terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Eu perdi o jeito de me expressar. Você me roubou, além do fôlego, a capacidade de te pintar com as minhas palavras, poetizando o que eu sinto, transformando tudo em verso.
São só palavras, eu sei. Mas tenho conjugado verbos de ação e de estado. Sentir, tocar, beijar, olhar, morder, brigar, querer, amar. Lembro de Bandeira, elucubrando sobre um tal verbo, teadorar. Teadoro, meu rapaz.

Esgotaram-se as palavras onde agora transbordam sentimentos. Escrever é racionalizar, quando agora...Agora eu tenho sentido. Verbo, substantivo. Eu te sinto. Carrego você sempre comigo.

Nada do que escrevo agora parece tão bonito depois que mirei meus olhos em você. Nada ao meu redor merece tanta atenção ou é tão significativo quanto ter você. 

Dispenso as palavras. Depois de tateá-lo, de andar de mãos dadas, de beijar a tua boca, de rir a tua risada e de ter o prazer diário de viver contigo, digo: nada mais me falta.


(Nada além da falta que você me faz).


domingo, 11 de dezembro de 2011

"Fique de vez em quando só, senão será submergido. Até o amor excessivo pode submergir uma pessoa." (Clarice Lispector)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

...e, de repente, num impulso, abri meus olhos e amanheci dos meus sonhos. Sentado na minha cama, enquanto, sem querer, um pensamento saiu da minha mente, escorreu da minha boca e se transformou em palavras:

- Eu preciso voltar pra terapia.

Não me surpreendi que isso tenha acontecido, já que essa ideia era fixa e se manifestava com frequência nos lugares mais inusitados: no banho, quando a água escorria corpo abaixo, deitado, vendo tv, lendo um livro, olhando as pessoas na rua, tomando meu café da manhã. Eu poderia facilmente chamar esses pequenos e inúteis acontecimentos de sinais. Já os ignorei à exaustão. É inquestionável, preciso urgentemente voltar para o quarto andar daquele prédio, naquela sala, e fugir imediatamente desse quarto. 

Certa vez ouvi ou li, não sei precisar quando, que os adultos são uma mistura de tristezas e fobias. Eu acredito porque sei bem como é. E penso muito sobre isso. Tenho pensado muito no passado, no meu passado, de terceiros também, mas isso aí já é loucura e às vezes ela aprisiona. Estou preso nos meus pensamentos, não consigo expressar o que sinto e estou amortecido, anestesiado, entorpecido. Quase morto, quase uma assombração. E vago por aí, assustando ninguém além de mim. Quase morto, sem sentir. Não parece, mas estou vivo.

Sem rumo, pensei hoje enquanto escovava meus dentes. Perdido, sem objetivos, ideais, com aquela coisa de já ter tentado de tudo e, com a sua licença, mestre Caio, só ter sobrado esse nó no peito. Essa angústia que poderia ser expressa com esse símbolo aqui ó: ?

Eu fui até a sacada do meu apartamento. A vista é bonita, é tudo tão diferente visto de cima. Chove. A nossa mente é tão traiçoeira e traquina que, se você não estiver nas suas condições normais (seja lá o que isso signifique), juro, você pula. Porque a altura te atrai. Quase estende a mão e te convida a saltar. Com o pouco de sanidade que me resta, dei alguns passos para trás. E sentei no chão. E olhei os pingos de chuva que ainda insistiam em cair. Acendi meu cigarro, pensei no passado e gritei:

- EU PRECISO DE TERAPIA.

Mesmo sabendo que ninguém vai ouvir. Mesmo sabendo que ninguém vai me entender.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O que eu não sei dizer

Que esse vazio me acompanha e que a solidão às vezes é uma grande companhia. Eu sei que você entende a sensação. Talvez a gente não sinta igual, mas sentimos, do nosso jeito único e indefinível. Sentimos muito, isso assusta, quase sempre dói. Quase nunca passa. A tristeza ficou. Esqueceu de ir embora.
O desconforto de estar na própria pele. A estranheza de olhar no espelho e encarar alguém que parece familiar, mas não passa de um desconhecido. Você não se sabe mais. Ninguém sabe.
Você tenta se adequar, tenta abrir as portas que você mesmo fechou, tenta romper as barreiras atrás das quais você se escondeu. E se armou. Você, mais uma vez, se enganou na esperança de que o achassem. E, nesse labirinto interno cheio de obstáculos, de sofrimento, angústia, inconformismo, você ficou ainda mais perdido. E não há placa  pra onde voltar, não há sinais, sequer avisos, quando a única luz que ainda ilumina é a do cigarro aceso. E essa luz indica: perigo.
Porque quem se perdeu não pode ser encontrado. Só ele pode se encontrar. Naquela mesma solidão, mesmo que aos pedaços. Mesmo que doa e fira, mesmo que você chore e caia. Levante-se. E junte os cacos.


Estou cansado de conviver com nãos
E  se nesse escuro encontro refúgio
O que eu preciso de verdade é que alguém me estenda a mão

Para Camila, o meu coração aberto e as minhas mãos estendidas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011


- Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.
(Caio F.)

Você me tem no nosso abraço mais apertado, no seu olhar quando estou com os olhos fechados. Quando você sorri quando eu falo tantas besteiras, sabe-se lá o porquê, você acaba achando graça. Não sei se já disse isso, mas o seu sorriso me desarma. Eu ainda me surpreendo com a taquicardia do meu coração. Basta te encontrar. Basta te tocar.


Você me tem nas mãos. Não ouse me soltar. 


Eu sinto o seu gosto, os seus dedos passeando pelo meu corpo. Eu sinto o seu cheiro o tempo todo. Eu te sinto como se você estivesse aqui. E você está. Mais do que perto, mesmo que longe: você está dentro de mim. Acho que você entenderia, mesmo que eu não dissesse uma palavra. 




