segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

2020

Todo dia é inédito. É uma página vazia num livro em aberto.
Somos protagonistas do nosso enredo. 
Desejo que possamos desempenhar com maestria o nosso papel, aquele que vem de dentro.
Sem plateia, sem aplausos, sem roteiro.
Viver é dar o melhor do nosso jeito.
Que sejamos íntegros e inteiros.
Que saibamos rir dos nossos erros e não nos vangloriar demais dos nossos acertos.
Que acolhamos os silêncios, os vazios, os abismos.
Que possamos nos olhar no espelho sem medo.
Com amor, cuidado e respeito.
Que sejamos sempre o nosso centro.

Que venha 2020.


Às vezes é preciso silêncio. Não apenas o de ouvir. Mas o de calar.

O silêncio que mantém a mente quieta.
O silêncio que inspira.
O silêncio que regenera.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

O tom geral do ano foi de pessimismo. E isso ficou refletido na falta de inspiração, de leveza, de força vital.
Mas há algo em dezembro que não nos deixa esmorecer, por mais difícil que seja.
Há um ímpeto qualquer de esperança que nos impede de parar. Porque a vida é isso mesmo: altos e baixos, dias de sol, dias nublados. 
E seguimos em busca do arco-íris quando cessa a chuva; da aurora, depois da noite escura.
O importante é não se perder do caminho. 
E tentar encontrar beleza em meio aos espinhos.
E hoje, especialmente hoje, foi um dia bonito.

sábado, 21 de dezembro de 2019

E agradecer. Hoje só agradecer. Por Milton, Lô, Chico, Gal, Caetano, Gil, Bethânia, Rita, Ney, Moraes, Alceu, Zé, Geraldo, Pepeu, Baby, Oswaldo, Marina, Adriana, Marisa, Cássia, Zélia, Nando, Arnaldo, Renato, Frejat, Cazuza, Rodrigo, Marcelo, Mallu, Pethit.

É um privilégio estar viva e entender a língua  mais bonita. 


quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Estranho encerrar esse ano tendo escrito tão pouco. Sinto como se eu tivesse perdido parte da minha essência, já que a escrita sempre me foi vital. Não sei se é pior o silêncio ou a falta de reconhecimento com quem eu era há 10 anos. Tenho medo de ter perdido o jeito, de ter endurecido tanto a ponto de afastar de mim as palavras.
É até difícil acreditar que um dia já escrevi com tanta fluidez. Bastava o sentimento, um olhar mais atento, bastava a paisagem. E lá vinham elas, de mãos dadas. Hoje sobra silêncio, falta coragem. 
E entre abismos e vazios, calei meu grito. 
Só agora, em meio à escassez, me dei conta de como era bonito.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019





São Paulo ainda não me abraça. E eu que achava que estar no norte era se distanciar do que eu chamava lar. A cidade se apresentou pra mim toda iluminada, sol flamejante e céu azul num dia limpo. O trânsito fluía. Acho até que esbocei um sorriso. Mas aí veio o aperto no peito, a secura na boca, a taquicardia. Prestes a dormir, acordava em sobressalto, um ímpeto de quem está na iminência de ir. Mas eu tinha acabado de chegar.
Depois a neblina tomou lugar. A tarde sem cor, a chuva fina, a minha pele desacostumada do frio, meus pêlos eriçados, arrepios. Nada pra aquecer, nem Caio F.,  nem vinho tinto: a sós, eu comigo, agasalhada, mas sem abrigo.
E me lembro de uma música que nunca ouvi. Talvez não exista amor em São Paulo. O que sinto é um descompasso, parece que o coração tá no ritmo errado, correndo aos trancos, insistindo em bater aos solavancos.
Nada grave. Olho pela janela na busca de algum pedaço de beleza e tudo ao redor é concreto. A cidade é demasiadamente cinza.
Há barulho em excesso quando é silêncio o que peço.
A paisagem escancara o que sinto.
(28/11/19)

*

"E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso." (Caetano Veloso)


