quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Estou só
Há muito não ouço nenhuma voz
Apenas o silêncio das luzes apagadas
A mudez das portas fechadas

Estou só
Meus pés transitam pela sala
Minhas mãos tateiam meu rosto
Esfregam meus olhos 
Só para me asegurar de que ainda estou aqui

Estou só
Não há mais nada
Nada além desse imenso vazio a me consumir



quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Escrevo pouco sobre você.
Sobre a gente.
Estamos vivendo esse platô do amor há tanto tempo que as palavras muitas vezes me escapam.
Porque me rendo à poesia da rotina.
Acordar antes de você, escutar a sua respiração, me alegrar quando ouço seus passos. 
A pausa que você faz, me entreolhando, só para tirar de mim um dos muitos sorrisos do meu dia.
Parar o que estou fazendo, a qualquer tempo, só para te abraçar.
Às vezes, nem te espero chegar. Te invado e te inundo de beijos, mesmo quando você ainda está sonolento...

E esses são apenas os nossos primeiros minutos...

Te flagro enquanto trabalho. Olho para você, tão distraído, e me distraio.
Quero saber o que você está assistindo. Peço para que aumente o volume, só para dividir mais esse momento contigo.

E nos alternamos para fazer o café da manhã.

Depois do fim do meu trabalho, corro logo pro seu lado, para aproveitar mais um pouco antes da sua saída.
Às vezes, nem falo nada.
Aquela paz de saber que você está ali.
Porque tudo fica vazio no segundo em que você atravessa a porta.
Tudo é nada quando você não está aqui.

Parece loucura me sentir assim. 
Uma década de amor que não se esgota, que permanece, que se renova.
Entre erros e acertos.
Entre conquistas e perdas.
Entre sorrisos e lágrimas.

É a esperança que eu tenho ao dormir, sabendo que ao acordar é você quem eu vou encontrar.
É o sono reparador que eu só tenho quando me aninho no seu peito.
É assistir a Vale Tudo ou a uma partida do Flamengo.
São as pequenas grandes coisas que me dão sentido.
Para recomeçar.
Para agradecer todos os dias.

Porque amar você é o meu propósito de vida.




quarta-feira, 9 de novembro de 2022

O nome dela é Gal



"Eu vou fazer uma canção pra ela, uma canção singela, brasileira..."


A sua voz sagrada é minha trilha
Rememora lembranças de um passado que sequer vivi, mas é tão palpável que me toca profundamente
E se faz presente na nostalgia
Ao mesmo tempo, me traz imagens do futuro
Como quando escuto:

"Comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade, da América do Sul, da América do Sul.."

Desenhei um sonho com esse som
O meu Rio, num fim de tarde, à beira da paisagem
Na praia cujas dunas tem a sua digital
Gal

Poesia que transcende as palavras
Que mora no olhar expressivo
No respeito às lágrimas, 
Mas ainda mais à risada
No seu signo
Na flor que encontrou no seu cabelo abrigo

Recuso o silêncio do luto
Nada se perdeu porque não ficou mudo
Ecoa eterno, infinito
Não apenas te escuto
Eu sinto.


"Lágrimas negras
Caem, saem, doem
São como pedras de moinho
Que moem, roem, moem
E você baby vai..."












sábado, 5 de novembro de 2022

Há 4 anos eu estava desolada. Lembro até hoje da sensação de impotência, do sentimento de dissociação, como se tudo ao redor fosse imaginário, pois o que estava acontecendo à minha volta parecia impossível. Um pesadelo sem igual.

E chegou domingo. Dia 30, aniversário de Amandinha.
E toda a frustração, raiva, luto e desesperança deram lugar a uma luz que até então parecia esmaecida.
Uma centelha.
Que ficou mais forte, vibrante, vermelha.

Aos poucos, todo o cinza desses dias foi tomando cor, criando vida.

Senti a tristeza ser expurgada do meu corpo, que foi inundado de alegria genuína.

Eu me senti, novamente, pertencente a um país que rejeita a violência e a mentira.

E que acredita num futuro próspero, amoroso, diverso e humano. Que torce, que se comove, que vibra.

Um Brasil, então sufocado, que enfim respira aliviado.

Um Brasil que inspira.