A verdade é que sem você é muito difícil dormir.
A verdade é que em você eu encontrei a paz que eu preciso pra viver.
A verdade é que eu sinto a sua falta.
A verdade é que eu não existo sem você.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Suicídio

Cordas e nós
Nó no garganta
Coração apertado
Mãos atadas

As mãos que andavam juntas
Caminham sós
Era uma vez
Mãos dadas e pés que caminhavam lado a lado
Era uma vez nós

Alguém muito sábio disse
Que o que é pra ser tem que ser
O que não é, vira uma boa história
Uma lembrança, alguma memória
Uma nostalgia, algo pra se lembrar
Pra dizer que foi bom enquanto durou
Quanto a isso não há porque se lamentar


E me pediu pra guardar o canivete
Pra jogar fora os cigarros, pra esconder as bebidas
Disse que em amando eu deveria me armar

" Não mire esse revólver pro espelho
Não aponte a arma para a sua cabeça
Crie coragem pra puxar uma outra espécie de gatilho
A questão é amar, não morrer, não matar
É lutar pra ser feliz e livre
Não sofra, não se fira, não atire
Esqueça tudo, feche os olhos, respire fundo:
Atire-se."

Ao som de Marina

"E tudo que eu posso te dar/ É solidão com vista pro mar/ Ou outra coisa pra lembrar..."


Você bateu a porta ao sair. Bateu, sem cerimônia em fazer barulho, esquecendo que não estamos sozinhos no mundo, embora eu, há tempos, quisesse a solidão. Eu pedi, implorei. 
Você deu. Nem fez questão.
Saiu assim, virou as costas, me deixou a vontade com as palavras que eu dizia. Você sabe como sei ser ferina. E nada do que eu disse foi realmente necessário. Isso era o que eu queria, mas ainda assim, resistia. Mudança, medo, desespero. Eu perguntava, você não sabia responder. E perguntei das maneiras mais impensadas, perguntei sem verbalizar, perguntei com o olhar, com o jeito como passei a acender um cigarro atrás do outro. Pedi, perguntei, você não entendeu. E saiu, nos deixando a sós: eu e um pedido de socorro.

Você quebrou os quadros, partiu o espelho em mil pedaços, deixou tudo aos cacos. Tanta desordem, enquanto tentava me recompor em meio ao caos. Sequer sinto a sua falta. Olho tudo ao redor e não entendo como chegamos até aqui. Olho tudo em volta e não sei porque me permiti chegar até aqui. Aqui: e não sei exatamente onde isso é.

O que nós fizemos? Quando nos perdemos? Não sei ler entrelinhas, não reconheço finais, desconfio de como seja, mas...será mesmo assim? Será que o fim não é tomar nenhuma atitude drástica? Será que é simplesmente não se importar ao ponto de fazer algo e apenas...deixar ir? Como se não houvesse equilíbrio, você pega um punhado de areia na mão e não consegue retê-la. Deixa os dedos muito separados. Ou fecha demais o punho. O que há com nós dois, amor?


De qualquer forma, sentei na varanda, abri as janelas, deixei o vento entrar, o sol invadir a casa. Não me permito deixar tudo cinza. Seja como for, você vai voltar. Nem que seja pra arrumar as suas coisas e ir embora. Você vai voltar. E quando isso acontecer, vou encher a sala de flores, acender incensos, colocar uma boa música pra tocar. Vou fazer uma limpeza geral, tirar o pó dos móveis, trocar o tapete da sala. Vou me perfumar com alfazema e colocar meu vestido mais bonito. Só pra te dizer adeus. Só pra você me olhar. Só pra ver a sua cara ao sair. Da sala, pela porta, da minha vida. Não olhe pra trás, não precisa falar nada, você só vai me ver sorrir.

Esse é o meu jeito de estragar as coisas. Esse é o meu jeito de te deixar partir. 

E Marina Lima, ao fundo, te dizendo o que você nunca vai entender:

As coisas não precisam de você.


Era só o que você precisava ouvir.

sábado, 15 de outubro de 2011


"Square one, my slate is clear/ Rest your head on me, my dear/ It took a world of trouble, it took a world of tears/ It took a long time to get back here."

(Tom Petty)


Passado? Não penso nele com saudosismo, sequer melancolia. Olho com orgulho simplesmente. Não é sempre que você olha para o resultado da sua vida e pensa que valeu a pena. Cada dor, cada lágrima, cada ferida. Negativas, não é? Sempre pessimista com um quê de falsa sabedoria. E eu não sei de mais nada.
E eu me indagava sobre a fuga das ideias expostas em versos ou prosa, quando apenas elas conseguiam me expressar, me definir, me encantar. Ausências. Sequer falta inspiração...Às vezes o que a gente sente não cabe em palavras. Já não sei mais se quero que, em escrevendo, me dissequem, me decifrem, me devorem. Ah, as palavras...desde sempre presentes, mesmo distantes. E isso apavora.

Então não me leia. Não busque nas minhas palavras as coordenadas sobre a minha vida. Não tente compreender, não queira saber. A minha melhor parte não está à mostra. Períodos, frases e orações, nem mesmo os melhores versos de uma poesia, ou as mais belas canções irão pôr um fim a qualquer interrogação.

Se quiser realmente saber quem eu sou, fecha os olhos para a escrita.

Só me olha. E sinta.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Vontade de sair correndo por aí. Assim, sem motivo nenhum, só por correr. Já se foi o tempo de buscar sentido onde não há. Nunca haverá. 
She looks like a real thing. 
Parece, o sentido é a gente quem dá. Ao amor, à dor, à vida. 

Enlouquecer também é se libertar: perder é se encontrar.

But I can't help the feeling
I could blow through the ceiling
If I just turn and run
It wears me out
It wears me out 
It wears me out
It wears me out
If I could be who you wanted
If I could be who you wanted
All the time, all the time...

No surprises

"This is my final fit, my final bellyache with."

(Thom Yorke)



She found out her pieces
While he stared at the moon
'He was never aware', she said
But nobody listened
'It doesn't matter, anyway'.

