Ela andava de calça jeans desbotada, pintava as unhas dos pés e das mãos com esmalte preto. Não usava maquiagem. Cortava seu próprio cabelo. Vivia descalça ou andava por qualquer lugar de chinelo.
Não faz muito tempo.
Carregava na bolsa um exemplar de Lira dos Vinte Anos e se pegava pensando como seria chegar bem ali, em pouco mais de 5 anos. E por não saber, simplesmente aproveitou.
Ela chegou.
Hoje estou aqui, além do meio do caminho, 5 anos adiante. Hoje uso jeans escuro e salto alto, raramente ando descalça, pinto as unhas de vermelho. Quase não uso maquiagem, apenas um corretivo para disfarçar algumas marcas. Pasme, voltei a ter sardas.
Hoje tenho pavor de cabeleireiro, só corto mesmo o comprimento de um dedo.
Quero deixar crescer.
O que me importa hoje em dia não cabe numa bolsa: trago comigo aprendizado, teço novas lembranças, abandono velhos hábitos. Recebo as mudanças de braços escancarados.
Encaro com certo orgulho alguns sulcos deixados pelo tempo. No rosto, no corpo, no peito. Não temo minha cara limpa, meus vazios, meus anseios; meu percurso tortuoso porém honesto. Fiz o melhor assim: do meu jeito.
Meus pés são capazes de trilhar qualquer estrada. Na verdade, não importa o caminho que eu escolher, desde que eu torne memorável a minha jornada.
Cortei o cigarro, as decepções, a carne e as mágoas:
também fiz isso para crescer.