domingo, 5 de fevereiro de 2017

Rememorar:
Quantas risadas escancaradas eu dava na companhia dos meus, que embora longe, mantenho dentro? As viagens, as conversas até de madrugada no bar, idas despretensiosas ao cinema, as conversas tão cheias de conteúdo (inclusive inútil). Tais pensamentos me fazem gargalhar (embora não matem a saudade).
Mas não enfeito o passado: ele foi muito pesado. Escrevia compulsivamente, na mesma frequência com que acendia cigarros e abusava de álcool. Fiquei sóbria poucas vezes naquele ano. Mascarava as dores no peito. As angústias, os anseios que atravessavam noites insones quando eu não tinha nada além da solidão para compartilhar. O vazio, os abismos. E o medo. O medo de tomar decisões, de arriscar, de sair do lugar.
E eu me permiti mudar.
Relendo meus textos mais antigos, percebo como deixei muito de quem eu era para trás. A essência é a mesma, mas eu não conseguia me enxergar. Muitas quedas e quebras me colocaram na posição em que estou hoje: tive que (re)aprender a me a(r)mar. E para isso, apurei meu olhar e minha sensibilidade, voltei-me para dentro para tentar me curar. Perdas e danos, certo descompasso entre o sentir e o verbalizar, lágrimas incessantes, palavras prestes a falar tudo aquilo que eu decidi calar...Confesso que demoli alguns muros e construí barreiras no lugar. Para me fortalecer. Para não desmoronar.
Mas hoje, hoje consigo encher meus pulmões de ar e respirar com certa paz.
Hoje eu consigo compreender o binômio "bem-estar".
Minha vida não é perfeita, há um longo percurso a ser trilhado, mas olhando novamente para trás, percebo que as minhas escolhas me moldaram. Não mudaria nada apesar de ter mudado tanto.
É para frente que se anda.
Continuo caminhando.