sábado, 21 de outubro de 2017

Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa contra a mola que resiste
Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera

(Secos e Molhados in Primavera nos Dentes)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O dia foi estressante, frustrante, cansativo. Muito parecido com um daqueles dias aí no Rio.
Coloquei essa música como forma de manifesto. Minha resposta a tudo o que me rodeia. Tudo o que detesto. 
Aí acendi um cigarro e enchi uma taça de vinho. Me aqueço por dentro quando o calor da cidade não me traz nada além de frio.

Escrevo mais é para matar a saudade quando é só vontade tudo o que sinto.

"Daqui de dentro
O sol é pouco, eu berro
Pinturas velhas
Não renovam mais meu ar
Vem me acalma
Traz os discos, fica
O que eu preciso é me esquecer"
"Me lembro bem da carta que eu lhe escrevi, sobre deixar os outros em paz. Realmente o tom geral devia estar pessimista. O pessimismo passou, mas o bom propósito não: farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz..." 

(Clarice Lispector in Minhas Queridas)

sábado, 14 de outubro de 2017

Learn to chase (and choose) love instead of hate
Be free to pursuit happiness in spite of all the sadness they crave

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Meninos São José

Toda criança me arrebata,
toda criança, por me olhar,
me arregaça as mangas do amor
e dele, desse amor,
morro de emoção.
Há nisso mais do que o fato
de criança ser igual flor,
mais do que criança ser da vida
a metáfora das coisas
e seu verdadeiro valor.
Vejo José pousando sobre a casa
as asas dele mudam o episódio lar.
Abraço o José em todo riso
e mesmo quando não o tenho no
colo todo o tempo...
evento de criança soprando a casa!
Eu fico com as pernas bambas
quando quem me aponta é uma criança.
José é Júlia, também Carolina, também Pedro, também Clara,
também Olívia, também Antônio, também Valentina, também Lina,
também João,também Luíza, também Nicolau, também Juliano,
Guilherme, Diogo, Jonas, Mayara, Vinícius, Leon, Natassia,
José é todas as galáxias de meninos,
porque são só verdades,
belas verdades,
límpidas eternidades,
futuros mundos.
Belas!
Tenho vontade de defendê-las
das injustiças dos ditos maiores,
dos esticados que,
aprisionados,
querem aprisionar.
Por todo o sempre e agora,
toda criança quando chora,
respondo- que foi?
Quem não te tratou direito?
(Toda criança quando chora
acho que me diz respeito.)
Quero as palavras delas,
a nitidez sublime das conversas
delirantes e sábias,
quero os descobrimentos que trazem
em sua transparência natural!
José voa na casa e eu pulso
no ventre como uma grávida perene, meu Deus,
(todo filho do mundo
é um pouco filho meu!)
Como me amolece o coração
barulho som de grito de infância
no colégio de manhã!
Como é, para o meu frio, lã
uma mãozinha pequenina
dizendo pra mim dos caminhos...,
elazinha dentro da minha,
como o dia carregando a noite e seu luar,
e aquela vozinha sem gastar,
me pedindo com carinho e desamparo:
me leva lá?
Não mimem crianças ao invés de amá-las,
para não adoecê-las
para não encouraçá-las!
Não oprimam crianças na minha frente,
vou interferir, vocês vão se danar,
vou escancarar!
Não usem criança na minha presença,
tomarei o partido delas,
não terão minha parcimônia,
não vou compactuar!
Não cunhem nelas a tirania,
eu vou denunciar!
Sou maternal de universo,
mil crianças caminham comigo!
Sou árvore cuja semente
se chama umbigo.
Ai... toda criança
quando grita mamãe,
respondo: que foi?
(Acho que é comigo!)

(Elisa Lucinda)
Não foi por você sempre encontrar uma forma de manter contato.
Nem a desculpa de me proteger da chuva naquele dia nublado.
Não foi o primeiro beijo roubado, ansioso, taquicárdico. 
Nem o cheiro do charuto impregnado no meu olfato.

Não foi o sinal no canto da boca agora escondido pelo seu cavanhaque.
Nem a gravata mostarda até hoje guardada na gaveta em nosso quarto.
Não é por eu quase sempre morrer de frio e você me aquecer com o seu abraço.
Não é por você tocar violão baixinho e eu gostar tanto da sua voz, sempre pedindo pra você cantar mais alto.

Não é o fato de você ter falado eu te amo primeiro naquela manhã do dia 23.
Nem é o sorriso arrebatador e desconcertante que você tem.

Foi porque antes mesmo da chuva, do beijo, da gravata, do cheiro, eu sabia que era você. 
(E minha resposta desde sempre foi 'eu também')
Eu tinha 8 anos. E minha mãe tinha o costume de fazer coletâneas em fitas k7. 
Aleatoriamente, ouvi uma música que começava assim "Parece cocaína mas é só tristeza..." Foi aí então que tive meu primeiro contato com a poesia do Renato Russo. Depois de algum tempo, minha mãe me contou que durante a gravidez ela ouvia muito os discos da Legião Urbana, porque um amigo dela, o tio Beto, era muito fã da banda. Cá estou, 27 anos depois, com uma tatuagem na nuca e mais fã do que nunca. Fiz grandes amizades trocando ideias sobre os discos. Aprendi meus primeiros palavrões ouvindo Faroeste Caboclo. Escutava Quando Você Voltar e Os Barcos para atravessar as desilusões. Fiquei muito politizada graças a Perfeição. E se hoje estou aqui, é porque resisti ao som de Metal Contra as Nuvens
A Legião Urbana moldou muito do meu caráter.

Hoje faz 21 anos que o Renato Russo morreu. Não há um 11 de outubro em que eu não me recorde de todo o seu talento. Os valores de tolerância, afeto, respeito, indignação e esperança eu adquiri ouvindo suas músicas. Guardo a Legião Urbana num lugar sagrado.
Obrigada por ser trilha e inspiração de tantas vidas. Esse talvez seja o seu maior legado.

Urbana Legio Omnia Vincit
Força Sempre

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Não falaram sobre o sol que insistiu em romper as nuvens em pleno domingo mesmo quando parecia que ia cair um temporal.
Não noticiaram as roupas dançando com o vento enquanto as estendia no varal.
Não sentiram a brisa leve invadindo a noite, enquanto eu olhava pro céu do meu quintal.
Não lembraram que na maior parte do tempo há mais bondade e beleza no mundo comparado ao que há de mal.
Não, as singelezas da vida quase nunca são bem vindas na capa do jornal.