quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2021

2020 e ainda estamos lutando.
Um ano que nos fez encarar a transitoriedade da vida todos os dias.
Saímos mais inteiros? Mais íntegros?
Deixamos pedaços pelo caminho?
Aprendemos alguma lição?
Sucumbimos?
Sempre escrevo algumas reflexões sobre a data, mas hoje foi particularmente difícil.
Tenho muito a ser grata. Mas não é sobre mim. Nem sobre isso.
Não posso enfeitar as dores.
Nem estar alheia às perdas.
Se há algo que extraí de tudo
É que hoje me recuso a naufragar na tristeza. 
Acreditar é meu ponto de equilíbrio.
Meu ato de resistência.
Tantos socos no estômago, ainda estamos recuperando o fôlego.
E essa é a magia do calendário, dos ponteiros do relógio quando sinalizam meia - noite:
A gente se enche de esperança
A gente crê na mudança.
A gente dá ao futuro uma nova chance.
Desejo que transformações positivas ressoem no mundo inteiro.
Que sejamos mais empáticos, solidários e atentos.
Cada um de nós traz em si o Universo
E temos potencial para criar a realidade que queremos.
Que o 2021 que tanto ansiamos
Seja espelho do melhor que temos por dentro.










segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Um ano difícil. Não dá para enfeitá-lo, mas se eu disser que não foi necessário, estaria mentindo.

Foi o ano em que eu menos escrevi. Ao mesmo tempo, tive coragem de expôr alguns textos, o que, obviamente, significou dar minha cara a tapa, mostrando um pouco mais sobre quem eu sou. E esse ano foi uma sequência de desdobramentos sobre isso: quem eu sou? 

Estou aqui. E, ao meu redor, a pandemia, o desgoverno, a ansiedade, a frustração, o medo. 
Cabelo caindo, letargia, crise de pânico, duas idas ao cardiologista, um quase aneurisma, depressão. 
E teve também luz do sol, céu azul, música boa, terapia, fazer pão, casa limpa, banho no Bob, Gabriel com a gente, papo astral, fortalecimento dos laços, um novo trabalho, (re) conexões.

Tudo isso sem ingerir uma gota de álcool. Quem me conhece, sabe. Essa talvez tenha sido a minha maior vitória pessoal: encarar os momentos com presença, sem anestesia, SÓBRIA.
Dor e delícia, assim, na mesma medida.

E, olha, não foi fácil. Tive que revisitar muitas mágoas, tive que colocar o dedo na ferida. Não fui levada a olhar pra dentro. Fui coagida. Digo e repito, pois é o que eu acredito: o Universo é perfeito. Tudo acontece no tempo certo. 

Eu me dei conta de como o processo de autonhecimento é doloroso, frustrante, um "sick cycle carrousel" de altos e baixos. Mas eu não o trocaria por nada. Depois de abrir a porta, não tem volta. É trilhar outra jornada.

Passei a me respeitar como mulher e ser humano. A abraçar meus erros, a acolher minhas sombras, a admirar meus acertos e a julgar muito menos. Passei a me entender como parte de um coletivo, me sinto mais pertencente, integrada à natureza, ao mundo, ao que me cerca. Passei a ter mais empatia, a entender meus ciclos, a não me comparar. 
Pela primeira vez, me coloquei no centro da minha vida. 



Não é sobre o destino, porque não há nada a ser alcançado. É sobre o caminho. Sobre presença e plenitude. Sobre consciência e responsabilidade. É sobre esse instante. Aqui, agora. Já. E me dei conta de uma coisa bem óbvia: não é tarde para recomeçar. Se há vida pulsando e coração vibrando dentro do peito, nunca é tarde demais.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Sarah

Um brinde à sua generosidade
Ao seu companheirismo
Ao fato de você fazer parte das minhas lembranças mais bonitas
Em Corumbá
E no Rio
Um brinde à nossa conexão
Ao fato de nunca termos brigado nesses 20 anos
Por nunca termos nos afastado
Apesar das mudanças
Apesar da distância

Um brinde ao seu sorriso
Ao fato de você ser tão linda
Um brinde à sua família
Sinto que ela é um pouco minha

Um brinde ao seu talento
À menina doce e meiga que eu conheci na infância
E à mulher forte e corajosa que se tornou 
Fazendo jus ao seu mapa
Desbravando novas estradas

Um brinde aos nossos encontros
Ao nosso abraço apertado
Um brinde a esse sentimento
Que se manifesta  até quando precisamos nos despedir
Nunca dizemos um mero 'tchau' ou "até logo"
Sempre foi assim: eu te amo.

