O vento abre levemente as persianas, dando passagem ao sol do fim da tarde, sol das cinco horas, que ilumina tudo em volta, tudo lá fora, tudo aqui dentro.
Fotografar esse momento daria uma dimensão estática dessa pintura. O que eu quero é movimento. O que eu quero é sentimento.
Me perco em pensamentos, em sensações. Sinestesia. Cores, aromas, toques e paisagens em sincretismo. Que dia lindo para sonhar, penso comigo. E eu me permito.
A acordar e dormir todos os dias agradecendo a esse ser superior pela perfeição de dias como esse.
Agradeço por não estar alienada e não ter me cegado ao ponto de não conseguir reparar nas coisas mais lindas à minha volta. Porque a beleza está muito próxima, embora os nossos olhos tenham se desacostumado a olhar.
Agradeço por pessoas que me inspiram de distintas e infinitas maneiras.
O poeta com suas rimas incertas e verdadeiras, transformando a dor em poesia.
O escritor que vive transformando sentimentos e pensamentos em palavras escritas.
A criança que sorri e te abraça daquele jeito tão puro que te faz perceber que há certas coisas que nunca se perdem e que ainda te tocam.
O músico que faz aquela melodia com a qual você se identifica ao ponto de dizer: "essa música é minha".
O pintor que conseguiu com toques da aquarela te deixar abismado e, inclusive, já te fez chorar diante de um quadro.
O amigo que está com você nos momentos mais inusitados, nos mais difíceis e nos mais leves de serem vividos.
A saudade que faz você perceber que o que foi vivido valeu.
O amor que você sentiu. Não importando se acabou, se foi verdadeiro, se valeu a pena. Só quem amou sabe como é. É muito bonito.
Agradeço por ter força para continuar vivendo um dia de cada vez, mesmo com a dureza do ofício.
Por conseguir pedir perdão e perdoar, quando são raras as pessoas que tem esse dom, percebo que tenho muita sorte comigo.
Por ter lutado. Por ter caído muitas vezes. Por ter chorado. Por ter me reerguido. Por ter me superado. E por ter crescido.
Por tocar o chão com meus próprios pés, por ter olhos capazes de observar, mãos capazes de escrever e mente sã capaz de compreender e aprender. E um coração, que mesmo se partindo muitas vezes, não está entorpecido, nem se embruteceu. Ainda é capaz de sentir. Muito e muitas vezes, quantas forem necessárias. Porque ódio é uma palavra muito forte. Amor também.
Agradeço por ter coragem de escolher, de ter a minha opinião e pela liberdade indicando as setas da rota a ser seguida. Agradeço pela vida, pelas possibilidades e por toda a beleza que permeia os nossos dias até o fim da estrada. Pelas tulipas, pelos livros, pelos raios de sol e pela surpresa e inspiração de domingos como esse: verde, capaz de nos dar esperança de que haja mais dias assim daqui pra frente. Sim, há beleza. E tudo vai ficar bem.
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