domingo, 30 de dezembro de 2018

2019

Desejo que todos os dias que se seguem sejam repletos de lucidez e coragem
Que nosso olhar seja lúdico e que não se acostume com a sisudez da rotina
Ou com a repetição da paisagem.
Que cada passo da jornada seja dado com otimismo
E que tenhamos força e equilíbrio para lidar com as adversidades.
Que trilhemos o nosso caminho sem amarras
Em total liberdade.
Que a vida tenha a cor que a gente pinta
Que seja repleta de amor e poesia.
E inundada de felicidade.
Que acreditemos em dias melhores
E possamos sempre nos reinventar.
Que o agora seja o nosso melhor momento.
Desejo que sejamos a mudança que insistimos em esperar.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim 
Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer
(Chico César)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

A água dança lá fora. Têm sido dias cinzas, porém bonitos. Como quando, inesperado, o sol insiste em sair no fim de um dia dominado pelo temporal. Ou quando, repentinamente, a luz e o calor se calam com a chegada da chuva torrencial.
A natureza ensina. 
Há o tempo de chover e de ensolarar. 
Tenho estado atenta.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O amor é a energia mais bonita do Universo.
Só o olhar inundado de amor é capaz de perdoar, respeitar, compartilhar e transformar.
O meu desejo diário é que todos possam experimentar a força poderosa que é amar.
Sem amarras, sem contrapartidas, em liberdade.
Não consigo dissociar amor de estado de graça.
Eu encontrei amor nessa vida.
Ele dá sentido e cor aos meus dias.
É sinônimo de felicidade.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Dia branco

sábado, 8 de dezembro de 2018

"Sou flor que se cheire em qualquer lugar." (Rita Lee)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

"Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
(...)
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia. 
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar." 
(Clarice Lispector)

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

"Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto."
(Secos & Molhados)
Amor não se mede em tempo
Em frações inventadas de horas
Amor não se projeta no futuro
Porque relógio nenhum o controla
O amor não mora no "pra sempre"
Pra sempre é longe
E demora

(Aqui dentro você é presente
Eu te tenho no infinito do agora)

sábado, 17 de novembro de 2018


Tudo em volta parece fomentar o ódio, a frustração, a tristeza.
A gente tenta se apegar ao menor resquício de empatia e respeito na tentativa de atravessar os dias com o mínimo de leveza.
Não quero mais canalizar as minhas lágrimas ao que me desperta raiva. 
Desistir de acreditar não é da minha natureza.
Por isso, me apoio naquilo que é singelo por essência.
O que verdadeiramente importa mora na delicadeza.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Sempre foi amor. Desde o momento em que você atravessou aquela porta. Meu coração vacilou e me dei por vencida: você veio para me arrebatar.
Sinto até hoje a urgência de te ter por perto. Meu peito se enche de alegria pelo simples fato de você morar nos meus dias. Dividimos a leitura, o vinho, a cama, a rotina.
Eu, que nunca experimentei o pertencimento, fiz de você o meu lar.
O meu lugar é onde você está.
Você é pra toda a vida.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Neste roteiro chamado vida
Nos alternamos entre bastidores 
e palco
Todo dia é nossa estreia
Cada experiência é inédita
Não há tempo para ensaios
No abrir e fechar das cortinas
Prescindimos de plateia e aplausos
Porque mais que protagonistas
Somos o nosso próprio espetáculo

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Amanhecer é ter uma página em branco esperando para ser escrita
Não há roteiro certo, nem história mais ou menos significativa
Cada um sabe de si:
sua dor, seu valor, suas conquistas.
A vida é um enredo que se esboça todos os dias
E o caminho mais bonito é aquele que a gente cria.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Hoje eu não consegui chorar. Só senti raiva. O estômago já começou a dar os sinais, a ansiedade me deixa zonza, fico andando de um lado pro outro, tonta, sem saber o que fazer ou o que pensar. Me falta um pouco de equilíbrio emocional onde sobra senso crítico. Sou racional até me deixar afetar. Aí o cérebro insiste em continuar, mas a gente sabe, sensibilidade exacerbada às vezes atrapalha. É fácil se deixar arrebatar.
Acho que estou me rendendo. Olho para o lado e não vejo mãos as quais eu possa me agarrar. Quando olho pra frente, sinto medo, e por mais que eu queria desesperadamente ter fé, é difícil acreditar. 
Onde você anda, Caio F. Abreu? O que você escreveria se ainda estivesse por aqui? O que diriam de você, das suas palavras tão cruas e ferinas e honestas? Será que iriam te admirar? Ou te apontariam o dedo do meio, mandando você se calar? 
Aprendi muito com você, com seus textos. Às vezes me pego lambendo o chão dos palácios, a encarar o sofrimento de joelhos. Mas insisto em levantar. Mesmo que aos prantos. Mesmo que seja doloroso demais caminhar.
Mas não há outra alternativa
Eu não vou parar.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Todo dia eu choro um pouco.
Às vezes é de raiva, desespero, medo.
Dá uma dor no coração, um aperto no peito
Voz que quer falar, gritar
Mas não sabe se dá jeito
Porque tudo em volta insiste em calar

