Certa vez escrevi: " embora haja embriaguez, na minha ressaca agradeço a lucidez."
Há tempos sinto esse sabor ocre na boca, essa dor de cabeça latejante, essa ânsia de colocar algo (não sei bem o quê) para fora a todo instante.
E não preciso beber uma gota de álcool sequer. Olho à minha volta e me sinto tonta, desnorteada, ofegante. Tenho evitado assistir a tv. Tenho evitado ler. Mas por mais que eu me valha da alienação para me proteger, sinto no ar as más energias que me enervam e me sugam a cada dia.
E não preciso beber uma gota de álcool sequer. Olho à minha volta e me sinto tonta, desnorteada, ofegante. Tenho evitado assistir a tv. Tenho evitado ler. Mas por mais que eu me valha da alienação para me proteger, sinto no ar as más energias que me enervam e me sugam a cada dia.
Mas em meio a essa ressaca muito similar ao que se chama política, recebi uma injeção cavalar de glicose assistindo à transmissão do Golden Globe. Lá no fundo eu sabia que de algum modo me salvaria.
Eis que fui presenteada com dois discursos absolutamente viscerais e, sobretudo, sóbrios em meio ao caos em que vivemos. Do meu ponto de vista, Viola Davis e Meryl Streep transformaram palavras em obra de arte; Viola, mostrando sua imensa admiração e gratidão por Meryl, e esta, homenageada da noite, expondo a violência que nos cerca, exaltando a sensibilidade que ainda nos resta.
Meus olhos se encheram d'água porque ouvi, numa língua que não é a minha, tudo aquilo que penso e por cansaço muitas vezes não consigo verbalizar. Senti um sopro de esperança e de inspiração para me manter firme nesse caminho. Por insistir, ainda que com pouca fé, em continuar defendendo tudo aquilo em que acredito.
Porque romper barreiras é necessário, requer árduo aprendizado. Consiste em exercitar o olhar para as singelezas, para compreensão das vicissitudes, para o verdadeiro entendimento de que na vida em sociedade, tolerância e respeito são os valores mais básicos. Os muros físicos são muito pouco comparados àqueles construídos pela falta de empatia, pelo ódio gratuito e pelo preconceito.
Como já dito: " a boca só fala aquilo de que o coração está cheio".
Ainda que eu sinta certa desolação, insisto em crer que a cultura, seja como for, é essencial para transformar vidas.
Quando tudo está difícil, não me conformo. Eu não me anulo. Não me calo.
Eu brigo, eu choro, eu grito.
Eu me obrigo a sentir, afinal.
Eu faço literatura pra isso.
Quando tudo está difícil, não me conformo. Eu não me anulo. Não me calo.
Eu brigo, eu choro, eu grito.
Eu me obrigo a sentir, afinal.
Eu faço literatura pra isso.