segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quando você me deixou

Para Danielle, tão íntima dos abismos quanto eu.


Quando você me deixou. E eu sequer preciso terminar a frase ou elucubrar sobre o assunto. Não há porque continuar a sentença, quando eu mesma simplesmente continuei na vida. Foi ali, exatamente ali, você me deixando, além do amargo na boca e um soco no estômago: você me deu também uma carta de alforria. 
Quando você me deixou. Eu poderia falar sobre a frieza que persistiu no lugar de tudo aquilo que eu sentia, poderia falar sobre a raiva, poderia falar sobre melancolia. Mas não. Tudo de ruim acabou pra mim naquele dia. 
Quando você me deixou. Vê, eu aprendi a usar a primeira pessoa do singular. Eu. Somente eu sei das noites que atravessei construindo barreiras em torno de mim, das insones madrugadas, da tentativa de resgatar alguma coisa bela da ruína para perceber que no fim da linha, não se engane, não sobra nada.
Quando você me deixou. A solidão, andando comigo de mãos dadas, me deu a chance de contemplar os dias, quando uma distorção de você era tudo o que eu via . O escuro da noite me bastaria, mas quando você me deixou, ele serviu apenas de inspiração para poesia.
Quando você me deixou. Eu não preciso de ninguém.
Quando você me deixou. Eu também amanhecia.
Quando você me deixou. 

Amém. 




A - gosto


E aí eu concordo com Caio Fernando quando ele fala que agosto é difícil. E que há métodos de atravessá-lo de forma que o prejuízo seja o menor possível. De forma que a passagem por ele seja menos dolorosa. Talvez você que me lê agora não entenda o porquê das sombras que permeiam o oitavo mês do ano. Caio, sol em virgem como eu, sabia. No fim das contas, repito o que um amigo disse, cético quanto às lendas do inferno astral: "Não, não é agosto. É a vida". O jeito é continuar. 
Setembro chega.
E isso tudo vai passar.


Em 09/08/12.

Even if the road seems really hard to pass by, it always leads to this:
Us

The charming man and the girl with the thorn at her side
Endless love till the end of time

Although storms insist on falling
May sunny days wash it all away
Our bond is strong, our love is true


(it’s just “I love you” I’m trying to say)

domingo, 19 de agosto de 2012

Sobre o que eu não sei dizer


Poderia começar abusando dos clichês: é mais uma daquelas fases, é temporário, vai passar, porque sempre passa. Digo apenas que é preciso. 
Há tempos tenho sentido um descompasso por dentro. Sentimentos contraditórios, pensamentos desconexos e uma sensação de vazio até então inédita. Passei a me acostumar com o fato de talvez estar perdida. Ou ser, não sei. Peço desculpa se pareço dispersa. Essa é a minha vida. 
As palavras fugiam de mim. Quando o encontro, aleatório, acontecia, era porque eu estava de alguma  forma alterada: álcool e cigarro, duas vãs companhias. Eu preciso da distância e da solidão. Preciso desse afastamento do mundo para poder me reencontrar. Perdi minha identidade enquanto tentava modificar a minha vida, e em tentando dar algum passo descobri que o caminho talvez não fosse aquele que eu queria. Pensar por si mesmo demanda coragem, força e auto estima, odeio admitir que passei a enxergar em mim a covardia alheia. Passei a fugir o olhar ao me encarar no espelho. "Quem estou tentando enganar?, era o pensamento que sempre me ocorria. Porque nada estava bem. Porque ir embora era tão mais doloroso que ficar, por isso eu resistia. E de tudo o que aconteceu, um sentimento persistente de inadequação restou, juntamente com as palavras. Muitas delas não - ditas, sufocadas, entrelinhas. Tudo o que eu sentia, mas não sabia dizer. Covardia.

O que eu quero dizer aos poucos está sendo dito. Uma crise desequilibra, traz incertezas, põe nossos pés no chão. Uma crise também nos impulsiona a mudar. Que seja assim, então. 

Dia após dia.


"Make a time to find your way"

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


Há quem diga que o meu trajeto é tortuoso e errado
Porque caminho, aos tropeços, em qualquer direção.
Qualquer passo é válido quando não se quer ficar parado.
Mal sabem eles que adoro a contramão.

Tentativa


Menos um cigarro na boca, menos fumaça embaçando a visão. Dissipo com as mãos o que há de turvo e nebuloso na minha vida, me desprendendo de armadilhas, aprendendo a dizer não. 

Não à insegurança, não à tristeza, não à amargura, não à hipocrisia.
Não à mentira , não à ilusão, não à monotonia.
Não a tudo aquilo que estagna. Não ao medo que paralisa.

Que permaneçam vivas a coragem, a vontade, a mudança, a liberdade. 
Que as palavras andem sempre de mãos dadas comigo, rendendo um romance chamado poesia. 

Pelas novas chances, então: um brinde à tentativa.





A vida é muito frágil. Efêmera. A falsa impressão de que temos tempo de sobra nos ilude diariamente, fazendo com que adiemos projetos, vontades, ideias, sentimentos. É muito triste que esse pensamento apenas nos ocorra quando da perda repentina de pessoas próximas, queridas e jovens, nos enchendo de incertezas quanto ao futuro.
A verdade é que o amanhã não existe. O que importa é o presente. O agora é tudo.

Que a ausência de quem estimamos nos dê a real dimensão de quem somos e do que podemos fazer para alcançar a felicidade. 

"Engraçado as pessoas usarem o termo vida como oposto de morte. O oposto da morte é o nascimento. A vida não tem oposto."

(Em memória de Thabata Saliba e Iwna Mello, que se foram cedo demais. À Jordana Sahib, inspiração de vida e alegria, que há 4 anos deixou um vazio que nada nem ninguém preenche. À vida de cada uma delas que ainda resiste dentro de nós.)

Em 11/08/12