segunda-feira, 25 de junho de 2012

Veneno

Para a minha metade mais interessante, Mariana.


Diametralmente opostas
Docemente crueis
Inocentemente irônicas
Numa constante inversão de papeis


Incrivelmente parecidas
Para elas não há soro nem antídoto
Destilam seu veneno com maestria
O nome delas poderia ser PERIGO


Virgem e escorpião
Um poço de sensibilidade e contradição
Inspiram rimas em poesias
E versos em alguma canção


Elas se conformam em ser
Tanto razão quanto melancolia
Mas o seu maior orgulho e prazer
É desvendar todas as suas mentiras.

domingo, 17 de junho de 2012

Há algum tempo descobri que coisas inesperadas acontecem se a gente estiver disposto e aberto. Mas às vezes o acontecimento não é mais o bastante, porque esse inesperado não faz mais o coração bater, não coloca um sorriso no nosso rosto, sequer surpreende.  Por vezes, só assusta. Porque já passou tempo demais, porque a surpresa está na sua reação, não no evento inesperado em si. De tanto me acostumar com finais, não consigo crer em recomeços. Talvez isso soe um pouco triste e amargo, mas tentar não é do meu feitio, não quando já se passaram as fases da decepção e da mágoa. A fase dos vazios. Não quando o que sobrou do nó no peito foi uma vaga indiferença, que poderia facilmente ser substituída por nada. Porque de tudo o que aconteceu foi isso que restou.
Então, dispenso qualquer palavra. Para mim tudo isso já passou. Convivi muito bem com ausências durante um longo tempo e já preenchi o espaço que sobrou. Não quero mudar o roteiro. Há tempos esse foi o final da cena: acabou. E se acabou foi porque não valeu a pena.


Para vocês que dividiram histórias comigo. E para quem dispensou uma amizade e achou que uma mensagem bem escrita resolveria alguma coisa. É isso.




Foi então que eu aprendi a abrir espaços e cavar abismos. Retirei as armaduras, joguei fora as asas e mergulhei em mim. Há silêncios por dentro e eles me bastam. Eles são tudo. Tudo o que eu preciso ouvir.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A minha melhor poesia


Vou escrever a minha melhor poesia
Pôr no papel alguma palavra de beleza ímpar
Algo que me motiva, alguma coisa que inspira
Quero usar todas as figuras:
metáforas, sinestesia
Quero esgotar todas as melodias,
As minhas melhores rimas
Talvez um soneto, talvez um cântico
Quem sabe um haicai, mas que tenha encanto
Vou escrever sobre o que dá sentido ao meu querer
Assim latente, assim urgente em ter
Vou escrever a minha melhor poesia
Começa mais ou menos assim:
você


(e não tem fim)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A menina da janela (ou uma autobiografia)


Ela tem um jeito único de encarar tudo em volta para capturar a essência das coisas. Ela olha todo mundo nos olhos para saber com quem está lidando, para saber onde a verdade repousa. Ela acorda de madrugada para passar para o papel seus pensamentos, pois uma ideia depois de perdida quase nunca é alcançada. Escrever é o seu alento.  Escrever é a sua morada. Às vezes ela se agita porque o sentimento é mutável, nunca para, e o jeito dela de lidar com essa efervescência de emoções só se dá através das palavras. Escrever a ampara. 

Ela tem um jeito tímido de sorrir, sua postura é quase sempre séria. Ela não gosta de outdoors, tenta ao máximo ser discreta. Poucas pessoas tem o privilégio da sua descompostura. Se você quer saber onde ela realmente perde o juízo, te digo, é na literatura. Ela é transparente ao máximo com quem pode ser, mas sabe mentir como ninguém quando encara gente mesquinha. Ela gosta mesmo é de abraços apertados, de beijos demorados, de mãos dadas com carinho, de um bom vinho acompanhado com poesia. Ela gosta da simplicidade nas coisas mais verdadeiras. Na cerveja com os amigos, nas conversas inusitadas, no feng shui e nos incensos que trazem bons fluidos, no estudo dos signos, no amor pelos livros.  Ela é observadora como ninguém, então não ouse enganá-la, talvez você não saiba, mas ela vai saber. E vai sair da sua vida discretamente, sem você perceber. E embora tenha sido tarde, o tempo não terá corrido em vão: ela aprendeu muito bem a esquecer, ela sabe lidar com nãos.  Ela se sensibiliza com o belo, sempre rejeita quem tem vazios a mente e coração, embora cheios de preconceito e intolerância.  Ela admira o que é singelo. À imbecilidade ela tem repugnância.
Ela tem a pior crítica do zodíaco. Ela se atem aos detalhes, ao modo de se comportar, à maneira de se expressar. Ela é virginiana. Em tentando acertar, muitas vezes acaba errando, afinal, ela é humana. Mas se age de maneira estúpida, muitas das vezes é pelo seu prazer, afinal, todo mundo tem um lado b.
Ela gosta mesmo de jeans e camiseta, quando acorda não penteia os cabelos e  vezenquando fala um palavrão. Venera o silêncio, ama tulipas e adora o som que emana do violão. Ela poderia até ser considerada romântica, mas é cética demais para tal denominação. Na sua aparente fragilidade e candura, existem sentimentos em turbilhão. Em meio à  suposta ordem, sim, existe  uma grande confusão. Dizem que ela é uma musa, uma poetisa, uma pequena afrodite, uma flor de lótus, um floco de neve, uma bruxa e até uma fada.
De fato, ela é tudo isso e mais; ela é uma apaixonada.


(A menina da janela é Carla, carioca, 21 anos, é bacharelanda em Direito pela Universidade Federal Fluminense nas horas vagas, mas vive a poesia no dia-a-dia. É fã do Renato Russo e as borboletas tem um significado especial, o que explica as duas tatuagens recém-adquiridas. A literatura é, simplesmente, a motriz da sua vida.)

quinta-feira, 7 de junho de 2012


Eu acredito em beijos lascivos
Em mãos que tateiam urgentes
Em abraços fortes que abrigam
Em sorrisos escancarando dentes

Eu acredito em versos rabiscados no papel
Em fotos perdidas na última gaveta
Eu acredito em conversas no bar
Naquelas histórias regadas a cerveja

Eu acredito em quem me olha nos olhos
Em quem dança despreocupado com compasso
Acredito em quem não teme o ridículo
Acredito em quem transforma nós em laços

Acredito em  espíritos, em Deus, em zen-budismo
Em terapia, em macumba, em astrologia
Em sonhos, no amor e qualquer espécie de misticismo
Acredito até nisso que chamam alegria

Eu acredito em tudo o que me faz sentir
Naquilo que é considerado feitiçaria
Em tudo que traz cor e sentido 
Em tudo que encanta a vida

E se eu acredito na minha salvação
E que a minha alma será liberta um dia
É porque a cada batida do meu coração
Eu respiro e vivo poesia.