domingo, 29 de abril de 2018

Poesia nutre
Poesia é alimento 
que não se mastiga

Poesia é comida de ler
De sentir
Poesia é feita pra tocar
E inspira

Poesia a gente engole
Porque precisa

Poesia preenche
Poesia sacia

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Dos inúmeros aprendizados que tive, o mais importante é que conduzimos os nossos caminhos em função do amor ou do medo. 
Tudo se resume a esses dois sentimentos.
Às vezes o medo me paralisa, mas lembro que tenho um amor na vida.
Que não estou sozinha.
Ele me dá coragem.

(Que sorte a minha)

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Aquele texto guardado na última gaveta

Tudo era vago e o mundo, vazio.
Desacreditada, me recusava a abrir os olhos: insistia em me manter apática. Deitada na cama, ansiava pelo sono. Enfrentar o dia era um martírio.
Eu me rendia às lágrimas.
No chuveiro, na empresa, na praça, nas barcas, no banheiro.
Quando ouvia uma música, qualquer música, que até então sequer te lembrava.
Quando eu passei pelas ruas, árvores e bares que testemunharam o nosso amor daquele jeito tão para sempre e que terminou de repente, sem hora marcada.
O seu cheiro que me tomava sem licença, o som da sua voz quando eu te ligava, a felicidade estampada nas nossas fotografias. Nem de longe antecipavam o que nos aconteceria.
Cada trago, cada gole de bebida. Cada sono em que eu ansiava por ao menos um bom sonho em razão do pesadelo que eu vivia.
O que falar sobre a falta?
A falta é aquele buraco no peito impossível de ser preenchido. A cada dia sem te ter, ele só aumentava.
Perdi minha identidade, não me reconhecia
Eu era uma versão destruída de mim mesma, vagando sozinha.
Eu me sentia vazia.
O amor que você plantou em mim desabrochou. Você arrancou, sem o menor pudor, aquela flor tão linda.
E eu, que estava sem você,
Me perdi de mim mesma.

Eu também não me tinha.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Danilo

"Não quero nunca me perder de você, nem preciso dizer isso porque você sabe que um Virgem e um Touro não se perdem mesmo — é astralmente impossível. Portanto, mesmo que você cometa a vileza de me deixar sem resposta, num outro de repente a gente se encontra numa esquina, numa praia, num outro planeta, no meio duma festa ou duma fossa, no meio dum encontro a gente se encontra, tenho certeza." (Caio F.)


E a gente se encontrou, contrariando as possibilidades e superando todas as expectativas. Nem sei ao certo quando esse encantamento começou, mas ele resistiu. Porque quando estamos juntos, me sinto mais completa. É como se eu tivesse mesmo encontrado aquela parte que faltava, a peça que se encaixa, a palavra que falta quando tudo em volta cala. Temos tantas histórias para contar, tantas músicas para cantar, nosso amor tem gosto de cerveja, tem risada escancarada, som de Raul Seixas, pedido de casamento, tem abraço apertado e mãos dadas. 
A gente se encontrou apesar dos desencontros. A gente se apaixonou pelo outro do jeito mais sincero, honesto e puro. A gente tem tanta semelhança que é quase impossível não dizer que os nossos destinos estavam traçados. É impossível não dizer que é amor. É amor. De um jeito insuspeitado, sem cobranças e sem amarras. Porque a amizade é o amor livre.

Eu te desejo toda a felicidade do Universo e que só caiba alegria no seu peito. Que todos os seus desejos sejam atendidos e que os seus dias sejam mais que perfeitos.
E que a gente nunca, nunca mesmo, se perca um do outro.
Te amo!

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a 
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. 
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito 
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 14 de abril de 2018

"Normality is a paved road: it's comfortable to walk, but no flowers grow on it".
(Vincent Van Gogh)

quinta-feira, 5 de abril de 2018

5 de abril

Há 7 anos eu finalizava o último dia de capacitação para o meu primeiro estágio na área de Direito, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Havia sido designada para trabalhar na Vara de Execuções Penais. Lembro que era cerca de 17h da tarde e achei conveniente aproveitar que já estava nas dependências do fórum para conhecer o local onde eu iria realizar minhas atividades. Fui até lá, conversei com um dos diretores de um determinado setor, e ele pediu para que eu aguardasse num outro departamento, para me apresentar àquele que seria meu supervisor. Chegando lá, fui atendida pela secretária, que me pediu para esperar um pouco pois o diretor estava em almoço. 'Almoço?', pensei. 'Mas são quase 18h da tarde...'
Eis que algum tempo depois ele aparece. Terno, gravata mostarda, cheiro de charuto, mascando chiclete. De uma seriedade absurda. Apertou minha mão e, dado o horário avançado, pediu para que eu iniciasse as atividades no dia seguinte, ocasião em que passaria os detalhes do trabalho.

*
Hoje, dia 05 de abril, ele está dormindo ao meu lado.