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domingo, 19 de agosto de 2012

Sobre o que eu não sei dizer


Poderia começar abusando dos clichês: é mais uma daquelas fases, é temporário, vai passar, porque sempre passa. Digo apenas que é preciso. 
Há tempos tenho sentido um descompasso por dentro. Sentimentos contraditórios, pensamentos desconexos e uma sensação de vazio até então inédita. Passei a me acostumar com o fato de talvez estar perdida. Ou ser, não sei. Peço desculpa se pareço dispersa. Essa é a minha vida. 
As palavras fugiam de mim. Quando o encontro, aleatório, acontecia, era porque eu estava de alguma  forma alterada: álcool e cigarro, duas vãs companhias. Eu preciso da distância e da solidão. Preciso desse afastamento do mundo para poder me reencontrar. Perdi minha identidade enquanto tentava modificar a minha vida, e em tentando dar algum passo descobri que o caminho talvez não fosse aquele que eu queria. Pensar por si mesmo demanda coragem, força e auto estima, odeio admitir que passei a enxergar em mim a covardia alheia. Passei a fugir o olhar ao me encarar no espelho. "Quem estou tentando enganar?, era o pensamento que sempre me ocorria. Porque nada estava bem. Porque ir embora era tão mais doloroso que ficar, por isso eu resistia. E de tudo o que aconteceu, um sentimento persistente de inadequação restou, juntamente com as palavras. Muitas delas não - ditas, sufocadas, entrelinhas. Tudo o que eu sentia, mas não sabia dizer. Covardia.

O que eu quero dizer aos poucos está sendo dito. Uma crise desequilibra, traz incertezas, põe nossos pés no chão. Uma crise também nos impulsiona a mudar. Que seja assim, então. 

Dia após dia.


"Make a time to find your way"

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


Há quem diga que o meu trajeto é tortuoso e errado
Porque caminho, aos tropeços, em qualquer direção.
Qualquer passo é válido quando não se quer ficar parado.
Mal sabem eles que adoro a contramão.

Tentativa


Menos um cigarro na boca, menos fumaça embaçando a visão. Dissipo com as mãos o que há de turvo e nebuloso na minha vida, me desprendendo de armadilhas, aprendendo a dizer não. 

Não à insegurança, não à tristeza, não à amargura, não à hipocrisia.
Não à mentira , não à ilusão, não à monotonia.
Não a tudo aquilo que estagna. Não ao medo que paralisa.

Que permaneçam vivas a coragem, a vontade, a mudança, a liberdade. 
Que as palavras andem sempre de mãos dadas comigo, rendendo um romance chamado poesia. 

Pelas novas chances, então: um brinde à tentativa.

terça-feira, 17 de julho de 2012


Sempre dei muito sentido a tudo que me rodeava: uma flor esquecida na janela, um abraço, um sorriso, momentos de alegria e de raiva, uma canção, um amor, uma palavra. Sempre mergulhei intensamente no que eu pensava e sentia e apesar da "pouca idade", vivi muita coisa seguindo essa filosofia.
Algumas cores, antes vivas, desbotaram. Algumas delas, antes cinzas (cor e pó), passaram a ter graça. E o sentido de tudo isso foi o tempo. Porque o tempo, não se engane, ele passa.
O tempo muda a mundo lá fora mas muda a gente por dentro. O tempo marca e apaga. O tempo machuca e repara. O tempo refaz. O tempo faz entender que o momento de ser feliz é agora. Nunca é cedo. Nem tarde demais.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A menina da janela (ou uma autobiografia)


Ela tem um jeito único de encarar tudo em volta para capturar a essência das coisas. Ela olha todo mundo nos olhos para saber com quem está lidando, para saber onde a verdade repousa. Ela acorda de madrugada para passar para o papel seus pensamentos, pois uma ideia depois de perdida quase nunca é alcançada. Escrever é o seu alento.  Escrever é a sua morada. Às vezes ela se agita porque o sentimento é mutável, nunca para, e o jeito dela de lidar com essa efervescência de emoções só se dá através das palavras. Escrever a ampara. 

Ela tem um jeito tímido de sorrir, sua postura é quase sempre séria. Ela não gosta de outdoors, tenta ao máximo ser discreta. Poucas pessoas tem o privilégio da sua descompostura. Se você quer saber onde ela realmente perde o juízo, te digo, é na literatura. Ela é transparente ao máximo com quem pode ser, mas sabe mentir como ninguém quando encara gente mesquinha. Ela gosta mesmo é de abraços apertados, de beijos demorados, de mãos dadas com carinho, de um bom vinho acompanhado com poesia. Ela gosta da simplicidade nas coisas mais verdadeiras. Na cerveja com os amigos, nas conversas inusitadas, no feng shui e nos incensos que trazem bons fluidos, no estudo dos signos, no amor pelos livros.  Ela é observadora como ninguém, então não ouse enganá-la, talvez você não saiba, mas ela vai saber. E vai sair da sua vida discretamente, sem você perceber. E embora tenha sido tarde, o tempo não terá corrido em vão: ela aprendeu muito bem a esquecer, ela sabe lidar com nãos.  Ela se sensibiliza com o belo, sempre rejeita quem tem vazios a mente e coração, embora cheios de preconceito e intolerância.  Ela admira o que é singelo. À imbecilidade ela tem repugnância.
Ela tem a pior crítica do zodíaco. Ela se atem aos detalhes, ao modo de se comportar, à maneira de se expressar. Ela é virginiana. Em tentando acertar, muitas vezes acaba errando, afinal, ela é humana. Mas se age de maneira estúpida, muitas das vezes é pelo seu prazer, afinal, todo mundo tem um lado b.
Ela gosta mesmo de jeans e camiseta, quando acorda não penteia os cabelos e  vezenquando fala um palavrão. Venera o silêncio, ama tulipas e adora o som que emana do violão. Ela poderia até ser considerada romântica, mas é cética demais para tal denominação. Na sua aparente fragilidade e candura, existem sentimentos em turbilhão. Em meio à  suposta ordem, sim, existe  uma grande confusão. Dizem que ela é uma musa, uma poetisa, uma pequena afrodite, uma flor de lótus, um floco de neve, uma bruxa e até uma fada.
De fato, ela é tudo isso e mais; ela é uma apaixonada.


