terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Into the Wild

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"A felicidade só é verdadeira quando compartilhada."

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


" Life is a waterfall,
we're one in the river,
and one again after the fall." 
(Daron Malakian / Serj Tankian)


Cerro os olhos e devaneio sobre o tempo
Que corre apressado, passos largos, imutável
A pele expõe seus sulcos e marcas
Por dentro, a ferida persiste
Incurável, insuportável, intacta.

O anseio maior, quiçá uma mudança
Esperança e a vontade otimista;
Certas coisas permanecem iguais
Embora a gente resista.

E o tempo tratou de reproduzir meu estado de espírito
nessa tarde cinza e fria de dezembro. 
Deixo meu olhar fixar as gotas na janela
Confundo o vento com o gélido em meu peito
Mil punhais atravessam meu coração agora
Não há nada mais que possa ser feito.



(gosto dos pingos de chuva, dos relâmpagos e dos trovões)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O melhor lugar do mundo

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Poderia ser o meu quarto, meu refúgio, meu templo sagrado. Poderia ser o calor debaixo do edredom num dia bem frio. Poderia ser a casa da avó, com aquele cheiro impossível de descrever de tão bom. Poderia ser um imenso campo de girassóis. Poderia ser aquela avenida com vista privilegiada para o Pantanal. Poderia ser aqui no Rio, Cristo de braços abertos, um cartão postal.
Poderia ser Paris, cidade do romance e de uma beleza clássica, remetendo tanto a Audrey Hepburn e sua leveza e graça. Torre Eiffel, Champs-Élysées, Louvre. Poderia ser alguma casa de veraneio na Toscana, poderia ser alguma ruína em Atenas, poderia ser uma daquelas casinhas brancas de Santorini, na Grécia. Poderia, inclusive, ser uma livraria. Até um supermercado abastecido de gostosuras, eu diria. Poderia ser uma galeria de arte com pinturas impressionistas. E, quem sabe, uma praia habitada por tartarugas-marinhas.
Poderia ser debaixo de uma água bem gelada quando está calor. Poderia ser o sofá de casa quando o cansaço toma conta e dormimos sem desligar a TV. É, poderia ser. Aqui, acolá, por ali, além -mar.


Mas o melhor lugar do mundo, digo, o melhor lugar do mundo, só é  melhor se você está.


domingo, 14 de novembro de 2010

Do espelho


Eu não te reconheceria. Aqueles olhos penosos, desconfiados e uma boca que ensaiava um sorriso sem mostrar os dentes, um sorriso contido, uma dispersão aparente. Uma inocência que estava no limite do amadurecimento. Era notória a sua diferença. Era notório que você tinha marcas que estavam estampadas no seu rosto infantil, no seu pequeno corpo, na sua velha alma. Ingênua, tímida, com um ar de tristeza constante.
Eu não te reconheceria. E, à época, certas canções te prendiam, te fixavam e, posteriormente, se tornariam trilha da sua vida. Sempre solitária, sempre quieta, sempre fechada.
Eu não te reconheceria, nem naquelas fotografias, foram tantas mudanças, jamais imaginaria que, de alguma forma, você conseguiria.
Eu não te reconheceria. Se consegui foi por identificação imediata com aquele olhar. Eu me olho no espelho e percebo: algumas coisas nunca mudam, por mais diferentes que por agora pareçam. Posso ter segurança, melhorado minha aparência, crescido de todas as maneiras possíveis, pois de 6 para 20 anos há distorções. O reflexo diverge, mas algo permanece intacto. A incompletude e a solidão ainda me assombram.
Se eu pudesse dizer algo àquela menina que tinha medo de sorrir e de falar, diria que eu estou indo bem, que ela não precisava ter tantas cicatrizes para olhar hoje em dia, porque o tempo trata, a seu modo, de resolver tudo que parece insolucionável. E as piores coisas que te aconteceram durante a sua infância, coisas das quais você se lembra com clareza e que ainda te doem por dentro de uma forma insuportável...Tudo isso te transformou no melhor que você podia ser.
E aquela canção que você ouvia sem muito compreender, ela é verdade, é o mantra da sua vida desde sempre: “ Tudo passa, tudo passará..."

Mas, honestamente, você não precisava se doer tanto.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

En-canto

Eu te olho com olhar desacostumado
Daquele que surpreende ao primeiro contato
E com você eu sinto a leveza do novo
O encantamento é inusitado

Você sequer sabe dessas sensações
Se sabe, não deixa claro
O óbvio não faz parte de você
Não há nada a ser esperado

Eu não sei descrever o que eu sinto
Um amor inexato, indefinido?
Algo ideal e certamente muito bonito
Assim como você, digno de suspiros.

domingo, 7 de novembro de 2010

"So tell that someone that you love
Just what you're thinking of
If tomorrow never comes"
(Garth Brooks)

e tudo é efêmero. A vida é uma passagem, estamos aqui, vivemos, amamos, crescemos e sabemos todos que um dia, sabe-se lá quando, tudo acaba. Fim. The end
Às vezes me pego pensando na morte. Não é um pensamento recorrente, sequer medo, mas uma certa curiosidade. Algo como: morrer dói? Me prendo à sensação. Como é não sentir nada? Seria a morte um estado de entorpecência? Seria a sensação parecida com uma anestesia geral? De repente, você fecha os olhos, não sente absolutamente nada, não lembra de nada, é tão estranho, tão sem sentido, você está vivendo uma vida com toda a energia e, repentinamete, tudo para. Seria morrer uma espécie de vazio? 
Quando cedo alguns momentos da minha vida para pensar na morte, sinto um frio por dentro, talvez a sensação real de um paradoxo, algo pouco palpável, um mistério, de fato. Sabe, houve uma época que eu nem conseguia fechar os olhos de noite temendo a morte. Claro, nunca fantasiei nada como capa preta e foice, mas por não ter controle nem conhecimento sobre isso, sempre, sempre me assombrei com tal possibilidade. Deixar a  vida de lado não estava nos meus planos. Na verdade, creio que ainda não está. Todo mundo se sente imortal durante a vida. Apenas alguém com sérios problemas vive 24 horas do seu dia pensando na iminente possibilidade de ser pego pelo acaso e morrer. Nós vivemos. Corremos dia-a-dia sem pensar nessa hipótese. Sabemos que a hora vai chegar. Mas será que nós aproveitamos enquanto ela não vem?
Cremos ter uma vida na sua infinitude para aproveitarmos. Nós não temos. Morremos todos os dias. A cada dia que passa estamos nos aproximando mais e mais da morte. E não é uma questão de negativismo ou de ser sombrio. Essa é a realidade. Justamente por conta dessa aparente eternidade que nós vivemos, acabamos deixando de lado algumas coisas preciosas, já que nunca se sabe quando seremos surpreendidos pela ausência desse mundo. E por mais que filosofias e músicas estejam sempre ao nosso redor nos lembrando de que a vida é única, de que temos que fazer tudo da melhor forma possível e blá, blá, blá, tem-se a falsa ilusão de que teremos sempre muito tempo. O que nós estamos fazendo nesse ínterim que realmente importa? Eu sempre escutava uma canção que falava para dizermos sempre às pessoas que nós amamos o que sentimos, pois nunca sabemos se o amanhã vai chegar. Verdade verdadeira. Muitas pessoas se arrependem de não terem dito aos seus que os amavam antes que estes partissem. Muitas pessoas se arrependem de não terem tomado uma determinada atitude, decisão ou até mesmo seguido um impulso. Tudo é efêmero.Cada oportunidade que temos na vida é única. A vida é preciosa demais. Deve ser vivida até a última gota. Viver não mata. Faz apenas com que o caminho irreversível para a morte seja mais interessante e incrível.

