Tenho ouvido com frequência a triste voz de Margo Timmins cantando aquilo que eu não ouso traduzir, pois o impacto da oração, que nem é pedido, mas constatação, é brusco demais para mim, que me doo tanto.
Fiz um voto de silêncio; por ora, me basta ouvir. Os sons que ecoam na confusão da mente, as palavras murmuradas, rejeitadas, repetidas, ignoradas, fazem sentir como se eu me levantasse da cama num ímpeto por ter tido outro pesadelo. Só que estou acordada. Já não consigo mais fechar os olhos e, simplesmente, dormir. Ou fugir para um abraço que me conforte. Escolhi sentir, essa é minha sorte.
Eu me sinto perdida na sala, no quarteirão, na minha vida. De certo, só a minha incerteza. Me sinto perdido no mundo. Ou dentro de mim, que seja.
Passei pelas pessoas sem fixar meus olhos nelas. Por um breve momento, me peguei pensando nos porquês - do afastamento, da clausura, da distância - já que eu sentia que estava caminhando a sós comigo mesma pelas ruas. Tenho tentado fazer as pazes com aquela que reside em mim, tenho tentado pensar em tudo o que me paralisa e aflige de uma vez só, para nunca mais precisar sentir. Ou para que de alguma forma eu saiba transformar o que me habita em algo que valha a pena: uma poesia, uma música, um choro resignado no banheiro, uma lembrança vaga com gosto de melancolia.
Não há jeito, me olho no espelho e só enxergo esse maldito nó no peito.
E descubro, com agonia, na solidão que me faz companhia, que não ser vazia é meu pior defeito.
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