(A menina da janela é Carla, carioca, 21 anos, é bacharelanda em Direito pela Universidade Federal Fluminense nas horas vagas, mas vive a poesia no dia-a-dia. É fã do Renato Russo e as borboletas tem um significado especial, o que explica as duas tatuagens recém-adquiridas. A literatura é, simplesmente, a motriz da sua vida.)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Hey God

"Eu te proclamo grande, admirável,
Não porque fizeste o sol para presidir o dia
E as estrelas para presidirem a noite;
Não porque fizeste a terra e tudo que se contém nela,
Frutos do campo, flores, cinemas e locomotivas;
Não porque fizeste o mar e tudo que se contém nele,
Seus animais, suas plantas, seus submarinos, suas sereias:
Eu te proclamo grande e admirável eternamente
Porque te fazes minúsculo na eucaristia,
Tanto assim que qualquer um, mesmo frágil, te contém."

(Murilo Mendes)



Deus, isso não é uma oração. Eu nem sei elaborar alguma coisa, nem sei se ao me referir a você devo procurar um pronome de tratamento mais adequado ou se, ao mencioná-lo, deveria fazer uso das letras maiúsculas. De verdade,  eu nem precisaria escrever, acredito que você me ouve e, onde quer que esteja, repousa seus olhos e mantém seus braços abertos pra mim. Eu, que sempre preciso de braços e de corações escancarados.
Sempre fui avessa a convenções. Porque tudo, no fim das contas, é uma criação, um nome que a gente dá só pra separar o joio do trigo. Por isso, nunca acreditei na distância entre nós. Nunca acreditei que, para senti-lo, eu precisaria ir numa missa, culto, seja lá o que for. Porque eu te sinto aqui dentro.
Ah, Deus, eu tenho ouvido uma música que me faz pensar tanto em você. Será que você é um de nós? Será que se eu te encontrasse você responderia a alguns dos meus questionamentos? Sou pecadora por ser tão inconformada?
Eu não quero pensar. Não quero dizer nada. Não quero fazer nada. Só quero sentir.
E sentir tem me causado sérios danos. Desculpa, Deus, mas você escolheu a pior pessoa pra ser sensível. Sou extrema, você deve saber disso, afinal, me criou. Consigo ser tão indiferente quanto passional. E choro, me doo, lamento, fico horas pensando sobre o que vejo, ouço e sinto e tenho o (mal) costume de tentar colocar tudo em palavras. Li uma vez um trecho com o qual me identifiquei completamente, dizia mais ou menos que em sendo escritor, embora haja a prerrogativa da sensibilidade, passa-se a agir de forma mecânica, desaprende-se o jeito de sentir o tangível, de amar, de viver do jeito certo, vive-se através dos textos, como se fôssemos sempre espectadores e não personagens. Pois é, Deus, às vezes eu me sinto uma espectadora da minha vida. E quando a vejo passar pelos meus olhos, não sinto a menor vontade de bater palmas. Você diria que nada do que estou falando tem fundamento, porque, obviamente, tenho a chance de mudar essa dinâmica na hora em que me convier. Minha vida não está pré - determinada, não há roteiros previamente esboçados. Sim, que eu poderia largar minha faculdade e fazer o que eu amo, que eu poderia mandar todo mundo pro inferno e fazer o que eu quero, que eu não deveria me preocupar com nada além do que sinto. Que, que, que. Deus, acho até que você me aconselharia a ser um pouco mais egoísta, já que estamos falando da minha felicidade. Já que eu poderia ser ainda  mais feliz.


Por que, mesmo sabendo disso tudo, ainda resisto? Tenho com tanta clareza que a vida é só uma, que o único sentido e propósito de estarmos vivos é o aprendizado e a busca pela felicidade, mas, sabe-se lá porque e quando, acabei desistindo de mim. Tem coisa mais ridícula do que desistir de si mesmo?

Então, Deus, eu que nem rezar sei, queria pedir uma força para mudar. Mudar mesmo, dar uma guinada, essas coisas que a gente vê na televisão e se embasbaca, porque acredita que não acontece na realidade.
Mas, sabe, Deus, eu acredito. Prometo ser uma pessoa mais otimista e juro me esforçar no intento. Eu inventei toda a fé que tenho, mas, de verdade, acredito que o meu final ainda pode ser aplaudido.

Acredito, com um coração que ainda insiste em ter esperanças, que o final de tudo isso pode ser incrivelmente lindo.


Que assim seja. 

"What if God was one of us? Just a slob like one of us? Just a stranger on the bus trying to make his way home..."

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

What Ever Happened

"Oh that's an ending that I can't write, 'cause
I've got you to let me down."
(Julian Casablancas)


Não sei quantos cigarros terei que acender para apagar meus pensamentos. Porque a fumaça preenche o ambiente e eu fico lembrando de algo que li " ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias..." Corta. Não, nem tenho mais amigos para importunar com meus dramas e lamentos sobre tudo o que é incerto. De algum modo eles perceberam antes de mim que estou me tornando a pessoa mais perdida do universo. E não há nada pior do que lidar com algo/alguém que se perdeu. Engraçado, porque eu achava que isso era absolutamente certo. Calma, deixa eu dar uma olhada em que lua estamos. Primeiro quarto crescente. É, então o problema não é lunar. O problema é amar. Ou amar de verdade pela primeira vez na vida e não saber direito como lidar. Porque, sem querer, você começa a esperar muitas coisas, a exigir tantas outras, quando simplesmente bastaria viver, sem cobranças, sem necessidades. E li isso: " seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

E se as pessoas têm emoções e conseguem ser equilibradas, acho que exageraram na porção que me era de direito. Ah, eu clamo ser tão, uh, racional, pé no chão,o que não é completamente ilusão,  já que consigo ser pouco sensível e até fria quando eu quero ou quando a situação exige de mim tal comportamento. Colocou amor na história, ferrou tudo. Sabe aquele dramalhão mexicano, aquela coisa de maquiagem carregada, todas as cenas exageradas, muito choro, muito álcool, muito cigarro, muito, muito, muito...muito. Eu sinto demais. E as pequenas ausências, pequenas rejeições, como cantou Alanis,são reais demais pra mim. Somewhere along the way I think I gave you the power to make me feel the way I thought only my father could.