Um nó na garganta que machuca
Não desata
Só me rasga e sangra
Mas que eu não quero manter preso
Porque me impede de respirar

De vez em quando as lágrimas vem sem esse peso
Pois apesar de tudo o que vejo
Há um resquício qualquer de tolerância
Tento me apegar com força a ela
Ao muito pouco que resta
Porque ainda não perdi a esperança.

domingo, 28 de outubro de 2018

Sobre as eleições: moderei o discurso, tentei compreender o que motivou algumas pessoas a votarem num projeto sem debate ou propostas relevantes, calcado apenas em mentiras, autoritarismo e violência. Essas pessoas, em principio, me pareciam ignorantes ou manipuladas. Tentei dialogar, em vão: elas querem mesmo é permanecer vendadas. Há uma linha tênue entre o mau caratismo e a desinformação. Quem quer combater corrupção e violência não propaga mentiras. O nome disso é ética. 
E vale pra todos.

Depois de tudo que li, vi e ouvi, estou ainda mais orgulhosa de ter me posicionado. O ódio, o preconceito e a intolerância foram desmascarados. O discurso foi legitimado e pessoas foram agredidas e mortas de ambos os lados. Essas eleições não foram apenas sobre um partido ou candidato. Foram sobre humanidade. 
E quando ouço esses fogos de artifício, sinto um alívio: dessa farsa eu não fiz parte.
Lembro até hoje de uma aula de MPB (sim, música popular brasileira) ministrada na minha oitava série. Eu tinha 13 anos. Meu professor escrevia a letra no quadro, explicava do que se tratava, o contexto histórico, o seu significado. Eu entendi o que significava Sampa, de Caetano, Cálice, de Chico Buarque, Fotografia 3x4, do Belchior. Sempre gostei das músicas de rock dos anos 80 (trago Renato Russo tatuado) e poder cantar numa sala de aula junto com o professor era algo que até hoje eu penso ter imaginado.
Mas foi real de um jeito que transformou o meu olhar, mudou meu pensamento. 
Eu passei por todos os estágios nesse processo eleitoral. Frustração, ira, tristeza, desolação, descontentamento. Tive crise de ansiedade após o primeiro turno, me dei conta do quão emocionalmente abalada eu estava com todo o panorama que estava sendo traçado. Conversei com pessoas de quem muito gosto e tive uma epifania. Percebi que as eleições estavam contaminadas. A falta de informação imperou graças à disseminação de fake news aliada ao profundo ódio a uma ideologia. Numa modernidade líquida, como escreveu Bauman, tudo é rápido demais. Tudo se dispersa. Há quem seja mau caráter, há quem seja ignorante. Há quem esteja puto. E há quem simplesmente não sabe o que fazer e não enxerga outro rumo. 
Reconheço que estou numa posição privilegiada, porque tive a oportunidade de ler, indagar, procurar, aprender. Não dá para levantar a bandeira do Estado Democrático de Direito e fazer conjecturas, impondo-as a quem quer que seja, se muitos dão duro para simplesmente ter o que colocar na mesa. 
Ser crítico é fundamental numa democracia. E isso só é possível com educação de qualidade, com oportunidades, com respeito e apreço à coisa pública e às instituições democráticas. 
Perdi um pouco a fé, mas anseio por dias melhores. E espero poder colaborar mais ativamente para que eu veja um Brasil grande e evoluído mais pra frente. Como cantou Renato Russo, "O Brasil é o país do futuro".
Anseio pelo dia que será o país do presente.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

"O meu olhar é nítido como um girassol." (Alberto Caeiro)
Ainda não dormi.
Mil pensamentos, angústia no peito, mas me pego lendo e lendo e lendo e só me resta afastar o medo.
Então eu escrevo.
Esperança é mais que uma palavra. É uma força involuntária. Ela parece perdida, até meio escondida, mas não falha. Esperança enche os nossos olhos de lágrimas. 
Esperança é o nome de um bichinho, que embora verde e pequenininho, provoca na gente a vontade de fechar os olhos e fazer um pedido.
Porque sonhar é mágico e bonito. Seria de um mal gosto terrível o Universo não conspirar.

Apesar da falta de ar e do descompasso dos batimentos cardíacos, é esperança mesmo o que sinto.
Enquanto houver o mínimo de luz no fim do túnel, insistirei na caminhada, a ela vou me apegar.
O mundo não é fácil para quem sonha, mas não desisto. 
Eu vivo por acreditar.