sábado, 23 de outubro de 2010

Da Renovação - II

Para você que, de algum modo, conseguiu surpreender a todos com mudanças (in) esperadas, e se pegou surpreso consigo mesmo por ter, de fato, chegado onde queria, mesmo não sabendo exatamente o que isso significa.
Para você que saiu do conforto dos lençóis e travesseiros e resolveu desbravar as madrugadas, todas as suas luzes, mistérios e segredos.
Para você que se permitiu ficar horas e horas a fio conversando com pessoas surpreendentes, aprendendo tantas coisas novas e obtendo novas perspectivas.
Para você que se cansou da mesmice e da rotina e resolveu mudar por completo a sua vida.
Para você que terminou aquele relacionamento que, embora seguro, não mais satisfazia.
Para você que se emaranhou em teias e jamais pensou que conseguiria se desprender um dia.
Para você que mergulhou de cabeça em situações sem saber no que daria.
Para você que teve a coragem de assumir riscos e que suportou os possíveis danos.
Para você que devorou muitos livros e que aprendeu muito com cada página escrita.
Para você que lutou pelos seus sonhos com determinação, mas sempre com os dois pés firmes no chão.
Para você que está reaprendendo a amar e sente como isso pode ter grande valor.
Para você que está encantado com os rumos que a vida tomou.
Para você que se pegou sorrindo um sorriso bobo e pensou algo assim como: " Lá vem a vida me surpreender de novo!"


And then again, life amazes me.






Da Renovação - I

Eu estou me saindo bem. Não tenho dormido tanto quanto antes, pelo contrário, tenho estado mais acordada do que nunca. Tenho feito as minhas unhas, vermelho, como você bem sabe, tenho cuidado do meu cabelo, engordei um pouco, mas nada do que a minha volta à rotina de corridas pelas manhãs não resolva. Estou fazendo as pazes comigo. Ontem, deitei na minha cama, olhei para o teto, depois para as cortinas que fechavam a janela e impediam a claridade de entrar...Ontem eu me dei conta de que não estou me sentindo mais vazia. Pelo contrário. Tenho me sentido mais viva a cada segundo. E olha que nos últimos tempos eu estava pouco confortável na minha própria pele. Eu não estava aguentando, sabe? Quem diz que todos tem força pra aguentar o tranco pode até ter razão, mas tem certos momentos em que a gente é fraco, pessimista, egoísta demais. Pensei em me tacar pela janela. Pode rir, mas estou falando sério. Fiquei deitada, ouvindo aquela música do Renato, "estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado", é, isso mesmo, do último disco...Clarisse, lembrei agora o nome dela. Nada mais fazia sentido, entende? E eu sei que você vai dizer que além de eu ter sido pega num momento de fraqueza, eu não teria coragem de ir adiante. Eu concordo. Mas daquela vez, naquela única vez, o pensamento foi lúcido demais. Como se fosse uma outra pessoa me convencendo a ir adiante. E eu quase fui. Engraçado como a possibilidade me parece aterrorizante agora. Naquela tarde ela era atraente.

Aí me surpreendi com um bombardeio de ideias positivas, vindas da minha mãe, especialmente, me dizendo que eu precisava ter uma visão nova diante da vida. Fechei os olhos enquanto ela falava e me veio tanta coisa boa, tantas perspectivas onde só havia um buraco negro. Onde eu só enxergava cinza. E a visão começou a ficar menos embaçada e, estupidamente, tudo começou a mudar. Eu ainda rio quando falo disso, sou tão desacreditada que, ao me ouvir explanando tais palavras, acho graça. Porque é irônico, porque é divertido, porque eu estou me sentindo bem como há tempos não me sentia. E sei que isso foi tão merecido, tão suado, tive que me desconstruir para me edificar tantas vezes, que sinto orgulho dessa sensação. E você ri de mim novamente. Sim, eu estou me sentindo boba...
Fazer o quê, melhor do que ficar naquela constante amargura, não é?

Ok, chega desse papo todo, o que eu quero dizer é que eu não estou mais tão preocupada com o que deu errado...Na verdade, estou empenhada em fazer dar certo. Acho que atentei mais para aquele último trecho da música, deixando de lado toda a depressão tempestiva...Eu escolhi voar pelo caminho mais bonito.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Vai passar

Eu te prometo com todas as forças dos meus pensamentos, com toda a positividade que há no universo, com todo o amor que tenho no meu peito. Eu te juro, isso passa. As lágrimas cessam, a dor de alguma forma diminui, os pensamentos ficam claros e a vida passa a ter sentido novamente...O sofrimento dura o tempo que dedicamos a ele...Dura o que tem que durar, para seguirmos em frente, confiantes, mais fortes e, preferencialmente, mais espertos. E tudo na vida é crescimento quando se tira proveito das situações, por piores que pareçam...é mesmo sobre "fazer do ruim algo bom" pois sempre há uma lição nova a ser aprendida, erros a serem reparados, lembranças para serem vividas e, se for o caso, devidamente esquecidas.
São as tais fases que somos obrigados a passar, por motivos desconhecidos e cujo entendimento só ocorre posteriormente, quando ocorre...De algum modo, passa. Repentinamente você acorda e o mundo não parece mais tão cinza, e o fardo de viver não está tão pesado. Na verdade, pode durar uma noite apenas, a dor pode ser curada com sono e, pela manhã, repare, os problemas não parecem mais tão impossíveis assim. É tudo sobre o tempo. Sobre o afastamento que proporciona uma visão mais clara. Um quadro observado de muito perto perde a nitidez, fica fragmentado...Quando nos afastamos, vemos o todo. Inteiro, completo, real.
E ao se olhar no espelho, você se reconhece, se vê como um ser igualmente completo, inteiro, humano. Real. Que o sofrimento faz parte da jornada e que nela nada é eterno. Nada. E você se perdoa pelas idealizações, pelos erros repetidos, por ter ansiado por respostas, por ter esperado demais, por ter amaldiçoado todos os dias em que a tristeza foi a única companhia. Agradece por ter a chance de fazer tudo de novo, se assim quiser. E esboça um sorriso. Porque realmente passou.

"...e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'." (Caio Fernando Abreu)



Eu estou contente outra vez. 


terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Todos estão surdos". E cegos. E mudos.