Eu te amo.

Minha sagitariana
Minha amiga
Minha irmã
Meu coração fora do peito
Só posso desejar que os seus caminhos estejam sempre abertos
E que a sua jornada reflita tudo aquilo que eu enxergo
Você não merece nada menos que o melhor
Porque  é, de longe, a melhor pessoa que eu conheci
Que você viva seus dias com presença
E que a cada escolha que fizer
Você seja genuinamente feliz

Agradeço ao Universo
Agradeço pelos nossos caminhos terem se cruzado 
Dividir essa existência com você é meu grande orgulho
É privilégio

domingo, 6 de dezembro de 2020

Um apartamento à beira da paisagem
Uma varanda, uma rede, um cigarro ocasional para tragar
Girassois
Livros numa estante de madeira
Incenso aceso
E o verde das plantas na sala de estar

Fim de tarde
Um horizonte infindo
Um olhar fixo
E barulho da água fervendo pra fazer o chá

E Gal cantando a minha trilha 

"Eu sei, comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz"

E a abundância de simplesmente ser
E estar 
Na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Da América do Sul

(Pra transformar sonhos em realidade
Para matar a saudade
A poesia é estrada)









Tudo na minha vida me trouxe a este momento.
Jamais tive tanta consciência de mim mesma
Nunca senti tão fortemente a minha presença. 
Por muito tempo esqueci de me olhar por dentro.
De me enxergar por inteiro.
De amar o meu avesso.
Tudo, absolutamente tudo está no lugar certo.
Hoje eu entendo. E aceito.
A dor no processo. 
O sofrimento.
O medo.
O que não me cabe, agora eu reconheço.
Não resisto. 
O que estou deixando para trás não é por 
simples desapego.
É por respeito.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Deitei sob o céu infinito
E você se aninhou ao meu lado
Com o azul cobrindo os nossos corpos
Entrelaçados
É fácil repousar no seu peito
Meu lugar preferido
Meu aconchego
Você me dá paz
Meu sossego

sábado, 10 de outubro de 2020

Hoje me deu saudade do Rio.
Uma saudade tão forte que embaça o meu olhar.
O Rio tem outra energia.
Bossa nova, funk, poesia
Cerveja no meio da tarde
E no fim do dia.
E você reconhece as pessoas
Do bar, dos desencontros
Do trabalho, dos acasos
Amigos há cinco minutos
Pra toda a vida.
E você ama
Sem freio
Sem preconceito
Sem pressa de chegar
Sem hora pra acabar.

Acho que é o efeito da maresia.
Balança os cabelos
Eriça os pêlos
Movimenta a rotina
Obriga a gente a contemplar
A paisagem
A linha infinita
No Rio a gente não sabe dizer o que é céu
O que é mar

A gente pode até sair do Rio
Mas o Rio mora dentro da gente
O Rio é insistente
Quase sempre é convincente
O Rio, de braços abertos,
Espera a gente voltar.
Traçar minhas rotas
Alterar as placas
Apontar com os dedos a direção dos meus anseios
Desenhar meus mapas
Meus pés seguirão os caminhos
Não tenho pressa quanto ao destino
Onde meu coração estiver
Eu fico.


sábado, 3 de outubro de 2020

Estava olhando as fotos do seu feed e a saudade foi ficando maior. E aí me dei conta de como a saudade está aqui sempre, persistente, latente. E basta um olhar mais atento pra recordar. E recordar, etimologicamente, é passar de novo pelo coração. Que é onde você mora.

Hoje o sol entrou em libra, o signo da beleza, da justiça, das artes, da leveza, o meu signo preferido, o seu signo.