5:35

São 5:35 de uma madrugada sem sono e sem sonhos. Já tinha esquecido a sensação de amanhecer sóbria. Álcool e cigarro me acompanhavam noite a dentro, a escuridão era um bom argumento. Então o sol anunciava um novo dia e com ele vinha o desespero. Eu me rendia. Abraçava o travesseiro e encarava o pesadelo (que não terminava quando eu adormecia). 
Tenho fugido dos meus pensamentos. Tento me ocupar, vejo documentários e ouço músicas e leio tanto que quase me esqueço. Nada captura a minha atenção: quase sempre me perco. Nem lembro a última vez em que me olhei no espelho. Estar a sós comigo começou a ser um martírio. Crises de ansiedade, taquicardia, medo. E eu não tenho certeza do momento em que eu desaprendi o jeito. Me desacostumei ao silêncio. 
De tudo o que já escrevi sobre escassez, solitude e estar pleno, muito pouco faz sentido. No aqui e agora, talvez soe como pessimismo, mas eu me sinto o copo meio vazio.
Talvez seja um processo. 
Doloroso, já que interno.
Reaprender a ser o copo meio cheio.

Mas nem era sobre isso que eu queria falar.
São 5:51 e os galos cantam lá fora.
Há mais uma chance de recomeçar.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Alma mater

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Grama verde
Olhos fechados
Mato recém-molhado
Pés descalços
Cheiro de orvalho
Sol atravessando o céu
Desfilando seus primeiros raios
Cheiro de café e poesia
Rubel na trilha
E um violão
Sua mão na minha
Feliz aqui
Feliz enfim

(Com você é sempre um bom dia)

domingo, 21 de outubro de 2018

"Your sailor eyes
The water in the well
A thirst to fill
Let down your arms
The purging of this dark
The fall to free"

(William Fitzsimmons)

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Aos mestres, com carinho

O dia de hoje é tão cheio de significados que a reflexão é inevitável. Educação é a única arma capaz de transformar a realidade. Sou extremamente grata por ter a oportunidade de aprender (ainda hoje) com verdadeiros mestres, cujos ensinamentos não se encerram na metodologia das disciplinas. Fui ensinada a ter pensamento crítico, a dialogar com as diferenças e a olhar (e entender)  o mundo com mais humanidade. Se hoje eu sou quem eu sou, certamente é por ter estado na presença de cada um deles.
A revolução se faz com o ensino. Com lápis, caderno e livro. É assim que o mundo se transforma.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Panic

"I wonder to myself could life ever be sane again."

Mentally ill
My head is aching
The air I try so hard to take
Seems poisoned when I breathe in

My thoughts scare me
I can't control
My heart is a ticking bomb
About to explode

sábado, 6 de outubro de 2018

Em meio a tanta fuga que aprisiona, escolho a liberdade do enfrentamento.

(vai dar certo)

Depressão

Eu me perdi de mim mesma
Achei que ia morrer de tanta tristeza
Me sentia em mar aberto, entregue à correnteza
Sem saber nadar.
Todo dia é uma batalha para bater os braços
Forçar o nado
 E respirar
Todo dia travo uma luta diferente para não naufragar.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

"Eu solto o ar
No fim do dia
Perdi a vida
Eu já não sei se sei
De nada ou quase nada
Eu só sei de mim
Só sei de mim
Só sei de mim"

(Secos e Molhados)
Eu não preciso inventar histórias ou justificar escolhas porque lá fora muito pouco me importa.
Eu sou o meu próprio centro.
A cada dia que passa me vejo mais só nessa trajetória, mas isso não me apavora.
Eu sou uma fortaleza por dentro.

sábado, 29 de setembro de 2018

A minha busca é mais in que out. Demorei muito para compreender todo esse conceito de transmutar o mundo de dentro para me tornar cada vez mais vasto. Há um nome para isso: pertencimento.
Desocupar espaços, abraçar a solitude, enfrentar a escassez, respeitar os vazios. Romper laços, fazer malas, ficar ou ir embora. Tudo isso faz parte do processo. Às vezes doloroso, porém necessário.
Nada é perfeito. Ninguém é cem por cento. A verdade é que tudo é efêmero. Eu quero apenas ser mais leve, consciente e pleno. Me equilibrando entre erros e acertos, aceitando as inconstâncias do tempo.
Abandono quem fui e acolho quem sou. 
O ontem é ocupação da memória.
Tudo ao redor muda nessa dinâmica.  A vida se transforma.
Desapego. Deixo (flu)ir para ser mais inteiro.
Sou de mim mesmo.
Eu pertenço ao agora.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O Rio não se explica e ainda assim tento. Há uma sutil diferença quando comparado a tantos lugares por onde passei. Eu costumo usar a palavra energia, mas me soa insuficiente. 

O céu parece mais limpo, o sol mais vivo. Bicicletas e carros e pedestres e patins e animais de estimação parecem estar perfeitamente arranjados. O mar é o pano de fundo desse cenário. Vinicius, Clarice, Jobim. Lapa, Copacabana, Leme, Flamengo. E o Cristo abençoando tudo lá do alto.
O fato é que eu me transformo

Não sei se é pela maresia, pela orla, pela sensação de leveza comum aos domingos em plena segunda-feira.
Eu gosto mais de mim aqui no Rio.
Eu fico mais parecida comigo.

