Você bateu a porta ao sair. Bateu, sem cerimônia em fazer barulho, esquecendo que não estamos sozinhos no mundo, embora eu, há tempos, quisesse a solidão. Eu pedi, implorei.
Você deu. Nem fez questão.
Saiu assim, virou as costas, me deixou a vontade com as palavras que eu dizia. Você sabe como sei ser ferina. E nada do que eu disse foi realmente necessário. Isso era o que eu queria, mas ainda assim, resistia. Mudança, medo, desespero. Eu perguntava, você não sabia responder. E perguntei das maneiras mais impensadas, perguntei sem verbalizar, perguntei com o olhar, com o jeito como passei a acender um cigarro atrás do outro. Pedi, perguntei, você não entendeu. E saiu, nos deixando a sós: eu e um pedido de socorro.
Você quebrou os quadros, partiu o espelho em mil pedaços, deixou tudo aos cacos. Tanta desordem, enquanto tentava me recompor em meio ao caos. Sequer sinto a sua falta. Olho tudo ao redor e não entendo como chegamos até aqui. Olho tudo em volta e não sei porque me permiti chegar até aqui. Aqui: e não sei exatamente onde isso é.
O que nós fizemos? Quando nos perdemos? Não sei ler entrelinhas, não reconheço finais, desconfio de como seja, mas...será mesmo assim? Será que o fim não é tomar nenhuma atitude drástica? Será que é simplesmente não se importar ao ponto de fazer algo e apenas...deixar ir? Como se não houvesse equilíbrio, você pega um punhado de areia na mão e não consegue retê-la. Deixa os dedos muito separados. Ou fecha demais o punho. O que há com nós dois, amor?
De qualquer forma, sentei na varanda, abri as janelas, deixei o vento entrar, o sol invadir a casa. Não me permito deixar tudo cinza. Seja como for, você vai voltar. Nem que seja pra arrumar as suas coisas e ir embora. Você vai voltar. E quando isso acontecer, vou encher a sala de flores, acender incensos, colocar uma boa música pra tocar. Vou fazer uma limpeza geral, tirar o pó dos móveis, trocar o tapete da sala. Vou me perfumar com alfazema e colocar meu vestido mais bonito. Só pra te dizer adeus. Só pra você me olhar. Só pra ver a sua cara ao sair. Da sala, pela porta, da minha vida. Não olhe pra trás, não precisa falar nada, você só vai me ver sorrir.
Esse é o meu jeito de estragar as coisas. Esse é o meu jeito de te deixar partir.
E Marina Lima, ao fundo, te dizendo o que você nunca vai entender:
As coisas não precisam de você.
Era só o que você precisava ouvir.
Era só o que você precisava ouvir.
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