Te escrevo para não esquecer. E pra você também poder lembrar.
O maior presente da minha vida foi te conhecer.

(Em 23/09/20)
Tudo vai bem no meu mundo. E entrego a Deus e ao Universo os meus anseios, na esperança de que eu encontre as respostas aos meus questionamentos.

Estou aberta. 
Estou presente. 
Estou no centro.

O que vier eu recebo. 
E agradeço.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Mantenho meus olhos abertos
E atentos
Voltados pra você 
Cada instante juntos
Renova o encanto
E me apaixono todos os dias
Como se fosse a primeira vez

(vendo ele tocar violão)

sábado, 12 de setembro de 2020


"Saber-se 
fonte única de si
alucina."

(Ferreira Gullar)

terça-feira, 1 de setembro de 2020


Hoje o dia amanheceu abarrotado de nuvens cinzas. Oito horas da manhã e anoitecia.
Portas batendo, cabelos revoltos com o vento, sinais mais fechados que abertos.
Apressei o passo pra não me molhar, bastou que eu atravessasse a porta de casa para o céu chover copiosamente. 

Agora estou aqui, aquecida, sob um azul limpo e iluminado.

Eu me permito deslumbrar com essas delicadezas.
Insisto em me manter aberta a esse encantamento diário. Estou aprendendo a admirar a impermanência dos dias, as incertezas da vida, sua transitoriedade.

Nada é. 
Tudo está.

A natureza ensina. 

A verdadeira beleza é compreender que o que quer que aconteça, isso também vai passar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Havia um descompasso entre mim e a cidade
Constantemente criava maneiras de partir
Mas a angústia que me mantinha ancorada 
Era porque eu não me sentia pertencente a mim
A paisagem nada tem a ver com o que sinto
Tudo ficou mais bonito quando transformei meu olhar
E me dei conta, ao me enxergar por dentro
Que quem faz de si mesmo o seu próprio centro
Encontra paz em qualquer lugar

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Há tanto a ser dito. Mas tudo me vem rápido demais, como um susto. Me toma, me arrebata e passa. Mal tenho tempo de alcançar as palavras.
E lembro de Drummond: "convive com teus poemas antes de escrevê-los."

É o que tenho feito.
Em tempos de isolamento, um abraço nunca foi tão necessário. Talvez por isso a data de hoje tenha tanto significado.
Adiamos as celebrações, reinventamos os encontros, criamos alternativas para manter firmes os vínculos, apesar das limitações de tempo e espaço.

À distância, tentamos nos fazer presentes.
Estendemos, ainda que remotamente, a nossa mão.

Amizade, em momentos difíceis, também é uma forma de resistência. 

Que os distanciamentos não desfaçam os laços, mas aprofundem os afetos.

Ter (e ser) um amigo nessa vida é mais que um presente.

É privilégio.

sábado, 18 de julho de 2020

Estava aqui, divagando pela madrugada, relendo textos, revisitando momentos. E pensei: se o nosso encontro não tivesse acontecido naquele dia de Rock in Rio, eu teria que achar nas palavras um jeito de te inventar. 
Você, minha companhia no bar, na varanda, na cerveja, no sorvete, no filme, na distância, no presente. Na poesia, na amizade, guardado debaixo de sete chaves. De algum jeito insuspeitado, transcendendo os limites do tempo e do espaço,  você já estava em mim. 

"Não sei porque nessas esquinas vejo o seu olhar."

Entre textos e entrelinhas, na música, nas rimas, você veio pra ficar.

Obrigada por compartilhar seus textos, suas histórias e essa jornada. 
]
Eu te escrevo esse texto como quem te abraça.

(Para Sergio, saudade sem data para expirar)

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Deixo um pouco de mim em cada texto
Meu coração mora nas palavras

quarta-feira, 1 de julho de 2020




"Me fiz artista sem plateia" (Sergio Fróes)

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Houve uma época em que eu detestava as minhas fotografias. Eu me achava feia, desajeitada, não gostava do meu cabelo, do meu sorriso. Eu não me enxergava na imagem nelas refletida, não conseguia me identificar com aquela pessoa que estava retratada.

Eu me sentia inadequada.

Eu não gostava do que eu via. 

Eu não gostava de mim.

As dores, os traumas,  as perdas. Todo o sofrimento experimentado me condicionou a atravessar os dias presa na zona de conforto, criando meus próprios artifícios para permanecer anestesiada. 

Eu me dei conta de que vivi minha vida guiada pelo medo. Medo do julgamento, medo do não pertencimento, medo de não ser amada. 

Passei boa parte da minha jornada buscando preencher os espaços vazios, tentando me sentir um pouco melhor comigo, quando, na verdade, bastava apenas um olhar mais atento.

O que eu sempre procurei lá fora, já estava aqui.

Porque o caminho é dentro.

E esse é só o começo. 

"Nós não estamos aqui para aprender. Estamos aqui para lembrar."

Eu não quero mais me esquecer.







sábado, 27 de junho de 2020

Não quero mais andar pela vida distraída, criando artifícios, evitando riscos e calculando meus passos para desviar da dor.
Aceito o que vier. Estou aberta para tudo aquilo que eu precisar sentir. Ainda que haja desconforto, ainda que seja incômodo, ainda que me cause pavor.
Eu não quero mais fugir.
Sei exatamente o caminho que devo seguir.
O lugar que eu tanto busco está dentro de mim.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Cecília
Lya
Clarice
Lygia
Ana Cristina
Adélia

A dança mais bonita de palavras foi feita por mulheres.



quarta-feira, 17 de junho de 2020

"Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."

(Manuel Bandeira)

terça-feira, 16 de junho de 2020

Listen to the girl
As she takes on half the world
Moving up and so alive
In her honey dripping beehive

segunda-feira, 8 de junho de 2020

O dia em que Júpiter encontrou Saturno

"...e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. "

"-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.
-O tempo existe, sim, e devora."

(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Daniel

Obrigada pela integridade, pela coragem, por ser a pessoa lúcida e coerente que me inspira a ser alguém melhor. A vida é cíclica e ela ensina. Hoje eu aprendi muito. Nos dias mais difíceis, a tristeza não desbota o meu olhar: você me faz ter orgulho de estar viva.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Quanto tempo leva para o filtro da memória enfeitar os dias? Para o hoje se tornar algo tão distante a ponto de virar nostalgia?
Às vezes me pego pensando se algo desses tempos vai se tornar uma lembrança bonita mais pra frente.
Aquele instante em que você fecha os olhos e revive em pensamento algo tão intenso que se materializa no presente.

Quantos momentos assim nós temos? Quantas músicas e paisagens e pessoas parecem estar perfeitamente arranjadas para transformar um fato cotidiano em algo extraordinário?

Guardo a minha lucidez quase inédita, o meu estado de graça ao ver o céu todo estrelado.

Guardo as sensações, o perfume, as palavras. Tudo aquilo que foi intocado.

Tenho vivido à espera
Ansiado pelo que há de vir
Por tudo aquilo que de tão lindo também será eternizado
Na fotografia, na poesia, dentro de mim.

"When your life is so, so dreary
Dream."


terça-feira, 19 de maio de 2020

Parar de viver a vida pela ótica do que poderia ser
E me entregar a esse momento
Se estou preparada para receber o que quero? 
Deixo a cargo do Universo
O que vier eu vou agradecer

segunda-feira, 18 de maio de 2020

No processo de despertar, tudo parece sinal
As perguntas prescindem imediatas respostas
Somos tomados por uma lucidez repentina
Inundados de uma compreensão quase lógica

Tudo acontece no tempo certo
A mudança vem de dentro
Só precisamos estar atentos
E abertos.


domingo, 3 de maio de 2020


"Can you imagine when this race is won
Turn our golden faces into the Sun
Praising our leaders we're getting in tune
The music's played by the mad men."


Chorei ouvindo a música. E em meio à caminhada, prometi que iria aprender a letra pra poder cantar além do refrão.