"Rio, seu mar

Praia sem fim
Rio, você foi feito pra mim”

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Eu acho bonito tudo o que diz respeito a nós dois, até mesmo aquilo que doeu um dia. Somos um misto de paixão, lágrimas, frustrações, despedidas. Somos reconhecimento. A nossa história tão cheia de desacertos parece enfim ter encontrado o jeito: as feridas já não machucam tanto.
É que a gente se cura morando um no outro. 
De tudo o que passou, ficou o melhor do sentimento:  somos o que aprendemos. Somos o resultado do que fomos.
Somos a nossa trajetória.
O nosso amor atravessou a distância, o sofrimento e se eternizou no tempo.
O nosso amor eu conjugo no agora.

sábado, 8 de setembro de 2018

Celebro mais um ano novo. E a possibilidade de amanhecer, respirar, amar, trabalhar e crescer.
O que tenho me basta.
Só me resta ser grata.
Um brinde aos 28.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

"Se eu esperar compreender para aceitar as coisas – nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e – milagre – se anda."
(Clarice Lispector in Água Viva)

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Obrigada, setembro. Tem sido dias lindos de sol, reflexão, encantamento. De vontade de me redescobrir, de me compreender e me reinventar. Nada permanece o mesmo. A transformação é urgente e começa por dentro.
O novo sempre vem. É preciso estar atento.

sábado, 1 de setembro de 2018

Setembro tem uma beleza delicada que renova os ares pesados de agosto. A despedida do mês do desgosto foi um soco no estômago. Agosto findou deixando lágrimas e luto e raiva. 
Setembro é a retomada do fôlego.
Sinto que, aos poucos, volto a respirar.

"De tão azul, o céu parecerá pintado. E nós embarcaremos logo rumo à ilhas Cíclades.
Houvesse cortinas no quarto, elas tremulariam com a brisa entrando pelas janelas abertas, de manhã bem cedo. Acordei sem a menor dificuldade, espiei a rua em silêncio, muito limpa, as azaléias vermelhas e brancas todas floridas. Parecia que alguém tinha recém pintado o céu, de tão azul. Respirei fundo. O ar puro da cidade lavava meus pulmões por dentro. Setembro estava chegando enfim." (Caio Fernando Abreu in Quando Setembro Vier)

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Eu conheço a minha essência. Sempre fui intensa, apesar de comedida. Durante muito tempo calei meus anseios, engoli meu choro e me escondi atrás de uma timidez que hoje eu mal reconheço.  Um vulcão à beira da erupção.Talvez por isso tenha começado a escrever. Pra me entender. Pra falar aquilo que eu sentia porque ninguém iria ler. 
Eu precisava transbordar.
Sofri. Me resignei. E o tempo foi maturando tudo por dentro. Então eu me rebelei.

Não vou me desculpar por absolutamente nada do que eu sinto.
Eu respeito cada silêncio da menina que um dia eu fui.
Mas hoje eu sou uma mulher.
E como escreveu Clarice, eu tenho direito ao grito.

Então eu grito.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

"Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada.
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas."
(Manoel de Barros)

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Save Me

Loving you like I never have before
I'm needing you just to open up that door
If begging you might somehow turn the tides
Then tell me too I've got to get this off my mind

I never thought I'd be speaking these words
I never thought I'd need to say
Another day alone is more than I can take

Won't you save me?
Saving is what I need
I just wanna be by your side
Won't you save me?
I don't wanna to be
Just drifting through the sea of life

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Porto Murtinho

Todas as lembranças me invadem com clareza. Ainda estou sentada na varanda, observando o correr raro dos carros na estrada de barro,  à espreita. 
Fazia longas caminhadas margeando o rio, contemplando os pores de sol, guardando para sempre a paisagem. Eram outros tempos, mais simples, repletos de leveza e verdade.
Consigo sentir o frio de julho, o cinza daqueles dias não me entristecia. Eu amava a cidade, suas nuances, suas cores, seu clima. A praça, a escola, as festas, o fim de infância mais bem vivido que eu poderia desejar. Tinha amigos, uma bicicleta, tereré e a melhor trilha sonora para embalar.
Eu sabia que uma história de amor iria começar no segundo que coloquei meus pés ali. 
Eu senti:
Era impossível ser menos que feliz.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

"Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor, geralmente despenca. O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida. Pois conheço poucas coisas mais esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto." (Caio Fernando Abreu in A Morte dos Girassóis)
A lente não captura nosso avesso
Nos mostramos incompletos
O lado de dentro é invisível ao espelho
Só nós nos sabemos
Fragmentos de um todo
Inteiros

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Amor é pra ser leve
Sem amarras, sem preconceito, sem medo
Amor só nasce em liberdade
Transcende quando se é verdadeiro
Amor não é busca pela metade
É estar tão completamente à vontade
Que só te resta ser inteiro

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

"Resistimos, aos trancos, já nem sei se foi escolha ou solavanco. Difícil arrancar uma certa lucidez disso tudo." (Caio F.)