Reli o texto algumas vezes e fiquei em dúvida se deveria publicá-lo. O tom dele é grave, soturno, quase amargo. Mas era o que eu sentia nos primeiros dias. O fato é que eu estava anestesiada. Os hormônios descontrolados, a mudança abrupta de clima, o excesso de intensidade. Foram momentos difíceis. O meu peito precisava de sossego. O coração pedia arrego, tamanho o descompasso. É impossível não pensar nas palavras de Caetano, pois ao cruzar as ruas dessa cidade infinda eu nada entendi. Tudo é novo, insuspeitado. Diferente, intrigante, apressado. Fico feliz de não ter caído na armadilha de Narciso; quebrei o espelho, evitando o meu naufrágio.
Pude me encantar. Não à primeira, nem à segunda vista.
São Paulo exige olhar desacostumado.
É preciso estar atento.
A cidade cinza vibra poesia
E de alguma forma a rima dela encontrou a minha.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Escrevi muito menos esse ano. As palavras sempre me vieram com força, a escrita fluía. Mas tudo nesse ano me paralisa.
Não tenho inteligência emocional pra lidar com a situação que estamos vivendo.  O dia de hoje, pra mim, talvez tenha sido a gota d'água.
Saí do celular e fui pra cozinha chorar. Difícil conter quase 365 dias de raiva e de lágrimas. Um misto de ódio e impotência por não entender ainda como chegamos a esse estado de agressão, em que a violência não apenas é normalizada, como estimulada.
Falhamos como nação quando elegemos um político que não sofreu uma sanção sequer ao exaltar um torturador dentro da casa do povo.
Falhamos como nação quando perseguimos a imprensa, criminalizamos jornalistas, ameaçamos a oposição.
Falhamos como nação quando aplaudimos  um jornalista que coloca em dúvida a capacidade de um colega de cuidar dos seus próprios filhos e de constituir família, num ataque pessoal baixo, e que ainda o agride fisicamente num programa de rádio, de forma covarde.
Falhamos como seres humanos quando colocamos Deus acima de tudo e esquecemos de ter empatia, solidariedade, compaixão.

Não sei onde isso vai dar, mas tenho medo dos dias que virão.








domingo, 27 de outubro de 2019

Noites sem lembranças, sem sonhos, só álcool, mais um trago, a droga, o cigarro, voz tentando se fazer ouvir, voz que só precisava mesmo calar, dar espaço, fazer silêncio, sentir.
Barulho demais, todos os excessos e rostos apáticos, anestesiados, disformes, a esmo.

Ninguém se percebe, ninguém se ampara, todas as angústias juntas, de mãos dadas.
Mais um encontro pra se perder. 
Mais uma vez se olhar no espelho, sem maquiagem, com desepero.
E não se reconhecer.
Retomar o curso das palavras
Para que elas me tragam
De onde eu parti
De volta pra mim.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

11/10

Todo dia 11 de outubro é triste. E tenho a impressão de que sempre é nublado e chuvoso, como se fosse da data ter esse tom acinzentado, inundado de melancolia.
No dia 11 de outubro você se despedia. E deixava uma legião de órfãos sedentos da sua presença, da sua voz, sua poesia.
Revisito seus discos e entrevistas, releio sua biografia, trago seus símbolos marcados na pele só pra te manter eterno nos meus dias.
E você é, Renato.
Você me salvou tantas vezes de mim mesma...  Devo a você ter encontrado as respostas que eu precisava quando tudo parecia sem saída.
"Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho." Eu entendi.
O correr do tempo não desbotou as rimas.
Você é (e sempre será) minha trilha preferida.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Eu me rendo. E entrego ao Universo todos os meus anseios.