Tenho feito muitas promessas. Não sei quantas delas se cumprirão.
Troco os dias pelas noites. Me canso da programação da tv, mas não consigo pegar um livro e simplesmente ler. Desinstalei as redes sociais pra estar mais presente. E eu quase não paro de pensar no que passou. Ou no que vem depois. 
O fato é que estou atravessando os dias tentando extrair uma lição do que fica. Tentando melhorar como ser humano e sair dessa mais íntegra.

Tenho sentido medo. Tenho chorado com frequência. Às vezes me sinto culpada quando me pego gargalhando à toa, como se fosse uma ofensa experimentar alguma alegria. Eu não quero esquecer as perdas. Quero vivenciar o luto, mas também sei que não posso me render à tristeza. 

Nesses momentos de convivência intensa comigo mesma, a nostalgia me invade. Rememoro as lembranças mais antigas e pincelo cada uma delas com o verniz mais otimista, porque a vida é um bocado de histórias pra recordar. A gente filtra as lembranças. É um jeito da gente seguir em frente. De se conformar.

Vê, ou estou no ontem ou no amanhã. Deprimida ou ansiosa. O agora quase nunca me consola. 

Um pensamento me ocorre: por que a gente cresce? Por que além de perdermos as roupas que não nos cabem, perdemos um pouco a coragem? Crianças nem entendem a mecânica do tempo. Ele só passa. 
E quando você menos espera, está com quase trinta anos, chorando depois de mais uma noite insone, com pavor do que o mundo se tornou. Você se sente impotente, mas luta pra ter esperança, ser forte, pra tirar de tudo isso algo bom. Mas essa é só mais uma artimanha da vida. 
Amadurecer é comer a fruta proibida. 
A verdade é que eu sinto falta da ilusão. 

"Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever?
Forever young."


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Ela sempre deixava uma garrafa de chá em cima da mesa. Eu tomo chá desde pequena por causa dela. Capim limão, canela, boldo, erva cidreira. 
Depois de quase 10 anos sem vê-la, apareci de surpresa, e ela quase parecia não acreditar. Tentava falar, os olhos marejados; eu, emocionada, só repetia: vovó, eu tô aqui! Eu tô aqui! E ria, ria...Estendia a mão para a bênção enquanto ela dizia: 'Deus te faça feliz, minha filha!'
Sentada ao seu lado, olhávamos juntas alguns álbuns, cada lembrança capturada, cada momento registrado... mas a fotografia em que ela estava com vovô ao lado...Não sei expressar... ela não se continha. Não era simplesmente saudade. Era algo tão concreto, tão palpável, que eu quase conseguia tocar.

Como essa perda dolorida que sinto agora. Que eu mal consigo suportar.

Algo em seu olhar me dizia que a nossa despedida seria definitiva, mas eu não queria acreditar.
Filosofia nenhuma nos prepara. A dor é sempre inédita. E desola, paralisa, me arrebata. Não quero me acostumar com a ausência, com o vazio, com a falta.

Sou grata, vovó. Pelo laço que nos une, pelo privilégio de vivenciar tantos momentos ao seu lado. Ensaio um sorriso em meio às lágrimas, porque a senhora está presente.
Quando me pego fazendo um bordado, quando olho para a minha mãe, quando tomo o meu chá.
Nas palavras, nas fotografias, nas lembranças mais bonitas.

Te eternizo, minha velhinha.
Só o amor é capaz de tornar a vida infinita.

domingo, 26 de abril de 2020

Ontem eu fiquei eufórica. Por um pouco de esperança. Por um pouco de egoísmo. Por me sentir parte de um coletivo até meio patético, pela disputa sobre quem tem razão, pelo prazer de poder falar "eu avisei". Que poder. Que razão. A realidade é triste demais pra se apegar a isso. O distanciamento social afasta muito do convívio e nos obriga ao silêncio. E é nesse momento que a gente aprende e cresce. É fácil apontar dedos. Difícil é olhar pra dentro. E por causa disso, reflito que apesar do impulso, da raiva, da vontade de desmascarar a hipocrisia e a mentira que permeiam a nossa política desde o descobrimento, sei que há gente muito boa que também está aprendendo, que está tentando fazer algo pra melhorar o país no dia a dia, mais até do que aqueles que foram eleitos e são bancados pelo nosso dinheiro. 
E hoje, só por hoje, quero pensar com um pouco de otimismo e gratidão. Estou numa posição muito privilegiada. E sabendo disso, qualquer aparência de poder é uma farsa. O único poder que tenho é de dirigir a minha vida calcada naquilo que acredito. Ninguém é perfeito. E eu sei que há muita gente parecida comigo nesse sentido. 
A essas pessoas eu agradeço!