Não sei dizer como nem o porquê, mas tive notícias de você. Você, cujo nome até pouco tempo eu me recusava a dizer.
Porque havia mágoa ainda e, sendo bem honesta, ela não estava bem resolvida. Era tão mais fácil odiar que entender. E eu fiz a minha escolha. 
Até pouco tempo as fotos ainda me assombravam. Consigo sentir a vertigem, a náusea, o desespero quando me vi encarando a tela rosa a sós no meu quarto. Mil punhais atravessaram meu peito e não houve jeito: a semente do rancor foi plantada. E ao custo de muitas lágrimas derramadas, ela cresceu. Ficou ali, criando galhos e raízes dentro de mim. A raiva é fácil demais de ser cultivada. Difícil mesmo é perdoar. E nem sei se essa é a palavra mais adequada.
Até hoje não compreendo os detalhes, mas houve uma escolha. Eu não sei de você. Não conheço a sua história, mas acreditei em tudo aquilo que me convinha. A gente faz de tudo para não se doer. Se convence, se consola com pequenas mentiras, depois se martiriza. A gente suporta para sobreviver aos dias. Eu enfeitei o sofrimento daquela escolha. Uma escolha tomada por duas pessoas. Uma escolha que não foi minha. E que me feriu profundamente pelo tanto de amor que havia.("Eu inventava uma beleza de artifícios para espera-lo e prendê-lo para sempre junto a mim.")
Nossos caminhos se cruzaram e durante muito tempo apontei dedos e insisti em achar culpados. 
As tais fotos sempre vinham sem aviso, como fantasmas, trazendo à tona aquele novembro arrastado.
Mas hoje eu vi uma foto sua e me surpreendi: não tive um pensamento ruim. 
Você passou de presença a passado.
Decidi, de uma vez por todas, cortar essa árvore de ressentimentos que crescia em mim.
Durante muito tempo você morou nos meus medos, inseguranças e anseios. 
De tudo o que ainda lembro, só uma não posso esquecer: o presente também é uma escolha. 
E a minha, assim como a sua, é ser feliz.

sábado, 4 de agosto de 2018

Eu me entrego por inteiro
Não há outro jeito
Não sei ser pela metade

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Eu sei mais de mim quando escrevo.

terça-feira, 31 de julho de 2018

José Eduardo Mesquita Barbosa (Dudu)

O tempo nos atravessa apressado, mas o coração preserva quem foi importante pra gente. Você foi generoso, atencioso, cuidadoso, preocupado comigo numa época em que poucos se importavam. Eu, líder da minha turma, que enfrentava alguns problemas no último ano do ensino médio, te chamei para uma reunião e expus (com um pouco de agressividade, é verdade) a situação desigual em que a sala se encontrava em comparação às outras. Você pacientemente ouviu. E guardo as suas palavras até hoje: 'Carla, antes de qualquer coisa, você se convenceu a fazer Direito, né? Porque eu já estou convencido.' Você me encorajou, me estimulou a escrever, me colocou pra cima quando eu queria desistir. Fui acolhida. Você dirigiu o Riachuelo com maestria. Fez dos seus alunos sua família. Não tenho palavras para agradecer. Peço a Deus que te acolha e que dê força aos seus. Estou muito triste, porém me sinto grata de ter tido um líder como você na minha vida. Jamais vou te esquecer, Eduardo.


sábado, 28 de julho de 2018


She's got a crooked smile
A little messy 
And kinda shy
If you want to know more about her
You gotta look into her eyes

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Lua na casa 12

Nada faz muito sentido, mas a sensação de abandono é real. Abraço forte a minha solidão, enquanto mergulho fundo em meus abismos.
Poços escuros me invadem, sou arrebatada pelos vazios.
Silencio.
Estou a sós comigo.
"I feel it
It's coming
Rain"

Não me habituei à mudança de estação
É julho por aqui, mas o sol flameja
É o ápice do verão
De repente, uma nuvem negra rasgou o céu
O silêncio da noite foi cortado pelo som do trovão

Cai uma chuva forte lá fora
Intensa
Inesperada
Daquela cinematográfica
Tamanho o meu descompasso com a cidade, pasme
Mal acreditei que era verdade

Sempre estive alinhada com o clima
Nos dias sombrios, as lágrimas, como as gotas d'água, também caíam
Naqueles mais bonitos, tudo em volta iluminava

Mas hoje, hoje olhei pela janela
E me apropriei da minha identidade
Fechei meus olhos
Respirei fundo
Quase me esqueci que nesse mundo
Eu também sou tempestade

sábado, 21 de julho de 2018

Eu senti saudade da gente. E rememorei nossa história, de trás pra frente. A nossa primeira fotografia, os bilhetes deixados pela casa, a nossa sintonia. Aquela urgência de contato, o conforto do abraço, a nossa incapacidade de assistir aos filmes sem dormir. 
O que pouco importava, porque o final era sempre feliz.

