"Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes..."
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes..."
(Renato Russo)
Você já mediu a profundidade de um corte? Isso não me
interessa, baby. O que me importa é ver
o sangue pouco a pouco jorrar e manchar a minha pele branca. Contraste,
entende?
Doce sinfonia dos gemidos abafados pelo travesseiro. Cabelos ensopados de suor, de lágrimas e de
incertezas. Essa máscara me caiu muito bem. E, por genuína vaidade, paro para
me olhar no espelho, encarando a minha pior metade. E as gotas rubras escorrem
pelos meus dedos, pego um papel e começo , com orgulho, a escrever minha carta-testamento.
Estou muito
cansada. A dor chega me dissecando de todas as formas e eu não posso mais
comigo. Parece que o fardo pesa demais
nessas horas e eu não encontro abrigo. A solidão me acompanha com essa lâmina e
isso nunca foi o bastante. Tantas vezes eu apenas chorei, abraçando meus
joelhos, com vergonha de mim mesma por não ser tão forte assim. Mas penso no
que chamam força e vejo tantas incoerências. O mundo é absurdo e exige de nós
uma força hercúlea pra lidar com a vida. Eu não quero socorro. Eu quero a
liberdade de estar na minha própria pele com conforto. Da maneira que as coisas
tomaram seu curso, passei a odiar cada parte do meu corpo e da minha alma, se
existe alguma. Eu só queria viver, baby. E acho que viver foi sendo subestimado. Viver
é fácil para os entorpecidos pelo poder,
seja ele qual for. Eis o preço que paguei para ser quem eu sou. Temos algemas
mentais. Aqueles que tentam rompê-las sofrem demais. Sofri muito acreditando na
beleza da vida. Até tudo virar cor e pó. Cinza. A felicidade é um olhar
diferente para cada ser humano. E ser humano às vezes é ser infeliz. É ser
magoado, é ser humilhado, é ser traído e não-considerado. Às vezes ser humano é
só ser. E isso, baby, não tem graça alguma.
Em não sendo, vou tentar me adequar, onde haja a permissão
para que eu seja fraca e sensível. E que a dor desapareça. Que eu enlouqueça,
porque de coisas normais eu já estou cheia.
A propósito, mudei de identidade. Meu nome agora é Clarice.
E à outra que morava em mim digo: desapareça.
Clarice só tem 14 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário