É abril e chove. Tantas coisas aconteceram e hoje me dei conta de como o tempo passou. Seria bom ter um diário agora. São tantos pensamentos não - compartilhados, tantas ideias e dúvidas. É tanto.
Não sei até que ponto uma doença pode afetar a vida de outras pessoas, mas foi um marco na minha. Há a Carla de antes e depois da cirurgia. Ficar internada foi uma experiência de renovação, como se ao expurgarem de mim o que fazia mal, retirassem, além das dores, muitas incertezas.
Consegui me reaproximar do meu lado espiritual. Era o que faltava para me redefinir. Mudar.
A minha intenção ao escrever hoje foi inspirada numa saudade leve, bonita, mas doída de uma época que me remete a tardes ensolaradas assistindo meu seriado favorito e noites inteiras ouvindo "And everything stands so still when you dance/ Everything spins so fast/And the night's in a paper cup/When you want it to last..." Quando havia importância e não descaso. Mas, a gente se acostuma com certas perdas.
Ao mesmo tempo, sinto que esse é o meu momento. Um dia eu quis fazer uma tatuagem que retratasse meu maior anseio. Hoje, eu tenho algo maior e muito mais significativo. Cada vez que eu olhar para essa cicatriz vou lembrar que sou livre. E essa liberdade, por mais mórbido que pareça, eu só alcancei pelo medo de não viver. Essa segunda chance foi, de fato, um recomeço. Aqui estou. Viva. De novo. E eu agradeço.
P.S.: Esse texto foi escrito no dia 27/04/10, no verso do meu caderno, poucos dias após eu ter sofrido uma cirurgia muito difícil. Hoje, por acaso, 6 meses após a crise que me levaria à internação, acabei encontrando e resolvi postá-lo.
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