sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Hey God

"Eu te proclamo grande, admirável,
Não porque fizeste o sol para presidir o dia
E as estrelas para presidirem a noite;
Não porque fizeste a terra e tudo que se contém nela,
Frutos do campo, flores, cinemas e locomotivas;
Não porque fizeste o mar e tudo que se contém nele,
Seus animais, suas plantas, seus submarinos, suas sereias:
Eu te proclamo grande e admirável eternamente
Porque te fazes minúsculo na eucaristia,
Tanto assim que qualquer um, mesmo frágil, te contém."

(Murilo Mendes)



Deus, isso não é uma oração. Eu nem sei elaborar alguma coisa, nem sei se ao me referir a você devo procurar um pronome de tratamento mais adequado ou se, ao mencioná-lo, deveria fazer uso das letras maiúsculas. De verdade,  eu nem precisaria escrever, acredito que você me ouve e, onde quer que esteja, repousa seus olhos e mantém seus braços abertos pra mim. Eu, que sempre preciso de braços e de corações escancarados.
Sempre fui avessa a convenções. Porque tudo, no fim das contas, é uma criação, um nome que a gente dá só pra separar o joio do trigo. Por isso, nunca acreditei na distância entre nós. Nunca acreditei que, para senti-lo, eu precisaria ir numa missa, culto, seja lá o que for. Porque eu te sinto aqui dentro.
Ah, Deus, eu tenho ouvido uma música que me faz pensar tanto em você. Será que você é um de nós? Será que se eu te encontrasse você responderia a alguns dos meus questionamentos? Sou pecadora por ser tão inconformada?
Eu não quero pensar. Não quero dizer nada. Não quero fazer nada. Só quero sentir.
E sentir tem me causado sérios danos. Desculpa, Deus, mas você escolheu a pior pessoa pra ser sensível. Sou extrema, você deve saber disso, afinal, me criou. Consigo ser tão indiferente quanto passional. E choro, me doo, lamento, fico horas pensando sobre o que vejo, ouço e sinto e tenho o (mal) costume de tentar colocar tudo em palavras. Li uma vez um trecho com o qual me identifiquei completamente, dizia mais ou menos que em sendo escritor, embora haja a prerrogativa da sensibilidade, passa-se a agir de forma mecânica, desaprende-se o jeito de sentir o tangível, de amar, de viver do jeito certo, vive-se através dos textos, como se fôssemos sempre espectadores e não personagens. Pois é, Deus, às vezes eu me sinto uma espectadora da minha vida. E quando a vejo passar pelos meus olhos, não sinto a menor vontade de bater palmas. Você diria que nada do que estou falando tem fundamento, porque, obviamente, tenho a chance de mudar essa dinâmica na hora em que me convier. Minha vida não está pré - determinada, não há roteiros previamente esboçados. Sim, que eu poderia largar minha faculdade e fazer o que eu amo, que eu poderia mandar todo mundo pro inferno e fazer o que eu quero, que eu não deveria me preocupar com nada além do que sinto. Que, que, que. Deus, acho até que você me aconselharia a ser um pouco mais egoísta, já que estamos falando da minha felicidade. Já que eu poderia ser ainda  mais feliz.


Por que, mesmo sabendo disso tudo, ainda resisto? Tenho com tanta clareza que a vida é só uma, que o único sentido e propósito de estarmos vivos é o aprendizado e a busca pela felicidade, mas, sabe-se lá porque e quando, acabei desistindo de mim. Tem coisa mais ridícula do que desistir de si mesmo?

Então, Deus, eu que nem rezar sei, queria pedir uma força para mudar. Mudar mesmo, dar uma guinada, essas coisas que a gente vê na televisão e se embasbaca, porque acredita que não acontece na realidade.
Mas, sabe, Deus, eu acredito. Prometo ser uma pessoa mais otimista e juro me esforçar no intento. Eu inventei toda a fé que tenho, mas, de verdade, acredito que o meu final ainda pode ser aplaudido.

Acredito, com um coração que ainda insiste em ter esperanças, que o final de tudo isso pode ser incrivelmente lindo.


Que assim seja. 

"What if God was one of us? Just a slob like one of us? Just a stranger on the bus trying to make his way home..."