Aí a crítica virginiana se manifesta, porque né, eu começo a achar que a culpa (?) de tudo é minha. Porque eu sou paranoica, sou muito fechada, expresso tudo em palavras, estou irada e atendo o telefone dizendo que está tudo bem, que estou com saudades e estou ouvindo The Strokes, What Ever Happened?

O que aconteceu? O que está acontecendo? Pouco antes de você ligar eu estava dissipando a fumaça do cigarro com uma mão, a outra enxugando uma lágrima e cantando a plenos pulmões you don't miss me, I know, com uma tristeza digna de paráfrase daquela antológica cena  I think she's the saddest girl to ever hold a cigarette, em vez de um martini.


Drama queen life style. Um violino e uma faca de serra, por favor. E se você me perguntar se eu quero deixar isso tudo de lado, esquecer, vou dizer, com o risco de receber recomendações terapêuticas e, principalmente, psiquiátricas, que não, não quero. Eu amo o amor


O amor me deixa idiota. Eu, sendo idiota, divirto os outros. Um lado bom isso tinha que ter, afinal.


(Que eu não esteja enlouquecendo e que seja apenas um problema hormonal, amém).


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sem título (porque esse é o melhor título, afinal)

"My dreams are a cruel joke. They taunt me."
(Vanilla Sky)


É como se eu me perguntasse a cada instante "quem sou eu" e nunca encontrasse uma resposta certa. Eu sou uma piada de mau gosto. E eu nem sei ao certo quem sou. Ao abrir meus olhos, quando o sol insiste em romper as cortinas, me coagindo a levantar, me faço essa pergunta reiteradas vezes. À noite, por volta das seis horas da tarde, quando você não consegue precisar se ainda é dia ou noite, as cores se misturam, e você sente uma espécie de melancolia, que se agrava quando se trata de um dia de domingo, você encara o céu e tenta encontrar nas nuvens as respostas dos seus milhares de porquês. E, de algum modo, continuo esperando. Para que eu não sonhe, para que eu encontre essas respostas, se é que elas existem realmente. Porque talvez viver seja simplesmente esse conjunto de ações e sentimentos encadeados que culminam na única certeza que nos é dada desde o principio: a morte. E o momento de maior epifania que teríamos durante a vida, paradoxalmente falando, seria morrendo. Em escrevendo eu morro todos os dias. E ainda não   presenciei minha aleluia.

Não sei se perdi a melhor parte da história dedicando muito mais tempo e esforço expressando tudo em palavras. Às vezes me questiono se ainda tenho a capacidade de sentir. Meus olhos filtram situações que, por sua vez, são filtradas pelos meus pensamentos, se transformando, por fim,  em palavras, desperdiçadas, creio agora. Porque ninguém me lê. Eu não me leio. Eu não me compreendo. E depois de divagações absolutamente dispensáveis e irrelevantes, volto ao cerne de tudo: acho que perdi minha identidade no processo de me encontrar. Cá entre nós, essa coisa da busca por autoconhecimento é quase mítica. Uns percorrem o caminho de Santiago de Compostela a pé, outros exploram todos os estados alterados de consciência para reconhecer (ou desconhecer) as suas várias faces, muitos rezam, alguns leem livros de autoajuda. Tem gente que escreve para tentar se conhecer. Se há um mínimo de eficácia nisso tudo eu não sei. Mas tento, há exatos 8 anos. E, de alguma forma, sinto que a minha verdade está justamente nessas palavras mal-ditas. Porque, não me engano, escrever também é maldição. 

Então eu espero. Sentido, fé, reflexão.  Espero não mais encarar um estranho ao me olhar no espelho. Ou ter, ao menos, a capacidade de me conhecer o bastante para que eu possa, quem sabe, me autobiografar. E se isso não acontecer, continuarei a minha prece diária:

Que minha inspiração não cesse e que haja sempre criatividade. Porque assim eu posso me (re) inventar.




Ela sente muito e tudo o que é sentido fica armazenado lá no fundo do fundo do fundo. Ela só consegue esvaziar a sua alma torturada assim: regurgitando as palavras. Não, nem sempre é bonito. Muitas vezes não é. Às vezes é cru e seco. Quase sempre é doído.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

