terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Queria ter capturado o pensamento que me ocorreu. Escalei a pedra, fiz uma pose.

'Que frio, guri'.
Deve ter sido isso.

Uma carioca-corumbaense-murtinhense (manauara?) com sangue nordestino é desacostumada. 
Mas é que eu ando em estado de graça.
Voltando um pouco no tempo, o agora parecia inalcançável. 
Sol em virgem, sabe? (olha a jovem mística rs). Tenho resistência a mudanças. Mas também sou regida por aquário e a minha lua é em áries, então, num ímpeto, eu vou. 

Não sei falar sobre o que esse ano me ensinou. 
Se em 2020 eu dei alguns passos importantes em direção à minha evolução pessoal, em 2021 eu entrei com tudo na contramão (e tá tudo bem, o processo não é retilíneo, hoje eu entendo e respeito isso)

Mas posso dizer que em meio a tantas perdas (coletivas e, sobretudo, pessoais), fui me dando conta de tudo aquilo que sempre foi muito mais difícil de gerir (ou digerir).

E transformar.

Crítica em construção. 
Inconformismo em vontade.
Julgamento em reflexão.
Medo em possibilidade.

Me pego no pulo, vacilo, me corrijo.
Entre quedas e quebras, o importante é continuar.

E deixar pra trás tudo aquilo que nos impede de chegar ali, naquele lugar.

Onde a gente consegue estar tão à vontade sendo quem a gente é, que tudo o que nos resta é simplesmente contemplar.



sábado, 11 de dezembro de 2021

Vegas' sky
Shocking blue that almost hurts our eyes
Deep and infinite as the sea
Impossible to reach
Or describe

domingo, 21 de novembro de 2021

Há tanto a ser feito
E dito
Mas seguimos entorpecidos
Alheios
Distraídos
Acreditamos na pausa
No silêncio contido
Repentino
E assombroso
Que precede o grito


quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Em meio à natureza. Dia lindo de sol e céu azul e prenúncio de chuva com nuvens carregadas e vento forte (algumas ondas no rio), mas vieram apenas chuviscos. Depois o sol voltou com um belo arco-íris. Por que estou falando sobre isso? Porque eu sempre tive dificuldade de contemplar. 
De observar e absorver só o que há de melhor em cada momento. Minha mente quase sempre está no modo julgamento. Porque eu cresci assim, com o dedo sempre apontado pra mim. E não é fácil gerir toda essa bagagem. Às vezes, me pego vacilando, caindo nas armadilhas da minha mente, me sabotando, me sentindo inadequada ou menos importante...me amando pouco, quando eu deveria me amar com todo orgulho. E em meio a esse turbilhão de pensamentos, me veio você. Que se permitiu de fato me conhecer. Com todas as nuances, defeitos, erros e acertos. E que mesmo assim (ou por causa disso) quis ficar. E o amor também é isso: permanecer quando  muitas vezes é difícil estar ( e nós sabemos bem o que é isso). Queria compartilhar essas reflexões com você, amigo. Dizer que de vez em quando tropeço, caio, ralo os joelhos, mas tento ficar menos tempo no chão. E que eu estou aprendendo com cada queda e quebra, de coração aberto, com mais amor e menos medo, para não viver em vão.

(Para Danilo)

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Que é preciso tirar a poeira. Dos móveis, das gavetas, das memórias.
Que é preciso acordar um pouco mais cedo e se alongar para atravessar o dia.
Que é preciso abandonar velhos hábitos para a criação de novas rotinas. 
Que são necessárias disciplina e resiliência para fazer qualquer coisa acontecer. E compaixão, para os dias mais difíceis de ser.

Que não há receita de bolo, nem milagres. Que a vida do outro é só uma fração que não me cabe. Que eu não alcancei nada sozinha. E que a vida tem dois elementos primordiais: compreensão sobre o nosso papel no mundo e presença. 

Só eu sei quem sou.
Só eu sei o quanto isso me custou.
O caminho que escolhi trilhar compensa.