Ensaio

Queria que as palavras que aqui exponho pudessem alcançar a sintonia dos meus pensamentos que não saem de maneira nenhuma de você. Que ritmassem com as batidas do meu coração quando te olho e você nem vê. Que tivessem a medida do nosso abraço, a profundidade dos nossos olhares, a doçura dos nossos beijos, o torpor dos nossos corpos que, juntos, se tornam um.

Queria escrever algo que fugisse do clichê, do lugar comum.

Queria escrever algo inédito sobre amor. Sobre o nosso amor. Lembro que tantos poetas, escritores, músicos, pintores, tanta gente já tentou descrever o que é o amor, como é a sensação de estar apaixonado, como é a dor única, dilacerante e torturante da perda de quem se ama.
Eu mesma, nesse exercício catártico, pensei ter chegado a muitas definições. Até que, surpreendentemente, conheci você, que mesmo me inspirando a escrever muito e sempre, ainda consegue, de forma ambígua e inédita, me deixar sem palavras.

Então não sei o que escrever sobre o amor. Mas eu sei o que é amor. Eu sinto o amor.  E por eu saber exatamente como ele é, não posso profaná-lo com palavras. Por mais belas e adequadas, por mais bem empregadas e alocadas, não fariam jus ao que eu sinto. O amor é quase um segredo. O nosso segredo. E, pra mim, ele é mais do que único e verdadeiro. Ele é sagrado.


Eu sempre tive um grande questionamento sobre felicidade. Sempre cultivei aquela ideia de que não existe felicidade de fato, mas sim momentos, efêmeros, de alegria. Sempre dissociei felicidade de constância. Sempre acreditei ser esse sentimento raro, talvez inexistente.

E me perguntava: se eu morresse agora, morreria feliz? E a resposta a este questionamento era sempre um decidido, firme, inquestionável e afirmativo não. Até que eu te encontrei. Agora, me contradizendo um pouco quanto à sua indefinição, digo que talvez eu possa expressar com palavras o que te amar significa. Se me perguntassem agora se eu morreria feliz, diria que sim, pois eu morreria te amando. Até o fim.

(E as coisas lindas são mais lindas quando você está, onde você está, hoje você está nas coisas tão mais lindas...)



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Amor livre

VIVA O AMOR LIVRE!

Quando eu falo livre quero dizer no sentido mais amplo possível: livre não só de preconceitos, mas de convenções, de comodismo, de amarras, de possessividade, de desrespeito, livre de tudo aquilo que estraga e destroi a beleza do amor. Porque o amor é lindo, minha gente. E é muito triste que poucos sejam capazes de enxergar além do que se vê.

Nós somos humanos. Aposto que a dor que eu sinto ao ser magoada por um cara doi tanto ou mais naquela mulher que foi abandonada pela parceira. Ou pelo cara que se apaixonou por outro e não é correspondido. O que pulsa em mim, o que corre em minhas veias, o que faz meu coração bater se assemelha muito e se distingue completamente de todos os outros. Porque ninguém ama igual e isso sequer importa. A questão é que todo mundo ama.

Então, um viva ao amor livre. Ao amor que não prende, que não sufoca, que não escraviza. Um brinde ao amor que acalenta. 

Um brinde ao amor que liberta.
(Porque escrever nem é questão de criatividade. É questão de sensibilidade.)








terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sobre covardia e afins

Porque eu ainda não aprendi a lidar com pessoas covardes, talvez por não entender ao certo como suas cabeças funcionam. Talvez porque não valha a pena e porque ultimatos são a representação fidedigna da covardia. Porque não há chances, nem direito de resposta, não sobra nada. E os nãos descem goela a baixo e o máximo que você pode fazer é seguir. Essa é, na verdade, a melhor coisa que você pode fazer.
E, de repente, tudo se esclarece, sabe? Como se você tivesse passado esse tempo todo vendado, sendo guiado por alguém, sem autonomia e sem vontade própria. Aí, sem querer, a venda cai. Num primeiro momento, você não compreende bem a situação, se ressente, fica triste, mas não tanto, e se acostuma porque o fato da venda ter caido é benção. Estar com os olhos tapados era a maldição.