Carta pra alguém do lado

Há tempos não me sentia tão confortável na minha pele, sabia? Um saco isso, pra quem adora dramatizar como eu. Você, você, meu amigo, me conhece melhor do que ninguém no mundo e sabendo das coisas que eu tenho passado, deve ter pensado que eu iria desistir. Ou, no mínimo, chorar bastante, abraçada com o  travesseiro. 'Para de ouvir essas músicas depressivas', você diria. 
Meu dia não foi dos melhores. Acordei de ressaca, e eu nem bebi, acredita? Eu estava desnorteada, o corpo lasso, queria ficar ali, imóvel, encarando o branco do meu teto e pensando, pensando nas palavras que eu tenho ouvido, nas situações que tenho vivido, no que eu tenho sentido, enfim. Ou dormindo, pra sempre, o que não seria ruim. Não pude me dar ao luxo, então fui à luta. Fiz todas as coisas que eu deveria fazer, eu com aquela paranoia de que a bagunça dos cômodos  é um retrato da minha confusão mental. Incomodada, coloquei tudo no lugar. Pus meu cd antiquíssimo do Bon Jovi pra tocar, eu sei, acordei não só acabada como brega. Enquanto conversava com meu irmão, interrompi o curso das palavras por um instante e meus olhos se encheram d'água assim, repentinamente. Ele, claro, não entendeu nada. Eu ficava repetindo: essa música é tão linda, tão linda (Bed of Roses, naquela parte do " About all of the things that I long to believe, about love, the truth and what you mean to me and the truth is, baby, you're all that I need"). Aí fui me esconder de vergonha por me sentir assim e, juro, foi só um projeto de, sequer chorei. Eu perdi o controle sobre as minhas reações, cara. A pior parte é essa: a agonia e a angústia que não saem daqui de dentro de maneira alguma, e você fica de um jeito tão triste, tão miserável que, por pouco, não sente pena de si mesmo. Tem coisa mais patética do que sentir pena de si mesmo? Foi com esse pensamento que eu decidi mudar o meu estado de espírito. Ok, tá uma merda, mas o que eu posso fazer pra que as coisas fiquem mais suportáveis? Exatamente isso: nada. Fiquei no meu canto, fazendo alguns resumos, ouvindo algumas músicas, revendo algumas fotos, lembrando, porque lembrando de outras coisas eu esqueço do agora. 

Tá todo mundo muito preocupado. Sinto que as pessoas falam comigo como se fosse pela última vez, como se a qualquer instante eu fosse embora. Eu sei que tenho exagerado, tá, talvez não tenha exagerado, mas eu estou num exílio - do mundo e de mim. Então quem se importa quer saber porque diabos eu não estou saindo com meus amigos, porque eu não atendo o celular e porque de vez em quando eu sumo (alguns pensaram mesmo que eu tinha morrido). Como eu li uma vez e sempre rio quando penso nisso: bom, se eu tivesse realmente sumido, você não estaria aqui falando comigo. Não estou nem aí se vão sentir falta de mim, eu estou me afastando pra tentar pôr as coisas em ordem. Deve ser mais uma dessas crises de identidade, de fé, de tudo. A Má diz que eu sou uma pensadora e, mais do que isso, uma inconformada, que eu analiso tudo, que eu sinto tudo e, por conta disso, sofro muito e amo muito, tudo assim, com advérbio de intensidade. Ela insiste que eu tenho que largar tudo o que não me apraz e sair correndo desesperada atrás daquelas coisas que certamente me farão feliz. "Veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara.” Tenho lido tanto Caio e ouvido tanto Damien Rice que parece que a melancolia fez de mim sua morada e não quer mais sair daqui. Até que ela tem um certo charme, um pouco Greta Garbo, a única coisa que eu quero no momento é ficar só. Com meus livros, com meus textos, com meus dramas repetidos e sentindo amor, e saudade, e uma tristeza que traz consigo a certeza (não mais esperança, Vinicius), de um dia não ser mais triste não.

Então, meu querido amigo,  a você que me lê agora, se perguntando onde está a minha vida, digo que está aqui, sendo vivida tranquilamente, sendo sentida intensamente, porque eu vou chorar muito ainda, e vou morrer de tanta alegria, porque as coisas são assim. Eu tenho o meu tempo, tenho essas crises, essa sou eu, até o fim. E a vocês que estão achando que eu sumi (e até morri), digo que essa é uma fase, que, inclusive, na minha idade ela é bem comum. Pareço perdida, mas sei muito bem onde estou. E eu não irei a lugar nenhum.

domingo, 19 de junho de 2011

"Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente."
(Clarice Lispector)

É tão pouco. Foi isso que ela dissera e que eu ouvi, atenta e pacientemente. Amigos são bons pra essas coisas. Eles não querem saber se você está caminhando nas nuvens ou se, aparentemente, você está feliz. Eles te trazem de volta ao mundo real, quando você corre o sério risco de passar da fase estou-feliz-pra-caralho-acho-que-vou-morrer-de-tanta-alegria para a estou-desesperadamente-infeliz-quero-me-jogar-dessa-janela. Amigos são assim.

Então a amiga disse coisas duríssimas de se ouvir. Coisas daquelas que saem da boca e entram na gente como se fossem um soco no estômago, as tais doses puras de realidade. Ouvi, chorei. Pensei. Fiquei em silêncio. O que há pra se falar quando você está ouvindo supostas verdades? Não há como refutar, nem argumentar, nem coisa alguma.  'Olha, sempre faça o que te faz bem. Não deixe que te firam, não se fira. É tão pouco, minha amiga.'

Ok. Pausa pra respirar. É tão pouco. É tão pouco...Essas três palavras ficaram dando voltas na minha cabeça e eu esperava respostas e definições, mas a única coisa que me ocorreu foi uma pergunta, essa: é tão pouco? 

Se é tão pouco, por que esse brilho nos meus olhos? Nunca vi  e nunca viram nada parecido. Falam por aí que estou, inclusive, mais bonita. E a mais surpreendente de todas as observações, feita por um amigo próximo: nunca te vi tão feliz nessa vida. Talvez seja loucura, talvez eu devesse analisar com cautela as palavras da minha amiga. Só eu sei o que eu sinto. E sei que não é pouco, quanto a isso não me iludo. Não pode ser e não é pouco. 
Porque pra mim esse amor é tudo.


