domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pelo telefone

"My foundation was rocked/ my tried and true way to deal was to vanish/My departures were old/I stood in the room, shaking in my boots..."(Alanis Morissette)




Foi naquele dia em que eu solucei de tanto chorar, engasgada com as palavras, temendo me ouvir falar...Eu chorava, não havia no mundo melhor meio de desabafar: eu transbordava.
A voz do outro lado da linha me dizia para repousar a cabeça no travesseiro, a fechar os olhos, respirar fundo e simplesmente rezar. Lembrei daquele poema do Henley "A algum deus, se acaso existe, por minha insubjugável alma agradeço". Lembrei porque não cabia naquela situação, estou presa e perdi o jeito certo de me expressar. Lembro também de ter pedido um sinal. Alguma seta que me indicasse o caminho ideal a ser seguido. Porque eu tenho corrido em direção a algo que eu nem sei mais se vale a pena.
Foi naquele dia que, repentinamente, você me disse que seria difícil para alguém como eu trilhar uma vida assim. Pelos motivos óbvios, por aqueles motivos que só estão dentro de mim. E de alguma forma inusitada você me lia. Lembro vagamente de você dizer que essa era mais uma das minhas táticas de fuga da minha própria vida, e, cá entre nós, nem amor, nem dinheiro, nem prazer bastam quando o problema é interno e só existe uma saída. São tantas coisas mal resolvidas, tantas frustrações, tanta dor comedida, tanto sofrimento resignado, tantas decepções, quando a única coisa que fazia o maior sentido do mundo era que eu, excepcionalmente, tinha o dom de pensar. E, pior e mais doloroso que isso, sentir. 

Você expôs tudo claramente, sem rodeios nem meias palavras. O nosso sol é o mesmo, de alguma forma você me ilumina. Deus atendeu ao meu pedido e eu sequer tive que interpretar sinais : você indicou as setas, você me deu o aviso. 

Ainda assim insisti. Ainda assim resisti. Sofro por tudo o que eu não posso controlar e sofro mais por saber que eu sou fraca demais para simplesmente ir. Eu não sei deixar. Embora digam que o tempo faz das suas conosco e que daqui a pouco nada disso será tão relevante, juro, a única coisa que eu queria era não me doer mais. " Sempre existe alguma coisa ausente", foi o que ele disse. É tanto e tão pouco o que me falta. Mas ainda há reticências. Ainda há entrelinhas. E eu me doo, elas sequer são minhas. E nem é mais segredo.

Insisto, pois tenho um coração que anda mais acelerado que a minha respiração. Se o ar é essencial, tudo o que sinto me é vital. 

Eu escrevo sobre amor e dor. E entendo que eles dão no mesmo, afinal.

(Mas, no fim das contas, você tinha razão).



"And yet I wanted to save us, high water or hell
And I kept on ignoring the ambivalence you felt
And in the meantime, I lost myself
In the meantime, I lost myself
I'm sorry, I lost myself... I am..."


Nenhum comentário:

Postar um comentário