Nessas eleições teremos segundo turno, e anularei meu voto. Farei isso como uma manifestação silenciosa da minha grande decepção, da falta de escolhas decentes, da impossibilidade de eleger alguém que, de fato, me parece coerente e comprometido a mudar o país. Para melhor, preferencialmente.

Vou me ater a um clichê que me soa muito verdadeiro: " É mais cego aquele que não quer ver". A cegueira de que falo é sutil, se manifesta em conversas, em argumentos (ou falta deles), em situações imediatistas que não abrangem modificações reais.

Todos estão surdos, já cantou Roberto Carlos. Não ouvem as barbaridades que seus candidatos postos em pedestais falam aos quatro cantos. Antes, durante e após as eleições. Não percebem as mentiras veladas , sequer as descaradas que saem com facilidade da maldita boca hipócrita dos políticos.  
Todos estão cegos. Não conseguem enxergar a obviedade, a hipocrisia em questões que são discorridas em época de eleições, não enxergam a verdade nua e crua que está presente no dia a dia. O descaso com a educação, a miséria, a violência, a impunidade, a corrupção e as mentiras mais do que claras que passam, a cada dia, nos meios de comunicação. No lixo advindo das propagandas milionárias desses candidatos que estão mais preocupados com sua própria imagem, do que se todo aquele papel entupirá algum bueiro causando enchentes na primeira chuva que vier, transtornando a vida de tanta gente
Todos estão mudos. Esqueceram o poder construtivo da crítica, do questionamento, da não-conformação. 

Estamos nos boicotando e sendo subjugados. Somos subestimados. Não é radicalismo, parto do princípio estatítico de que grande parte da população não conhece os seus candidatos, votam e sequer lembram de quem elegeram, são comprados, infelizmente, por tantas bolsas - miséria e continuam sendo massa de manobra daqueles cujo primordial objetivo é se perpetuar no poder, tentando encontrar algo que de forma mediana agrade uma parte da população. Nós não merecemos uma vida "mais ou menos", uma escola "mais ou menos" com professores "mais ou menos" que recebem salários "mais ou menos". Nós merecemos tudo de melhor, porque a democracia é do povo, somos nós os responsáveis pela condução da nossa vida e pela eleição daquele (a) que irá conduzir o NOSSO país.

Infelizmente, não sei como finalizar essa crítica de forma otimista, porque as pessoas se conformam com muita facilidade, há inúmeros problemas a serem resolvidos no país e as pessoas se atém a atitudes ínfimas diante da situação complexa do nosso país. Muita gente não é vista, não é incluída nos projetos governamentais e não possui voz. Houve melhorias, mas ainda há uma estrada longa a ser percorrida. Há muito a ser feito. A questão é: quem você quer ter como guia?

Renato Russo, com a sua genialidade e maestria, escreveu uma canção gravada em 1993, chamada Perfeição, que, infelizmente, continua atualíssima. Não consigo ficar indiferente a esse tapa na cara em forma de poesia. O Brasil é o país do futuro. E o futuro? Já chegou?


"Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...
Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...
Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...
Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...
Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta

Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!..."

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Codinome Beija- Flor


"Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor"
 
(Cazuza)


Nada era esperado. E na espera inexistente que havia, o telefone tocava. Aquela voz conhecida era ouvida e o coração batia, o frio gélido das lembranças não - vividas, uma esperança desconexa rompendo com o equilíbrio que havia. O sangue jorrava. E,  como bela atriz que passara a ser, ela sorria. Que palavras eram aquelas que surgiam assim, repentinamente, numa madrugada fria quando não existiam possibilidades, não havia novidade, não restava nada? Que palavras eram aquelas que, há muito tempo eram ansiadas, desesperadas, mas nunca trocadas? Ora, ela ouvia, complacente, as lamúrias e o sofrimento daquele que era autor de uma das maiores dores de sua vida. Quase não falava, quase nada retinha seus pensamentos. Ela se controlava para não cometer, novamente, a maior insanidade da sua vida. E, para que pusesse tudo a perder, bastava que duas simples palavras fossem ditas . Outra vez? Ela não se permitia. Então, à conversa ela se prendia, à voz dele dizendo todas aquelas coisas insuportáveis de serem ouvidas, o coração em taquicardia, os olhos na iminência de chorar, novamente, por tudo o que ficou para trás, quando o "nós" que havia ficou abandonado em algum bar,  alguma esquina. Na sua ingenuidade, ensaiava frases de conforto, "vai passar", " faça o que te faz feliz", " nada dura para sempre" e, por mais estranho que soasse, naquele redemoinho contraditório de sentimentos e pensamentos, ela desejava que toda a dor sentida por ele fosse verdadeiramente curada. Lá no fundo ela queria dizer: " você é meu ímã e, ao mesmo tempo, minha ruína." Como no clímax de um filme, a trilha sonora escolhida passa a reger aquele projeto de história, aquele fragmento da vida de um par que jamais se encontraria, mas por sorte, azar, coincidência ou magia, se reconheceram no fim da linha, onde o algoz é confortado pelas mesmas mãos que ele prendia. Metaforicamente, o coração, ora destruído, tentava com os seus cacos reconstruir um outro coração também partido. Triângulo amoroso do sofrimento. Um misto de gratidão, educação e bondade, ele diria. Ela se perguntava: " desde quando eu passei a ser boazinha?" E a trilha continuava: " para que mentir/fingir que perdoou/ tentar ficar amigos sem rancor..."
Alguma lágrima escorria, a voz começava a embargar e, então, ela tomou a decisão mais sensata dos últimos dias: decidiu, enfim, desligar.

E ela chorava. Lágrimas que há tempos eram contidas, mas que hora ou outra, iriam romper todo o ciclo, quem sabe a sua própria retina. Já não enxergava mais o que acontecia. Ela se esvaziava para se sentir completa. Havia rancor? Havia dor? Nada fazia sentido. E  a resposta-conforto que chegava ao seu ouvido veio do verso redentor da canção que ouvia:  " prendia o choro e aguava o bom do amor..."

"Prendia o choro e aguava o BOM do amor". Ela repetia, criando coragem para juntar os cacos e secar as lágrimas. Para desligar o telefone. Para seguir, de uma vez por todas, com a sua vida.

