quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Quanto às perguntas
E buscas desesperadas por sentido
A cada dia fico mais íntima de mim
Sou meu próprio caminho.
"Acho que invento a felicidade para compor as coisas e não para haver preocupações desnecessárias. E inventar algo bom é melhor do que aceitarmos como definitiva uma realidade qualquer. A felicidade também é estarmos preocupados só com aquilo que é importante. O importante é desenvolvermos coisas boas, das de pensar, sentir ou fazer. As pessoas são tão diferentes. Aprecio muito que o sejam. Fico a pensar se me acharão diferente. Adoraria que o achassem. Ser tudo igual é característica do azulejo na parede e, mesmo assim, há quem misture."
(Valter Hugo Mãe in O Paraíso São Os Outros)

domingo, 25 de fevereiro de 2018

“A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho.”
(Guimarães Rosa in Grande Sertão: Veredas)

sábado, 24 de fevereiro de 2018

"O amor precisa de ser uma solução, não um problema. Toda a gente me diz: o amor é um problema. Tudo bem. Posso dizer de outro modo: o amor é um problema mas a pessoa amada precisa de ser uma solução. As pessoas que amam estão sempre com ar de urgência porque têm saudades quando não estão acompanhadas e sentem uma euforia bonita quando estão juntas. Eu acho que as pessoas apaixonadas sentem saudade mesmo quando estão juntas porque ficam sempre a olhar umas para as outras pasmadas como se fosse a primeira vez."
(Valter Hugo Mãe in O Paraíso são os Outros)

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O aqui é meu momento 
Conjugo o agora no meu tempo
E repito:
Ele é mais que perfeito.
Eu me perdoo por todas as vezes que responsabilizei terceiros por algo ruim que me aconteceu.
Eu me perdoo por ter desperdiçado o meu tempo no julgamento alheio e esqueci de ser meu próprio centro.
Eu me perdoo por ter me submetido tantas e tantas vezes ao domínio do Ego, esquecendo o que é de fato essencial aqui dentro.
Eu me perdoo por ter agido à sombra do amor e em função do medo.

*
Eu sinto muito.
Eu me amo.
Eu me perdoo.
Eu sou grata.
Sou inacabada
Diariamente me desconstruo e reaprendo
Caio, ralo os joelhos, desabo em lágrimas
Me edifico e desmorono
O processo não é fácil, muito pelo contrário.
Levo muitos socos no estômago
Muitos tapas na cara
Me desespero, quase enlouqueço
Mas é em meio ao aparente caos
Que me dou a mão
E me fortaleço.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Naquele momento
Em que me aceitei sem julgamentos
Fiz de mim mesma
Meu próprio lar

Quando olhei para dentro
E abracei cada erro e acerto
Me senti 
Genuinamente
Em paz

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Sobre ausências e vazios (ou "a falta que a falta faz")

Percebi, com certa preocupação, que a falta é tema da maioria dos textos que escrevi. Me dei conta de que um bocado de poemas e frases que li, dizia muito mais do que eu supunha sobre mim.
"A maior riqueza do homem é a sua incompletude". (Manoel de Barros)
"Tem mais presença em mim o que me falta." (Manoel de Barros)
Somos vastos de ausências.
Vivemos incessantemente em busca de algo que nos preencha, que arranque a solidão que nos acompanha desde que nascemos, que nos salve do escuro e confuso de sermos nós mesmos.
Condicionamos tudo. Repetimos "ses" e "quandos" à exaustão porque carregamos, desolados, algumas sombras do passado, e esperamos, ansiosos, pela iluminação precisa de um dia no futuro. Queremos ser preenchidos e continuamos repletos de vazios.
Somos poço sem fundo.

Creio que o segredo para lidar com o peito abarrotado de anseios não está no mundo lá fora. No ontem que já passou ou na incerteza do amanhã que, inclusive, acabou de ir embora.
Está em voltar o olhar para dentro.
O maior desafio é estar, de corpo e alma, entregue ao aqui e agora.

