segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

2020

Todo dia é inédito. É uma página vazia num livro em aberto.
Somos protagonistas do nosso enredo. 
Desejo que possamos desempenhar com maestria o nosso papel, aquele que vem de dentro.
Sem plateia, sem aplausos, sem roteiro.
Viver é dar o melhor do nosso jeito.
Que sejamos íntegros e inteiros.
Que saibamos rir dos nossos erros e não nos vangloriar demais dos nossos acertos.
Que acolhamos os silêncios, os vazios, os abismos.
Que possamos nos olhar no espelho sem medo.
Com amor, cuidado e respeito.
Que sejamos sempre o nosso centro.

Que venha 2020.


Às vezes é preciso silêncio. Não apenas o de ouvir. Mas o de calar.

O silêncio que mantém a mente quieta.
O silêncio que inspira.
O silêncio que regenera.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

O tom geral do ano foi de pessimismo. E isso ficou refletido na falta de inspiração, de leveza, de força vital.
Mas há algo em dezembro que não nos deixa esmorecer, por mais difícil que seja.
Há um ímpeto qualquer de esperança que nos impede de parar. Porque a vida é isso mesmo: altos e baixos, dias de sol, dias nublados. 
E seguimos em busca do arco-íris quando cessa a chuva; da aurora, depois da noite escura.
O importante é não se perder do caminho. 
E tentar encontrar beleza em meio aos espinhos.
E hoje, especialmente hoje, foi um dia bonito.

sábado, 21 de dezembro de 2019

E agradecer. Hoje só agradecer. Por Milton, Lô, Chico, Gal, Caetano, Gil, Bethânia, Rita, Ney, Moraes, Alceu, Zé, Geraldo, Pepeu, Baby, Oswaldo, Marina, Adriana, Marisa, Cássia, Zélia, Nando, Arnaldo, Renato, Frejat, Cazuza, Rodrigo, Marcelo, Mallu, Pethit.

É um privilégio estar viva e entender a língua  mais bonita. 


quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Estranho encerrar esse ano tendo escrito tão pouco. Sinto como se eu tivesse perdido parte da minha essência, já que a escrita sempre me foi vital. Não sei se é pior o silêncio ou a falta de reconhecimento com quem eu era há 10 anos. Tenho medo de ter perdido o jeito, de ter endurecido tanto a ponto de afastar de mim as palavras.
É até difícil acreditar que um dia já escrevi com tanta fluidez. Bastava o sentimento, um olhar mais atento, bastava a paisagem. E lá vinham elas, de mãos dadas. Hoje sobra silêncio, falta coragem. 
E entre abismos e vazios, calei meu grito. 
Só agora, em meio à escassez, me dei conta de como era bonito.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019





São Paulo ainda não me abraça. E eu que achava que estar no norte era se distanciar do que eu chamava lar. A cidade se apresentou pra mim toda iluminada, sol flamejante e céu azul num dia limpo. O trânsito fluía. Acho até que esbocei um sorriso. Mas aí veio o aperto no peito, a secura na boca, a taquicardia. Prestes a dormir, acordava em sobressalto, um ímpeto de quem está na iminência de ir. Mas eu tinha acabado de chegar.
Depois a neblina tomou lugar. A tarde sem cor, a chuva fina, a minha pele desacostumada do frio, meus pêlos eriçados, arrepios. Nada pra aquecer, nem Caio F.,  nem vinho tinto: a sós, eu comigo, agasalhada, mas sem abrigo.
E me lembro de uma música que nunca ouvi. Talvez não exista amor em São Paulo. O que sinto é um descompasso, parece que o coração tá no ritmo errado, correndo aos trancos, insistindo em bater aos solavancos.
Nada grave. Olho pela janela na busca de algum pedaço de beleza e tudo ao redor é concreto. A cidade é demasiadamente cinza.
Há barulho em excesso quando é silêncio o que peço.
A paisagem escancara o que sinto.
(28/11/19)

*

"E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso." (Caetano Veloso)


Reli o texto algumas vezes e fiquei em dúvida se deveria publicá-lo. O tom dele é grave, soturno, quase amargo. Mas era o que eu sentia nos primeiros dias. O fato é que eu estava anestesiada. Os hormônios descontrolados, a mudança abrupta de clima, o excesso de intensidade. Foram momentos difíceis. O meu peito precisava de sossego. O coração pedia arrego, tamanho o descompasso. É impossível não pensar nas palavras de Caetano, pois ao cruzar as ruas dessa cidade infinda eu nada entendi. Tudo é novo, insuspeitado. Diferente, intrigante, apressado. Fico feliz de não ter caído na armadilha de Narciso; quebrei o espelho, evitando o meu naufrágio.
Pude me encantar. Não à primeira, nem à segunda vista.
São Paulo exige olhar desacostumado.
É preciso estar atento.
A cidade cinza vibra poesia
E de alguma forma a rima dela encontrou a minha.