Eu não me sinto mais sozinha. A propósito, estou-feliz-pra-caralho-acho-que-vou-morrer-de-tanta-alegria.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Você

"Eu queria solidão, para não ferir os outros nem ser machucada".
(Lya Luft)

Google Imagens



Você não diz, mas sei que não está tão bem quanto vem tentando aparentar. Sorri, disfarça, pega o celular e sai porque é difícil demais estar. Aqui, ali, em qualquer lugar. E procura por nomes, números, numa busca incessante por um pouco de atenção. Uma migalha qualquer serviria, porque você está sozinha e sabe muito bem como é desconfortável essa sensação. O incômodo de não se adequar na própria pele. E anda como quem está perdida, acende um cigarro, respira, inspira, solta a fumaça, olha pro relógio. E não há mais nada além. Essa é você. Só, no meio de tanta gente desconhecida, de tanta agitação, num frio desses que é mais interior do que externo, próprio da estação. Você, tão pacífica e equilibrada, tão sem ressentimentos, ok, beleza, vai passar, sempre passa, é só mais um dia ruim, amanhã eu acordo, tomo um banho e torço pra que isso não se repita, é um saco, eu quase infarto, sempre morta, sempre morta. Tão boa atriz que ninguém nota.

E você procura algum sentido, dramatiza, entra naquele restaurante, é mais uma garota sozinha sem nada mais apropriado pra fazer. Sozinha não apenas por falta de companhia, pois a solidão lhe é inerente. Estivesse ela num estádio superlotado: da mesma forma se sentiria.

Você é uma personagem num enredo patético e sem sentido. Você perdeu, no exercício débil de fazer de conta, a noção da realidade. Tirando os pés do chão você caiu e perdeu, inclusive, a sua identidade. Uma personagem que não tem o texto decorado.  Nunca poderia ocupar o papel principal, sequer atua em improviso. E improvisar era a melhor saída, afinal. Você, mais uma atriz amargurada e ferida.


Você, uma estrangeira na sua própria vida.


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Silêncios

" O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."
(Guimarães Rosa)

Silencio porque a voz que está aqui dentro de mim precisa de descanso. Um repouso constante se faz necessário. Assim, me perco nos outros sentidos, deixo o egoísmo da fala de lado, sorrio. Ouço e mentalmente analiso as palavras que ecoam por aí, ora com motivos, ora sem sentido algum. Nesses momentos únicos de silêncio, eu sinto. E sentir hoje em dia é tão mais raro, tão mais difícil. Um estado geral de acomodação se instaurou por aí. E falam, falam, falam, falam...quando muito pouco precisa ser dito. E sou daquelas pessoas que acreditam com veemência que um simples olhar pode ser muito mais eloquente. Há coisa mais incrível do que dizer tudo o que se deseja sem que se perceba qualquer som sendo emitido?
O silêncio não pode ser assustador. O silêncio representa tudo o que nós somos. O silêncio sai e chega em lugares inalcançáveis por meras palavras. O silêncio é o máximo da realidade. É, talvez, a melhor maneira de mostrar a (nossa) verdade.
E o silêncio aproxima porque faz efervescer sentimentos. Pensamentos se transformam em sensações e palavra nenhuma precisa ser dispensada. Pra que se expressar verbalmente sobre algo que pode ser sentido? Palavras são importantes, elas tem sua hora adequada. O silêncio é surpreendente, surge inesperado. Como flores deixadas no escuro, sem bilhete, numa fria madrugada. Nada escrito, nada foi dito. Os sentimentos, entretanto, ficaram muito claros. O silêncio é eloquente, repito.


Silencio. Em dissertando sobre o silêncio me contradigo...Eis que não paro de escrever sobre algo que eu deveria estar sentindo...Então, paro. 



E, como brinde ao silêncio, me calo.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Divã

Eu nem sei porque vim aqui. Mentira, eu sei. Mas tenho medo de falar em voz alta, tenho medo de expôr tudo isso que está secretamente guardado aqui dentro. Isso mata? Não sei, sei apenas que eu senti necessidade de vir aqui, despejar tudo o que eu ignoro, escondo, tudo o que me dá medo, tudo o que me assusta, tudo o que eu sou.
Bom, pra começo de conversa eu não sei se me sinto à vontade contando minhas coisas para um estranho. Pensando bem, acho que tenho dificuldades de me abrir com qualquer pessoa. É, talvez esse seja um dos motivos de eu estar aqui.
Por que eu fico tão calada? Costume, acho. Sempre passei mais tempo ouvindo do que falando...É um exercício de tolerância também, aprendi muito nos meus silêncios. Já me disseram que sou uma boa ouvinte, mas acho que esse não é o lugar mais adequado pra isso, né? Essa função é sua, pelo menos por enquanto...
A principal motivação que me trouxe aqui é banal. Pode rir, se quiser. Eu rio toda vez que falo isso. Não tenho conseguido chorar ultimamente. Contraditório, eu sei. Ok, muitos considerariam isso uma benção, mas não choro porque me faltam motivos, pelo contrário. Passei por muita coisa ultimamente e coisas bem duras, bem difíceis de lidar. Pra variar, fim de relacionamento. Se fosse apenas isso, talvez eu seguisse mais tranquila, mas duas semanas depois meu melhor amigo morreu. O mundo me pareceu sem sentido, nenhuma crença, fé, nenhum consolo, nada fez com que eu me acostumasse com essas perdas. Uma irremediável, outra, irreversível. Sinto um vazio grande, sinto uma dor imensa, impossível de descrever com palavras. Arrancaram um pedaço de mim e ainda não tive tempo de analisar tudo, de tentar entender, de me curar. A única coisa que persistia na minha cabeça era: eu não fiz tudo o que eu pude. Ainda persiste. Porque acabou, de um modo ou de outro, não há soluções. Guimarães Rosa disse e eu confirmo: " O trágico não vem a conta-gotas".

Eu preciso chorar. Preciso desabar mesmo, ficar sem ar, soluçar, ficar com os olhos inchados, dormir e acordar no dia seguinte disposta a continuar. Eu sei que tenho que seguir, mas ainda estou presa. Muita saudade,  de um jeito tão dolorido, tão desgastante, tão triste.

