segunda-feira, 13 de agosto de 2018

"Resistimos, aos trancos, já nem sei se foi escolha ou solavanco. Difícil arrancar uma certa lucidez disso tudo." (Caio F.)

Não sei dizer como nem o porquê, mas tive notícias de você. Você, cujo nome até pouco tempo eu me recusava a dizer.
Porque havia mágoa ainda e, sendo bem honesta, ela não estava bem resolvida. Era tão mais fácil odiar que entender. E eu fiz a minha escolha. 
Até pouco tempo as fotos ainda me assombravam. Consigo sentir a vertigem, a náusea, o desespero quando me vi encarando a tela rosa a sós no meu quarto. Mil punhais atravessaram meu peito e não houve jeito: a semente do rancor foi plantada. E ao custo de muitas lágrimas derramadas, ela cresceu. Ficou ali, criando galhos e raízes dentro de mim. A raiva é fácil demais de ser cultivada. Difícil mesmo é perdoar. E nem sei se essa é a palavra mais adequada.
Até hoje não compreendo os detalhes, mas houve uma escolha. Eu não sei de você. Não conheço a sua história, mas acreditei em tudo aquilo que me convinha. A gente faz de tudo para não se doer. Se convence, se consola com pequenas mentiras, depois se martiriza. A gente suporta para sobreviver aos dias. Eu enfeitei o sofrimento daquela escolha. Uma escolha tomada por duas pessoas. Uma escolha que não foi minha. E que me feriu profundamente pelo tanto de amor que havia.("Eu inventava uma beleza de artifícios para espera-lo e prendê-lo para sempre junto a mim.")
Nossos caminhos se cruzaram e durante muito tempo apontei dedos e insisti em achar culpados. 
As tais fotos sempre vinham sem aviso, como fantasmas, trazendo à tona aquele novembro arrastado.
Mas hoje eu vi uma foto sua e me surpreendi: não tive um pensamento ruim. 
Você passou de presença a passado.
Decidi, de uma vez por todas, cortar essa árvore de ressentimentos que crescia em mim.
Durante muito tempo você morou nos meus medos, inseguranças e anseios. 
De tudo o que ainda lembro, só uma não posso esquecer: o presente também é uma escolha. 
E a minha, assim como a sua, é ser feliz.

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