.
Lembro dos nossos encontros regados a álcool e cigarros, de estarmos a sós e nos bastarmos. O mundo inteiro era nada sem você ao meu lado. Lembro das conversas na banheira, das nossas idas ao cinema, dos nossos banhos demorados.
.
Lembro da nossa primeira viagem juntos de carro, das músicas que ouvíamos como trilha, de achar lindo você na cozinha preparando o nosso jantar. Lembro das nossas risadas e das (muitas) vezes em que foi inevitável chorar.
.

Em meio à distância e à saudade, entre sorrisos e lágrimas, fiz as malas, porque eu sempre soube que era você. 
Tudo o que eu conhecia assumiu outro significado ao te ter. Você se tornou o meu lar.

São 7 anos de encantamento, cumplicidade e aprendizado
Esse amor só aumentou com o passar do tempo
Dividir a minha vida com você é um privilégio
Você é meu abrigo
Meu melhor amigo
Meu par perfeito.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Encarei a tela em branco tentando encontrar as palavras certas para ressignificar a ideia de amizade.
Meus amigos sempre foram minha família, meu suporte emocional, meu resgate de mim mesma quando eu navegava às cegas, atravessando os altos e baixos da vida.
Por mais doloroso que seja admitir, as pessoas se perdem. Eu costumava buscar, ir atrás, insistir. E ficava desolada ante os silêncios. Percebi, com certa tristeza, que afeto não se força nem se apressa. Como Caio Fernando escreveu, amizade, assim como amor, também enche de erva daninha.
Amizade desconhece barreiras, limites, fronteiras. Amizade transcende.
Talvez esse texto fuja um pouco dos clichês comuns a esse dia.
Conto nos dedos os amigos que resistiram ao correr do tempo.
Sou grata por aqueles que podendo ir, permaneceram.
Porque amizade é presença.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Sigo aprendendo.
Abraço, com gratidão, cada momento. 
Dei o meu jeito de colher flores em jardins de cimento
Transformei o sofrimento em palavras
Transmutei as dores em crescimento

Vou me entregando à vida sem resistência, com empatia
Faço do ato de respirar a minha rima mais bonita
Permito a mim ser inteira
É meu jeito de fazer poesia
Cada pessoa é um mundo. Se nós nos surpreendemos com quem somos, se temos várias e diferentes facetas, por que não respeitar o universo do outro? 
Dê as mãos, não aponte dedos.

O que me incomoda eu mudo.
O que verdadeiramente importa está por dentro.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Quadro verde

Nunca tinha ouvido Rubel naquela varanda, depois do expediente, tomando uma cerveja e acendendo um cigarro para me inspirar.
Nem colocado roupa na máquina ou água no fogo para fazer o chá.
Nem mesmo escrito qualquer coisa para falar sobre o vazio ou o silêncio numa carta para ninguém.
Eu não guardei um pôr do sol.

Eu não desfiz as malas.
Não arrumei a casa.
Eu só senti falta.
Essa mesma falta que é um pouquinho triste mas também bonita. 
Que dança, com leveza, no meu peito. 
Porque eu não inventei nenhuma memória.
Sinto tudo como se fosse ontem.
Mas a saudade...
Essa saudade eu conjugo no agora.

domingo, 15 de julho de 2018

The Road Not Taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

(Robert Frost)

terça-feira, 10 de julho de 2018

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade)
Eu sinto saudade quando ele não está por perto
E aí o vazio do quarto me toma por inteiro
Os dias mais comuns, com ele são inéditos
Não consigo explicar de outro jeito
Pra mim ele é perfeito

Ele me dá a mão
E me encanta com o seu mundo
Ele me faz querer ficar
Não preciso de muito

Eu tenho tudo quando ele está

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Me chamavam flor de lótus e eu não compreendia. Achava a expressão bonita, pudera, esse hábito de enxergar o mundo com os olhos da poesia.
Mas eu olhava e não (me) via.
É sobre em meio à lama criar forças para crescer. É sobre não se resignar.
Bruta flor, a sós, eu brotei
Respeitei o tempo necessário para maturar
Pétala por pétala, apesar da dor, eu me transformei
Sou o que me cabe ser
É o meu jeito de desabrochar.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Para agradecer ou te celebrar eu não preciso de uma data específica. Cada dia que passo com você é o dia mais especial da minha vida.

terça-feira, 26 de junho de 2018


Sol em virgem e ascendente em aquário.
Transito entre a lucidez e o descompasso.

domingo, 17 de junho de 2018

"And the world's got me dizzy again
You'd think after 27 years I'd be used to the spin
And it only feels worse when I stay in one place
So I'm always pacing around or walking away"


sexta-feira, 1 de junho de 2018

"Amar a si próprio é esse movimento: não se resignar, não se conformar com o que foi feito, não mergulhar na repetição desanimada dos dias: olhar cada lembrança de frente e ver se ainda queima. Olhar cada palavra de frente e ver se ainda queima. Olhar cada atitude de frente e ver se ainda queima. E incendiar a nossa vida na vida do outro." (Fabrício Carpinejar)