Meu relacionamento acabou por escolha.Na realidade, não há escolhas quando você está sem saída. Percebi que não havia sentido em me cercear em prol de outra pessoa que não estava se empenhando em fazer dar certo. Brigas, brigas, brigas, promessas, quebra de todas elas, desculpas e uma desculpa final. Não sei pra quem é pior no fim das contas...Mas o amor não acaba de um dia pro outro e algumas vezes você se pega pensando se fez a coisa certa. Se era aquilo mesmo que você queria. Eu pensei muito sobre isso. E decidi não pensar mais. Até que o Henrique morreu. Voltei a pensar em tudo novamente. Constatei que a vida é mesmo passageira e quando você menos espera, perde as pessoas que você mais ama. E eu perdi duas num curto espaço de tempo.

Parei para pensar na minha vida também. Em tudo que eu queria fazer e não fiz, no tempo que eu perdi. Quem sou eu? Já não sei mais. Eles se foram e levaram a minha identidade.

Sobre o amor? Eu tive alguns relacionamentos, a maioria deles duradoura. Sempre tentei ser coerente, fiel, acima de tudo, a mim mesma. Então, se eu não estou satisfeita, o mais sensato é seguir só. Só que a solidão apavora. Na solidão, a gente enfrenta os nossos fantasmas, enfrenta as decepções, enfrenta tudo aquilo para o qual fechamos os olhos. Tem coisas que a gente simplesmente não quer ver.
Confesso ter ficado um pouco amarga com o passar do tempo.. Cada relação que acabava, arrebatava consigo um pedaço do meu coração. Amei muitas vezes e perdi. Faça as contas do que sobrou. Porque essa amargura é um sinal de que eu sofri, mas tentei. Não foi por ter amado de menos. Foi porque eu amei demais.

É só saudade o que eu sinto do Henrique. Ele é eterno. Adorava se exibir, era absolutamente espontâneo, criativo, lindo. Ele era exatamente o meu oposto. Confesso que sentia um pouco de inveja dele, porque ele era tudo o que eu queria ser. Eu fechada, reservada, até fria. Ele era a vida em seu ápice, em sua forma mais bonita. Ele ter simplesmente ido assim, sem se despedir, não entra na minha cabeça. Sinto calafrios por dentro, sinto vontade de sair correndo pra onde ele está. Eu só queria olhar de novo naqueles olhos cinzas. Eu só queria dizer adeus.

Por que eles saíram assim da minha vida? Um por escolha, outro por destino. E ambos me doem, talvez não da mesma forma, não me importa nada disso, só sinto essa dor latejando no meu peito. Se essa dor fosse vertida em lágrimas, quem sabe eu pudesse me acostumar. Mas dá pra se acostumar com essas perdas?
Meu coração sinaliza toda hora que existe algo ausente. Que não restou nada, além da falta.

Estou pensando nele. Nele que até tão pouco tempo atrás era parte de mim. Não me imaginava passar os dias sem uma conversa, um beijo, a presença. "Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera." Um dos sermões do Pe. Antonio Vieira, já ouviu falar? De todas as razões para o fim esperado, o tempo foi o mais cruel. Você planeja de todo o coração passar a eternidade com alguém. Faz juras de amor, faz uso recorrente das expressões "nunca" e "sempre". Tudo no amor é extremo. Nunca se quer deixar o outro porque pra sempre prevalecerá o amor. E o tempo, traquina, bagunça tudo. E nos faz constatar que, na maioria das vezes,  nunca é pra sempre. Cá estou amargurada novamente, não é? Mas posso te contar um segredo? Dessa vez , dessa única vez, eu acreditei que fosse.


Acho que estou chorando, afinal. Porque os sentimentos que estão aqui dentro são fortes demais, hora ou outra romperiam esse olhar que busca algum sentido agora, agora em que não há. Eu queria que fosse verdade, que eu aproveitasse o máximo que eu pudesse da companhia deles, porque sabemos muitas coisas, mas não sabemos nada quanto ao fim. O fim esperado, o fim imprevisível. Os fins que sabe-se lá porque acabaram se encontrando na minha vida, tão repentinamente. E não há sequer preparo pra esse tipo de coisa. 

Talvez você tenha razão. Fazer com que haja alguma lógica nisso tudo cabe a mim. Porque os fins, de repente, podem significar um começo. Um aprendizado, uma lembrança de que algo valeu a pena. Perder-se também é caminho, não é o que dizem? Que eu sinta saudade, que as lágrimas caiam e que eu tenha força para enxugá-las. Que eu perca, que eu me perca. E que eu saiba me encontrar.




domingo, 3 de abril de 2011

Ace

Agony and angst
So deep inside
Some kind of sorrow
Some kind of blue
Too much
(feelings and needs)
I just can't hide.

All these tears that drop from my eyes
Water that flows without a course
Flows to somewhere?
Where? I don't know. 
Maybe to an empty space right here
That just can't be fulfilled
That can´t be shown.

I miss something I hadn't lived
Old days, old thoughts, any happiness
I feel an awkward kind of grief
Just like I am missing
A part that hurts, a piece of me
Everywhere I go, I don't fit in.

Sometimes I wish for an ace
That changes the game, changes a life
New beginnings, some kind of hope
Like the lucky you may have throwing the dice.

I'm stranger to myself
And sometimes
(so many times)
I lost my sense
Don't recognize my mind
With this whirlwind inside my head
I stare at the mirror
I feel I'm dead.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Presente

"Você sabe aquelas coisas?
Roupas, cintos, algumas bolsas
que tem dupla face?
Você é assim, não tem avesso
o interior que fica muito escondido
é ainda mais bonito..."

(S.L.)

P.S.: Ganhei esse poema de presente!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ruby Tuesday

"Don't question why she needs to be so free
She'll tell you it's the only way to be
She just can't be chained
To a life where nothing's gained
And nothing's lost
At such a cost..."

