domingo, 10 de abril de 2011

Chegadas e Partidas

I- A Chegada

"Por favor, não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda..."
(Zélia Duncan)

Eu só quero o seu abraço. Prometo que não peço mais nada além disso. Não coloca os sapatos, por favor, não fecha a porta me deixando trancada aqui dentro. Do quarto, no escuro, presa dentro de mim. Não quero ficar só. Não quero ficar sem calor, sem abraço, sem você por perto. Talvez seja pedir demais, mas fica aqui comigo, sem intenções, sem conversas, sem assunto. Talvez a gente tenha muito pouco pra falar agora, mas dispenso as palavras. Nem me importo se você pegar no sono primeiro, nem se você dormir com a roupa que chegou. Não me importa nada a não ser que você fique. Fecha os olhos, finge que eu não estou aqui. Finge que é um sonho. Que seja um sonho. Que a gente faça do real algo onírico. Que seja o mais distante  possível. Podemos fazer isso nos sonhos não é? Então me abraça e sonha comigo. 


II- A Partida

" Amar é ter um pássaro pousado no dedo
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar"
(Rubem Alves)

Que eu me doo por inteiro toda vez que lembro da sua partida. Foi a última vez que eu te vi. Não foi uma decisão minha, mas eu tinha que ser menos covarde e, bem lá no fundo, eu sabia que você iria. Sabia não. Eu sentia. A gente sente quando as coisas não vão bem. Sei lá porque a gente resiste, achando que é herói, que vai conseguir salvar o que resta no final. Mas no nosso final você foi embora. E eu entendo, de verdade, eu entendo. Sem ultimatos, sem sacrifício, sem arrependimentos. Mas essa imagem é muito recorrente. Refaço aquela cena  mil vezes. É meu jeito de me conformar, por isso imagino como seria se. Se eu tivesse corrido atrás do trem, se eu tivesse te puxado pelo braço, se eu tivesse olhado pra trás. A gente sempre espera essas ações cinematográficas, quem sabe uma possível reconciliação, Casablanca. Você abandona as malas e a passagem pra decidir passar a vida comigo. Eu sei o peso da realidade.

Eu nem olhei pra trás...Será que você olhou? Será que você pensou em mim pelo menos por um segundo? Será que relembrou dos nossos momentos? Será que você chorou?

Nunca vou saber, isso eu sei.

Só sei que a falta que você me faz é constante. Como uma cicatriz, a gente estranha no começo, mas depois se acostuma. Estou acostumado a sentir falta. Porque há um vazio aqui que jamais será preenchido. E eu sei o quanto dura esse jamais. Tento seguir a minha vida, fazendo as coisas que eu mais gosto, mas tudo, tudo mesmo me leva a você. Tenho ficado bem na maioria das vezes. Mas  dia desses recebi uma conta sua aqui em casa e desabei. Você não está mais aqui.

Eu só queria que você soubesse.
Sinto falta de tudo o que você pode imaginar. Sinto falta da sua voz no telefone, do seu cheiro, dos seus olhos. Sinto falta de  como os domingos eram infinitamente belos se você estava. Sinto falta de você dançando na cozinha. Sinto falta dos jornais que você tirava da ordem.  E li no jornal um trecho de Trevisan: "Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham". Ironia ou não, sinto falta das suas violetas.

Sinto falta de você. Sinto falta do pedaço de mim que você levou embora. Sinto falta dos nossos laços. Sinto falta de nós.

 

" E o meu coração embora/ Finja fazer mil viagens/ Fica batendo, parado, naquela estação..."
(Adriana Calcanhotto)




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