He always looked at her amazed
By her beauty and unexpected wisdom
But he never really saw
That she never needed companionship
Not even love
What she needed, more than everything
Was freedom


She was tied by his lies
And she knew it was hard
The hurt and the pain that she chose
By the time she fell in love
She got down on her knees
It couldn't be right
Things just weren't the same
Like the full moon painting the dark sky
It's warm out there and cold inside

Everything she used to be proud of
Everything that made some sense
Fell into pieces and soiled the floor
Everything became trash
By the time he walked out that door

Tears drop from her face
You may ask : again?
Again, because there will be a time
When the salt touch her lips
And she close her eyes
She will realize
She will know who she is
She really is worthwhile

Sweetheart, by being trapped to him
You'll learn well how to set you free



sábado, 8 de outubro de 2011

Outubro

Estou tão cansada que mal consigo coordenar as palavras. Larguei as roupas pelo chão, abri o chuveiro e deixei a água correr pelo meu corpo. Fechei os olhos, tentei não pensar em nada. Só pensava. De tão exausta, me rendi: adormeci com os pingos caindo sobre mim. 
Que vergonha, meu Deus, que vergonha! De me sentir tão perdida e só, abraçando meus joelhos numa tentativa vã de refúgio, implorando silenciosamente por um sinal,  uma luz, um milagre, quem sabe. A que ponto cheguei. Eu, que não acredito em nada, procuro algum sentido, algo no qual eu possa me consolar em momentos assim, tão desesperados e vazios. O tempo passa e tudo fere com mais intensidade.

E só sobrou essa cinza sobre a mesa. E só restou o gosto amargo do cigarro. 


Não é que eu esteja triste. Apenas escolhi melhor com quem compartilhar minha felicidade.

Se algumas escolhas doem...? Deixa doer. Esse é o preço que se paga por ter a chance de, apesar de tudo, (sobre) viver.

Oh, mother, I can feel the soil falling over my head

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ainda é permitido falar de amor por aqui? De amor, de qualquer outra coisa que rompa com o cinza dos prédios, com o sopro quente e pouco afável das tardes numa cidade grande. Todos correm. As pessoas se esbarram o tempo inteiro e sequer há contato. Olhos nos olhos, sorrisos, um bom dia mais espontâneo, um obrigado, qualquer coisa daquela lista sobre a qual fomos ensinados quando pequenos. 
Parece que na métropole os sinais são sempre vermelhos. E todo mundo, mesmo junto, se sente sozinho.

Ainda se fala de coisas bonitas por aqui? Porque eu ainda me encanto quando vejo um rapaz vendendo algodão doce, quando vejo um casal de mãos dadas esbanjando paixão por aí. Tento me ater a essas doses de poesia que surgem inesperadas nos meus dias. É tanto lixo (literal e metaforicamente), que procuro voltar meus olhos ao que rompa com o cenário, que surpreenda de uma forma positiva. O que eu quero é dançar ao atravessar uma avenida.

Eu quero mesmo é plantar margaridas no asfalto.

sábado, 17 de setembro de 2011

Setembro

Hoje o dia acordou bonito. Depois dessa alternância de frio, chuva e cinzas, setembro aos poucos se despede do inverno. Que venha a primavera - estação das flores - para embelezar os corações mais céticos. Estamos precisando de cor pra sobreviver. Precisamos de sol e de céu límpido para dissipar as nuvens que persistem desde agosto. Porque agosto foi difícil de atravessar. Segunda geração romântica, spleen. Melancolia, desespero, uma saudade constante sabe-se lá do quê, talvez de tudo o que não podia (nem deveria) ser, porque agosto é sarcástico, é Gregório de Matos, não é Lord Byron. Agosto é a boca do inferno. O movimento era inadequado porque agosto não suporta drama, nem a dor sentida pelos outros, porque agosto é egoísta ( sol na casa V), e embora seja regido pelo sol só oferece punhados de frio. Agosto, meu amigo, agosto só faz doer. Lá no fundo do fundo do fundo. Dói dentro.

Hoje o dia amanheceu tranquilo. Com a leveza de que dias difíceis passam. É quase primavera, os ventos apontam outra direção, um caminho, espero, sorrindo, cheio de tulipas. Porque é setembro. Setembro não é romântico nem barroco. Setembro é bucólico e arcádico. Campo inundado de tulipas (é, isso aí). Setembro é simples. E ilumina.




segunda-feira, 12 de setembro de 2011

(C) oração

Deixa eu olhar para você de hoje em diante de mais perto. 
Tão mais perto que a gente quase não consiga não se tocar. 
Que os nossos cílios se beijem e que meus lábios te leiam. 
Você é a minha poesia , quero te declamar. 
De todos os meus textos, você é o mais bonito, pode acreditar.


Deixa eu fazer do teu corpo a minha rota. 
Fazer dos teus braços o meu porto mais seguro
E segurar teu cabelo, encostar no teu peito:
Nesse mundo, melhor refúgio não há.
Você é a minha bússola,  meu mapa. 
O meu lugar é onde você está.


(E assim pra sempre será).


sábado, 3 de setembro de 2011


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Hey God

"Eu te proclamo grande, admirável,
Não porque fizeste o sol para presidir o dia
E as estrelas para presidirem a noite;
Não porque fizeste a terra e tudo que se contém nela,
Frutos do campo, flores, cinemas e locomotivas;
Não porque fizeste o mar e tudo que se contém nele,
Seus animais, suas plantas, seus submarinos, suas sereias:
Eu te proclamo grande e admirável eternamente
Porque te fazes minúsculo na eucaristia,
Tanto assim que qualquer um, mesmo frágil, te contém."

(Murilo Mendes)



