sexta-feira, 26 de maio de 2017

Ser leve é bem mais difícil que parece, e ainda assim insisto. A cada segundo me policio, não vacilo, é muito fácil se entregar a pensamentos negativos e destrutivos. Tudo ao meu redor parece conspirar. E mentalmente travo uma batalha: que sentimento vai ganhar?
Tudo se resume a uma palavra: perdoar. Carrego uma bagagem pesada de rancor e mágoa, coleciono pessoas das quais sinto raiva, e confesso que pra mim é um trabalho árduo deixar para trás. À tristeza sou apegada. Isso transparece através da languidez do meu olhar.
Talvez eu precise me transportar para uma época em que eu vibrava outra energia. E que em meio ao caos, conseguia me manter em paz, com um sorriso nos lábios, em perfeita sintonia. Talvez em Búzios. Talvez ouvindo Jack Johnson. Talvez caminhando bem cedo. Talvez encontrando meus amigos. Talvez seja tudo. Ou nada disso.
Talvez seja mais uma desculpa por estar envelhecendo e ainda não ter feito as pazes comigo.
Talvez seja apenas mais um pedido desesperado por luz e equilíbrio.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Gratidão ao Universo. Pela energia canalizada, pelas emoções equilibradas, pelas vibrações capazes de curar.
Gratidão ao Universo. Pela força que me permite continuar, pela insistência, quando seria muito mais cômodo estagnar. 
Gratidão ao Universo. Pelas pessoas que me cercam. Por todos que entraram na minha vida, inclusive os que saíram e especialmente os que permaneceram.
Gratidão ao Universo. Pelas palavras. Escrevo mesmo é para dar leveza à minha alma.
Gratidão ao Universo. Pelos pensamentos de clareza que diariamente me despertam.
Gratidão ao Universo. Por aprender a respeitar minhas angústias e a acolher os meus silêncios.
Gratidão ao Universo. Por, pouco a pouco, conseguir me libertar das armadilhas do ego.
Gratidão ao Universo. Por me tornar a cada dia alguém mais repleta de amor e menos refém do medo.
Gratidão ao Universo.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Tudo muda. Sentimentos, pensamentos, atitudes. O tempo é implacável. Cria, transforma e desfaz. Sem que se possa perceber, muito menos controlar. De repente, aquilo que parecia tão certo e seguro, não é mais.
Têm sido dias de mudanças tantas que os meus pés tão acostumados com o percurso, alcançaram um novo rumo e estão reaprendendo a caminhar. O novo assusta. Tenho deixado muito de mim para trás.  Mas em meio a tudo isso, tento extrair o aprendizado e crescimento necessários para seguir firme e em paz. O Universo tira e dá.
Aceito o que recebo e agradeço o que virá.
Em perfeita sintonia comigo eu quero estar.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

A vida é mesmo como um teatro.
Cada um traz dentro de si bastidores e palco.
Mostramos apenas o que nos convém.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Acho que tá tudo meio escuro por dentro. Não sei bem o que pensar. Ou como verbalizar. Tenho ímpetos de sair correndo sem rumo e simplesmente gritar.
I'm kinda trapped in my own mind.
Esqueci de olhar os trânsitos diários. Há dias tento arrumar meus armários. Preciso de espaço. Insônia, taquicardia, sono sem descanso acompanhado por pesadelos. Uma vontade de abraçar esse vazio imenso.
E daí eu penso.
Repenso.
E acolho esse barulho intenso que mora nos meus silêncios.
"Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga. Algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação, esse contentar-se com quase nada. " (Caio F. in Cartas)

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. 
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

terça-feira, 9 de maio de 2017

A minha poesia não precisa alcançar nada.
Só precisa existir.
Já me basta.
Ah, eu lembro. E dá uma vontade danada de voltar no tempo e agradecer uma, duas, mil vezes pelas pessoas que me permitiram aprender e vivenciar tanto em tantos momentos.
Talvez eles não saibam, mas eu sei. A escola em que estudei ministrava aula de MPB. Fomentava o amor pela música e pela literatura, pela política, pela cultura. Era lúdico. Era (e ainda é) lindo de se ver. A cumplicidade entre aluno e professor.  O professor, a turma em uníssono e o seu violão. O conhecimento sendo transmitido assim, de forma tão poética e sincera, tão permanente. Como esquecer?
Talvez eu não me recorde das fórmulas de física, dos cálculos matemáticos, dos conceitos de biologia. Mas carrego comigo até hoje os valores da tolerância, do pensamento crítico, do respeito. De jurar solenemente não ler revistas Capricho rs. Lembro de poder expressar tudo o que eu sentia naquele meu caderno amarelo de redação. Lembro do meu primeiro contato com Clarice Lispector, Lya Luft, Guimarães Rosa, e seu Grande Sertão. Eu aprendi a ler de verdade ali. E pude me encontrar.
O que eu aprendi transcende qualquer aprovação no vestibular. Lá, pela primeira vez na minha trajetória, me senti ouvida. Me senti parte da construção de uma história. Sinto um carinho gigantesco, guardo cada conselho, cada lágrima compartilhada, as músicas do Belchior e do Oswaldo Montenegro, pelos quais sou apaixonada. Foi ali que surgiu meu encantamento por tudo que faz meu coração vibrar. Tudo aquilo que me dá leveza para atravessar a vida e coragem para enfrentar cada adversidade. Foi ali que eu entendi a importância de se fazer e ser poesia.
Foi ali que eu percebi quem eu queria ser de verdade.
Obrigada por terem me mostrado, sem mencionar uma só uma palavra, o que é liberdade.
Serei sempre grata.



Para Rose e Fred.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Às vezes sou tomada por uma urgência de não calar. Mas ainda não estou pronta pra dar voz ao que sinto e temo, tudo aquilo que mora em mim e ao qual me atenho, sem verbalizar.
Me agarro a lembranças e pensamentos, tentando em vão compreender o que se passa por dentro. E aí escrevo. E me perco ainda mais por não saber o caminho certo.
Queria poder gritar. Ressoar aos quatro cantos que sim, EU existo, estou viva, mesmo aos trancos, mesmo quando não me valho das palavras para expor meus desatinos, minha falta de jeito, meus desenganos.
Estou viva sim, com uma lucidez que chega a machucar de tão real. Sou humana e sigo errando. Caio, quebro. Conto até três. Aos pedaços me levanto. Pelo meu excesso de bagagem não extraviada eu respiro fundo. Aos poucos eu desapego. Aos poucos vou me recompondo.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Transformar a dor numa coisa bonita é um dom de quem nasceu para fazer (e ser) poesia.
Muito foi falado e eu sequer lembro. Acho que quis apagar a escuridão daquele momento. Esquecer também é uma maneira de cura. A ferida, pouco visível, continua. Dói fora. Mais ainda dentro. Ela lateja e machuca.
Me sinto desolada, angustiada, desesperada para apressar o tempo, ansiando pelo dia em que vou olhar para trás e tudo vai estar distante, tudo será uma mera lembrança sem resquícios de sofrimento. Anseio pelo dia em que estarei plena novamente e que eu reaprenda o verdadeiro sentido de estar em paz.
Sento debaixo do sol na tentativa de ser e ter esperança.
Prometi a mim mesma, não me doo mais.