Sempre foi difícil sorrir. Enquanto crescia, percebia em mim uma estranheza em mover os lábios e escancarar meus dentes. Achava o sorriso que se desenhava estranho, forçado, às vezes falso. Observavam a seriedade, a languidez que permeava meu olhar: havia um descompasso. Nunca me importei muito com o que pensavam, mas nunca gostei de sorrir nas fotos, isso é fato. A princípio, achei que era uma questão estética (também era), razão pela qual coloquei aparelho dentário.
Resultado: passei a sorrir ainda menos devido ao aparato metálico.
Mesmo depois de ter os dentes alinhados, o sorriso não saía.
Esse texto todo, aparentemente banal e despretensioso, me veio com um pensamento: a gente mostra aquilo que a gente sente. Por mais que se ensaie um sorriso, não dá para forçar um sentimento de alegria, por exemplo.
Ainda há muito fora do lugar. Aos poucos estou fazendo a faxina de rancores e mágoas e deixando o meu jardim de dentro florescer. Eu me sinto mais leve. Quero amadurecer e ser alguém menos dura e crítica, embora seja tarefa difícil. Quero resgatar os sorrisos que eu dei na infância, quando pouco me importava a beleza na imagem estática da tela. Tudo é efêmero. Temos que valorizar as singelezas da vida. Um olhar, um abraço, um sorriso.
Quando estamos em paz com quem somos, sorrir é sempre algo lindo.