Deus, isso não é uma oração. Eu nem sei elaborar alguma coisa, nem sei se ao me referir a você devo procurar um pronome de tratamento mais adequado ou se, ao mencioná-lo, deveria fazer uso das letras maiúsculas. De verdade,  eu nem precisaria escrever, acredito que você me ouve e, onde quer que esteja, repousa seus olhos e mantém seus braços abertos pra mim. Eu, que sempre preciso de braços e de corações escancarados.
Sempre fui avessa a convenções. Porque tudo, no fim das contas, é uma criação, um nome que a gente dá só pra separar o joio do trigo. Por isso, nunca acreditei na distância entre nós. Nunca acreditei que, para senti-lo, eu precisaria ir numa missa, culto, seja lá o que for. Porque eu te sinto aqui dentro.
Ah, Deus, eu tenho ouvido uma música que me faz pensar tanto em você. Será que você é um de nós? Será que se eu te encontrasse você responderia a alguns dos meus questionamentos? Sou pecadora por ser tão inconformada?
Eu não quero pensar. Não quero dizer nada. Não quero fazer nada. Só quero sentir.
E sentir tem me causado sérios danos. Desculpa, Deus, mas você escolheu a pior pessoa pra ser sensível. Sou extrema, você deve saber disso, afinal, me criou. Consigo ser tão indiferente quanto passional. E choro, me doo, lamento, fico horas pensando sobre o que vejo, ouço e sinto e tenho o (mal) costume de tentar colocar tudo em palavras. Li uma vez um trecho com o qual me identifiquei completamente, dizia mais ou menos que em sendo escritor, embora haja a prerrogativa da sensibilidade, passa-se a agir de forma mecânica, desaprende-se o jeito de sentir o tangível, de amar, de viver do jeito certo, vive-se através dos textos, como se fôssemos sempre espectadores e não personagens. Pois é, Deus, às vezes eu me sinto uma espectadora da minha vida. E quando a vejo passar pelos meus olhos, não sinto a menor vontade de bater palmas. Você diria que nada do que estou falando tem fundamento, porque, obviamente, tenho a chance de mudar essa dinâmica na hora em que me convier. Minha vida não está pré - determinada, não há roteiros previamente esboçados. Sim, que eu poderia largar minha faculdade e fazer o que eu amo, que eu poderia mandar todo mundo pro inferno e fazer o que eu quero, que eu não deveria me preocupar com nada além do que sinto. Que, que, que. Deus, acho até que você me aconselharia a ser um pouco mais egoísta, já que estamos falando da minha felicidade. Já que eu poderia ser ainda  mais feliz.


Por que, mesmo sabendo disso tudo, ainda resisto? Tenho com tanta clareza que a vida é só uma, que o único sentido e propósito de estarmos vivos é o aprendizado e a busca pela felicidade, mas, sabe-se lá porque e quando, acabei desistindo de mim. Tem coisa mais ridícula do que desistir de si mesmo?

Então, Deus, eu que nem rezar sei, queria pedir uma força para mudar. Mudar mesmo, dar uma guinada, essas coisas que a gente vê na televisão e se embasbaca, porque acredita que não acontece na realidade.
Mas, sabe, Deus, eu acredito. Prometo ser uma pessoa mais otimista e juro me esforçar no intento. Eu inventei toda a fé que tenho, mas, de verdade, acredito que o meu final ainda pode ser aplaudido.

Acredito, com um coração que ainda insiste em ter esperanças, que o final de tudo isso pode ser incrivelmente lindo.


Que assim seja. 

"What if God was one of us? Just a slob like one of us? Just a stranger on the bus trying to make his way home..."

Ensaio

Queria que as palavras que aqui exponho pudessem alcançar a sintonia dos meus pensamentos que não saem de maneira nenhuma de você. Que ritmassem com as batidas do meu coração quando te olho e você nem vê. Que tivessem a medida do nosso abraço, a profundidade dos nossos olhares, a doçura dos nossos beijos, o torpor dos nossos corpos que, juntos, se tornam um.

Queria escrever algo que fugisse do clichê, do lugar comum.

Queria escrever algo inédito sobre amor. Sobre o nosso amor. Lembro que tantos poetas, escritores, músicos, pintores, tanta gente já tentou descrever o que é o amor, como é a sensação de estar apaixonado, como é a dor única, dilacerante e torturante da perda de quem se ama.
Eu mesma, nesse exercício catártico, pensei ter chegado a muitas definições. Até que, surpreendentemente, conheci você, que mesmo me inspirando a escrever muito e sempre, ainda consegue, de forma ambígua e inédita, me deixar sem palavras.

Então não sei o que escrever sobre o amor. Mas eu sei o que é amor. Eu sinto o amor.  E por eu saber exatamente como ele é, não posso profaná-lo com palavras. Por mais belas e adequadas, por mais bem empregadas e alocadas, não fariam jus ao que eu sinto. O amor é quase um segredo. O nosso segredo. E, pra mim, ele é mais do que único e verdadeiro. Ele é sagrado.


Eu sempre tive um grande questionamento sobre felicidade. Sempre cultivei aquela ideia de que não existe felicidade de fato, mas sim momentos, efêmeros, de alegria. Sempre dissociei felicidade de constância. Sempre acreditei ser esse sentimento raro, talvez inexistente.

E me perguntava: se eu morresse agora, morreria feliz? E a resposta a este questionamento era sempre um decidido, firme, inquestionável e afirmativo não. Até que eu te encontrei. Agora, me contradizendo um pouco quanto à sua indefinição, digo que talvez eu possa expressar com palavras o que te amar significa. Se me perguntassem agora se eu morreria feliz, diria que sim, pois eu morreria te amando. Até o fim.

(E as coisas lindas são mais lindas quando você está, onde você está, hoje você está nas coisas tão mais lindas...)



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Amor livre

VIVA O AMOR LIVRE!

Quando eu falo livre quero dizer no sentido mais amplo possível: livre não só de preconceitos, mas de convenções, de comodismo, de amarras, de possessividade, de desrespeito, livre de tudo aquilo que estraga e destroi a beleza do amor. Porque o amor é lindo, minha gente. E é muito triste que poucos sejam capazes de enxergar além do que se vê.

Nós somos humanos. Aposto que a dor que eu sinto ao ser magoada por um cara doi tanto ou mais naquela mulher que foi abandonada pela parceira. Ou pelo cara que se apaixonou por outro e não é correspondido. O que pulsa em mim, o que corre em minhas veias, o que faz meu coração bater se assemelha muito e se distingue completamente de todos os outros. Porque ninguém ama igual e isso sequer importa. A questão é que todo mundo ama.

Então, um viva ao amor livre. Ao amor que não prende, que não sufoca, que não escraviza. Um brinde ao amor que acalenta. 