O meu caminho é para dentro. E a sensação que eu tenho, a cada dia, é que estou chegando mais perto.


quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Não me acho engraçada, mas você sempre ri quando tento fazer alguma piada.
Não me acho uma cozinheira de mão cheia, mas você reage a cada refeição como se fosse uma iguaria.
Não sou a pessoa mais tranquila, e mesmo assim você compra as minhas brigas.
Não me acho muito bonita, mas você faz com que eu me sinta a oitava maravilha.
Não sou infalível, mas você me diz que sou perfeita.
Todos os dias.

Como a gente agradece algo assim? Essa sensação de pertencimento causada pelo espaço que o outro te dá para que você se sinta completamente à vontade para simplesmente ser e estar?


E essa percepção que pode até ser utópica, mas que te motiva sempre a ser alguém melhor para fazer jus a esse olhar?


Aqueles que veem fotos e posts talvez não compreendem o que tento expressar. Esses momentos compartilhados são apenas fragmentos de uma parceria que é construída na rotina, com altos e baixos. Ao longo dos anos, com resiliência, erros e acertos,  sorrisos e lágrimas.


Eu não pedi um amor assim, não achei que aconteceria.


Por muito tempo eu sequer achei que merecia.
Mas hoje eu sou grata.
Logo eu, que nunca tive grandes propósitos
Descobri que te amar é o sentido da minha vida.

Obrigada pela paciência.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Virgo sun, aries moon
We look alike, according to stars.
Forever missed, miss Dolores.

sábado, 7 de agosto de 2021


and god help you if you are a pheonix
and you dare to rise up from the ash
a thousand eyes will smolder with jealousy
while you are just flying back

sexta-feira, 30 de julho de 2021


Her mocking smile says it all
She records the rise and fall
Of every soldier passing
But the only soldier now is me
I'm fighting things I cannot see
I think it's called my destiny
That I am changing

terça-feira, 27 de julho de 2021

Tenho pensado na infância. Nas festas julinas, quadrilhas e fumaça. Festas de aniversário, brincadeiras na rua, carnaval e o medo dos pierrôs. 
Tenho pensado no quintal de casa, tão maior e infinito nas minhas memórias, o pé de jambo que eu desbravava sem receio, o tapete rosa que coloria o chão. 
Tenho pensado nas idas para a escola. A primeira vez, sem mochila, levando o material numa sacola de pão. Lembro de acordar cedo e, depois de algum tempo, fazer meu chá sozinha e esperar a hora de sair vendo desenhos na televisão.
Tenho pensado no Natal. Na alegria de enfeitar a casa, dos presentes, das visitas. E o barulho dos fogos, as sementes de romã.

Tenho pensado nas viagens de carro ao Nordeste. As paisagens, os fins de tarde, cada amanhecer.
Um bocado de memórias que eu revisito
Para me manter desperta, atenta e otimista.
Para guardar o melhor dos meus dias.
Com a fé de que outros ainda melhores virão.


Ao som de Marcelo Camelo

Eu atravessava os fins de tarde no Rio
A Baía da Guanabara, dentro das barcas, com fones no ouvido
E dava tempo de ver o sol indo embora
Por dentro parecia que cabia mesmo o infinito
A eternidade naquelas horas
Que pareciam repetidas
Mas eram sempre, sempre novas
Porque a paisagem era inédita
E eu me sentia mais completa
Com aquela trilha sonora


"É, Deus, parece que vai ser nós dois até o final"







sexta-feira, 9 de julho de 2021

Uma das memórias mais recorrentes da minha infância é a sensação que eu tinha ao dançar. Gostava tanto, embora sem jeito, que durante muito tempo tudo o que eu queria ser quando crescesse era bailarina.

Há muito não danço.
Há muito não reconheço em mim muitas das coisas que eu pensava que me eram inerentes.
Paixões que nunca seriam abandonadas, como a escrita, minha dança adulta, a dança das palavras.

Caio escreveu que se sentia cada vez mais só. E esse pensamento não me larga. Porque tem sido tão difícil estar na minha cabeça nos últimos tempos, que seria quase cruel despejar tudo isso no outro. 

Porque não preciso ser aconselhada ou compreendida. 
Eu sei dançar sozinha.