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 26 de setembro de 2010

Onirismo


"Só que os escritores são seres muito cruéis, estão sempre matando a vida à procura de histórias. Você me ama pelo que me mata. E se apunhalo é porque é para você, para você que escrevo — e não entende nada." (Caio Fernando Abreu)


Eu sonhei com você.  Um sonho perturbador, como um quadro de Dalí. Confusão, supresas, metáforas, olhares complacentes que nunca ocorreram em nossas vidas. Tudo era, com o perdão da redundância, muito onírico. Mesmo com o sol na casa seis, a perfeição ainda me incomoda. Prefiro o inacabado e os vazios. Forço a minha mente para lembrar dos detalhes. Sonhei que sonhava que eu tinha um sonho? Algo clariceano sob esse aspecto.
Você me explicava, mas as palavras me soavam como entrelinhas, quase  neologismos, mas eu as entendia. Eu refutava numa língua desconhecida e, sem sentido algum, tudo fazia sentido. Você segurava a minha mão, me olhava como se dissesse :"Vai ficar tudo bem, embora haja tanto desencontro...O melhor que você pode fazer é se perder para se encontrar, porque você ainda vai morrer muito nessa vida". Não sei se foi isso o que você quis dizer, assim eu entendi. 
Havia um mar imenso,  a noite repentinamente se transformara em dia, tons de vermelho e laranja, céu de baunilha, algumas dezenas de estrelas e a lua desaparecendo na linha tênue do horizonte onde a vida ( ou sonho) termina. Sentávamos nas pedras e a sua feição se modificava, como se usasse uma máscara que, a cada hora, era magicamente trocada. Nenhum dos rostos me era familiar e, ainda assim, eu te conhecia. O tom da voz mudava, o cheiro era outro e se confundia com a brisa marítima. Sorri quando você disse que aquele momento iria se eternizar, que mesmo nas perdas, nossos caminhos se encontravam. "Seja como for, você está comigo o tempo todo." O sonho era uma pintura mítica daquela música do Renato. Havia cavalos marinhos, solidão compartilhada, havia aquele aperto no peito e aquele frio por dentro do que chamam saudade. Não sei do quê, não sei porquê. Subitamente, você me abraçava, gritava palavras incompreensíveis que se perdiam vento a fora. Do alto das pedras, nas ondas, ora revoltas, ora passivas que molhavam a areia, você desaparecia. A lua, as estrelas, o horizonte eram tragados pelo mar agitado.E o próprio mar se esvaia. Nada resistia. No nada eu estava sozinha.

No universo de silêncios que me fazia companhia, ouvi uma voz que, do vazio, me dizia: " Levanta e caminha". E eu me perguntava, numa língua impossível de ser falada: 






Eu acordava.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ode às nuvens

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Eu esperava que a chuva, hora ou outra, chegasse
Regasse as plantas, molhasse o solo, me inundasse por dentro
Contradições de lágrimas e gotas ao escorrerem pelo rosto
Não sabia distingui-las, não era meu intento.

Olhava para o céu e ele me remetia ao passado.
Um par deitado a observar as nuvens e o seu movimento
Cirrus, "a mais delicada delas", você me dizia com um sorriso
E apontava para o céu, seu olhar sempre atento
Stratus, " vamos pegar algum chuvisco!"

Um misto de tristeza e solidão
À medida que o tempo mudava, eu bem me lembro
Daquela saudade imensurável de você, de uma certa melancolia.
E daquela tarde cinza de setembro.

Recorro agora à metereologia
Esperando que as tempestades tenham um fim
E, sabe-se lá, para tentar compreender
Essa Cumulonimbus aqui dentro de mim.


sábado, 18 de setembro de 2010

As tulipas


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Se as tulipas eram para alguma ocasião especial? Não, não eram. Disse isso ao florista, encarando as minhas flores e me aproximando delas para sentir o aroma. Certa vez, algum florista  me confidenciou que o significado primordial da tulipa é o amor perfeito. Sorri, claro. Primeiro, com certa supresa. Depois, porque pensei na ironia dessa pequena descoberta. 'Amor perfeito...'- pensei comigo- 'só mesmo flores são capazes de trazer esse binômio para a minha vida.' Confesso que a partir de então, com o ceticismo que me é inerente, fiz desse causo um motivo para exaltar a minha solidão. Algumas pessoas me perguntavam do porquê das tulipas, sempre dispostas no mesmo vaso, sobre a mesma mesa, na exata posição. Eu dizia, esboçando um sorriso: ' Descobri que posso comprar uma dúzia de amor. Quanto à disposição, tem tudo a ver com o meu estilo metódico e com o fato de que o amor e a rotina acabam se encontrando, né? Sim, é bem verdade que elas não duram muito, que em poucos dias murcham, mas não é o amor perecível? O melhor de tudo é que posso comprar mais depois, sem desespero, sem prejuízo'. Meus amigos riam do meu descaso, mas achavam divertida minha maneira de enxergar a vida. Fizeram, inclusive, em nossas noites de cartas, apostas que sobrepuseram o nosso ritual de cervejas e notas de cinco reais. Apostaram que um dia eu iria me surpreender, me apaixonar e que seria muito mais interessante do que a "filosofia das tulipas", apelido que deram a minha brincadeira. Eu, como sempre, debochei do intento. 'Vocês vão perder e, saibam de antemão, quero mais do que cigarros dessa aposta.'

Não, eu nunca me imaginei num ritual romântico com outra pessoa. Sequer me imagino compatilhando as minhas coisas, os meus livros, a minha cozinha e, muito menos, a minha rotina, a minha vida, os meus medos, minhas manias. Tive, claro, alguns relacionamentos que foram divertidos e que duraram o suficiente para que se evitasse todo aquele drama de estar apaixonado, chorar ao ouvir certas canções, essas coisas que eu não compreendo porque não vivi. E nem sei se quero. Eu me conheço, meus pés são fincados no chão, tenho emoções, obviamente, mas não tenho aquela peça fundamental para fazer esses relacionamentos darem certo; a entrega não faz parte de mim. Confiar no outro sem saber qual vai ser, deixando o meu coração aberto, quase que com um cartaz dizendo : " Eis meu coração, faça dele o que quiser, pode até deixá-lo em pedaços, mas espere um pouco mais, deixa o pior para o final". Isso não me pertence.


Famous last words.


Uma semana havia passado. Minhas tulipas já tinham desbotado, mas, não sei porquê, demorei para comprá-las. Decidi arrumar meu quarto, separar algumas inutilidades, me entreti com algumas fotos e textos, acabei dormindo e só acordei no outro dia, com o cheiro forte das flores murchas. Passei uma água no rosto, joguei fora as tulipas, peguei minha bolsa e saí.
Ao chegar na floricultura, pela primeira vez em anos de dedicação a esse ritual, não havia tulipas. Olhei para o vendedor, pela primeira vez em anos, e reparei que ele sorria, com um ar de espanto, por eu estar tão preocupada com a falta das flores. 'Devo ir buscá-las em dois dias. Tivemos um problema na distribuição', ele disse. Eu murmurei algo como "tudo bem, volto aqui depois, obrigada" e saí, desnorteada. Como eu iria ficar sem as tulipas? Sim, é de uma banalidade ímpar essa minha preocupação, mas essa tradição estava presente nos meus dias, dava sentido à minha casa e, inclusive, me fazia companhia. Sem contar que embelezava e harmonizava, segundo o feng - shui, todo o ambiente. Senti o desequílibrio. Fechei os olhos e fui fazer outras coisas, para que o tempo passasse mais depressa. Telefonei para um amigo, contei sobre o pequeno desastre do dia, ele riu e disse: ' Você precisa é de um homem, isso sim'. Rimos.