Um brinde ao amor que liberta.
(Porque escrever nem é questão de criatividade. É questão de sensibilidade.)








terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sobre covardia e afins

Porque eu ainda não aprendi a lidar com pessoas covardes, talvez por não entender ao certo como suas cabeças funcionam. Talvez porque não valha a pena e porque ultimatos são a representação fidedigna da covardia. Porque não há chances, nem direito de resposta, não sobra nada. E os nãos descem goela a baixo e o máximo que você pode fazer é seguir. Essa é, na verdade, a melhor coisa que você pode fazer.
E, de repente, tudo se esclarece, sabe? Como se você tivesse passado esse tempo todo vendado, sendo guiado por alguém, sem autonomia e sem vontade própria. Aí, sem querer, a venda cai. Num primeiro momento, você não compreende bem a situação, se ressente, fica triste, mas não tanto, e se acostuma porque o fato da venda ter caido é benção. Estar com os olhos tapados era a maldição.

Então, um obrigada a Deus, aos santos, aos anjos, aos cigarros, à cerveja, aos meus amigos e até a mim mesma por ter compreendido essa dinâmica e por resistir à covardia alheia.

Resisto, desisto e sigo porque a vida é linda e não sou uma pessoa descartável. Eu tenho direito ao grito. E tenho direito de rejeitar corações levianos e de me afastar de quem me esfaqueia.


"Então não o ama mais? - Amo. Só guardei isso num cofre. E tranquei. E esqueci a senha. Não porque quis. Foi preciso."
(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pensamentos aleatórios ou Casimiro de Abreu feelings



O que mais me encanta nas crianças é a facilidade com que elas acreditam. Em fadas, duendes, bruxas. Nos seus pais quando eles diziam que iam levar no parquinho, naquela menina, amiga da sua irmã, 12 anos mais velha, que disse, lá nos seus 8 anos, que iria te namorar quando você crescesse.

Você, agora tão cético, acreditava até em Papai Noel.

Aí, de repente, você cresce. E perde um pouco o jeito, porque acredita tanto nas outras pessoas, sempre com aquele antigo ditado na cabeça ( faça a sua parte sem esperar nada em troca), e, surpresa, você se decepciona. E não estou falando de uma, duas, três vezes não...São muitas. E, muitas das vezes, com as pessoas que você menos espera. 

A questão é que você continua fazendo a sua parte, ou tentando, ou perdoando, ou esquecendo, porque além de ter aprendido a acreditar em si mesmo e ser a melhor pessoa que pode ser, aprendeu, também, que uma hora quem vai pisar na bola vai ser você e, seres humanos que somos, precisamos todos daquela mão estendida ou do simples "já passou, tá tudo bem" para aliviar o coração.

O que eu quero dizer é que mesmo que a gente não espere nada em troca ( e quando eu digo nada em troca, normalmente pensa-se somente nas coisas boas), quero dizer que esse NADA inclui as coisas ruins também. Ou seja, não podemos ser tão otimistas em achar que alguém vai retribuir de forma positiva e nem ser tão pessimistas ao ponto de esperar sempre o pior. Confesso que me enquadrava nesse último grupo, mas a gente não muda de criança para adulto sem aprender algumas coisinhas importantes e que, no fim das contas, são realmente as coisas mais preciosas:

Você vai se magoar. Vão te decepcionar. Vão te abraçar e enfiar o punhal nas costas ( e girá-lo levemente dentro da ferida). Mas muitos simplesmente vão te abraçar, sabe? E, se a gente colocar na balança, acho que um abraço vale mais do que mil apunhaladas.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

What Ever Happened

"Oh that's an ending that I can't write, 'cause
I've got you to let me down."
(Julian Casablancas)


Não sei quantos cigarros terei que acender para apagar meus pensamentos. Porque a fumaça preenche o ambiente e eu fico lembrando de algo que li " ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias..." Corta. Não, nem tenho mais amigos para importunar com meus dramas e lamentos sobre tudo o que é incerto. De algum modo eles perceberam antes de mim que estou me tornando a pessoa mais perdida do universo. E não há nada pior do que lidar com algo/alguém que se perdeu. Engraçado, porque eu achava que isso era absolutamente certo. Calma, deixa eu dar uma olhada em que lua estamos. Primeiro quarto crescente. É, então o problema não é lunar. O problema é amar. Ou amar de verdade pela primeira vez na vida e não saber direito como lidar. Porque, sem querer, você começa a esperar muitas coisas, a exigir tantas outras, quando simplesmente bastaria viver, sem cobranças, sem necessidades. E li isso: " seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

E se as pessoas têm emoções e conseguem ser equilibradas, acho que exageraram na porção que me era de direito. Ah, eu clamo ser tão, uh, racional, pé no chão,o que não é completamente ilusão,  já que consigo ser pouco sensível e até fria quando eu quero ou quando a situação exige de mim tal comportamento. Colocou amor na história, ferrou tudo. Sabe aquele dramalhão mexicano, aquela coisa de maquiagem carregada, todas as cenas exageradas, muito choro, muito álcool, muito cigarro, muito, muito, muito...muito. Eu sinto demais. E as pequenas ausências, pequenas rejeições, como cantou Alanis,são reais demais pra mim. Somewhere along the way I think I gave you the power to make me feel the way I thought only my father could.

Aí a crítica virginiana se manifesta, porque né, eu começo a achar que a culpa (?) de tudo é minha. Porque eu sou paranoica, sou muito fechada, expresso tudo em palavras, estou irada e atendo o telefone dizendo que está tudo bem, que estou com saudades e estou ouvindo The Strokes, What Ever Happened?

O que aconteceu? O que está acontecendo? Pouco antes de você ligar eu estava dissipando a fumaça do cigarro com uma mão, a outra enxugando uma lágrima e cantando a plenos pulmões you don't miss me, I know, com uma tristeza digna de paráfrase daquela antológica cena  I think she's the saddest girl to ever hold a cigarette, em vez de um martini.


Drama queen life style. Um violino e uma faca de serra, por favor. E se você me perguntar se eu quero deixar isso tudo de lado, esquecer, vou dizer, com o risco de receber recomendações terapêuticas e, principalmente, psiquiátricas, que não, não quero. Eu amo o amor


O amor me deixa idiota. Eu, sendo idiota, divirto os outros. Um lado bom isso tinha que ter, afinal.


(Que eu não esteja enlouquecendo e que seja apenas um problema hormonal, amém).


