O que você talvez não saiba, porque nem eu nem ninguém havia te contado, é que tem gente que se dói o tempo inteiro. E você só conseguiu compreender isso depois de ler A Hora da Estrela e chorar copiosa e silenciosamente na sala de aula, em meados de 2007. Por puro reconhecimento. Pode ser da vida endurecer a gente, nos tornando mais frios e rígidos com o passar do tempo. Mas quem nasceu com a sensibilidade exacerbada pode até ser contido, mas hora ou outra desaba. Tudo afeta, tudo toca.Tudo é profundamente sentido. As palavras ditas num tom mais agressivo, as entrelinhas que quase ninguém lê, a não ser você, a ironia, a raiva, a melancolia. Você se enxerga naquilo, tudo foi de alguma forma vivido. Não há como evitar. Faz parte da sua essência, é impossível dissociar. Como Renato Russo disse, o mundo é muito doloroso para quem sente demais.
Há necessidade de solidão, dos silêncios e até da ausência. E quando falo de "ausências", me refiro às fugas de si mesmo - seja através da música, das drogas, do álcool, da escrita. Porque por alguns instantes é possível perder o controle e de uma forma totalmente torta não sentir. A inadequação e o não - pertencimento se esvaem por alguns momentos.
A realidade é dura. A gente acaba criando inúmeros artifícios para enfeitar a dor. A beleza talvez seja encará-la, sem disfarces, sem fuga. Sentir talvez seja o veneno em si. E sua própria cura.