No dia seguinte, no final da tarde, entretida nos meus trabalhos, alguém toca a campanhia. Fico receosa, uma vez que não interfonaram para anunciar de quem era a visita. Me deparo com uma coroa gigantesca de tulipas tomando quase todo o corredor. Penso que algum dos meus amigos fizeram isso para brincar comigo, ou, no mínimo, para que o meu drama das tulipas se encerrasse. Errei nas duas hipóteses. Da forma mais sutil, vejo aquele rapaz da floricultura surgindo do mar de flores que ocupavam todo o espaço. Ele sorri e diz algo assim:

"Você sabe o significado das tulipas. Obviamente sabe. E, não direi que sou o seu amor perfeito, nem que esse é um símbolo do meu encantamento. Odeio símbolos. O que eu quero dizer é que as coisas não acontecem graças ao acaso, destino, sorte, seja lá o nome que dão quando queremos muito algo e conseguimos. Acontece porque agimos. Essa é a minha atitude: eu quero você. Simples assim. Trocamos poucas palavras, talvez eu não seja a pessoa ideal pra você, eu não sei de muitas coisas. Mas eu sei o que eu senti ao ter o seu olhar no meu, pela primeira vez em tanto tempo. Percebi que era mesmo certo. Eu quero fazer parte da sua vida, de algum modo, assim como as tulipas. Eu quero durar com você. Seja  lá pelo tempo que for. Prometo que será imperfeito e imprevisível. E vai valer a pena."


Sorrimos e ele compreendeu. O equilíbrio que me faltava entrou pela porta da sala. Entrou rompendo com a rotina, bagunçando os meus pensamentos e me deixando paralisada. Chamam a isso de estado de graça. Porque eu estava, naquele momento, perdendo todas as apostas; porque a minha vida estava, de algum modo, mudando. Eu sei disso agora.
Olhando nos olhos dele eu disse, do meu jeito pouco romântico : 'Ok. Pode jogar as tulipas fora.'


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dos silêncios


Tantas palavras foram desperdiçadas nesse nosso embate. Escolhi com atenção cada uma que eu iria empregar para botar pra fora os desaforos, a angústia e a raiva que não era pouca.
Você também soube fazer o seu discurso, fugindo do lugar comum e tentando explicar o inexplicável. Sequer chegamos ao cerne de tudo. Você fugiu, eu hesitei, ficamos dando voltas e voltas, jogando palavras boca a fora. E guardando o fundamental por dentro. Que você queria falar e não o fez. Eu também me calei. E foram muitos os silêncios. Sobre eles me recuso a dissertar pois fiquei alienada. Sim, eu concordo, tudo ficou muito estranho. Nós, mudos, compartilhando suspiros e murmúrios. Onde você ria e eu te escutava, inverteram-se os papéis: eu falava, te interrompia e não houve sequer esboço de um sorriso. Por banalidades, coisas sólidas e fortes se estremecem. Talvez não fossem tão firmes assim. Talvez os silêncios tenham mesmo falado mais alto. E nós não soubemos ouvir.

domingo, 12 de setembro de 2010

Das coisas tão mais belas


O vento abre levemente as persianas, dando passagem ao sol do fim da tarde, sol das cinco horas, que ilumina tudo em volta, tudo lá fora, tudo aqui dentro.
Fotografar esse momento daria uma dimensão estática dessa pintura. O que eu quero é movimento. O que eu quero é sentimento.
Me perco em pensamentos, em sensações. Sinestesia. Cores, aromas, toques e paisagens em sincretismo. Que dia lindo para sonhar, penso comigo. E eu me permito. 

A acordar e dormir todos os dias agradecendo a esse ser superior pela perfeição de dias como esse.
Agradeço por não estar alienada e não ter me cegado ao ponto de não conseguir reparar nas coisas mais lindas à minha volta. Porque a beleza está muito próxima, embora os nossos olhos tenham se desacostumado a olhar.
Agradeço por pessoas que me inspiram de distintas e infinitas maneiras.
O poeta com suas rimas incertas e verdadeiras, transformando a dor em poesia.
O escritor que vive transformando sentimentos e pensamentos em palavras escritas.
A criança que sorri e te abraça daquele jeito tão puro que te faz perceber que há certas coisas que nunca se perdem e que ainda te tocam.
O músico que faz aquela melodia com a qual você se identifica ao ponto de dizer: "essa música é minha".
O pintor que conseguiu com toques da aquarela te deixar abismado e, inclusive, já te fez chorar diante de um quadro.
O amigo que está com você nos momentos mais inusitados, nos mais difíceis e nos mais leves de serem vividos.
A saudade que faz você perceber que o que foi vivido valeu.
O amor que você sentiu. Não importando se acabou, se foi verdadeiro, se valeu a pena. Só quem amou sabe como é. É muito bonito.


Agradeço por ter força para continuar vivendo um dia de cada vez, mesmo com a dureza do ofício.
Por conseguir pedir perdão e perdoar, quando são raras as pessoas que tem esse dom, percebo que tenho muita sorte comigo.
Por ter lutado. Por ter caído muitas vezes. Por ter chorado. Por ter me reerguido. Por ter me superado. E por ter crescido.

Por tocar o chão com meus próprios pés, por ter olhos capazes de observar, mãos capazes de escrever e mente sã capaz de compreender e aprender. E um coração, que mesmo se partindo muitas vezes, não está entorpecido, nem se embruteceu. Ainda é capaz de sentir. Muito e muitas vezes, quantas forem necessárias. Porque ódio é uma palavra muito forte. Amor também.

Agradeço por ter coragem de escolher, de ter a minha opinião e pela liberdade indicando as setas da rota a ser seguida. Agradeço pela vida, pelas possibilidades e por toda a beleza que permeia os nossos dias até o fim da estrada. Pelas tulipas, pelos livros, pelos raios de sol e pela surpresa e inspiração de domingos como esse: verde, capaz de nos dar  esperança de que haja mais dias assim daqui pra frente. Sim, há beleza. E tudo vai ficar bem.

sábado, 11 de setembro de 2010

A um ausente


"Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto."

(Drummmond)



Não. Me recuso a escrever sobre você. Aliás, não estou escrevendo sobre você, saiba disso.
Você é tão vaidoso, já cantou Carly Simon. Você é tão vaidoso que provavelmente não consegue se distanciar do seu ego. Você  se olha no espelho, com ar de Narciso, se afogando em seu próprio reflexo. 
Embora sabendo disso, juro que me encantei por você. Sabe-se lá o porquê... Agora que o que mal havia começado findou, realmente não compreendo as razões que me levaram a esse estado afetivo. Eu cheguei a gostar muito de você. Mais do que eu queria. Mais do que eu supunha, já que entrei nessa relação tentando deixar o coração, ao menos uma pequena porção de fora, para que pudesse contar a história. Nem preciso mencionar que o intento foi em vão.
Chorei um dia só. Fiquei ouvindo uma canção que dizia " Some things in life may change/ but some things they stay the same/ like time". E foi isso. O tempo permanece igual. Ele passa. Você passou. As lágrimas insistiram em correr por pouco tempo, sou um ser humano, com dois agravantes: mulher e escritora. Dissequei, analisei, fiquei cavando abismos, saltando dentro deles, desconstruindo os silêncios que me fizeram companhia depois que você decidiu ir. Sem avisar, sem deixar bilhetes, sem remorso. E eu fiquei só, no dia em que envelhecia e tentava justificar suas ausências. E, por falar em ausências, lembro de Pablo Neruda, que me remete a você em duas ocasiões: " Seu sorriso se espalha como borboletas", uma das últimas coisas que te mandei e que você fez questão de rejeitar. Apenas mais tarde (não tão tarde demais), compreendi que a razão para tal descaso é mulher como eu, apenas com nome e aparência distintos. "Gosto quando te calas porque estás como ausente" : preferia palavras ao invés desses silêncios que você me ofereceu propositadamente.

