Sentada, à espreita, observo a tarde se despedir de mais um domingo abafado, vejo as cores do horizonte anoitecerem lá no alto.
Sempre me perguntam se sou daqui, e ante à negativa (meu sotaque denuncia), questionam se já consegui me adaptar. Respondo, como um mantra: estou tentando. Há quanto tempo? Todos os dias, há quase 5 anos.
Não há como explicar o não-pertencimento. Me sinto uma estrangeira, perdida pelas ruas, alheia às conversas, no calor insuportável que habita cada esquina. Há muito. E esse excesso de tudo só me faz(ia) sentir cada vez mais vazia.
Acabei me apegando ao céu. Ao azul tão limpo que chega a doer na vista. Passei a colecionar pores de sol, a admirar, como numa cena inédita, cada entardecer, a observar as nuvens carregadas de chuva em meio aos dias mais cinzas.
Apesar da estranheza, sinto gratidão. Abarco o que é belo nas coisas mais simples, guardo com carinho as sutilezas. Aprendo, diariamente, a ser mais tolerante com tanta diferença. Não é fácil, às vezes me sinto desesperadamente sozinha. Então tento transformar o meu espaço. Batalho, no braço, para não me deter. E insisto nessa busca por leveza e poesia.
Porque eu estou debaixo desse mesmo céu.
Azul ou cinza, ele me força a olhar para cima.
Sorrio.
E me sinto acolhida.