(Mick Jagger/ Keith Richards)



Ela entrou no mesmo bar de costume, como sempre, sem se perder em conversas evasivas. Ela só queria se perder. Ela entra, pede sua bebida, dá um gole, olha para os dois lados, não compreendendo aquela monotonia, não entendendo se era algo interno ou o ambiente é que a trazia, acende seu cigarro, afinal, com um trago, qualquer dúvida é respondida.


Olha para o homem que está sentado numa mesa bem distante de onde ela está. Ele é velho. Bem mais velho. Uma barba espessa e branca cobre boa parte do seu rosto  marcado por grandes sulcos. O tempo deixa marcas, ela pensa. E, de algum modo, aquele rosto lhe parecia familiar. Ela impulsiona seu corpo para a frente, deixando de apoiar um dos cotovelos na mesa, força o olhar mas não consegue enxergá-lo com clareza. Há fumaça em todo o ambiente, um forte cheiro de cerveja, o som da jukebox se confunde com os gritos de alguns rapazes jogando sinuca numa outra mesa.

Observar a vida dos outros era atividade interessante, fazia com que ela tirasse um pouco o foco de tudo que dizia respeito a si mesma. Bastava de egoísmo. E, por uma questão de ego, ela buscava um sentido qualquer, porque nenhuma filosofia lhe satisfazia. Sentido , direção. Ela estava perdida.

Naquele tempo em que ficou ali, não conseguia tirar da cabeça a idéia de que aquele homem fazia parte da sua vida. Deja vu. Já esteve naquele exato momento, exatamente assim, em algum lugar no passado.

Louca, pensava consigo mesma se ele sentia a mesma coisa, como se esse encontro houvesse acontecido antes. Mas ele não respondia aos seus olhares investigativos.

Sua cabeça já parecia não funcionar corretamente. As luzes do bar pareciam cegar seus olhos, a cada passo que dava sem direção, ela já não sabia mais se estava sobre os próprios pés ou se já tinha passado das oito doses de whisky.

O único pensamento lúcido que lhe ocorria naquele momento era de que ela só encontraria as respostas que tanto procurava se falasse com aquele homem.

Quanto mais ela se aproximava dele, estranhamente, mais ele se distanciava. So fucking high. Bêbada, tentando entender alguma coisa, tentando ter controle. Tentando não chorar no meio de tantos homens e mulheres sem destino, mas cheios de ilusão. Bem como ela.

Fumaça cada vez mais densa, passos cada vez mais tortuosos e trôpegos, cigarro manchando seus dedos, e a ansiedade, a angústia, a dúvida. A certeza de que não havia nada ali que fosse mudar a sua vida. Ou fazê-la encontrar sua identidade, perdida em alguma esquina.

Então, ela começava a ouvir um som familiar. Uma velha canção dos Stones. Sua preferida. Com uma das mãos agitava seu cigarro, com a outra tentava trazer mais nitidez ao seu caminho, dissipando aquela nuvem que se formava em sua frente.

Encontrara um espelho. Mirava seu olhar, com certo receio e muita surpresa, sobre si mesma. Observava seus lábios se moverem acompanhando aquela melodia. Não se sentia mais tão perdida. Literal e ironicamente, ela se encontrara. Ela se sentia estranha, talvez. Mas não somos todos estranhos a nós mesmos?

Um espelho, obviamente; em que todas as perguntas são respondidas, onde a verdade é desvendada. Um espelho: ali a gente encontra uma saída.


"Goodbye, Ruby Tuesday, who could hang a name on you, when you change with every new day, still I'm gonna miss you..."



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Clarice


"Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes..."
(Renato Russo)


Você já mediu a profundidade de um corte? Isso não me interessa, baby. O que me importa é  ver o sangue pouco a pouco jorrar e manchar a minha pele branca. Contraste, entende?
Doce sinfonia dos gemidos abafados pelo travesseiro.  Cabelos ensopados de suor, de lágrimas e de incertezas. Essa máscara me caiu muito bem. E, por genuína vaidade, paro para me olhar no espelho, encarando a minha pior metade. E as gotas rubras escorrem pelos meus dedos, pego um papel e começo , com orgulho, a escrever minha carta-testamento.

Estou muito cansada. A dor chega me dissecando de todas as formas e eu não posso mais comigo.  Parece que o fardo pesa demais nessas horas e eu não encontro abrigo. A solidão me acompanha com essa lâmina e isso nunca foi o bastante. Tantas vezes eu apenas chorei, abraçando meus joelhos, com vergonha de mim mesma por não ser tão forte assim. Mas penso no que chamam força e vejo tantas incoerências. O mundo é absurdo e exige de nós uma força hercúlea pra lidar com a vida. Eu não quero socorro. Eu quero a liberdade de estar na minha própria pele com conforto. Da maneira que as coisas tomaram seu curso, passei a odiar cada parte do meu corpo e da minha alma, se existe alguma. Eu só queria viver, baby.  E acho que viver foi sendo subestimado. Viver é fácil para  os entorpecidos pelo poder, seja ele qual for. Eis o preço que paguei para ser quem eu sou. Temos algemas mentais. Aqueles que tentam rompê-las sofrem demais. Sofri muito acreditando na beleza da vida. Até tudo virar cor e pó. Cinza. A felicidade é um olhar diferente para cada ser humano. E ser humano às vezes é ser infeliz. É ser magoado, é ser humilhado, é ser traído e não-considerado. Às vezes ser humano é só ser. E isso, baby, não tem graça alguma.
Em não sendo, vou tentar me adequar, onde haja a permissão para que eu seja fraca e sensível. E que a dor desapareça. Que eu enlouqueça, porque de coisas normais eu já estou cheia.
A propósito, mudei de identidade. Meu nome agora é Clarice. E à outra que morava em mim digo: desapareça.