domingo, 22 de setembro de 2019

O sol sairá de Virgem...
A Moura deixará o Rio...
Cada vez que você retorna, faz tal como Perséfone apontando na superfície. Faz uma primavera nos corações.
Você nutre como ninguém os afetos e aperta cada laço que entrelaçou.
Na sua perfeita imperfeição exibe um coração, uma candura, uma menina-irmã à empoleirar-se em nossos ombros e levar um pedacinho do nosso ventrículo esquerdo.
Em nós ficam teus risos felizes em rever, as lágrimas que dizem tudo em seu silêncio,
os olhares reprovantes oriundos da carta natal.
Só mesmo muitas vírgulas pra separar tanto a dizer de você.
Só mesmo a nostalgia que a idade trás para te dedicar linhas.
Só mesmo uma marca de passado, numa plateia para marcar teu retorno (tão forte quanto Saturno quando volta).
Só mesmo amor genuíno cheio de bem querer pra me lembrar que você é importante.
Parafraseando o poeta de Xerém..."descobri que te amo demais..."
O tempo pode ajudar a limpar as vistas e nos faz enxergar a verdade que fica.
E sua amizade fica, resiste, renitente, metódica, insistente.
Agradecimentos múltiplos ao acaso por fazer nossos corações se reconhecerem em amizade.
Te deixo embaixo de sete chaves.
Quando voltares trás o Rio que levaste na sua alma, para o norte.
Trazes também os abraços e conversas que me deves.
Pague com juros!
(Sergio Fróes )

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Não contenho as lágrimas ao pensar no nosso amor, que nasceu aqui, à beira do inverno, na cidade que é sinônimo de sol.
Não pensava que um lugar era capaz de despertar tantas sensações, tanta leveza, tanto afeto.
Amar você no Rio de Janeiro é licença poética. É voltar às origens, fortalecer as raízes, entender os motivos (ainda que eu não precise deles) pelos quais tinha que ser.
Foi difícil atravessar os dias sem você nessa cidade em que tudo tinha o seu jeito, o seu cheiro, as nossas mãos dadas.
Entre chegadas e partidas, hoje somos. Há amor que não cabe no peito, que transborda no dia a dia e se eterniza. Não há rotina que me faça cansar do que nós temos.
Eu te tenho.
E não há nada nesse mundo que me faça mais feliz do que poder dividir essa vida com você.
Obrigada por fazer da minha vida uma poesia diária.
Você é a razão da minha alegria.
(Esse texto poderia ser resumido e não perderia o sentido: eu amo você.)
Escuto JB FM nas noites do Rio. Só pra eternizar a nostalgia, pra guardar a sensação de pertencimento nessa cidade que me inspira poesia. Do vinho, só preciso de uma taça. Faz frio, mas estou aquecida.
Estou à beira da saudade constante, sofro por antecipação com a despedida.
Às vezes sou tomada pela ansiedade, choro sozinha.
Mas me recomponho. E me perdoo.
Abraço o agora.
Estou presente.
Fiz as pazes com a amiga, com as palavras. Comigo.
Escuto JB FM porque é mais que apenas uma trilha.
É música que traduz o amor que sinto.
Celebro as lembranças e a vida que acontece aqui, nesse instante.
Eu brindo o Rio.

sábado, 7 de setembro de 2019

Depois de dias cinzas, fui presenteada com calor e céu azul no meu dia, nesta cidade cujo sinônimo não pode ser menos que maravilha.
Sou inundada de amor. Não me caibo de tanta alegria.
Sinto Deus em toda a sua plenitude.
Mais um ciclo se renova. Nesse ano novo pessoal, tenho a oportunidade de estar exatamente onde eu gostaria. Mais uma vez sou abençoada por desfrutar dessa vida, que nem sempre é fácil, porém vale a pena ser vivida.
O que eu tenho é muito mais que apenas sorte.
"E aos vinte e nove com o retorno de Saturno, decidi começar a viver..."

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Basta estar no Rio para que as palavras retomem seu curso. Na madrugada, quase não ouço nada, mas sinto tudo.
O Rio alinha meus pensamentos, dá vazão aos meus sentimentos, me dá prumo.
A cidade me lembra do que a rotina exaustiva  quase me faz esquecer.
O quanto de amor e liberdade exala. O quanto eu me sinto em paz nesse lugar.
O Rio é sinestesia, cheiro, gosto e cor.
O Rio é minha casa. O Rio sempre me abraça.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Sol em virgem

Chorei assim que entrou o dia 23. O sol se despedindo de leão e dando boas vindas a virgem. 
Chorei porque por um minuto tudo fez sentido ao mesmo tempo em que eu quase não entendi nada. E corri pra pegar papel e caneta na esperança de ter uma epifania. Mas só senti, não precisei escrever. Uma forma de liberdade.
O mundo, que anda tão confuso, pareceu de certa forma lúcido.
Talvez seja o retorno de Saturno.
Mal consegui dormir, acordei cedo. 
Fiz faxina na casa, joguei uma porção de coisas fora, liberei espaços.