(Mas é bonito quando a música toca e, num convite, te estendem a mão)

quarta-feira, 9 de junho de 2021


Mantenho meus olhos abertos
E atentos
Voltados pra você
Cada instante juntos
Renova o encanto
E me apaixono todos os dias
Como se fosse a primeira vez

(vendo ele tocar violão)

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Meus olhos encheram d'água ao abrir esse blog, que anda tão abandonado.
Não organizei nenhum pensamento. Não arranjei nenhuma palavra. Sobra silêncio: a dor, de certa forma, cala.
Revisitei nossas conversas. O nosso último encontro. As mensagens de incentivo que sempre trocamos. Nossa amizade prescindia de assiduidade. Porque o vínculo que nos unia era profundo. Vinha desde a infância, se fortalecendo na adolescência e amadurecendo na idade adulta. 
Sempre lembrávamos do aniversário uma da outra.
Compartilhávamos o amor pela literatura e o desprezo pela ignorância. 

Gostávamos de RuPaul's Drag Race e achei o máximo quando você me contou sobre um evento do qual participou como Lovelace Corumbella. 
Nossa última interação foi sobre BBB. Esses escapes em tempos difíceis. Está sendo difícil.

Acho que ainda não caiu a ficha, Mandy.
Ontem, às 18h18, olhei para o relógio e pensei em você. Senti um alívio tão grande e imaginei: "vai ficar tudo bem". 3 minutos depois, soube da sua partida. Repentina, precoce, injusta. E o que me vem é um sentimento de tristeza e revolta. 
Mas sei que esse não é o caminho. Essa não pode ser a minha resposta.
Porque apesar de tudo, a gente tinha esperança. 

A nossa amiga Jô me ensinou muito. Criei o blog por causa dela, que me inspirava tanto, assim como você, que jamais desistiu de ser quem você nasceu pra ser. Uma escritora, uma ativista, uma inconformada, uma mãe de coração, uma amiga acolhedora e leal.  Quantas conquistas, quanto orgulho você trouxe. 
Eu prometo carregar você comigo de uma forma alegre, verdadeira e doce, Amandinha.

Você só merece coisas bonitas. 


segunda-feira, 26 de abril de 2021

10

Amar você foi uma das coisas mais fáceis que fiz na vida. O que não significa que foi sempre simples. 
O amor não é um destino. É um caminho. E é uma escolha continuar. 
Eu te escolheria mil vezes.
Quando olho pra você, penso que durante muito tempo era essa paz que eu queria. 
E como é bom viver para sentir um sonho sendo realizado todos os dias.

Obrigada por aguentar o meu excesso de bagagem.
Obrigada por não ter desistido. 
Obrigada por ser meu suporte emocional quando tudo  fica mais difícil.
Obrigada por me apoiar e por lutar comigo, mesmo quando não estou enfrentando gigantes, mas moinhos. 
Obrigada por ser tão generoso, querido, companheiro e amigo.
Não tem um dia que eu não agradeça por você ser a luz da minha vida. 
Que sorte a minha.

"Abre a janela agora
Deixa que o Sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem."

domingo, 25 de abril de 2021

Certas coisas não cabem mais na minha rotina. E é curioso perceber o quanto fui deixando para trás para seguir caminhando. Cidades, pessoas, pensamentos, hábitos e sentimentos.
A mudança nunca foi opção, e sim urgência.
É estranho me encarar no espelho do passado com o olhar que possuo hoje.
Tive que me arrebentar toda, perder e perder muito, experimentar a solidão e cair nos poços mais fundos. Chegar no escuro do escuro do escuro. Para encontrar dentro de mim a tal luz no fim do túnel.

Certas coisas não cabem mais na minha rotina.
Eu me transformei.
O pouco que restou, durou.
E me fez mais viva.

Tantas palavras caladas
Nesse universo de possibilidades adiadas

E a gente recorda
Porque recordar é passar de novo pelo coração
É quase uma luta
Não esquecer que esses dias cinzas
Embora persistentes
Não são a rotina
São apenas uma fase
Prolongada
Exaustiva
Mas temporária

Às vezes parece que a gente tá perdendo a razão
E que as coisas nunca mais serão as mesmas
(Que bom que não)
Eu penso no que há de persistir
Naquilo que será nossa verdadeira salvação
O bem vai resistir
E teremos essa vida plena
Pulsante
Em efervescência
À espera
Dos dias que virão


O céu naquela noite de outubro.
As estrelas. A areia. O vento.
O rio imenso. As luzes da cidade.
Era como ver o mar.
Ao colocar meus pés na água, estava à beira da eternidade.
Quantos momentos infinitos nós temos na vida?
Quantas vezes a gente sentiu que o tempo pareceu parar?

