Interrompi a leitura. Adio o final, não quero apressar as páginas. Às vezes (muitas das vezes), um livro não é só um livro. Às vezes ele ordena lembranças, traz de volta algum sentido. De tão bem guardado, parecia perdido. O pensamento ancorado. O começo irretocável. Aquela ideia quase ingênua na varanda inundando a noite, o cigarro aceso, o copo meio cheio. E uma vontade louca de transmutar a sensação em palavras, de eternizar a brevidade do momento. Adriana Calcanhotto dando o tom ao que eu sentia. Um torpor agridoce daquilo que fui um dia. A gente atravessa os dias tentando repetir a dose, dar concretude ao que é nostalgia.
É por isso que escrevo.
Na beira mar o texto vem fácil.
Viver é menos pesado quando se tem os pés na areia.
Na madrugada da cidade que não dorme teci uma paisagem. Sem solidão, sem remorso, em silêncio.
Sentada na varanda, cigarro aceso, compus o meu enredo.
Eu, minha personagem.
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