Dentro, fora.
As palavras agora vem fácil.
Sinto sua falta. E parece ser cada vez mais difícil dizer. E pensar que alguns anos atrás o que não nos faltava era coragem. 
Ainda lembro quando escuto Capital Inicial.
Seu aniversário nunca passa em branco pelo meu calendário.
A maior parte das minhas fotos tem você.
Acho isso estranho, depois de tanto tempo ainda saber seu número. Apaguei da agenda, mas nunca saiu da cabeça. 
É difícil fortalecer os laços. Tudo parece superficial. Transitório. A cada ano o círculo se fechava e sempre me perguntava quem eu era. São poucas pessoas que sabem. Você é uma delas.

Nem conto as vezes em que fiquei sem saber se a briga toda foi por achar que não havia mais amor. 
Aí reli aquele texto que escrevi sobre a gente há quase 5 anos. E me dei conta de que na verdade nunca faltou.

Ainda estou aprendendo. Talvez você esteja também. A vida é cheia de vírgulas, interrogações, reticências...
Mas em se tratando da gente, da nossa história desde adolescentes, difícil acreditar num ponto final.
Penso em você.
Penso em você com carinho e amor.
E espero que você esteja bem.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

As respostas às minhas perguntas desbravo sozinha. O correr dos dias muito me ensina: reflito, divago, silencio.
Hoje eu brindo a minha companhia. 
É complexa essa jornada pelos caminhos de dentro. 
A solitude me abraça, não me sinto desamparada. Não tenho medo.
Tenho aprendido muito sobre mim.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Os dias cinzas vem sendo um fardo pra quem tem um pé no passado. A nostalgia grita. Dá vontade de desacelerar alguns passos.

O futuro parece cada vez mais incerto. E pesado. Falta leveza.
A esperança quase se perde na rotina, é muito difícil encontrar qualquer resquício de beleza.

No teatro, antes mesmo do espetáculo, sem qualquer cerimônia, comecei a chorar. 

Ainda estou aqui, sou vulnerável, a sensibilidade não me envergonha. Sou grata por não ter embrutecido, viver não vale nada se não nos deixamos tocar.

Aos tropeços, enxugo as lágrimas e busco todos os dias algo que faça sentido, algo que me motive a continuar.
Insisto em fazer poesia porque há vida e não podemos parar.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

É inevitável pensar em tudo que atravessei enquanto escrevi boa parte dos meus textos. A memória não vacila: as palavras me entregam.
Venho resistindo. Porque a página em branco sempre foi meu abrigo. E ultimamente o silêncio toma lugar.
Não é fácil. Queria poder transmutar o sentimento, torná-lo eloquente, palpável. Queria, quem sabe, exorcizá-lo. Retomar a beleza da escrita.
Tem sido difícil. Os ares pesados me contaminam. E às vezes (muitas vezes), me pergunto se há sentido. Se há saída.
Escrevo com os olhos cheios de lágrimas.
A poesia me salvou inúmeras vezes, me acompanhou quando me senti desamparada.
Impossível dissociar a sensibilidade do meu contexto.
Impossível inventar um roteiro. A realidade já é dramática.
Eu tento. Por teimosia, como um manifesto.
A dor às vezes abafa, mas há uma voz inquieta, que jamais cala.
Escrevo também como forma de resistência. 
É o meu enfrentamento.

sábado, 20 de julho de 2019

Todo ano dedico um texto a essa data. A reflexão quase sempre vem fácil. Mas é fato que tem sido difícil expressar o que sinto sem deixar de lado a influência de tudo o que me paira. 
Acredito sinceramente que a amizade deve ser celebrada todos os dias. E assim como os demais afetos, prescinde de uma data específica. Meus amigos - os poucos remanescentes, resistiram. E até a palavra resistir é abundante enquanto signo, repleta de significado. Porque os obstáculos são reais. Há as mudanças que são naturais com o atravessar dos dias. Há a distância, a falta de tempo, a rotina exaustiva. E nada disso foi suficiente para quebrar esse elo, para separar as nossas mãos dadas. Podendo ir, meus amigos decidiram trilhar comigo essa jornada. 
Amizade é essa escolha genuína.
É uma espécie de liberdade: não há nada que nos prenda, a não ser essa vontade imensa de ficar.