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sem título (porque esse é o melhor título, afinal)

"My dreams are a cruel joke. They taunt me."
(Vanilla Sky)


É como se eu me perguntasse a cada instante "quem sou eu" e nunca encontrasse uma resposta certa. Eu sou uma piada de mau gosto. E eu nem sei ao certo quem sou. Ao abrir meus olhos, quando o sol insiste em romper as cortinas, me coagindo a levantar, me faço essa pergunta reiteradas vezes. À noite, por volta das seis horas da tarde, quando você não consegue precisar se ainda é dia ou noite, as cores se misturam, e você sente uma espécie de melancolia, que se agrava quando se trata de um dia de domingo, você encara o céu e tenta encontrar nas nuvens as respostas dos seus milhares de porquês. E, de algum modo, continuo esperando. Para que eu não sonhe, para que eu encontre essas respostas, se é que elas existem realmente. Porque talvez viver seja simplesmente esse conjunto de ações e sentimentos encadeados que culminam na única certeza que nos é dada desde o principio: a morte. E o momento de maior epifania que teríamos durante a vida, paradoxalmente falando, seria morrendo. Em escrevendo eu morro todos os dias. E ainda não   presenciei minha aleluia.

Não sei se perdi a melhor parte da história dedicando muito mais tempo e esforço expressando tudo em palavras. Às vezes me questiono se ainda tenho a capacidade de sentir. Meus olhos filtram situações que, por sua vez, são filtradas pelos meus pensamentos, se transformando, por fim,  em palavras, desperdiçadas, creio agora. Porque ninguém me lê. Eu não me leio. Eu não me compreendo. E depois de divagações absolutamente dispensáveis e irrelevantes, volto ao cerne de tudo: acho que perdi minha identidade no processo de me encontrar. Cá entre nós, essa coisa da busca por autoconhecimento é quase mítica. Uns percorrem o caminho de Santiago de Compostela a pé, outros exploram todos os estados alterados de consciência para reconhecer (ou desconhecer) as suas várias faces, muitos rezam, alguns leem livros de autoajuda. Tem gente que escreve para tentar se conhecer. Se há um mínimo de eficácia nisso tudo eu não sei. Mas tento, há exatos 8 anos. E, de alguma forma, sinto que a minha verdade está justamente nessas palavras mal-ditas. Porque, não me engano, escrever também é maldição. 

Então eu espero. Sentido, fé, reflexão.  Espero não mais encarar um estranho ao me olhar no espelho. Ou ter, ao menos, a capacidade de me conhecer o bastante para que eu possa, quem sabe, me autobiografar. E se isso não acontecer, continuarei a minha prece diária:

Que minha inspiração não cesse e que haja sempre criatividade. Porque assim eu posso me (re) inventar.




Ela sente muito e tudo o que é sentido fica armazenado lá no fundo do fundo do fundo. Ela só consegue esvaziar a sua alma torturada assim: regurgitando as palavras. Não, nem sempre é bonito. Muitas vezes não é. Às vezes é cru e seco. Quase sempre é doído.



domingo, 3 de julho de 2011

Para você

Parece que me falta algo se deixo de te escrever. Esse espaço, além de um divã, passou a ser também uma espécie de altar. Deixo aqui minhas palavras mais bonitas, às vezes doídas, para que você me leia, para que você de alguma forma me sinta, já que tantas vezes sou a personificação das entrelinhas. Essa é mais uma das maneiras que eu tenho para me aproximar, porque você me inspira. Olho para você todos os dias e me sinto tão grata, tão abençoada, genuína e verdadeiramente feliz  pelo simples ato de te amar. Pra que eu fique bem, basta você estar.

Eu te amo; esse amor que traz consigo gratidão e admiração infinitas. Eu te amo em demasia. E mesmo sendo quase impossível agradecer por algo assim, eu tento: obrigada, amor, você trouxe vida de volta à minha vida

 P.S.: Sol em libra e ascendente em virgem, sol da minha vida! Homem mais lindo, inteligente e encantador que eu jamais poderia conhecer se eu não fosse tão sortuda, esse, bem como todos os outros textos, poemas, loucuras, saudades, lágrimas e sorrisos, dedico a você (pra sempre, ok?).



segunda-feira, 27 de junho de 2011

Acrilic on Canvas

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra
E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são
Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte
E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição
Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

(Legião Urbana)

O cinza da estação anoitece nossos dias
A iluminação é escassa, as cores se entristecem
A ausência de calor traz uma languidez incontida
Uma persistente dor, uma irreparável melancolia

Quando o frio penetra a casa inteira
Um mero abraço não mais basta para aquecer
Nem taças de vinho, meias de lã, colchas de retalhos
Nem mesmo o repouso perto da lareira

O que flameja em mim são as ideias
O que me arde e sustenta são sentimentos
A arte, forma mais bela de entender a vida:
eis o fogo que me queima, o meu alento.

Só a poesia abriga.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Carta pra alguém do lado

Há tempos não me sentia tão confortável na minha pele, sabia? Um saco isso, pra quem adora dramatizar como eu. Você, você, meu amigo, me conhece melhor do que ninguém no mundo e sabendo das coisas que eu tenho passado, deve ter pensado que eu iria desistir. Ou, no mínimo, chorar bastante, abraçada com o  travesseiro. 'Para de ouvir essas músicas depressivas', você diria. 
Meu dia não foi dos melhores. Acordei de ressaca, e eu nem bebi, acredita? Eu estava desnorteada, o corpo lasso, queria ficar ali, imóvel, encarando o branco do meu teto e pensando, pensando nas palavras que eu tenho ouvido, nas situações que tenho vivido, no que eu tenho sentido, enfim. Ou dormindo, pra sempre, o que não seria ruim. Não pude me dar ao luxo, então fui à luta. Fiz todas as coisas que eu deveria fazer, eu com aquela paranoia de que a bagunça dos cômodos  é um retrato da minha confusão mental. Incomodada, coloquei tudo no lugar. Pus meu cd antiquíssimo do Bon Jovi pra tocar, eu sei, acordei não só acabada como brega. Enquanto conversava com meu irmão, interrompi o curso das palavras por um instante e meus olhos se encheram d'água assim, repentinamente. Ele, claro, não entendeu nada. Eu ficava repetindo: essa música é tão linda, tão linda (Bed of Roses, naquela parte do " About all of the things that I long to believe, about love, the truth and what you mean to me and the truth is, baby, you're all that I need"). Aí fui me esconder de vergonha por me sentir assim e, juro, foi só um projeto de, sequer chorei. Eu perdi o controle sobre as minhas reações, cara. A pior parte é essa: a agonia e a angústia que não saem daqui de dentro de maneira alguma, e você fica de um jeito tão triste, tão miserável que, por pouco, não sente pena de si mesmo. Tem coisa mais patética do que sentir pena de si mesmo? Foi com esse pensamento que eu decidi mudar o meu estado de espírito. Ok, tá uma merda, mas o que eu posso fazer pra que as coisas fiquem mais suportáveis? Exatamente isso: nada. Fiquei no meu canto, fazendo alguns resumos, ouvindo algumas músicas, revendo algumas fotos, lembrando, porque lembrando de outras coisas eu esqueço do agora. 