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Eu sinto falta
Do frio de junho
Da brisa
De pegar ônibus
De pegar as barcas
De beber na Cantareira
De beber na Lapa
De atravessar a Baía 
de Guanabara
De comprar cigarro na banca
De ir a pé pra casa
De encontrar os amigos nos bares
antes e depois da aula
De ir à praia
No Leme ou em Itacoatiara
De falar poesia no Catete
De flanar pela Arlequim
De ir aos saraus 
na praça Tiradentes
Sinto falta das árvores
De Copacabana
Do Ingá
Do Flamengo
Sinto falta da varanda
Do barulho da rua
Da madrugada em silêncio
Cortada por um casal de bêbados
Que cantava Cazuza
Pro dia nascer feliz
No Rio de Janeiro
Escrever é o ápice da minha exposição.
E ainda assim tenho reservas.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

São poucas as coisas que importam de verdade e são as coisas mais simples pelas quais vale a pena lutar. A vida é um sopro e a gente se perde nesse falsa ideia de eternidade. Porque sempre acreditamos que há o amanhã. Mas a verdade é que a gente não sabe. 
Então só o que nos resta é aprender a amar o presente e fazer com que cada ato de respirar não seja em vão. Sigo aprendendo. E tentando fazer valer cada segundo da minha respiração.

sábado, 19 de maio de 2018

"And they wonder why you're frustrated
And they wonder why you're so angry
And is it just me
Or are you fed up?
"

terça-feira, 15 de maio de 2018


"Eu todo doído. Minha vida tá toda errada. Bodes em vários níveis, às vezes me sinto bombardeado de — sei lá o quê. (...) Poucas vezes a barra esteve tão pesada. No país, é isso que você vê. Cada vez pior. Ai, Emediato, pra onde a gente tá indo?" 
(Caio F.)




Mergulhando em poços cada vez mais fundos. Uma escuridão de dar gosto. A solidão invadindo. Retorno de Saturno? Aquela sensação de completo abandono. 
Mas há o apesar de tudo.

Aquela força vital que a gente só conhece quando chega ao próprio limite. Um impulso que nos empurra pra frente. Aquela luzinha esmaecida, mas insistente, que ilumina as nossas sombras e nos faz lembrar de que não é fraqueza estender as mãos e pedir ajuda. Isso é sinal de lucidez. Às vezes a vida se torna caótica e somos despreparados para lidar com quedas e rupturas.
Às vezes existir se torna um fardo demasiadamente pesado. A depressão não tem nada de leviano, não é sofrimento enfeitado.

As palavras são meu jeito de pedir socorro.
Escrevendo, me resgato de mim. 
Eu me sinto a salvo.
Apenas eu sei 
O quanto eu perdi
O quanto me custou
Chegar até aqui

terça-feira, 8 de maio de 2018

Eu queria dizer que não. Que a falta é só mais uma palavra que a gente emprega para dar sentido ao nosso vazio. Que não é solidão o que carrego, que nem sei ao certo o que sinto. Que poderia ser qualquer coisa, desde que fosse verdade. Que eu só precisei ouvir um nome. 
Eu queria dizer que não. Não é nada disso.
Mas é saudade.

domingo, 6 de maio de 2018

15 anos

Aprenda a se amar. 
Não aceite nada menos que o melhor. 
Saiba dizer não. 
Não se detenha. 
Siga a sua direção.

O caminho é árduo, mas vale cada passo dado. E, de uma forma meio louca, a dor se transmuta em força. O que fica é o aprendizado.
(Não desista. Você é mais forte que imagina.)

quinta-feira, 3 de maio de 2018

O processo de autoconhecimento é difícil. 
Tem sombras, pedras, lágrimas, quebras e abismos. 
Você cai, rala os joelhos. Mas levanta mais forte.
Perdi muito durante o caminho.
Mas o que eu ganhei não preço.

terça-feira, 1 de maio de 2018

"Natureza da gente não cabe em nenhuma certeza." (Guimarães Rosa)
A palavra não alcança o que é sagrado.

domingo, 29 de abril de 2018

Poesia nutre
Poesia é alimento 
que não se mastiga

Poesia é comida de ler
De sentir
Poesia é feita pra tocar
E inspira

Poesia a gente engole
Porque precisa

Poesia preenche
Poesia sacia

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Dos inúmeros aprendizados que tive, o mais importante é que conduzimos os nossos caminhos em função do amor ou do medo. 
Tudo se resume a esses dois sentimentos.
Às vezes o medo me paralisa, mas lembro que tenho um amor na vida.
Que não estou sozinha.
Ele me dá coragem.