Silêncios seus se transformando em gritos meus. Eu, gritando um monte de verdades que não alcançam os seus ouvidos, não vale a pena, e porque estão dentro de mim. E não devem sair daqui. Olha, você sabe que errou. Eu sei que você sabe. E eu sei que você sabe que eu sei que você estava sentindo muito do que eu sentia. E, embora você tenha sido incoerente e leviano, compreendo que algumas coisas simplesmente passam e tem um significado diferente daquele que costumamos empregar. Ou daquele que queríamos. Superestimamos certas coisas. Subestimamos muitas outras. Novamente digo, não escrevo para você. Escrevo para mim. Porque eu sei que isso passa e, quem sabe um dia, vamos nos conformar pelo resultado final porque eu tentei, tentamos, pelo menos.

Não, não escrevo pra você. Li Caio Fernando, alguns dos meus gritos transcritos em palavras que, vezenquando, acho que você deveria conhecer...


“Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, [...] pelo que tentei ser correto e não foram comigo.”

“Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que está tudo bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem”

“Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos – emoções”

Você era um ausente. Sempre foi. Não me incomodava quando essa ausência tinha associação restrita a qualquer outro sentimento, que não esse que nos envolvia. Não sei bem o que era. Nem quero saber. Não valeu.

Ratifico: não escrevo para você. Escrevo por mim. Para te exorcizar, de uma vez por todas,  aqui de dentro. Não há nada a ser compreendido, falado ou desculpado. Somente esquecido.
Quanto ao seu pedido de desculpas que foi, de longe, o mais patético que já li, digo apenas que o guarde pra si. Eu agradeço. Agradeço por tudo isso ter acontecido agora, antes que eu me envolvesse num grau em que o sofrimento se tornasse algo muito mais dolorido do que foi. Eu tenho as minhas ausências e silêncios. Eles me bastam.


P.S.: Não, T. Esse texto não é pra você.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre a solidão


Eu me desiludi hoje. Recebi de uma pessoa inesperada uma notícia inesperada  que me afetou muito. Muito mais pela construção ideal e mítica que fiz sobre amor, companheirismo e cumplicidade. Porque eu olhava para elas e pensava: "Ah, amor existe sim. Tem exatamente essa cor. A cor desses olhares quando se encontram. Tem esse tom de voz doce ao atender o telefone. Amor existe sim. É exatamente assim. É bonito."
Era a minha esperança derradeira. Eu apostava tudo e além naquele relacionamento. Até hoje. Até o seu vencimento. As coisas mudam, o sentimento muda. Num relacionamento comum, composto por um par, com duas pessoas distintas, não podemos depender tanto do outro, tentar adivinhar e controlar sentimentos. Cabe apenas uma espera silenciosa e um bocado de confiança. A gente precisa acreditar. 
Se eu, que sou apenas uma admiradora distante dessa história, fiquei inconformada com o final, imagine a protagonista. Foi mais do que inesperado. Foi doído demais. E doeu muito porque ela acreditou nessa mesma proporção; ela acreditou em demasia. 
Intitulei esse texto como "Sobre a solidão" porque é ela quem aparece nessas horas. É ela quem te encara no espelho, com os olhos marejados de água. É ela que repousa a cabeça no travesseiro que ficou ali, vazio, bem ao seu lado. É ela que vai te acompanhar por um tempo. Tempo mais do que necessário para cicatrizar a ferida e diminuir a dor. A solidão é muito subestimada. Penso eu que ninguém, de fato, nasceu pra ser sozinho. Quanto ao estado solitário? Esse estado temporário, de trânsito para um possível futuro relacionamento, quando bem aproveitado, traz um crescimento incrível. O que é a solidão, além de um contato mais íntimo e intenso consigo mesmo? É aquele olhar, ora irremediavelmente voltado para o outro, passando a ser direcionado para dentro de você. Digo: com a dor, com as lágrimas, com tempo e com a solidão, por mais absurda que seja a compreensão, dá para construir algo concreto e potencialmente belo. Você pode se consertar. Rever, cair, levantar, aprender, mudar. E tentar ser alguém melhor dali em diante.

E, mais uma coisa: não dá para deixar de acreditar no amor, embora tantas desilusões suas e de terceiros façam parte da jornada. Não dá para desacreditar porque, mal ou bem, o amor acontece. O amor é real. E, por fim, "tudo o que você precisa é de amor". Mas, enquanto ele não vem, não despreze a solidão. Uma companhia é sempre companhia. E você será, sempre, seu melhor companheiro.


P.S.: M., para você, que está machucada por dentro. Como eu queria arrancar de dentro de você essa dor, fazer como que tudo isso passasse e que você não sofresse. Não posso. Aproveite esse momento para refletir. E, além da sua solidão, lembre-se: estou aqui por você. Te amo muito, muito. Você ainda será muito feliz.



sábado, 21 de agosto de 2010

Google Imagens

Você me deu asas.
E, junto com elas, um medo imenso de tentar.
Olho o abismo: paro, penso, reflito.
Fico pasma, admirada, sinto frio
Penso em borboletas que dão voltas e mais voltas no meu estômago.
Esse mistério me atrai, mas eu evito. 
O fundo mais profundo e o céu mais límpido.
E na linha que o horizonte desenha  
Pareço enxergar seus olhos
Olhando bem no fundo e me dizendo:
" Vá em frente, pode saltar..."
Saltar para onde? Não há certezas.
Estaria lá para me ver pousar?
E se a queda for mais dura que a subida?
Você ainda diz que devo arriscar...?

Foi você quem me deu as asas
E não me mostrou como seria voar.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010


É abril e chove. Tantas coisas aconteceram e hoje me dei conta de como o tempo passou. Seria bom ter um diário agora. São tantos pensamentos não - compartilhados, tantas ideias e dúvidas. É tanto.
Não sei até que ponto uma doença pode afetar a vida de outras pessoas, mas foi um marco na minha. Há a Carla de antes e depois da cirurgia. Ficar internada foi uma experiência de renovação, como se ao expurgarem de mim o que fazia mal, retirassem, além das dores, muitas incertezas.
Consegui me reaproximar do meu lado espiritual. Era o que faltava para me redefinir. Mudar.
A minha intenção ao escrever hoje foi inspirada numa saudade leve, bonita, mas doída de uma época que me remete a tardes ensolaradas assistindo meu seriado favorito e noites inteiras ouvindo "And everything stands so still when you dance/ Everything spins so fast/And the night's in a paper cup/When you want it to last..." Quando havia importância e não descaso. Mas, a gente se acostuma com certas perdas.
Ao mesmo tempo, sinto que esse é o meu momento. Um dia eu quis fazer uma tatuagem que retratasse meu maior anseio. Hoje, eu tenho algo maior e muito mais significativo. Cada vez que eu olhar para essa cicatriz vou lembrar que sou livre. E essa liberdade, por mais mórbido que pareça, eu só alcancei pelo medo de não viver. Essa segunda chance foi, de fato, um recomeço. Aqui estou. Viva. De novo. E eu agradeço.