Tá todo mundo muito preocupado. Sinto que as pessoas falam comigo como se fosse pela última vez, como se a qualquer instante eu fosse embora. Eu sei que tenho exagerado, tá, talvez não tenha exagerado, mas eu estou num exílio - do mundo e de mim. Então quem se importa quer saber porque diabos eu não estou saindo com meus amigos, porque eu não atendo o celular e porque de vez em quando eu sumo (alguns pensaram mesmo que eu tinha morrido). Como eu li uma vez e sempre rio quando penso nisso: bom, se eu tivesse realmente sumido, você não estaria aqui falando comigo. Não estou nem aí se vão sentir falta de mim, eu estou me afastando pra tentar pôr as coisas em ordem. Deve ser mais uma dessas crises de identidade, de fé, de tudo. A Má diz que eu sou uma pensadora e, mais do que isso, uma inconformada, que eu analiso tudo, que eu sinto tudo e, por conta disso, sofro muito e amo muito, tudo assim, com advérbio de intensidade. Ela insiste que eu tenho que largar tudo o que não me apraz e sair correndo desesperada atrás daquelas coisas que certamente me farão feliz. "Veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara.” Tenho lido tanto Caio e ouvido tanto Damien Rice que parece que a melancolia fez de mim sua morada e não quer mais sair daqui. Até que ela tem um certo charme, um pouco Greta Garbo, a única coisa que eu quero no momento é ficar só. Com meus livros, com meus textos, com meus dramas repetidos e sentindo amor, e saudade, e uma tristeza que traz consigo a certeza (não mais esperança, Vinicius), de um dia não ser mais triste não.

Então, meu querido amigo,  a você que me lê agora, se perguntando onde está a minha vida, digo que está aqui, sendo vivida tranquilamente, sendo sentida intensamente, porque eu vou chorar muito ainda, e vou morrer de tanta alegria, porque as coisas são assim. Eu tenho o meu tempo, tenho essas crises, essa sou eu, até o fim. E a vocês que estão achando que eu sumi (e até morri), digo que essa é uma fase, que, inclusive, na minha idade ela é bem comum. Pareço perdida, mas sei muito bem onde estou. E eu não irei a lugar nenhum.

terça-feira, 21 de junho de 2011

"My dearest friend, if you don't mind.
I'd like to join you by your side,
where we can gaze into the stars.
And sit together,
now and forever.
For it is plain as anyone can see,
we're simply meant to be
..."

"We can live like Jack and Sally if we want..."

domingo, 19 de junho de 2011

Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres - Trecho

"Lóri quis transmitir isso para Ulisses mas não tinha o dom da palavra e não podia explicar o que sentia ou o que pensava, além de que pensava quase sem palavras.
Ela adivinhou que ele quase adormecia, e então despregou devagar sua mão da dele. Ele sentiu logo a falta de contato e disse entre acordado e dormindo:
— É porque eu te amo.
Então ela, em voz baixa para não despertá-lo de todo, disse pela primeira vez na sua vida:
— É porque te amo.
Grande paz tomou-a por ter enfim dito. Sem medo de acordá-lo e sem medo da resposta, perguntou:
— Escute, você ainda vai me querer?
— Mais do que nunca, respondeu ele com voz calma e controlada. A verdade, Lóri, é que no fundo andei toda a minha vida em busca da embriaguez da santidade. Nunca havia pensado que o que eu iria atingir era a santidade do corpo.
Quanto a ela, lutara toda a sua vida contra a tendência ao devaneio, nunca deixando que ele a levasse até as últimas águas. Mas o esforço de nadar contra a corrente doce havia tirado parte de sua força vital. Agora, no silêncio em que ambos estavam, ela abriu suas portas, relaxou a alma e o corpo, e não soube quanto tempo se passara pois tinha-se entregue a um profundo e cego devaneio que o relógio da Glória não interrompia."

(Clarice Lispector)
"Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente."
(Clarice Lispector)

É tão pouco. Foi isso que ela dissera e que eu ouvi, atenta e pacientemente. Amigos são bons pra essas coisas. Eles não querem saber se você está caminhando nas nuvens ou se, aparentemente, você está feliz. Eles te trazem de volta ao mundo real, quando você corre o sério risco de passar da fase estou-feliz-pra-caralho-acho-que-vou-morrer-de-tanta-alegria para a estou-desesperadamente-infeliz-quero-me-jogar-dessa-janela. Amigos são assim.

Então a amiga disse coisas duríssimas de se ouvir. Coisas daquelas que saem da boca e entram na gente como se fossem um soco no estômago, as tais doses puras de realidade. Ouvi, chorei. Pensei. Fiquei em silêncio. O que há pra se falar quando você está ouvindo supostas verdades? Não há como refutar, nem argumentar, nem coisa alguma.  'Olha, sempre faça o que te faz bem. Não deixe que te firam, não se fira. É tão pouco, minha amiga.'

Ok. Pausa pra respirar. É tão pouco. É tão pouco...Essas três palavras ficaram dando voltas na minha cabeça e eu esperava respostas e definições, mas a única coisa que me ocorreu foi uma pergunta, essa: é tão pouco? 

