terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Sobre ausências e vazios (ou "a falta que a falta faz")

Percebi, com certa preocupação, que a falta é tema da maioria dos textos que escrevi. Me dei conta de que um bocado de poemas e frases que li, dizia muito mais do que eu supunha sobre mim.
"A maior riqueza do homem é a sua incompletude". (Manoel de Barros)
"Tem mais presença em mim o que me falta." (Manoel de Barros)
Somos vastos de ausências.
Vivemos incessantemente em busca de algo que nos preencha, que arranque a solidão que nos acompanha desde que nascemos, que nos salve do escuro e confuso de sermos nós mesmos.
Condicionamos tudo. Repetimos "ses" e "quandos" à exaustão porque carregamos, desolados, algumas sombras do passado, e esperamos, ansiosos, pela iluminação precisa de um dia no futuro. Queremos ser preenchidos e continuamos repletos de vazios.
Somos poço sem fundo.

Creio que o segredo para lidar com o peito abarrotado de anseios não está no mundo lá fora. No ontem que já passou ou na incerteza do amanhã que, inclusive, acabou de ir embora.
Está em voltar o olhar para dentro.
O maior desafio é estar, de corpo e alma, entregue ao aqui e agora.

Caio Fernando escreveu: "existe sempre alguma coisa ausente".
Não há outro jeito que não abraçar, com gratidão e respeito, cada momento. 
Não é à toa que tudo o que temos nas mãos se chama presente.

(Devemos isso à pessoa com quem convivemos. Que encaramos, dia a dia, no espelho.
Podemos sim nos sentir incompletos
Pois somos inteiros.)