Nesse mundo de possibilidades adiadas, insisto em lembrar.
Porque é uma forma de me manter presente.
Acreditando que é apenas temporário.
Acreditando que outros pequenos "para sempre" estão prestes a chegar.

(Vai passar).


I'm lying on the moon
My dear, I'll be there soon
It's a quiet starry place
Time's we're swallowed up
In space, we're here a million miles away


sábado, 17 de abril de 2021

Take a time to look at the sky
The clouds up high
To wonder if the lights that shine so bright
Are flying saucers
Or stars

sexta-feira, 16 de abril de 2021

CARTA A UMA MENINA QUE QUERIA SER POETA

Quando quiseres fazer um poema
não procures imitar ninguém
nenhum autor
cujas obras tenhas conhecido
ou mesmo
qualquer cantiga popular
cujo autor desconheças.

Não.
Não faças isso.

Quando quiseres fazer um poema
a única coisa de que precisas
é sentir essa vontade e depois
- só depois -
decidires-te.

Um poema pode ter muitas formas:
pode ser feito com palavras
muito bonitas
ou muito engraçadas
muito bem escritas e alinhadas
numa linda folha de papel
mas também pode ser rabiscado
ou com figuras.

Pode ser a preto e branco
ou a cores
pode ser a tinta
a lápis
a esferográfica
a ponta de feltro
sobre papel
plástico
lousa
pedras
sei lá
até pode ser de areia
de pano
de folhas
pode ser só feito com a voz
falado
cantado
murmurado
dito
só dentro da cabeça da gente
ou então representado no palco
com gestos
caretas várias
aos saltos
cambalhotas
ou imovelmente.

Um poema pode ser tudo isso
pode ter essas formas todas
porque a poesia está
onde a soubermos encontrar
ou colocar.

A poesia é uma coisa que está
ou tem de estar
dentro de nós
e que nós
por isso
podemos projectar em tudo.

A poesia não é só uma arte
é um princípio
quer dizer
uma lei da nossa sensibilidade.
O que a poesia exige de nós
é só uma coisa:
liberdade
porque a liberdade
é a lei mais importante da criação
a lei mais importante da felicidade.

A poesia é um acto livre
tem de ser um acto livre.
Mas também é um jogo
um conjunto de regras
que a nós próprios impomos
para com elas praticarmos
um acto que nos torna felizes.

Todas as formas de arte
nascem dessa liberdade
dessa iniciativa
que nos leva a criar
coisas
casas
livros
palavras.

A poesia é para sermos felizes
e comunicarmos
essa felicidade.
Quando a poesia
trata de assuntos tristes
está a queixar-se
da falta de alegria
dos momentos infelizes do mundo
que não deixam criar
realidades belas
novas
generosas.

No entanto
quando um poeta cria
um poema
um objecto
uma coisa qualquer
nesse momento exacto
não pensa em nada disso:
vive simplesmente um impulso
a que ele se entrega
e depois entrega ao mundo.

Por isso
se tudo o que te apetece
é simplesmente
deitares-te no chão
e olhar o céu
podes crer
também isso é poesia
e basta.

(Ana Hatherly)

sábado, 20 de março de 2021

"The moment you admit you are hopeless, you become at that very moment, no longer helpless."
A bagunça no quarto
Os móveis empoeirados
A desordem nos armários
Há muito não me olho no espelho:
Não preciso.
O mundo ao meu redor
É o meu reflexo mais preciso.

terça-feira, 9 de março de 2021

Virgem Moura (Sergio Fróes)


O que se passa com ela?
Sinapses eletrizantes...
Medos, fugas, dores, amores
Lugares, memórias e fé no amanhã
Para uma filha de Astréia dói ver a humanidade desumana
Seu coração uma alcova morna, levemente perfumada, com fazendas macias e luz tênue
Sua mente um formigueiro, populoso, ativo, eficiente e anti inerte
Suas mãos instrumentos, curam, flanam, atingem, criam e acalentam
Sua fala trás ao mundo mortal os conselhos de seu retiro em Spica
Tanta virtude lançada numa jornada em meio aos caprichos de Pandora
Porém, as eperanças que ardem em ti cria centelha que incendeia além das fronteiras
Acolha teus receios um a um, constua com eles grande torre e atire-se do alto
Na queda te crescem asas!