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Vou me apegar aos poucos, porém firmes, laços de esperança que mantém a minha lucidez - quase - intacta. Experimento a alternância de sentimentos: ora choro copiosamente, ora gargalho; ora me preocupo, ora me distraio. E vivo um dia de cada vez entre quatro paredes, da cozinha para o quarto, vendo tv, ouvindo música, lendo um livro, me mantendo informada sem sucumbir ao cinza desses tempos, retrato da vida refletida nos noticiários.

Hoje falei com alguns dos meus melhores amigos. Todos juntos. Quando estávamos na mesma cidade, o encontro era fácil, quase habitual. Aos poucos foi ficando mais raro. A justificativa? Em suma, falta de tempo. A famigerada falta de tempo que culminou num forte distanciamento, resolvido apenas ano passado. Ironicamente, hoje temos todo o tempo do mundo, precisamos uns dos outros, mas não podemos estar lado a lado. 

Em meio a tantas dúvidas, de uma coisa estou certa: o que estamos vivenciando veio para transformar. Separar o joio do trigo. Alinhar nossos valores. Voltar o nosso olhar ao que nos faz sentir, ao que nos dá sentido, ao que realmente importa.

O que é verdadeiro, permanecerá. 
O resto caberá ao tempo. 
Tempo esse que temos de sobra. 

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Moraes

Acordei com a notícia, enquanto o céu chove a cântaros.
Difícil conter as lágrimas, quando a poesia parece estar cada dia mais escassa.
Fiquei reflexiva. Entoando as canções na minha mente, numa tentativa malsucedida de deixar a tristeza ir embora. Rememorando as letras do poeta que inspira alegria. 
São muitas as lembranças vivenciadas tendo suas músicas como trilha. Viagens, pessoas, paisagens.
Ouvir Moraes Moreira é tomar um elixir da felicidade. É resgatar uma época mais simples, repleta de cor, amor, som, criatividade.

Uma perda como essa desbota ainda mais esses dias tão cinzas...

"Acabou chorare no meio do mundo
Respirei eu fundo..."







sábado, 28 de março de 2020

É madrugada. Acabo de desativar minha conta no twitter, depois de ler uma carta do Caio Fernando de que sempre gostei. Talvez não haja conexão entre uma coisa e outra, mas lá no fundo do fundo do fundo, aquelas palavras me despertaram. 
Passei a viver num estado de constante alerta, tensão, medo. O medo de estar perdendo. A urgência de ter o controle. 
Quando comecei a leitura, fui transportada para outra época.
2010, para ser mais exata.
E senti um alívio tão intenso quanto incômodo.
Em tempos de incertezas, é muito difícil olhar pra frente sem se angustiar. Estar no presente é uma tarefa árdua, porque o desespero parece iminente e o trágico muito perto de chegar.
Por isso decidi me desconectar. Para me permitir experimentar a vida real com todas as suas nuances. Sem análises, sem filtros, sem escapes. Eu não quero fincar bandeiras, não quero mais convencer ninguém, nem quero buscar nos outros um endosso para o que eu penso. Eu sei quem sou e eu sou o que acredito. E precisei da literatura (ela, tão esquecida) pra me lembrar disso.

Aí meus olhos se permitiram chorar. Pela beleza do texto, pela transitoriedade da vida, pela reflexão inusitada. 

