Ainda dói. Não retomei essa parte de mim destruída, reduzida a cacos, perdida.
A dor que sinto é por lembrar do que fomos e nem de longe somos hoje em dia. Por mais que eu tente, as marcas estão fortes - tatuagem no peito, angústia pelas fotografias. O mal que foi feito são minhas lembranças mais nítidas. Como é difícil esquecer. Lembro dos textos que eu lia, escuto aquela música e me vem o desespero que me tomou logo em seguida. Faltou o ar. Fiquei atônita, encarando a tela que me mostrava o que eu não queria enxergar. O telefone tocando. Eu escondida no banheiro para que ninguém me visse chorar. A chuva fechando novembro, as gotas caindo pelo meu rosto, meu cabelo emaranhado pelo vento. Eu sempre tentei entender os porquês. Eu sempre tentei me convencer. Eu não conseguia falar sobre nada sem chorar, sem pensar, sem sangrar. Não conseguia me explicar. E aí, pouco tempo depois, a história se repetia. De novo. De novo. De novo. Por egoísmo ou covardia, eu resisti enquanto você me destruía. Hoje me desconheço. Carrego amargura no meu peito. Todos os nós que eu considerava fortes, foram desfeitos. E não há nada que faça mudar.
A gente sempre sabe o quanto pode ferir alguém.
É uma escolha própria machucar.
(Para K.)