 Clarice só tem 14 anos.

domingo, 14 de novembro de 2010

Do espelho


Eu não te reconheceria. Aqueles olhos penosos, desconfiados e uma boca que ensaiava um sorriso sem mostrar os dentes, um sorriso contido, uma dispersão aparente. Uma inocência que estava no limite do amadurecimento. Era notória a sua diferença. Era notório que você tinha marcas que estavam estampadas no seu rosto infantil, no seu pequeno corpo, na sua velha alma. Ingênua, tímida, com um ar de tristeza constante.
Eu não te reconheceria. E, à época, certas canções te prendiam, te fixavam e, posteriormente, se tornariam trilha da sua vida. Sempre solitária, sempre quieta, sempre fechada.
Eu não te reconheceria, nem naquelas fotografias, foram tantas mudanças, jamais imaginaria que, de alguma forma, você conseguiria.
Eu não te reconheceria. Se consegui foi por identificação imediata com aquele olhar. Eu me olho no espelho e percebo: algumas coisas nunca mudam, por mais diferentes que por agora pareçam. Posso ter segurança, melhorado minha aparência, crescido de todas as maneiras possíveis, pois de 6 para 20 anos há distorções. O reflexo diverge, mas algo permanece intacto. A incompletude e a solidão ainda me assombram.
Se eu pudesse dizer algo àquela menina que tinha medo de sorrir e de falar, diria que eu estou indo bem, que ela não precisava ter tantas cicatrizes para olhar hoje em dia, porque o tempo trata, a seu modo, de resolver tudo que parece insolucionável. E as piores coisas que te aconteceram durante a sua infância, coisas das quais você se lembra com clareza e que ainda te doem por dentro de uma forma insuportável...Tudo isso te transformou no melhor que você podia ser.
E aquela canção que você ouvia sem muito compreender, ela é verdade, é o mantra da sua vida desde sempre: “ Tudo passa, tudo passará..."

Mas, honestamente, você não precisava se doer tanto.

sábado, 23 de outubro de 2010

Da Renovação - II

Para você que, de algum modo, conseguiu surpreender a todos com mudanças (in) esperadas, e se pegou surpreso consigo mesmo por ter, de fato, chegado onde queria, mesmo não sabendo exatamente o que isso significa.
Para você que saiu do conforto dos lençóis e travesseiros e resolveu desbravar as madrugadas, todas as suas luzes, mistérios e segredos.
Para você que se permitiu ficar horas e horas a fio conversando com pessoas surpreendentes, aprendendo tantas coisas novas e obtendo novas perspectivas.
Para você que se cansou da mesmice e da rotina e resolveu mudar por completo a sua vida.
Para você que terminou aquele relacionamento que, embora seguro, não mais satisfazia.
Para você que se emaranhou em teias e jamais pensou que conseguiria se desprender um dia.
Para você que mergulhou de cabeça em situações sem saber no que daria.
Para você que teve a coragem de assumir riscos e que suportou os possíveis danos.
Para você que devorou muitos livros e que aprendeu muito com cada página escrita.
Para você que lutou pelos seus sonhos com determinação, mas sempre com os dois pés firmes no chão.
Para você que está reaprendendo a amar e sente como isso pode ter grande valor.
Para você que está encantado com os rumos que a vida tomou.
Para você que se pegou sorrindo um sorriso bobo e pensou algo assim como: " Lá vem a vida me surpreender de novo!"


And then again, life amazes me.






Da Renovação - I

Eu estou me saindo bem. Não tenho dormido tanto quanto antes, pelo contrário, tenho estado mais acordada do que nunca. Tenho feito as minhas unhas, vermelho, como você bem sabe, tenho cuidado do meu cabelo, engordei um pouco, mas nada do que a minha volta à rotina de corridas pelas manhãs não resolva. Estou fazendo as pazes comigo. Ontem, deitei na minha cama, olhei para o teto, depois para as cortinas que fechavam a janela e impediam a claridade de entrar...Ontem eu me dei conta de que não estou me sentindo mais vazia. Pelo contrário. Tenho me sentido mais viva a cada segundo. E olha que nos últimos tempos eu estava pouco confortável na minha própria pele. Eu não estava aguentando, sabe? Quem diz que todos tem força pra aguentar o tranco pode até ter razão, mas tem certos momentos em que a gente é fraco, pessimista, egoísta demais. Pensei em me tacar pela janela. Pode rir, mas estou falando sério. Fiquei deitada, ouvindo aquela música do Renato, "estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado", é, isso mesmo, do último disco...Clarisse, lembrei agora o nome dela. Nada mais fazia sentido, entende? E eu sei que você vai dizer que além de eu ter sido pega num momento de fraqueza, eu não teria coragem de ir adiante. Eu concordo. Mas daquela vez, naquela única vez, o pensamento foi lúcido demais. Como se fosse uma outra pessoa me convencendo a ir adiante. E eu quase fui. Engraçado como a possibilidade me parece aterrorizante agora. Naquela tarde ela era atraente.

Aí me surpreendi com um bombardeio de ideias positivas, vindas da minha mãe, especialmente, me dizendo que eu precisava ter uma visão nova diante da vida. Fechei os olhos enquanto ela falava e me veio tanta coisa boa, tantas perspectivas onde só havia um buraco negro. Onde eu só enxergava cinza. E a visão começou a ficar menos embaçada e, estupidamente, tudo começou a mudar. Eu ainda rio quando falo disso, sou tão desacreditada que, ao me ouvir explanando tais palavras, acho graça. Porque é irônico, porque é divertido, porque eu estou me sentindo bem como há tempos não me sentia. E sei que isso foi tão merecido, tão suado, tive que me desconstruir para me edificar tantas vezes, que sinto orgulho dessa sensação. E você ri de mim novamente. Sim, eu estou me sentindo boba...
Fazer o quê, melhor do que ficar naquela constante amargura, não é?

Ok, chega desse papo todo, o que eu quero dizer é que eu não estou mais tão preocupada com o que deu errado...Na verdade, estou empenhada em fazer dar certo. Acho que atentei mais para aquele último trecho da música, deixando de lado toda a depressão tempestiva...Eu escolhi voar pelo caminho mais bonito.