Então, um obrigada a Deus, aos santos, aos anjos, aos cigarros, à cerveja, aos meus amigos e até a mim mesma por ter compreendido essa dinâmica e por resistir à covardia alheia.

Resisto, desisto e sigo porque a vida é linda e não sou uma pessoa descartável. Eu tenho direito ao grito. E tenho direito de rejeitar corações levianos e de me afastar de quem me esfaqueia.


"Então não o ama mais? - Amo. Só guardei isso num cofre. E tranquei. E esqueci a senha. Não porque quis. Foi preciso."
(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pensamentos aleatórios ou Casimiro de Abreu feelings



O que mais me encanta nas crianças é a facilidade com que elas acreditam. Em fadas, duendes, bruxas. Nos seus pais quando eles diziam que iam levar no parquinho, naquela menina, amiga da sua irmã, 12 anos mais velha, que disse, lá nos seus 8 anos, que iria te namorar quando você crescesse.

Você, agora tão cético, acreditava até em Papai Noel.

Aí, de repente, você cresce. E perde um pouco o jeito, porque acredita tanto nas outras pessoas, sempre com aquele antigo ditado na cabeça ( faça a sua parte sem esperar nada em troca), e, surpresa, você se decepciona. E não estou falando de uma, duas, três vezes não...São muitas. E, muitas das vezes, com as pessoas que você menos espera. 

A questão é que você continua fazendo a sua parte, ou tentando, ou perdoando, ou esquecendo, porque além de ter aprendido a acreditar em si mesmo e ser a melhor pessoa que pode ser, aprendeu, também, que uma hora quem vai pisar na bola vai ser você e, seres humanos que somos, precisamos todos daquela mão estendida ou do simples "já passou, tá tudo bem" para aliviar o coração.

O que eu quero dizer é que mesmo que a gente não espere nada em troca ( e quando eu digo nada em troca, normalmente pensa-se somente nas coisas boas), quero dizer que esse NADA inclui as coisas ruins também. Ou seja, não podemos ser tão otimistas em achar que alguém vai retribuir de forma positiva e nem ser tão pessimistas ao ponto de esperar sempre o pior. Confesso que me enquadrava nesse último grupo, mas a gente não muda de criança para adulto sem aprender algumas coisinhas importantes e que, no fim das contas, são realmente as coisas mais preciosas:

Você vai se magoar. Vão te decepcionar. Vão te abraçar e enfiar o punhal nas costas ( e girá-lo levemente dentro da ferida). Mas muitos simplesmente vão te abraçar, sabe? E, se a gente colocar na balança, acho que um abraço vale mais do que mil apunhaladas.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

What Ever Happened

"Oh that's an ending that I can't write, 'cause
I've got you to let me down."
(Julian Casablancas)


Não sei quantos cigarros terei que acender para apagar meus pensamentos. Porque a fumaça preenche o ambiente e eu fico lembrando de algo que li " ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias..." Corta. Não, nem tenho mais amigos para importunar com meus dramas e lamentos sobre tudo o que é incerto. De algum modo eles perceberam antes de mim que estou me tornando a pessoa mais perdida do universo. E não há nada pior do que lidar com algo/alguém que se perdeu. Engraçado, porque eu achava que isso era absolutamente certo. Calma, deixa eu dar uma olhada em que lua estamos. Primeiro quarto crescente. É, então o problema não é lunar. O problema é amar. Ou amar de verdade pela primeira vez na vida e não saber direito como lidar. Porque, sem querer, você começa a esperar muitas coisas, a exigir tantas outras, quando simplesmente bastaria viver, sem cobranças, sem necessidades. E li isso: " seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

E se as pessoas têm emoções e conseguem ser equilibradas, acho que exageraram na porção que me era de direito. Ah, eu clamo ser tão, uh, racional, pé no chão,o que não é completamente ilusão,  já que consigo ser pouco sensível e até fria quando eu quero ou quando a situação exige de mim tal comportamento. Colocou amor na história, ferrou tudo. Sabe aquele dramalhão mexicano, aquela coisa de maquiagem carregada, todas as cenas exageradas, muito choro, muito álcool, muito cigarro, muito, muito, muito...muito. Eu sinto demais. E as pequenas ausências, pequenas rejeições, como cantou Alanis,são reais demais pra mim. Somewhere along the way I think I gave you the power to make me feel the way I thought only my father could.

