Não foi amor à primeira vista. Precisei de mais tempo, como tudo na minha vida. Maturei o meu olhar, passei a arriscar alguns passos além das quatros paredes que encerravam meu quarto. Tudo para ver o sol se pôr. Colecionava esses registros diariamente, aos poucos fui me sentindo integrada à cidade que eu quase desconhecia (e rejeitava), porque apenas a enxergava sob uma perspectiva.
Eu me permiti mudar a ótica e construir novas memórias.
O legado: muitas lembranças e histórias.
E aqui, num outro país, a gente tende a fazer comparações, a enxergar muitas diferenças, mas hoje não quero me ater a elas.
Porque eu sinto falta de pupunha, de beber cerveja no Largo, de andar pelo centro, dos bares, dos flutuantes, de decidir, num rompante, ir para Presidente Figueiredo.
Sinto saudade da varanda de casa, dos meus amigos, das noites sem fim, das manhãs de chuva, dos domingos de sol, de morrer de medo de entrar num barquinho, mas correr o risco só pelo privilégio de estar à beira da paisagem, contemplando a imensidão do rio.
Sou carioca, meu sotaque me denuncia onde quer que eu vá.
Eu, que durante muito tempo quis ir embora, consigo enxergar toda a beleza daquele lugar.
Coisas que a gente só percebe quando se sente pertencente.
Coisas que só a saudade aprimora.
Porque fiz de Manaus o meu lar.