sexta-feira, 5 de julho de 2019


A imensidão do rio me ensinou a não temer o que desconheço
As águas turvas não alcançam o meu olhar
Nada sei de profundidades
Mas ainda que meus pés não sintam a terra firme
Por não me bastar a superfície
Escolho nele adentrar

quinta-feira, 27 de junho de 2019

É tão estranho o correr do tempo
"Quando olho para mim não me percebo"
E concordo com Caio, com Clarice, Caeiro.
Porque passei por mim depressa
Me atravessei e sequer me entendi
O quanto eu me transformei naquilo que não prometi 
O quanto me afastei
O quanto endureci 
Por medo de perder, perdi
O laço que havia
O sentido da poesia
A conversa, a intensidade, a vontade de gritar 
Onde havia orgulho sobra medo
Fico acovardada em frente ao espelho
Tenho essa necessidade de enfiar o dedo da garganta e colocar pra fora tudo o que eu não digeri 
Eu que não me entendo, tento me encontrar
Por isso escrevo

terça-feira, 25 de junho de 2019


Não tenhas nada nas mãos 
Nem uma memória na alma, 
Que quando te puserem 
Nas mãos o óbolo último, 
Ao abrirem-te as mãos 
Nada te cairá. 
Que trono te querem dar 
Que Átropos to não tire? 
Que louros que não fanem 
Nos arbítrios de Minos? 
Que horas que te não tornem 
Da estatura da sombra 
Que serás quando fores 
Na noite e ao fim da estrada. 
Colhe as flores mas larga-as, 
Das mãos mal as olhaste. 
Senta-te ao sol. Abdica 
E sê rei de ti próprio. 

(Ricardo Reis)

sexta-feira, 7 de junho de 2019

No fim do arco íris não há pote de ouro.
A recompensa está no caminho:
O arco íris é o tesouro.

sexta-feira, 24 de maio de 2019


"Aí está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar." (Clarice Lispector in Felicidade Clandestina)

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Interrompi a leitura. Adio o final, não quero apressar as páginas. Às vezes (muitas das vezes), um livro não é só um livro. Às vezes ele ordena lembranças, traz de volta algum sentido. De tão bem guardado, parecia perdido. O pensamento ancorado. O começo irretocável. Aquela ideia quase ingênua na varanda inundando a noite, o cigarro aceso, o copo meio cheio. E uma vontade louca de transmutar a sensação em palavras, de eternizar a brevidade do momento.  Adriana Calcanhotto dando o tom ao que eu sentia. Um torpor agridoce daquilo que fui um dia. A gente atravessa os dias tentando repetir a dose, dar concretude ao que é nostalgia. 
É por isso que escrevo.
Na beira mar o texto vem fácil.  
Viver é menos pesado quando se tem os pés na areia. 
Na madrugada da cidade que não dorme teci uma paisagem. Sem solidão, sem remorso, em silêncio.
Sentada na varanda, cigarro aceso, compus o meu enredo.
Eu, minha personagem. 

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Estou aprendendo:
A cada dia dou mais um passo para dentro
Para me encarar sem medo
Para saber mais de mim
A vida é um grande espelho
Só compreendo todo o mistério
Quando me reconheço.

sábado, 11 de maio de 2019

nada que o sol 
não explique

tudo que a lua 
mais chique

não tem chuva 
que desbote essa flor

(Paulo Lemiski)

domingo, 5 de maio de 2019

Medo é uma palavra arriscada. Porque traz à superfície todas as fragilidades ancoradas. Petrifico. Às vezes fujo da realidade. 
Sozinha na casa, ainda me incomodo com as luzes apagadas. Preciso deixar as portas fechadas (na literalidade das palavras e na metáfora). 
Medo é uma força que aprisiona e paralisa. 
Medo só se combate com punhos em riste, olhos nos olhos. 
Com enfrentamento. 
O trabalho é árduo. 
Cada dia é uma luta diferente, quase me deixo vencer pelo cansaço. Na maioria das vezes, sou eu quem sai com as mãos suadas, respiração ofegante e peito taquicárdico. 
Mas não desisto. Não me detenho. 
Nessa batalha contra o medo eu não me rendo. 




