incapaz de te deixar enquanto você, sem discrição alguma, saia da minha vida. Enquanto eu puxava seus braços, enquanto eu me agarrava à ideia que eu tinha de um amor, veja só, um amor que não existia. 

Agora eu te entendo. Sim, eu entendo. Por maior que seja a dor que ainda lateja no meu peito, mais em dias cinzas, quando a chuva cai triste e fina, não dá para amar por dois e solidão não se compartilha. Embora a saudade persista e o amor resista, te garanto, eu também sei viver sozinha.


Para Sarah.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ó, coração dilacerado
Desde sempre mal acostumado
A pôr em versos toda dor e desespero
Quando, cara a cara com o espelho,
Mal me sustento, mal me reconheço.
O rosto refletido é o único companheiro
Um mero desconhecido, apenas estrangeiro

Não, eu escrevo como forma de paz
Nenhuma rima seria capaz
de transformar a angústia em poesia
Porque, honestamente,
Não há nada de belo na melancolia.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Você e eu

"When love is real, you don't have to show it.

When it is true, then everyone will know.
'Cause there'll be no one but
You and me."







Eu preciso me despir pra te escrever. Preciso fechar os olhos, deixar  as roupas propositadamente jogadas ao pé da cama. Preciso tomar banho, preciso me perfumar. Escolho cuidadosamente a música que vai tocar, apago as luzes e deixo a iluminação da rua penetrar. Há um ritual cautelosamente planejado. Há um pensamento prévio. Há o que eu sinto por você. E é sagrado.

Gosto de me perder nos teus braços. Gosto de perder o juízo, os sentidos e, ainda assim, continuar sentindo, quando a tua boca encosta na minha, quando a tua voz invade o meu ouvido. (Inspiro. Suspiro.)

Gosto de deitar do teu lado todos os dias. Gosto de pedir, quando amanheço e anoiteço, que eu more no teu abraço por toda a minha vida. Deus, você é tão lindo que é quase impossível parar de te olhar. Eu gosto de te olhar. Eu gosto de me olhar através de você e não seria exagero dizer que você mudou tudo em mim. Eu não quero perder o que eu sinto a cada instante em que você está comigo. Você é o meu norte, o meu sol, o meu melhor amigo.

Eu me encontrei quando pus meus olhos em você. Você abriu as portas, destruiu as barreiras, me desconstruiu para me edificar. No teu corpo encontrei meu abrigo.  
Eu não sabia que precisava tanto de alguém até te encontrar. Até me encantar pelas mínimas coisas que você faz. E me apaixonar pela pessoa incrível que você é. E digo: não há nada nessa vida que me dê mais prazer do que te amar.


Você é o meu descanso, meu porto seguro, o meu refúgio. Você é único.

Você é tudo.

" You and me, baby..."

(Melhor que nós não há).