domingo, 30 de janeiro de 2011

Intimidade

É com uma das mãos, de leve, afastar o cabelo dos olhos, deixando-a deslizar suavemente pela pele, pelo rosto.
É beijar com os olhos bem fechados, e quando o beijo para, olhar nos olhos com um grande sorriso.
É dormir no abraço do outro, aconchegando-se no peito, encostando a cabeça no pescoço.

É sentir o gosto dele na boca quando ele não está.
É diferenciar o seu cheiro de qualquer outro.

É brigar feio numa noite e ficar de um lado para o outro na cama, sem dormir, por não conseguir imaginar a vida sem ele.
É ceder de vez em quando porque fazer as pazes depois de uma briga é uma das melhores sensações já vividas.
É adivinhar o que ele pensa. É olhar nos olhos dele e sentir que você realmente tem muita sorte.
É conviver pacientemente com os seus defeitos. É admirar mais do que qualquer um suas virtudes.
É morrer de ciúmes quando ele fala de alguém só pra te irritar. É saber que ele sabe como isso realmente te irrita e que o faz só para provocar.

É saber que o tempo corre quando se está junto.
É sentir saudade quando ele se ausenta por dois segundos.
É fechar os olhos e não ver nada além dele: o homem mais lindo desse mundo.

Intimidade é, em estando juntos, ambos se tornarem um.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Clarice


"Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes..."
(Renato Russo)


Você já mediu a profundidade de um corte? Isso não me interessa, baby. O que me importa é  ver o sangue pouco a pouco jorrar e manchar a minha pele branca. Contraste, entende?
Doce sinfonia dos gemidos abafados pelo travesseiro.  Cabelos ensopados de suor, de lágrimas e de incertezas. Essa máscara me caiu muito bem. E, por genuína vaidade, paro para me olhar no espelho, encarando a minha pior metade. E as gotas rubras escorrem pelos meus dedos, pego um papel e começo , com orgulho, a escrever minha carta-testamento.

Estou muito cansada. A dor chega me dissecando de todas as formas e eu não posso mais comigo.  Parece que o fardo pesa demais nessas horas e eu não encontro abrigo. A solidão me acompanha com essa lâmina e isso nunca foi o bastante. Tantas vezes eu apenas chorei, abraçando meus joelhos, com vergonha de mim mesma por não ser tão forte assim. Mas penso no que chamam força e vejo tantas incoerências. O mundo é absurdo e exige de nós uma força hercúlea pra lidar com a vida. Eu não quero socorro. Eu quero a liberdade de estar na minha própria pele com conforto. Da maneira que as coisas tomaram seu curso, passei a odiar cada parte do meu corpo e da minha alma, se existe alguma. Eu só queria viver, baby.  E acho que viver foi sendo subestimado. Viver é fácil para  os entorpecidos pelo poder, seja ele qual for. Eis o preço que paguei para ser quem eu sou. Temos algemas mentais. Aqueles que tentam rompê-las sofrem demais. Sofri muito acreditando na beleza da vida. Até tudo virar cor e pó. Cinza. A felicidade é um olhar diferente para cada ser humano. E ser humano às vezes é ser infeliz. É ser magoado, é ser humilhado, é ser traído e não-considerado. Às vezes ser humano é só ser. E isso, baby, não tem graça alguma.
Em não sendo, vou tentar me adequar, onde haja a permissão para que eu seja fraca e sensível. E que a dor desapareça. Que eu enlouqueça, porque de coisas normais eu já estou cheia.
A propósito, mudei de identidade. Meu nome agora é Clarice. E à outra que morava em mim digo: desapareça.



 Clarice só tem 14 anos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Elegia


Desvarios perpassam esta mente inquieta
Maré revolta quando surge a tempestade
Ora espero a bonança tão tardia
Ora devaneio sobre a infeliz realidade

De sentimentos pretéritos  jaz apenas o vazio
Ínfimo companheiro das noites de solidão
A repousar em meio leito agora frio
Disseco a fria carne do que chamam ilusão

Chores sob o mármore, desfila teu aparente luto
Neste chão não há estrelas, quiçá beleza
Sob os olhos do luar, não te emudeças
Que se transforme em lágrimas tua falsa tristeza

Abençoados os amantes que não tiveram desenganos
Cultivo flores , escrevo um epitáfio, restauro o altar
Para ti, Amor, que me causaste tamanho dano
E, com tanta frieza, foste capaz de me matar.


2011


Que a infinitude dos grãos de areia  esteja sempre  disposta a deixar marcados nossos passos.
Que a onda do mar seja forte o bastante para nos impulsionar e singela o bastante para não nos tragar.
Que nem o sol, nem a chuva nos castigue. Que não haja secas, nem enchentes. Que o sol nos ilumine sempre e que a chuva possa nos molhar.
Que a paz possa ser cativada em todos os lugares. Que não tenhamos medo de andar pelas ruas. Que haja segurança sempre.
Que as guerras cessem. Chega de bombas, armas, mortes. Nunca gostei da palavra bélico. Que seja substituída por tudo o que há de mais belo.
Que haja encantamento pela natureza, pelos animais, pelas flores, pelos mares.
Que a arte permeie e embeleze a vida de cada ser humano.
Que se extingam todos os preconceitos e que compreendamos o quão importante é a tolerância.
Que nos interessemos mais pela caminhada do nosso país através da política. Que haja consciência e boa-vontade.
Que saibamos que três simples coisas nos bastam para uma vida menos difícil de ser vivida: força, fé e coragem. O medo é uma grande fraqueza, nos deixa estáticos. O medo paralisa. Então, que haja movimento.
Que sejamos mais simples e não nos percamos nos labirintos da inveja, do consumismo ou da ganância.
Que saibamos perdoar e pedir perdão. Que o rancor e as mágoas sejam descartados imediatamente. Não quero que uma briga qualquer no passado se transforme em tumor quando eu estiver na terceira idade.
Que o amor, quando bater à nossa porta, seja de imediato reconhecido. Que dure. Que seja real. Que seja incrível.
Se o amor, se era amor, decidir sair, que saibamos deixar as portas abertas. Que o sofrimento não dure mais que o necessário. Que a ferida seja rapidamente cicatrizada.
Que haja equilíbrio.
Que façamos algum exercício frequentemente tanto para o corpo quanto para a mente. Corrida e palavra-cruzada são de extrema valia.
Que cantemos quanto tivermos vontade, dancemos quando a música parar. Que sejamos autênticos. Não há nada mais patético do que tentar viver uma vida que não é sua.

Essa é a sua vida. Que ela seja como você quiser. Que seja boa, que seja tranqüila. Que seja doce.


Que assim seja.

Feliz 2011.