P.S.: Esse texto foi escrito no dia 27/04/10, no verso do meu caderno, poucos dias após eu ter sofrido uma cirurgia muito difícil. Hoje, por acaso, 6 meses após a crise que me levaria à internação, acabei encontrando e resolvi postá-lo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

All about playing games


Li um texto da Elenita Rodrigues que me fez esboçar um baita sorriso e que me fez pensar em como nós, mulheres, e alguns homens somos idiotas em certas situações.
Adoro jogar. Adoro pôquer. Adoro Playstation, Nintendo e jogos de tabuleiro. Jogos, para mim, só nesse âmbito de distração e divertimento. Pelo menos era o que eu pensava até me reconhecer na situação descrita pela escritora em seu texto.
Eu jogo nos relacionamentos ( ou em projetos de) e eu nem me tocava nisso. Eis o problema: você se emaranha nessa rede de pensamentos pré-concebidos, machismo, leitura descartável sobre "Por que os homem amam  as mulheres poderosas?" (eu li, ok? Apenas a título de pesquisa...rs) e, no fim das contas, você acaba comendo junk food, sozinha em casa, num sábado à noite esperando uma ligação que simplesmente não vai acontecer. E, na maioria das vezes, conscientemente ou não, por sua culpa. Ou melhor, por causa desses jogos de sedução que PARECEM muito lógicos e eficazes na teoria. Na prática, eles são desastrosos.
Não estou dizendo, entretanto, que nós temos que sair desesperadamente atrás do objeto do nosso desejo. Mas, se você está interessado em alguém e percebe que há reciprocidade, não vejo mal algum em demonstrar o que você sente, com cuidado,obviamente, para não assustar o outro. Até porque mesmo eu, sendo uma romântica irreparável, ficaria de cabelos em pé e fugiria se alguém me dissesse, após dois encontros, um belo "EU TE AMO" por mais esperadas que essas palavras sejam.
Sempre tem os: "Ah, mas e se..." Entre o agora e o "e se" muita coisa pode acontecer. Há infinitas possibilidades. Há riscos. E, bem como no pôquer, você só se dá bem ( ou mal, porque as chances são iguais) se pagar pra ver. Você não precisa se valer de um "All -In" (embora eu tenha muita sorte nesse aspecto rs), mas aposte algumas fichas. Você pode perder agora para ganhar depois. Nunca se sabe quando a sua sorte vai mudar.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

" E por falar em saudade..."


Depois da madrugada, meus pensamentos sobre você invadiram o meu sono e meus sonhos. Sim, eu tenho pensado em você. Relembro de palavras suas sobre se perguntar como o outro está, de pensar naquela pessoa em demasia. De se saber só e ansiar com tamanha urgência pela presença do outro. Hoje, com toda certeza, as 24 horas do meu dia, todo esse tempo que passo lendo, escrevendo, vivendo, foi gasto em lembranças suas. E agora chove. E a rotina de conversas, de vocativos gentis e doces, de palavras bobas, de sorrisos fáceis e de beijos prolongados está me fazendo tanta falta. Falo do agora, mas provavelmente essas sensações estarão presentes com freqüência nos meus dias daqui em diante. 

Quando eu esqueci o chaveiro da Torre Eiffel no seu carro, inconscientemente quis que houvesse mais um motivo para nos encontrarmos. Para eu olhar mais tempo para você – e você bem sabe como esse é meu novo vício. Para te ouvir cantando, com esse entusiasmo tão genuíno que faz mais do que sentido que se diga que você tem Deus dentro de si. E eu te adoro. Não dá para mensurar certas coisas. Esse sentimento que nutro por você tem me feito mais satisfeita e FELIZ (em maiúscula, em negrito). Esse sentimento só aumenta. É progressivo. É real. 

Estou com saudades. Hoje fiquei ouvindo aquela música que você diz ser sua e gostei tanto dela, prestei maior atenção à letra, lembrei de você falando sobre seus projetos para o ano que vem, sobre o terreno, sobre Portugal. Aí me bateu mais saudades. Sofrimento comedido por antecipação. Mas é o mundo lá fora, ele te espera e a sua hora já chegou. Não há egoísmo que eu não possa controlar para te ver realizado. Então, percebo o quanto eu gosto de você. Quero te ver sempre sorrindo, fazendo o que gosta, sendo FELIZ. Em letras garrafais e em negrito. Porque você merece. 

Longe ou perto, isso já está eternizado. Você tem sido o melhor pra mim. Meu desejo único é, à luz de Vinicius de Morais, “ que seja infinito enquanto dure...”

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Platonismo


Tenho esboçado sorrisos há alguns dias...
Há luz do sol iluminando a casa fria.
Foi-se o tempo de desventuras e desilusões.
Esgotaram-se todas as mágoas e decepções.

Porque o meu estado constante é de graça
Porque a alegria não pode ser subestimada
Porque filosofias tem sido recorrentes...
Porque alguém habita meus pensamentos
E há um quê de encantamento presente...

Sobre os riscos da entrega


Quando iniciamos uma relação, qualquer que seja, criamos certas expectativas. Cada um tem as suas e há, lá no íntimo, aquela vontade de que nossos desejos e sentimentos sejam satisfeitos e recíprocos. Estamos sempre esperando algo. Esperamos que o outro se entregue. Mas, quanto a nossa entrega? 

Alguém me disse algo sobre o qual fiquei pensando: se você entra em um relacionamento, qualquer que seja, pela metade, você provavelmente só receberá do outro a metade. E não, essa soma não é benéfica e não resulta numa relação completa. E mais, não é possível exigir do outro que a sua entrega seja total, se você não o faz.
Certo. Pensei comigo: E quando a pessoa está aos cacos? Como se entregar completamente? Como deixar de lado o medo assombroso da decepção? Como não esperar nada? Como começar o trabalho de reconstrução?

Realmente, essas perguntas são complicadas. Agir emocionalmente, seguir o coração mesmo quando há tantas dúvidas pairando no ar não é das atividades mais fáceis. Por outro lado, se uma oportunidade é boa, não podemos deixar que ela passe por medo. Medo de seja lá o que for. Tudo nessa vida é muito arriscado.
Todas as ações tem chances iguais de darem certo ou  errado.  Nenhum relacionamento anterior, por pior ou melhor que seja, pode ditar o seu futuro. Não importam as vezes em que o seu coração ficou aos pedaços. Há que se juntar os cacos e lutar pela felicidade. Essa entrega, portanto, deve acontecer quando estivermos absolutamente prontos para nos doarmos por inteiro, evitando assim a chance de sabotar algo potencialmente incrível. Basta ver pelo que vale a pena se arriscar.



terça-feira, 27 de julho de 2010

A habilidade de pedir perdão


Cá estou pensando muito sobre mais uma palavra que tem um peso significativo na minha vida: o perdão. Lembro de uma apresentação em que usei uma blusa cuja inscrição era a de um sentimento. Eu tinha a liberdade de escolher o que eu quisesse: amor, alegria, amizade, paz. Eu escolhi perdão. Essa foi uma das minhas melhores escolhas...