Aí a crítica virginiana se manifesta, porque né, eu começo a achar que a culpa (?) de tudo é minha. Porque eu sou paranoica, sou muito fechada, expresso tudo em palavras, estou irada e atendo o telefone dizendo que está tudo bem, que estou com saudades e estou ouvindo The Strokes, What Ever Happened?

O que aconteceu? O que está acontecendo? Pouco antes de você ligar eu estava dissipando a fumaça do cigarro com uma mão, a outra enxugando uma lágrima e cantando a plenos pulmões you don't miss me, I know, com uma tristeza digna de paráfrase daquela antológica cena  I think she's the saddest girl to ever hold a cigarette, em vez de um martini.


Drama queen life style. Um violino e uma faca de serra, por favor. E se você me perguntar se eu quero deixar isso tudo de lado, esquecer, vou dizer, com o risco de receber recomendações terapêuticas e, principalmente, psiquiátricas, que não, não quero. Eu amo o amor


O amor me deixa idiota. Eu, sendo idiota, divirto os outros. Um lado bom isso tinha que ter, afinal.


(Que eu não esteja enlouquecendo e que seja apenas um problema hormonal, amém).


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sem título (porque esse é o melhor título, afinal)

"My dreams are a cruel joke. They taunt me."
(Vanilla Sky)


É como se eu me perguntasse a cada instante "quem sou eu" e nunca encontrasse uma resposta certa. Eu sou uma piada de mau gosto. E eu nem sei ao certo quem sou. Ao abrir meus olhos, quando o sol insiste em romper as cortinas, me coagindo a levantar, me faço essa pergunta reiteradas vezes. À noite, por volta das seis horas da tarde, quando você não consegue precisar se ainda é dia ou noite, as cores se misturam, e você sente uma espécie de melancolia, que se agrava quando se trata de um dia de domingo, você encara o céu e tenta encontrar nas nuvens as respostas dos seus milhares de porquês. E, de algum modo, continuo esperando. Para que eu não sonhe, para que eu encontre essas respostas, se é que elas existem realmente. Porque talvez viver seja simplesmente esse conjunto de ações e sentimentos encadeados que culminam na única certeza que nos é dada desde o principio: a morte. E o momento de maior epifania que teríamos durante a vida, paradoxalmente falando, seria morrendo. Em escrevendo eu morro todos os dias. E ainda não   presenciei minha aleluia.

Não sei se perdi a melhor parte da história dedicando muito mais tempo e esforço expressando tudo em palavras. Às vezes me questiono se ainda tenho a capacidade de sentir. Meus olhos filtram situações que, por sua vez, são filtradas pelos meus pensamentos, se transformando, por fim,  em palavras, desperdiçadas, creio agora. Porque ninguém me lê. Eu não me leio. Eu não me compreendo. E depois de divagações absolutamente dispensáveis e irrelevantes, volto ao cerne de tudo: acho que perdi minha identidade no processo de me encontrar. Cá entre nós, essa coisa da busca por autoconhecimento é quase mítica. Uns percorrem o caminho de Santiago de Compostela a pé, outros exploram todos os estados alterados de consciência para reconhecer (ou desconhecer) as suas várias faces, muitos rezam, alguns leem livros de autoajuda. Tem gente que escreve para tentar se conhecer. Se há um mínimo de eficácia nisso tudo eu não sei. Mas tento, há exatos 8 anos. E, de alguma forma, sinto que a minha verdade está justamente nessas palavras mal-ditas. Porque, não me engano, escrever também é maldição. 

Então eu espero. Sentido, fé, reflexão.  Espero não mais encarar um estranho ao me olhar no espelho. Ou ter, ao menos, a capacidade de me conhecer o bastante para que eu possa, quem sabe, me autobiografar. E se isso não acontecer, continuarei a minha prece diária:

Que minha inspiração não cesse e que haja sempre criatividade. Porque assim eu posso me (re) inventar.




Ela sente muito e tudo o que é sentido fica armazenado lá no fundo do fundo do fundo. Ela só consegue esvaziar a sua alma torturada assim: regurgitando as palavras. Não, nem sempre é bonito. Muitas vezes não é. Às vezes é cru e seco. Quase sempre é doído.