sexta-feira, 3 de maio de 2019

"Como a luz bate nas águas
Como tudo que se passa
Com tanto cabeludo
Com tanto pôr-do-sol
Bem cabia uma profecia
Até o ano 2000
O Farol além do pôr-do-sol
será o pôr-do-som"

(Novos Baianos)
A energia da cidade me arrebata. Quase consigo tocá-la. A luz do sol que ilumina mais dentro que fora; o céu tão azul que é quase impossível distingui-lo, no horizonte infinito, da imensidão do mar. Ah, o mar...Peço permissão à sua rainha para nele  adentrar. A Bahia tem cor e movimento, sotaque, cheiro, tempero. A Bahia tem seu próprio tempo. E, sem a pressa dos ponteiros, nos aninha em seu peito.

A Bahia faz a gente querer ficar.





terça-feira, 16 de abril de 2019


Já elenquei algumas vezes os motivos pelos quais eu me deixei arrebatar. Você me inspira. Você canta, enquanto eu gosto mais de dançar. Mas dançamos juntos quando Chuck Berry começa a tocar. E a gente se entrega na nossa versão de Vincent e Mia, entre olhares desconfiados e risadas. A gente tem esse ritual de assistir às séries juntos e ainda estou esperando a sua cota de lágrimas em This Is Us chegar. A gente bebe vinho no almoço e toma cerveja no jantar. E ficamos discutindo meia hora sobre o que pedir pra lanchar. Você só cozinha ouvindo música. O seu lado é o direito na cama, o lado perfeito, porque eu encosto o cabeça no teu peito. E ouço o seu coração pra me acalmar. Você quase sempre dorme primeiro, o meu sono demora a chegar.
Você é um príncipe, um cavalheiro, um amor desses que a gente não imagina acontecer na vida real. E pensar que te forço a assistir comédias românticas...só pra atestar que sou eu quem fica feliz pra sempre no final. 
Você é a minha escolha.
Minha poesia.
Minha paisagem mais bonita.
Eu que perdi um pouco o jeito tento escrever alguma coisa significativa só pra te dizer, no fim das linhas, que era amor antes de ser.
Você dá sentido à minha vida.
Poesia não é um bocado de palavras bonitas buscando rima. 
Poesia transcende, transmuta, vitaliza.
Poesia é lucidez.
Nenhuma frase de efeito me cabe
Não me encaixo em rótulos
Nem tento me definir

Não me enxergo pelo olhar dos outros
Sou quem sou
Só eu sei de mim

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Reativei temporariamente a rede social com o intuito de localizar um texto antigo que, na minha memória já empoeirada, ainda faria algum sentido. E fez. De um jeito insuspeitado.
Me dei conta de muito. De quase tudo. 
A essência permanece a mesma, mas abandonei pelo caminho algumas máscaras. 
Hoje entendo muitos dos subtextos escondidos no arranjo meticuloso das palavras. Algo como tentar arduamente ser inteiro mostrando só a metade. Poesia, assim como a vida, não se limita a belas rimas. É preciso ir além. Tocar ou não tocar.
Desaprendi muito nesses últimos anos. E estou desaprendendo um tanto, transformando sempre que possível o costume do olhar. Esqueço para lembrar. Por muito tempo eu olhei, mas não era capaz de (me) enxergar. Falava tanto sobre mergulhar em abismos e encarar os vazios, mas nunca de fato me permiti estar nesse lugar. E há quase 2 anos venho travando essa batalha de me manter sã e equilibrada em meio ao maremoto, sem saber ao certo nadar.O fato é que eu não nasci para desistir. Se extraí algo do medo, foi a coragem de, ainda que sem jeito, bater os braços e continuar. Essa ressaca não me traga: eu me recuso a naufragar.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Dona Maria