Nada é. Tudo está.
E isso também vai passar.





terça-feira, 24 de março de 2020

Ter todo o tempo do mundo. E não poder ter tudo. Isso coloca as coisas em perspectiva.

terça-feira, 17 de março de 2020

Hoje, repentinamente, meus pensamentos me levaram a você.
Entrei no seu blog, cujo endereço não esqueço. É uma espécie de refúgio. Recorro a ele quando preciso me reconectar. Olhar pra dentro.
A fragilidade das suas palavras até hoje me desconcerta. O seu otimismo pé no chão, sua transparência quase brutal, a sua essência, sua verdade, seu jeito de viver a vida em estado de graça. 
Você sempre teve asas, Jô. A liberdade era o seu lugar.
Sempre te vi destemida, autêntica, sem papas na língua. E admirava essa coragem que eu não tinha. Não sei se algum dia terei essa audácia de romper amarras (quase todas, admito, criadas para me proteger).
Ouço aquela música da Cássia e lembro de você. Calça jeans, havaianas, camiseta, uma bolsa enorme, argolas gigantes e coque lá no alto. As unhas vermelhas que você não conseguia parar de roer. A tatuagem de borboleta no pescoço. E um sorriso que ensolarava qualquer dia ruim.
Tudo mudou depois da sua perda. Jamais superei. Tento não pensar muito sobre isso para não mergulhar no pessimismo e na amargura, porque nada disso tem a sua cara.
Você foi a responsável pela existência desse blog, me inspirando a colocar na página em branco os meus pensamentos desconexos. O quanto eu aprendi, o quanto você ainda me ensina.
Saiba que te carrego comigo onde quer que vá.
Eu, aquela flor amarela do poema que você escreveu.
Você, a borboleta mais magnífica que já pousou nos meus dedos,
Como bem sabemos, é da natureza das borboletas voar.






domingo, 23 de fevereiro de 2020


While my eyes
Go looking for flying saucers in the sky

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Uma das coisas de que eu mais gosto na vida é o fato de que nem sempre acontece o que a gente tinha planejado. Acontece algo melhor. E melhor não é sinônimo de fácil.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Só Por Hoje


Só por hoje eu não quero mais chorar


Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou e o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz
Hoje eu já sei que sou tudo o que preciso ser
Não preciso me desculpar e nem te convencer
O mundo é radical
Não sei onde estou indo
Só sei que não estou perdido
Aprendi a viver um dia de cada vez
Só por hoje eu não vou me machucar
Só por hoje eu não quero me esquecer
Que há algumas pouco vinte quatro horas
Quase joguei a minha vida inteira fora
Não não não não
Viver é uma dádiva fatal
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas
Vamos com calma
Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi

(Renato Russo)

P.S.: Dia Nacional do Combate ao Álcool e às Drogas


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Por puro encantamento eu te olhava
E achava lindo esse seu jeito de menino embasbacado dentro d'água
Você sorria um sorriso escancarado 
Desses que deixam tudo em volta iluminado
Porque mesmo nos dias mais cinzas
Quando a neblina não se dissipa
Você é o meu raio de sol

domingo, 2 de fevereiro de 2020


Shine like it does
And if you're looking
You will find it

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Anunciação

Um sonho lúcido no último dia de janeiro. 
No meio da tarde, as folhas dançavam com o passar do vento, o sol me invadia, eu fitava o céu de um azul tão limpo. 

Fechei os olhos 

Então havia a casa, que não era conhecida, e um verde novo, jamais visto.
Tudo em volta era bonito. E a sensação era de plenitude, de pertencimento, de abrigo.
Queria sair para desbravar, mas algo impedia. Eu tinha que esperar.

E de repente tudo me soava familiar. Rostos e cheiros e muros e árvores e raios do dia mais ensolarado que eu jamais pensei poder testemunhar.

A água da cacimba era mais límpida. E a poeira da estrada levantava, terra batida.

A chuva (in)esperada caía sem intimidar o sol, que resistia. E de mãos dadas desenhavam no ar uma bandeira multicolorida.

Uma música desde sempre conhecida começava a tocar.

"Na bruma leve das paixões que vem de dentro..."

O sonho não era apenas um sonho. Era um prenúncio. Um poema. Um sinal.

Eu não queria acordar.




quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Vida que se renova em textos perdidos
A memória vacila, mas lá estão elas, página a página
Lembranças e ilusões em versos e rimas
As setas me indicam que não estou mais perdida
Meu reencontro comigo se dá através das palavras.