Ganhei esse presente lindo do meu querido amigo e poeta do Sergio Fróes.
Os nossos sóis em Mercúrio
Sob o céu de outubro
A primavera marcando a nossa estreia
A colisão dos nossos mundos

Filosofia, cerveja, cigarros
Constelações de Gêmeos e Virgem
A regência dos astros
E o Universo das palavras

A faceta poética 
O viés histórico
As nossas incansáveis conversas
Existenciais ou banais
Sobre tudo

Nos bares, nas ruas, na vida
Na cidade que é sinônimo de boêmia
Nos abraços, na música, na poesia
Nas frases sem rodeio
Na busca pelo nosso próprio centro
De mãos dadas

Nesse nó que só nos prende
Porque nos deixa completamente à vontade

Não há distância que persista
Quando se faz do afeto estrada

(Somos filhos de Hermes
Nos pés temos asas)

De setembro a junho (Sergio Fróes)


Num primeiro dia, de uma mês dez de ano onze, abriu-se um portal para forte laço.
De um lado ela, com seu tato, formosura, mente viva e olhos brilhantes, sua sede de aventura e ânsia por cada momento.
De outro ele, desvendando o novo, agitado, eloquente, coração aberto ao público, um gregário por natureza, despreocupado com o tempo.
Ambos se encontram na despretensiosa noite de rock.
Entre bebidas baratas, fumaças, diálogos cheios de opiniões sem fim, rumo a tema que levavam a lugar algum... Atingindo em cheio, mutuamente, seus nobres corações.

Troca de contatos, a numerologia sagrada que serviu de âncora para "o depois".
A fraternidade é uma lei tão certa quanto a rotação da Terra!

Vagões de metrô animados por falas de confissões bethânicas.
Mesas de bares cheias de colarinhos, cinzeiros e gostos em comum.
Sarais de poesias onde o silêncio dizia as mais íntimas revelações.
Do Catete à Niterói.
Das estações subterrâneas até algum lugar com cheiro de mar.

E o tempo passou.
Ela rumou pro Norte, lá no meio da floresta úmida e quente.
Ele ficou entre as montanhas, o mar e as corporações capitalistas.

Nenhum distância serviu de fronteira.
Nenhuma lacuna verbal ou escrita foi obstáculo.

De setembro a junho.
Ela, agora, na clorofila.
Ele, agora, na filosofia.
Ela com as melhores memórias, críticas e gargalhadas.
Ele com as amnesias, sugestões e caricaturas.

Um laço sem cobranças, como bem é toda amizade.

Uma ode à amizade. 
Aos encontros insuspeitados.
Aos laços que persistem. 

segunda-feira, 8 de março de 2021

Sou todas as mulheres que atravessaram a minha jornada
Que me criaram
Que me levantaram
Que me mantiveram de pé
Que se uniram a mim, de mãos dadas
Com seus exemplos, sua arte, suas palavras
De Janis e Clarice
De Nina a Elisa Lucinda
De Dolores a Cássia
Sobretudo
Elizabete e Marias
das Dores e do Socorro
Os nomes já anunciam
O peso do gênero
A força do feminino

Sou suas mãos e pés descalços 
Cada passo trilhado
Os sorrisos e lágrimas
O suor e cansaço
O trabalho árduo
O pavor do fracasso
As dúvidas, os anseios, os medos
A luta diária, a rotina exaustiva, cada pequena conquista
A insistência em continuar sem saber o porquê
Por intuição
Por teimosia
Por ter batalhado o meu espaço 
Na força, no braço
Sem embrutecer
Sem medo de me perder
Sem medo de cair
Porque eu sei que elas estariam ali

Sou a minha mãe, minhas avós
Minhas primas, minhas tias
Minhas colegas, minhas vizinhas
Sou minhas amigas
As melhores mulheres do mundo
Eu trago comigo
Estão presentes em mim
A elas eu devo a minha vida
E é por causa de cada uma delas
Que eu ainda estou aqui

Eu estou aqui.








sábado, 6 de fevereiro de 2021

Eu achava que só conseguia escrever bem se estivesse sofrendo. Se a dor fosse tamanha que eu tivesse que recorrer às palavras para expurgá-la. 
Sempre consegui falar dos meus traumas e feridas, mas nunca de fato me permiti enfrentá-los. Eu tinha medo do que eu poderia sentir. Mas, como já escrevi, do sentimento não se esquiva. 

