sábado, 11 de setembro de 2010

A um ausente


"Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto."

(Drummmond)



Não. Me recuso a escrever sobre você. Aliás, não estou escrevendo sobre você, saiba disso.
Você é tão vaidoso, já cantou Carly Simon. Você é tão vaidoso que provavelmente não consegue se distanciar do seu ego. Você  se olha no espelho, com ar de Narciso, se afogando em seu próprio reflexo. 
Embora sabendo disso, juro que me encantei por você. Sabe-se lá o porquê... Agora que o que mal havia começado findou, realmente não compreendo as razões que me levaram a esse estado afetivo. Eu cheguei a gostar muito de você. Mais do que eu queria. Mais do que eu supunha, já que entrei nessa relação tentando deixar o coração, ao menos uma pequena porção de fora, para que pudesse contar a história. Nem preciso mencionar que o intento foi em vão.
Chorei um dia só. Fiquei ouvindo uma canção que dizia " Some things in life may change/ but some things they stay the same/ like time". E foi isso. O tempo permanece igual. Ele passa. Você passou. As lágrimas insistiram em correr por pouco tempo, sou um ser humano, com dois agravantes: mulher e escritora. Dissequei, analisei, fiquei cavando abismos, saltando dentro deles, desconstruindo os silêncios que me fizeram companhia depois que você decidiu ir. Sem avisar, sem deixar bilhetes, sem remorso. E eu fiquei só, no dia em que envelhecia e tentava justificar suas ausências. E, por falar em ausências, lembro de Pablo Neruda, que me remete a você em duas ocasiões: " Seu sorriso se espalha como borboletas", uma das últimas coisas que te mandei e que você fez questão de rejeitar. Apenas mais tarde (não tão tarde demais), compreendi que a razão para tal descaso é mulher como eu, apenas com nome e aparência distintos. "Gosto quando te calas porque estás como ausente" : preferia palavras ao invés desses silêncios que você me ofereceu propositadamente.

Silêncios seus se transformando em gritos meus. Eu, gritando um monte de verdades que não alcançam os seus ouvidos, não vale a pena, e porque estão dentro de mim. E não devem sair daqui. Olha, você sabe que errou. Eu sei que você sabe. E eu sei que você sabe que eu sei que você estava sentindo muito do que eu sentia. E, embora você tenha sido incoerente e leviano, compreendo que algumas coisas simplesmente passam e tem um significado diferente daquele que costumamos empregar. Ou daquele que queríamos. Superestimamos certas coisas. Subestimamos muitas outras. Novamente digo, não escrevo para você. Escrevo para mim. Porque eu sei que isso passa e, quem sabe um dia, vamos nos conformar pelo resultado final porque eu tentei, tentamos, pelo menos.

Não, não escrevo pra você. Li Caio Fernando, alguns dos meus gritos transcritos em palavras que, vezenquando, acho que você deveria conhecer...


“Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, [...] pelo que tentei ser correto e não foram comigo.”

“Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que está tudo bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem”

“Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos – emoções”

Você era um ausente. Sempre foi. Não me incomodava quando essa ausência tinha associação restrita a qualquer outro sentimento, que não esse que nos envolvia. Não sei bem o que era. Nem quero saber. Não valeu.

Ratifico: não escrevo para você. Escrevo por mim. Para te exorcizar, de uma vez por todas,  aqui de dentro. Não há nada a ser compreendido, falado ou desculpado. Somente esquecido.
Quanto ao seu pedido de desculpas que foi, de longe, o mais patético que já li, digo apenas que o guarde pra si. Eu agradeço. Agradeço por tudo isso ter acontecido agora, antes que eu me envolvesse num grau em que o sofrimento se tornasse algo muito mais dolorido do que foi. Eu tenho as minhas ausências e silêncios. Eles me bastam.


P.S.: Não, T. Esse texto não é pra você.

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