Se é tão pouco, por que esse brilho nos meus olhos? Nunca vi  e nunca viram nada parecido. Falam por aí que estou, inclusive, mais bonita. E a mais surpreendente de todas as observações, feita por um amigo próximo: nunca te vi tão feliz nessa vida. Talvez seja loucura, talvez eu devesse analisar com cautela as palavras da minha amiga. Só eu sei o que eu sinto. E sei que não é pouco, quanto a isso não me iludo. Não pode ser e não é pouco. 
Porque pra mim esse amor é tudo.


Eu não me sinto mais sozinha. A propósito, estou-feliz-pra-caralho-acho-que-vou-morrer-de-tanta-alegria.

sábado, 18 de junho de 2011

Lost

"On a cobweb afternoon/In a room full of emptiness/By a freeway I confess/I was lost in the pages." 
(Chris Cornell/ Tom Morello)


I don't know where else to go
I've just forgot the way back home
Here I am, staring at my feet
Secretly wishing not to be alone

Then I get down on my knees
Put my hands together and start to pray
I don't think anyone is gonna listen 
But at least I'm trying anyway

There are no maps, not even some signs
I don't remember how to begin
The steps I take are fading away
There's no place to stay, nobody to miss

I've got nothing here but memories
And a suitcase full of pain
I wish I could left all this behind
I wish I could stop this pouring rain

I try, I cry, I fall, I keep on going 
Here I am, walking again, on my own
By myself, facing hell, time and time again
Because sometimes you just can't go home.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Você

"Eu queria solidão, para não ferir os outros nem ser machucada".
(Lya Luft)

Google Imagens



Você não diz, mas sei que não está tão bem quanto vem tentando aparentar. Sorri, disfarça, pega o celular e sai porque é difícil demais estar. Aqui, ali, em qualquer lugar. E procura por nomes, números, numa busca incessante por um pouco de atenção. Uma migalha qualquer serviria, porque você está sozinha e sabe muito bem como é desconfortável essa sensação. O incômodo de não se adequar na própria pele. E anda como quem está perdida, acende um cigarro, respira, inspira, solta a fumaça, olha pro relógio. E não há mais nada além. Essa é você. Só, no meio de tanta gente desconhecida, de tanta agitação, num frio desses que é mais interior do que externo, próprio da estação. Você, tão pacífica e equilibrada, tão sem ressentimentos, ok, beleza, vai passar, sempre passa, é só mais um dia ruim, amanhã eu acordo, tomo um banho e torço pra que isso não se repita, é um saco, eu quase infarto, sempre morta, sempre morta. Tão boa atriz que ninguém nota.

E você procura algum sentido, dramatiza, entra naquele restaurante, é mais uma garota sozinha sem nada mais apropriado pra fazer. Sozinha não apenas por falta de companhia, pois a solidão lhe é inerente. Estivesse ela num estádio superlotado: da mesma forma se sentiria.

Você é uma personagem num enredo patético e sem sentido. Você perdeu, no exercício débil de fazer de conta, a noção da realidade. Tirando os pés do chão você caiu e perdeu, inclusive, a sua identidade. Uma personagem que não tem o texto decorado.  Nunca poderia ocupar o papel principal, sequer atua em improviso. E improvisar era a melhor saída, afinal. Você, mais uma atriz amargurada e ferida.


Você, uma estrangeira na sua própria vida.


domingo, 12 de junho de 2011

Eu te amo

"Se entornaste a nossa sorte pelo chão/Se na bagunça do teu coração/Meu sangue errou de veia e se perdeu..."
(Chico Buarque)

Concordo com Caio Fernando quando ele escreve em uma de suas cartas que Chico é bom pra essas coisas. Sentimentos, ressentimentos. De certo modo o invejo e admiro, porque  apesar do muito que sinto, mal consigo expor com palavras o que pulsa no meu coração, o que lateja no meu peito sempre que você não está. Fiquei alguns minutos encarando a tela branca, na esperança de que surgisse alguma frase de efeito, uma rima completa, uma poesia inédita que representasse o meu estado de espírito. Eu ouvia falar sobre isso, pensava, errônea e estranhamente, tê-lo sentido em algum momento. Mas tudo é tão novo, tão insuspeitado, tão diferente...O que eu sinto vai além. É bem maior (e melhor)do que isso que chamam de amor.

Faz frio, junho, dia dos namorados. Deixei a janela aberta, com a esperança de que o vento levasse até você alguns dos meus pensamentos mais ternos. Então, ele, atento aos meus anseios e solidário com a minha quase tristeza,  me presenteia com o seu cheiro. Eis que meu coração taquicárdico mostra que só há equilíbrio se você está. Não há nada que habite com mais frequência os meus pensamentos. Não há nada mais importante. Eu quero essa leveza que apenas você me traz. Os meus dias de sol,  os meus sopros de inspiração, tudo o que há de melhor em mim, eu devo a você. Só você me completa. Só você me satisfaz.

Na falta de algo mais apropriado e menos clichê, digo que te amo com urgência, ansiando, a cada dia, que se acabem todas as ausências e que nossas carências sejam preenchidas. 

Porque sem você eu apenas sobrevivo.

sábado, 11 de junho de 2011

Todo o sentimento

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.

Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Metade


Já nem consigo mais distinguir onde eu termino e você começa. Porque a minha mão na sua é uma coisa só. Quando estou com você, esqueço a minha identidade; nome, signo, história e lembranças perdem o sentido de tal forma que eu realmente sinto como se tivesse nascido no segundo em que te encontrei. E, de quebra, passei a conhecer aquilo que chamam felicidade.Eu não sou eu sem você. Acabo me perdendo nos meus passos, tropeço, titubeio, fico sem rumo. Você é o meu norte. É, sem sombra de dúvidas, a coisa mais certa que eu poderia fazer. Com você, eu tenho muito mais do que apenas sorte.

Porque o seu abraço não é só um abraço, é abrigo.
Porque o seu beijo não é apenas um beijo, é alívio.
O seu sorriso e seu olhar, meu bem, valem arte.
Sem você por perto não sobra nada além de um enorme vazio.


(A verdade é que você é a minha melhor parte).