Revendo algumas fotos, me deparei com a sua. Aquele cabelo bem curto e macio, as mãos sempre pintadas com um esmalte clarinho, uma blusa azul e um sorriso. Que iluminava tudo em volta. 
De imediato meus olhos encheram d'água.
Eu me entrego à rotina, mas sabe, dona Maria, te carrego aqui dentro para melhor atravessar os dias.
Difícil encontrar palavras para discorrer sobre a morte e o luto, sobre o vazio dessa perda que me inunda.
Tamanha falta transborda tristeza, mas se perpetua nessa melancolia que, embora cinza, é quase sempre bonita.
A senhora foi embora.
E deixou essa saudade que faz casa no meu peito.
Te eternizo, dona Maria. Nas palavras, na paisagem, na fotografia.
Para ressignificar a minha história e encarar, com a sua delicadeza, a rispidez da rotina.
Obrigada pela doçura, pela leveza e por ter demonstrado, com maestria, o que é ter (e ser) coragem. 
Te eternizo, dona Maria. 
Porque só o amor é capaz de tornar a vida infinita.

sábado, 30 de março de 2019


"Why worry, there should be laughter after pain
There should be sunshine after rain
These things have always been the same
So why worry now."
Vastidão
No rio infinito
Eu de mãos dadas
Comigo

segunda-feira, 18 de março de 2019

Você me surpreendeu ao dizer ainda que lia o blog. E eu, que ando displicente com a escrita, tive vontade de poetizar nossa rotina, ainda que eu tropece nas palavras.
Falar sobre você é fácil. Porque você traz leveza aos meus dias (e eles têm sido pesados). No meio das crises, do medo, da raiva, do desespero, você me coloca de volta ao meu centro, grita para que eu não me perca de mim e me abraça. 
Você chora enquanto enxuga as minhas lágrimas.
E eu sei que mais uma vez vai passar, porque você está aqui.
Você é, de longe, o homem mais lindo que eu já vi.(Escrevo enquanto te vejo dormir).
Eu te amo tanto que só me resta agradecer.
A nossa história é a parte mais bonita da minha vida. 
Eu sou melhor com você.
Porque posso ser quem eu sou sem temer.
Com você eu entendi o que significa ser feliz.

(Você é mesmo tudo o que eu sempre quis)

sexta-feira, 8 de março de 2019

“Tive medo não. Só que abaixaram meus excessos de coragem.”
(Guimarães Rosa)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro." (Fernando Sabino in O Encontro Marcado)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

"The only way out is through."
Fui arrebatada de imediato, após passar os olhos pelo ponto final. Ele indica tão somente o término da oração,  mas em mim desencadeia um sem fim de processos.
Aprendo um pouco cada dia. Inúmeros pensamentos, aparentemente desconexos, que comportam uma vastidão de anseios. Essa minha vontade de saber mais do mundo, de engolir de uma vez só - eu e essa fome de tudo. Que não me larga. Que me extasia. Que me deixa exausta. E que não sacia.

Choro um pouco todo dia. Porque me despeço de quem eu fui, me desconstruo e me reinvento. Sou uma aprendiz, admitir a minha completa ignorância é sinal de sabedoria? Descartes já dizia.
As urgências, as epifanias.
Esse mergulho por dentro, essa necessidade de ser inteiro, de arriscar o voo, ainda que haja medo.

Porque o enfrentamento é a única saída.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019


"E porque não dissemos nada, não podemos dizer nada." (Maiakovski)

Mergulhei em meus silêncios para enfim admitir que me escondi nos meus textos por muito tempo. Tempo demais.
Das figuras de linguagem, gostava das metáforas.
Dizer o que precisava ser dito, minimizando a exposição, procurando escolher com precisão as palavras.
Isso me custou tanto, estou exausta.
Porque do sentimento não se esquiva.
E aprendi que tudo começa com um pensamento (menos com a terapia,  mais com a lisergia).
Dava voltas e voltas ao meu redor quando o que eu precisava mesmo era mergulhar nesse abismo sem fim. Nesse caleidoscópio de emoções complexas e contraditórias. 
Eu, dentro de mim.

