A poesia me veste melhor que qualquer roupa.
Não há nudez quando há palavras.
domingo, 13 de abril de 2014
sábado, 12 de abril de 2014
Quando você foi embora restaram vazios o quarto, a sala, o meu peito tão cheio de nós e exausto de mim mesma por tentar reescrever a nossa história. Cabia a mim recomeçar. Meu coração doía discretamente; chorava (se chorava) algumas lágrimas contidas, as poucas que sobraram depois de tanta (m)água rolar. Não havia mais desespero, embora cada dia fosse tão pesado quanto a própria despedida. Senti a inadequação de estar num lugar que, embora repleto de móveis e livros e arranjos e cores, possuia ainda muitos espaços vazios. Os espaços: esses sim me incomodavam. Eu não tinha mais do que desviar. Dos seus sapatos esquecidos no meio do corredor. Ou da sua caneca no canto direito ali no chão, perto do sofá. Caso eu tropeçasse por descuido, não haveria mais cacos para limpar. Os cabides sem suas roupas, o armário sem os discos, o colchão que tem o contorno do seu corpo, sinais recentes de que você estava aqui há tão pouco. Não está mais. Compartilho meus dias com o silêncio. Quase não ouço a minha voz, mas devaneio em meus pensamentos. Tento lidar com a sua ausência definitiva, já que a falta que você fazia sempre foi minha companhia. Com você eu estava acompanhada, mas sozinha. Você foi embora; cá estou com as lembranças e a solidão, além de um entendimento que só foi possível agora. Às perguntas, só uma resposta: numa vida tão irregular e transitória apenas as perdas são definitivas. Em meio a tantas mentiras, sou grata por não ter me poupado da maior verdade. Por ter compreendido antes de mim que não dá pra sobreviver com migalhas, não podemos esperar uma relação completa se oferecemos apenas a metade. Aos pedaços, junto os meus próprios cacos. E com os nossos retalhos eu bordo uma imensa saudade.
Pra todos os corações partidos que transformam tristeza em arte: obrigada por inspirar beleza.
sexta-feira, 11 de abril de 2014
O que aprendi com Sarah Kane
“I am an emotional plagiarist, stealing other people's pain, subsuming it into my own until I can't remember whose it is any more.” (Sarah Kane)
Além da literatura, passei a buscar inspiração em outras fontes. A mais recorrente vem sendo o cinema, pelo qual sou completamente apaixonada. Deparei-me com um curta chamado Reflections of a Skyline, cujas críticas eram excelentes, e não vi outra alternativa a não ser assisti-lo. Vi incontáveis vezes, me emocionei em todas elas e, curiosa que sou, procurei saber quem tinha elaborado um roteiro tão poético e sensível. Descobri que o curta é, na verdade, uma adaptação da peça teatral Crave, de Sarah Kane. A história dessa mulher é completamente triste, ela reproduzia nos seus escritos todo o seu desespero, angústia e, sobretudo, seu amor dilacerante. A escritora cometeu suicídio em 1999, aos 28 anos, tendo sido internada algumas vezes em clínicas psiquiátricas com o diagnóstico de depressão.
Passei a não exigir tanto de mim. Alguma vezes escrevi aqui no blog sobre a dificuldade de transformar tudo o que sinto em palavras . Não se trata de mero bloqueio criativo ou a ausência de algo que me inspire, pelo contrário: as palavras não conseguem alcançar o que sinto no momento.
Aprendi a respeitar o meu tempo, a traduzir o que vejo e sinto em reflexões e pensamentos. Estou amadurecendo os meus textos, embora eu viva a poesia no meu cotidiano. Estou crescendo como pessoa também. Os silêncios, sobre os quais já discorri, são eloquentes. Respeito -os em demasia. E sinto. Essa aparente reclusão é, na verdade, aprimoramento. O caos também gera coisas incríveis. E o resultado final certamente será belo.
quinta-feira, 3 de abril de 2014
Poderia dizer algo assim como "lembrei de você", mas sequer é verdade. Para lembrar é preciso esquecer e isso jamais me ocorreu. A verdade é que penso, mil, um milhão de vezes, seja lá qual for a medida exata do pensamento. E te sinto. Na mesma vibração e sequência das batidas dentro do meu peito. Na exata extensão das minhas veias no trajeto que leva sangue ao coração. O sentimento dispensa a matemática da medida. A lógica da razão. Só há sentido se é profundamente sentido. Não cabe em mim o amor que sinto. O amor que dedico não possui dimensão.
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