Ela sempre deixava uma garrafa de chá em cima da mesa. Eu tomo chá desde pequena por causa dela. Capim limão, canela, boldo, erva cidreira.
Depois de quase 10 anos sem vê-la, apareci de surpresa, e ela quase parecia não acreditar. Tentava falar, os olhos marejados; eu, emocionada, só repetia: vovó, eu tô aqui! Eu tô aqui! E ria, ria...Estendia a mão para a bênção enquanto ela dizia: 'Deus te faça feliz, minha filha!'
Sentada ao seu lado, olhávamos juntas alguns álbuns, cada lembrança capturada, cada momento registrado... mas a fotografia em que ela estava com vovô ao lado...Não sei expressar... ela não se continha. Não era simplesmente saudade. Era algo tão concreto, tão palpável, que eu quase conseguia tocar.
Como essa perda dolorida que sinto agora. Que eu mal consigo suportar.
Algo em seu olhar me dizia que a nossa despedida seria definitiva, mas eu não queria acreditar.
Filosofia nenhuma nos prepara. A dor é sempre inédita. E desola, paralisa, me arrebata. Não quero me acostumar com a ausência, com o vazio, com a falta.
Sou grata, vovó. Pelo laço que nos une, pelo privilégio de vivenciar tantos momentos ao seu lado. Ensaio um sorriso em meio às lágrimas, porque a senhora está presente.
Quando me pego fazendo um bordado, quando olho para a minha mãe, quando tomo o meu chá.
Nas palavras, nas fotografias, nas lembranças mais bonitas.
Te eternizo, minha velhinha.
Só o amor é capaz de tornar a vida infinita.