Perdoar e pedir perdão. O que é mais simples? Há simplicidade em qualquer uma dessas ações?
Não. Creio que ambas tem algo em comum: ao se transformarem de sentimento a pedido/decisão, há uma dose grande de altruísmo envolvida. Digo isso pois tais atos estão mais relacionados ao outro do que a si mesmo. Essa capacidade de se mostrar, se despir diante da outra pessoa, se mostrando frágil, falho e arrependido não é das atitudes mais fáceis...Requer coragem. E, muitas vezes, as pessoas se deixam tomar pelo medo e esquecem do quão libertador é assumir seus erros e mudar, se tornando um ser humano mais forte e melhor. Ou, por outro lado, algumas pessoas simplesmente não se importam. Tenho para mim que isso é o que dói mais. Imagine, ver o outro sangrando por você, por ações suas, e você fechar os olhos, não admitir, não assumir, deixar pra lá. Dói, meu caro. Dói muito.

Proporcionalmente, eu peço desculpas mais vezes do que esse pedido me é feito. E não, não é porque eu erre mais ou seja melhor pessoa do que os outros. Aprendi a analisar meus erros e aprender com eles. Aprendi a sentir culpa por magoar alguém, mesmo quando isso ocorre de forma não-intencional. Mas, aprendi também que não posso exigir dos outros a mesma postura que eu tenho. Como eu disse lá atrás, algumas pessoas simplesmente não se importam. E, quanto a isso, há muito pouco a se fazer.

Para mim, perdoar é atividade mais árdua. Mais difícil. A primeira oportunidade de perdão sempre é válida. E quanto aos erros que se sucedem progressivamente? Quanto a eles? Fechar olhos, enxugar as lágrimas, abrir o coração deixando escapar ressentimentos e mágoas e dizer o tão esperado: "- Eu te perdôo." Há tantos 'mas' envolvidos...há os olhares posteriores, o estranhamento, a confiança (ou a falta dela), o medo. Quem não tem medo de deixar de lado o orgulho e acabar sendo magoado novamente? Quem não sente receio de, após tentar hercúleamente reconstruir aquela parte do seu coração que foi quebrada, se ver novamente tendo que juntar os cacos? Ora, perdoar dói também... nunca sabemos qual será o valor do nosso perdão para quem nos machucou.
Às vezes, o perdão é tudo. Para alguns, ele não vale nada.


P.S.: Castelo de cartas...uma a uma caindo e sendo  levadas pelo vento. Não, eu não vou me ressentir quanto a isso. Aprendi a perdoar, a pedir perdão e a esperar tudo em resposta, inclusive nada. São riscos que nós corremos todos os dias para sermos melhores.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

"Okay, close your eyes… Now, paint your future...


...What do you see?"


A minha casa será toda avarandada, com um quintal de grama verdinha e bem aparada. Terá uma rede para eu me deitar e uma palmeira para que eu observe o movimento das folhas, quando o vento passar. Quero um balanço também, para não me esquecer de maneira alguma aquela alegria simples que toda criança tem. Quero uma hortinha repleta de ervas para que eu faça meus chás. Quero que os domingos sejam ensolarados e que os raios penetrem meu quarto, me convidando a acordar. Quero uma estante repleta dos meus livros e discos favoritos. Quero estátuas de anjo e arranjos de flores ornamentando a minha sala. Quem sabe um piano, que me implore, a cada dia, para ser tocado. E, para que eu durma e acorde sempre inspirada, quero Monet na parede do meu quarto.

Quero alguém para cultivar um jardim comigo. Alguém que me empurre no balanço. Que me observe sentada ao piano. Que durma comigo na rede. Que seja também minha inspiração. Alguém com o qual eu possa construir meus sonhos e planejar minha vida. Alguém que ande pela casa sem camisa e que me ajude a preparar o jantar. Alguém que não se importe que eu vá dormir tarde por escrever meus textos. Alguém que reclame da minha mania de limpeza e das músicas que me fazem chorar. Alguém que dance comigo pela casa, que largue sua pasta em cima da mesa e que assista desenhos comigo deitado no sofá comendo besteiras. Alguém com quem eu possa conversar pela madrugada inteira. Alguém que deite na grama comigo sob a luz de tantas estrelas.


terça-feira, 20 de julho de 2010

À amizade


Por se fazerem próximos quando distantes, por aguentarem ligações ora alegres demais, ora um bocado tristes, por serem parceria em jogatinas e conversas que perpassam a madrugada, por terem ignorado a distância e o tempo e resgatado boas lembranças da infância, por serem inspiração de vida, por emprestarem o ombro e o colo sempre que necessário. Por um entendimento difícil de ser encontrado, por serem porto e refúgio, por serem a nossa segunda casa. Por todas as brigas que foram relevadas, por todas as ausências e mancadas que foram superadas. 
Por, mesmo nas diferenças, fazer sobressair similitudes. Pelo constante aprendizado. Por abraços apertados, carinhos, brincadeiras, sorrisos, lágrimas, cuidados, impaciências, surpresas, sacanagem, saudade. Por tudo aquilo que as palavras não conseguem expressar. Por tudo aquilo que tem valor na nossa vida e por ser tão preciosa chamamos de amizade. 

Porque amizade é mesmo o amor que nunca morre.


"A amizade...
Nem mesmo a força do tempo irá destruir
Somos verdade...
Nem mesmo este samba de amor pode nos resumir
Quero chorar o seu choro
Quero sorrir seu sorriso
Valeu por você existir, amigo!"

(Fundo de Quintal)

Quanto ao seu sorriso (porque falar sobre tudo em você é tarefa difícil)



Surpreendente é vê-lo sorrir.
Esse sorriso bobo, fácil, leve.
Sorriso que é digno de obra de arte.
Sorriso daqueles em que a gente se perde.

Queria mesmo era poder roubá-lo
Guardá-lo sempre e bem perto de mim
Para quando a saudade chegar (como agora)
Me manter aquecida quando eu for dormir.

E eu já decorei esse seu sorriso
O tom da sua voz me falando besteiras,
seus lábios naquela hora em que faltam palavras,
até seu olhar, mesmo quando a luz não está acesa.

Ainda chove e de tudo o que eu mais queria...
Quem sabe estar deitada no seu peito,
ouvir suas histórias e as suas impacientes melodias 
Deixando em você mil fios de cabelo
Prometendo poesia com rimas exclusivas...
Fazendo do seu sorriso o meu par perfeito.


"I'll remember your lips and everything attached to them..."

(Elizabethtown)