Tenho acordado cedo todos os dias. E busco aproveitar com deleite essas horas que eu desperdiçava. Rego as plantas, alimento meu cachorro, leio um livro, faço uma aula de italiano. Às vezes só paro e contemplo, como agora.

O céu de um azul tão limpo, o vento fresco brincando com os galhos das árvores e com meus cabelos. E o silêncio que inunda tudo em volta.

Tenho estado atenta aos pequenos milagres do cotidiano. Tenho estado alerta, aprendendo com a natureza o que realmente importa: há o tempo de germinar e de florescer. 

Há o tempo de calar.
Para maturar o que há por dentro.
Na hora certa, a gente desabrocha.



domingo, 31 de janeiro de 2021

Fazia tempo que eu não prestava atenção às letras das músicas.
Fazia tempo que não escutava Nico
E, primeiro, The Fairest of the Seasons
Fui me entregando. Como aos 15 anos. 
Sentindo cada palavra me atingir feito um raio
Aquela dor bonita que a gente transforma em poesia
Para se salvar
Nestes dias

"I've been out walking
I don't do too much talking these days
These days
These days I seem to think a lot
About the things that I forgot to do
And all the times I had
A chance to."



Li em algum lugar que hoje é o dia da saudade. E fiquei reflexiva sobre essa palavra que anda tão cheia de sentido nos últimos tempos. A gente se perde na rotina, mas ela está ali, intacta, desde sempre. Fico pensando quando vou poder encontrar as pessoas que eu amo e poder dar um abraço. Penso em todos os encontros adiados. Penso no tempo passando arrastado. E nos arrastando. 

Sinto falta das pequenas certezas cotidianas.
Sinto falta das possibilidades.





(30/01/2021)
Navegar é preciso
Nos mares infindos
Para além dos horizontes  
Que o olhar não alcança 

Comandante de si mesmo
Sem máscaras ou freios
Possuindo-se 
Permitindo-se ir além da superfície
Sem bússolas ou mapas
Num lampejo
Sem planejar 

Ser seu próprio veículo
Conduzindo o seu destino
Sem artifícios
Sem filtros
Sem porto final 

Para se saber de verdade
Apenas partindo num átimo
Viver não para ser o barqueiro
Mas o barco.

Sobre espontaneidade - ao som de La Vie en Rose, versão da Grace Jones.


É sobre, no meio do dia, se pegar dançando ao som de uma música que te vibra. 

É sobre estar sob o céu de Janeiro e contemplar o sol que acaba de sair após uma chuva infinda. 

É, como agora,  admirar a noite sem estrelas, ofuscadas pelas luzes da cidade, também bonitas.


Ser espontâneo é estar aberto para receber o que vem. É estar presente. 
Seja abraçando a alegria ou deixando a dor doer. 
Apesar de. 

Pois a vida em si é o porquê.

(13 de janeiro de 2021)

domingo, 17 de janeiro de 2021

Hoje fez um dia bonito. Domingo, sol, algumas nuvens. Ao contrário dos outros dias, o tempo permaneceu firme, apesar da chuva ocasional.

E eu sentei sob o céu.
E o vento flanava pelo meu rosto.
Coloquei meus pés descalços no chão.

Segurei o choro.

Choro que não contive desde ontem. Choro que me tomou pela madrugada e invadiu o amanhecer.

Deixar a dor doer. Deixar o sentimento acontecer.
Buscar aprender alguma coisa qualquer com tudo isso. E não me deixar tomar pela amargura. 

Não é esse o caminho que venho trilhando, apesar de alguns desvios. O sofrimento, a tragédia, o luto. Esse vazio inexplicável, esse buraco fundo.
Eu só posso preenchê-lo com esperança. 

Porque estar viva é uma honra.