Sempre fui comedida porque tinha receio de ser exposta. Nunca quis me perguntar: sempre tive pavor da resposta. Perdi muito e me blindei. Por medo.
Medo.
Medo.
Medo.

Agora rascunho essas palavras na página em branco. E repito na frente do espelho (três vezes para exorcizar).
Essa busca exige de mim mais força do que eu poderia imaginar (lágrimas caem enquanto escrevo). 
Não posso mais desenhar meus versos só pelo egoísmo de rimar.

Eu preciso de mais. Preciso da liberdade de ser.
Porque coragem mesmo é se enfrentar.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Hoje eu li um texto da Flávia Melissa logo após ter uma conversa lúcida com uma prima querida. Me dei conta de que tudo, absolutamente tudo converge. Não há acaso ou coincidência. Despertar é um processo, os sinais estão visíveis àqueles que estão de olhos abertos. E como dói olhar. 
A astrologia me adverte sobre a volta de Saturno. Eu sinto o "envelhecer" embora esteja lutando bravamente com a ideia de encaretar. Já não consigo atravessar a madrugada, o álcool exige a alternância com a água e me obrigo a me movimentar nem que seja só por hoje.
Só por hoje. 
A Flávia falou sobre a necessidade de matar que fomos para seguirmos sendo (ao menos entendi desse jeito). Ser. Constantemente. Ardentemente. Sem idealizações ou exigências mirabolantes. Todo o resto é armadilha do ego. 
E lembro de outra luzinha do Universo vinda da série que assisti, o personagem falava exatamente assim:
FUCK THE FEAR.

Foda-se o medo.
Medo é perda de amor e de tempo.
E viver requer coragem.

sábado, 19 de janeiro de 2019

Uma fotografia não consegue capturar as transformações experimentadas nos últimos 10 anos. 
A roupa que já não é tão atual, ganho ou perda de peso, corte de cabelo. Tudo isso está na superfície, naquilo que é mais raso, mais trivial.
O maior desafio é se enxergar por dentro.
Compreender que a idade é só uma armadilha do tempo. 
Maturidade tem pouco a ver com aniversário ou  certidão de nascimento. 
É ter orgulho da sua história sem romantizar seus acertos, tampouco demonizar seus erros. 
Porque tudo, absolutamente tudo depende da nossa perspectiva. Da maneira como a gente aprende a lidar com o que há de mais belo e sujo na vida. 
Não tente se comparar com quem você foi um dia. 
A imagem é distorcida. 
O presente, por outro lado, é o melhor espelho: ele dá a dimensão precisa de quem se é neste exato momento.
As paredes do quarto não me aprisionam. Transito muito bem entre o claro e o escuro. Eu tenho o poder de iluminar o meu dia e para isso não preciso acender a luz ou abrir as cortinas. 
Tenho uma mente inquieta, um coração pulsante e a magia das palavras, com as quais ando de mãos dadas.
Enxergar beleza na rotina talvez seja o maior propósito de estar viva. Porque só o olhar desacostumado é capaz de transformar a realidade em poesia.
É da vida eternizar os momentos ainda que sejam efêmeros. 
Embora sejamos passageiros, temos o presente: ele é infinito.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

"I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived." (Thoreau)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Viver é mais que apenas suportar.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Temos o péssimo hábito de levar em conta os limites do calendário para mudar a nossa vida.
Estou cada vez mais certa de que não existe prazo ou data adequada para fazer aquilo que queremos, para traçar metas e, com determinação e persistência, cumpri-las.
Não há no depois momento perfeito. Condicionar os nossos desejos a um futuro intangível nos afasta de nós mesmos. Às vezes esquecemos, mas o amanhã é incerto.
Deixamos tudo nas mãos do tempo, enquanto o que se observa de fato é a pressa dos ponteiros.
A única realidade que temos é o presente.
Só o agora é eterno.
Todo dia pode (e deve) ser inédito.
Precedido de fogos de artifício, champagne, roupa nova e encantamento.
Que não percamos a vontade de fazer dar certo. 
Anseio que cada instante seja de estreia.
E que o ano inteiro seja vivido como se fosse dia primeiro.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas —
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas —
passaram essa tarefa para os poetas.
(Manoel de Barros in Concerto a céu aberto para solos de ave)