Há tempos não me sentia tão confortável na minha pele, sabia? Um saco isso, pra quem adora dramatizar como eu. Você, você, meu amigo, me conhece melhor do que ninguém no mundo e sabendo das coisas que eu tenho passado, deve ter pensado que eu iria desistir. Ou, no mínimo, chorar bastante, abraçada com o travesseiro. 'Para de ouvir essas músicas depressivas', você diria.
Meu dia não foi dos melhores. Acordei de ressaca, e eu nem bebi, acredita? Eu estava desnorteada, o corpo lasso, queria ficar ali, imóvel, encarando o branco do meu teto e pensando, pensando nas palavras que eu tenho ouvido, nas situações que tenho vivido, no que eu tenho sentido, enfim. Ou dormindo, pra sempre, o que não seria ruim. Não pude me dar ao luxo, então fui à luta. Fiz todas as coisas que eu deveria fazer, eu com aquela paranoia de que a bagunça dos cômodos é um retrato da minha confusão mental. Incomodada, coloquei tudo no lugar. Pus meu cd antiquíssimo do Bon Jovi pra tocar, eu sei, acordei não só acabada como brega. Enquanto conversava com meu irmão, interrompi o curso das palavras por um instante e meus olhos se encheram d'água assim, repentinamente. Ele, claro, não entendeu nada. Eu ficava repetindo: essa música é tão linda, tão linda (Bed of Roses, naquela parte do " About all of the things that I long to believe, about love, the truth and what you mean to me and the truth is, baby, you're all that I need"). Aí fui me esconder de vergonha por me sentir assim e, juro, foi só um projeto de, sequer chorei. Eu perdi o controle sobre as minhas reações, cara. A pior parte é essa: a agonia e a angústia que não saem daqui de dentro de maneira alguma, e você fica de um jeito tão triste, tão miserável que, por pouco, não sente pena de si mesmo. Tem coisa mais patética do que sentir pena de si mesmo? Foi com esse pensamento que eu decidi mudar o meu estado de espírito. Ok, tá uma merda, mas o que eu posso fazer pra que as coisas fiquem mais suportáveis? Exatamente isso: nada. Fiquei no meu canto, fazendo alguns resumos, ouvindo algumas músicas, revendo algumas fotos, lembrando, porque lembrando de outras coisas eu esqueço do agora.
Tá todo mundo muito preocupado. Sinto que as pessoas falam comigo como se fosse pela última vez, como se a qualquer instante eu fosse embora. Eu sei que tenho exagerado, tá, talvez não tenha exagerado, mas eu estou num exílio - do mundo e de mim. Então quem se importa quer saber porque diabos eu não estou saindo com meus amigos, porque eu não atendo o celular e porque de vez em quando eu sumo (alguns pensaram mesmo que eu tinha morrido). Como eu li uma vez e sempre rio quando penso nisso: bom, se eu tivesse realmente sumido, você não estaria aqui falando comigo. Não estou nem aí se vão sentir falta de mim, eu estou me afastando pra tentar pôr as coisas em ordem. Deve ser mais uma dessas crises de identidade, de fé, de tudo. A Má diz que eu sou uma pensadora e, mais do que isso, uma inconformada, que eu analiso tudo, que eu sinto tudo e, por conta disso, sofro muito e amo muito, tudo assim, com advérbio de intensidade. Ela insiste que eu tenho que largar tudo o que não me apraz e sair correndo desesperada atrás daquelas coisas que certamente me farão feliz. "Veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara.” Tenho lido tanto Caio e ouvido tanto Damien Rice que parece que a melancolia fez de mim sua morada e não quer mais sair daqui. Até que ela tem um certo charme, um pouco Greta Garbo, a única coisa que eu quero no momento é ficar só. Com meus livros, com meus textos, com meus dramas repetidos e sentindo amor, e saudade, e uma tristeza que traz consigo a certeza (não mais esperança, Vinicius), de um dia não ser mais triste não.
Então, meu querido amigo, a você que me lê agora, se perguntando onde está a minha vida, digo que está aqui, sendo vivida tranquilamente, sendo sentida intensamente, porque eu vou chorar muito ainda, e vou morrer de tanta alegria, porque as coisas são assim. Eu tenho o meu tempo, tenho essas crises, essa sou eu, até o fim. E a vocês que estão achando que eu sumi (e até morri), digo que essa é uma fase, que, inclusive, na minha idade ela é bem comum. Pareço perdida, mas sei muito bem onde estou. E eu não irei a lugar nenhum.
Sensacional!
ResponderExcluir