(Que sorte a minha)

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Aquele texto guardado na última gaveta

Tudo era vago e o mundo, vazio.
Desacreditada, me recusava a abrir os olhos: insistia em me manter apática. Deitada na cama, ansiava pelo sono. Enfrentar o dia era um martírio.
Eu me rendia às lágrimas.
No chuveiro, na empresa, na praça, nas barcas, no banheiro.
Quando ouvia uma música, qualquer música, que até então sequer te lembrava.
Quando eu passei pelas ruas, árvores e bares que testemunharam o nosso amor daquele jeito tão para sempre e que terminou de repente, sem hora marcada.
O seu cheiro que me tomava sem licença, o som da sua voz quando eu te ligava, a felicidade estampada nas nossas fotografias. Nem de longe antecipavam o que nos aconteceria.
Cada trago, cada gole de bebida. Cada sono em que eu ansiava por ao menos um bom sonho em razão do pesadelo que eu vivia.
O que falar sobre a falta?
A falta é aquele buraco no peito impossível de ser preenchido. A cada dia sem te ter, ele só aumentava.
Perdi minha identidade, não me reconhecia
Eu era uma versão destruída de mim mesma, vagando sozinha.
Eu me sentia vazia.
O amor que você plantou em mim desabrochou. Você arrancou, sem o menor pudor, aquela flor tão linda.
E eu, que estava sem você,
Me perdi de mim mesma.

Eu também não me tinha.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Danilo

"Não quero nunca me perder de você, nem preciso dizer isso porque você sabe que um Virgem e um Touro não se perdem mesmo — é astralmente impossível. Portanto, mesmo que você cometa a vileza de me deixar sem resposta, num outro de repente a gente se encontra numa esquina, numa praia, num outro planeta, no meio duma festa ou duma fossa, no meio dum encontro a gente se encontra, tenho certeza." (Caio F.)


E a gente se encontrou, contrariando as possibilidades e superando todas as expectativas. Nem sei ao certo quando esse encantamento começou, mas ele resistiu. Porque quando estamos juntos, me sinto mais completa. É como se eu tivesse mesmo encontrado aquela parte que faltava, a peça que se encaixa, a palavra que falta quando tudo em volta cala. Temos tantas histórias para contar, tantas músicas para cantar, nosso amor tem gosto de cerveja, tem risada escancarada, som de Raul Seixas, pedido de casamento, tem abraço apertado e mãos dadas. 
A gente se encontrou apesar dos desencontros. A gente se apaixonou pelo outro do jeito mais sincero, honesto e puro. A gente tem tanta semelhança que é quase impossível não dizer que os nossos destinos estavam traçados. É impossível não dizer que é amor. É amor. De um jeito insuspeitado, sem cobranças e sem amarras. Porque a amizade é o amor livre.

Eu te desejo toda a felicidade do Universo e que só caiba alegria no seu peito. Que todos os seus desejos sejam atendidos e que os seus dias sejam mais que perfeitos.
E que a gente nunca, nunca mesmo, se perca um do outro.
Te amo!

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a 
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. 
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito 
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 14 de abril de 2018

"Normality is a paved road: it's comfortable to walk, but no flowers grow on it".
(Vincent Van Gogh)

quinta-feira, 5 de abril de 2018

5 de abril

Há 7 anos eu finalizava o último dia de capacitação para o meu primeiro estágio na área de Direito, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Havia sido designada para trabalhar na Vara de Execuções Penais. Lembro que era cerca de 17h da tarde e achei conveniente aproveitar que já estava nas dependências do fórum para conhecer o local onde eu iria realizar minhas atividades. Fui até lá, conversei com um dos diretores de um determinado setor, e ele pediu para que eu aguardasse num outro departamento, para me apresentar àquele que seria meu supervisor. Chegando lá, fui atendida pela secretária, que me pediu para esperar um pouco pois o diretor estava em almoço. 'Almoço?', pensei. 'Mas são quase 18h da tarde...'
Eis que algum tempo depois ele aparece. Terno, gravata mostarda, cheiro de charuto, mascando chiclete. De uma seriedade absurda. Apertou minha mão e, dado o horário avançado, pediu para que eu iniciasse as atividades no dia seguinte, ocasião em que passaria os detalhes do trabalho.

*
Hoje, dia 05 de abril, ele está dormindo ao meu lado.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Queria poder te dizer que não machuca. Que olhar não resgata lembranças, que dou graças a Deus por não ter boa memória. Queria dizer que não dói, que meu coração é distraído e esquecido, que a sua imagem permanece incólume. 
O problema é que eu sinto. E imagino. E leio as suas palavras tão verdadeiras, vejo as fotos e o que há em comum entre elas.
Porque não é apenas um mero sorriso. É o sol nascendo nos seus lábios. É aquele riso que emana completude e alegria. É aquele riso que se opõe ao que eu sentia naqueles dias. 
O céu chorava no fim de novembro.
E eu chovia.

(Eu ainda te mantinha aqui dentro)

P.S.: para C., porque tem coisas que a gente só sabe sentir, sem entender.