terça-feira, 16 de abril de 2019


Já elenquei algumas vezes os motivos pelos quais eu me deixei arrebatar. Você me inspira. Você canta, enquanto eu gosto mais de dançar. Mas dançamos juntos quando Chuck Berry começa a tocar. E a gente se entrega na nossa versão de Vincent e Mia, entre olhares desconfiados e risadas. A gente tem esse ritual de assistir às séries juntos e ainda estou esperando a sua cota de lágrimas em This Is Us chegar. A gente bebe vinho no almoço e toma cerveja no jantar. E ficamos discutindo meia hora sobre o que pedir pra lanchar. Você só cozinha ouvindo música. O seu lado é o direito na cama, o lado perfeito, porque eu encosto o cabeça no teu peito. E ouço o seu coração pra me acalmar. Você quase sempre dorme primeiro, o meu sono demora a chegar.
Você é um príncipe, um cavalheiro, um amor desses que a gente não imagina acontecer na vida real. E pensar que te forço a assistir comédias românticas...só pra atestar que sou eu quem fica feliz pra sempre no final. 
Você é a minha escolha.
Minha poesia.
Minha paisagem mais bonita.
Eu que perdi um pouco o jeito tento escrever alguma coisa significativa só pra te dizer, no fim das linhas, que era amor antes de ser.
Você dá sentido à minha vida.
Poesia não é um bocado de palavras bonitas buscando rima. 
Poesia transcende, transmuta, vitaliza.
Poesia é lucidez.
Nenhuma frase de efeito me cabe
Não me encaixo em rótulos
Nem tento me definir

Não me enxergo pelo olhar dos outros
Sou quem sou
Só eu sei de mim

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Reativei temporariamente a rede social com o intuito de localizar um texto antigo que, na minha memória já empoeirada, ainda faria algum sentido. E fez. De um jeito insuspeitado.
Me dei conta de muito. De quase tudo. 
A essência permanece a mesma, mas abandonei pelo caminho algumas máscaras. 
Hoje entendo muitos dos subtextos escondidos no arranjo meticuloso das palavras. Algo como tentar arduamente ser inteiro mostrando só a metade. Poesia, assim como a vida, não se limita a belas rimas. É preciso ir além. Tocar ou não tocar.
Desaprendi muito nesses últimos anos. E estou desaprendendo um tanto, transformando sempre que possível o costume do olhar. Esqueço para lembrar. Por muito tempo eu olhei, mas não era capaz de (me) enxergar. Falava tanto sobre mergulhar em abismos e encarar os vazios, mas nunca de fato me permiti estar nesse lugar. E há quase 2 anos venho travando essa batalha de me manter sã e equilibrada em meio ao maremoto, sem saber ao certo nadar.O fato é que eu não nasci para desistir. Se extraí algo do medo, foi a coragem de, ainda que sem jeito, bater os braços e continuar. Essa ressaca não me traga: eu me recuso a naufragar.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Dona Maria

Revendo algumas fotos, me deparei com a sua. Aquele cabelo bem curto e macio, as mãos sempre pintadas com um esmalte clarinho, uma blusa azul e um sorriso. Que iluminava tudo em volta. 
De imediato meus olhos encheram d'água.
Eu me entrego à rotina, mas sabe, dona Maria, te carrego aqui dentro para melhor atravessar os dias.
Difícil encontrar palavras para discorrer sobre a morte e o luto, sobre o vazio dessa perda que me inunda.
Tamanha falta transborda tristeza, mas se perpetua nessa melancolia que, embora cinza, é quase sempre bonita.
A senhora foi embora.
E deixou essa saudade que faz casa no meu peito.
Te eternizo, dona Maria. Nas palavras, na paisagem, na fotografia.
Para ressignificar a minha história e encarar, com a sua delicadeza, a rispidez da rotina.
Obrigada pela doçura, pela leveza e por ter demonstrado, com maestria, o que é ter (e ser) coragem. 
Te eternizo, dona Maria. 
Porque só o amor é capaz de tornar a vida infinita.