Caio Fernando escreveu: "existe sempre alguma coisa ausente".
Não há outro jeito que não abraçar, com gratidão e respeito, cada momento. 
Não é à toa que tudo o que temos nas mãos se chama presente.

(Devemos isso à pessoa com quem convivemos. Que encaramos, dia a dia, no espelho.
Podemos sim nos sentir incompletos
Pois somos inteiros.)

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Sentada, à espreita, observo a tarde se despedir de mais um domingo abafado, vejo as cores do horizonte anoitecerem lá no alto.
Sempre me perguntam se sou daqui, e ante à negativa (meu sotaque denuncia), questionam se já consegui me adaptar. Respondo, como um mantra: estou tentando. Há quanto tempo? Todos os dias, há quase 5 anos.

Não há como explicar o não-pertencimento. Me sinto uma estrangeira, perdida pelas ruas, alheia às conversas, no calor insuportável que habita cada esquina. Há muito. E esse excesso de tudo só me faz(ia) sentir cada vez mais vazia.
Acabei me apegando ao céu. Ao azul tão limpo que chega a doer na vista. Passei a colecionar pores de sol, a admirar, como numa cena inédita, cada entardecer, a observar as nuvens carregadas de chuva em meio aos dias mais cinzas.
Apesar da estranheza, sinto gratidão. Abarco o que é belo nas coisas mais simples, guardo com carinho as sutilezas. Aprendo, diariamente, a ser mais tolerante com tanta diferença. Não é fácil, às vezes me sinto desesperadamente sozinha. Então tento transformar o meu espaço. Batalho, no braço, para não me deter. E insisto nessa busca por leveza e poesia.
Porque eu estou debaixo desse mesmo céu.
Azul ou cinza, ele me força a olhar para cima. 
Sorrio.
E me sinto acolhida.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

As palavras me atingiram em cheio
Nada de sangue, apenas lágrimas 
Dei vazão ao choro, era o que eu podia fazer, 
O vazio invadiu meu peito
a dor cumpriu com maestria o seu papel: doer

Mesmo com um bocado de frustrações na mala
Não me habituo à mentira, à falsidade, à hipocrisia deslavada
Não sei lidar com mau caratismo
Sou despreparada

Minhas mãos trêmulas tentavam controlar as batidas taquicárdicas
Frágil, Caio Fernando diria,
Desesperada
Seus pés perdem a capacidade de tocar o chão
E o mundo, naquele microssegundo, demora a girar
Tudo o que você sente é o corpo em frangalhos, os estilhaços espalhados do seu coração

Mais uma decepção para a conta
Bem vinda à coleção

A ferida ainda lateja
As perguntas martelam incessantemente na cabeça
Mas posso mudar a minha perspectiva sobre essa história
Não há que se falar em esquecimento: 
me orgulho muito da minha memória
Escolho abandonar os ressentimentos
Entrego tudo nas mãos do tempo
Para não transformar a mágoa em marca
Escrevo, reescrevo e amasso a página
Porque eu sei que mais uma vez:
Isso também vai passar.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

"Meus queridos: imaginem um mundo de coisas limpas e bonitas, onde a gente não seja obrigado a fugir, fingir ou mentir, onde a gente não tenha medo nem se sinta confuso (não haverá a palavra nem a coisa confusão, porque tudo será nítido e claro), onde as pessoas não se machuquem umas às outras, onde o que a gente é apareça nos olhos, na expressão do rosto, em todos os movimentos."
(Caio F. in Carta a Vera e Henrique Antoun)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Eu lembro de encarar as minhas botas, como Alanis cantou.
Pés em cima das malas
Memórias que cabiam em três caixas
(Deixei algumas para trás
Outras o tempo apagou)

Sou de todo lugar
Abandono quem fui no caminho
Me despeço do que não cabe em mim
Mutável, diz a astrologia
Me reinvento:
estou sempre de partida.