"You tell me it gets better, it gets better in time
You say I'll pull myself together
Pull it together, you'll be fine
Tell me, what the hell do you know?
What do you know?
Tell me how the hell could you know?
How could you know?"
(Diane Warren e Lady Gaga)
Eu não pensava. Aprendi isso com algumas sessões de terapia. Interrompia o processo. E aí, de alguma forma estranha, eu não sentia. Por um breve momento, parava de doer.
Eu tentei. É um esforço diário esquecer, enfrentar o cotidiano de braços abertos, mãos vazias, sem se prender a nada, sem olhar para trás. Eu tentei. Eu tento há mais de vinte anos. Mas tentar não me impede de sofrer. Tentar não desfaz as memórias, não apaga as angústias, o medo, o desespero, a sensação de vazio. A solidão que te toma em meio a tudo. Em meio ao mundo que deveria te proteger.
Já passei pela fase de procurar respostas para as minhas perguntas. Já me responsabilizei e me martirizei por coisas que sequer estavam ao meu alcance. Como fazer uma criança entender? Mesmo tendo passado por tudo o que passei, eu não saberia.
Ainda não sei.
Queria que a vida fosse mais simples e que eu não tivesse que ter batalhado tão duramente para dormir e acordar em paz. Foram muitas as lágrimas, as noites insones, a bebida, o cigarro, o medo. A vontade de matar. Sobretudo de morrer. Não encontrei soluções: tentativas vãs de esquecer.
Me dei conta em meio a um choro contido que não importa o quanto a gente cresça, aquela dor está ali, latente, pronta para doer. Tomou o lugar daquilo tudo que te foi roubado: a inocência, a confiança, a autoestima, a segurança.
Agora faz parte de você.
Sem saber porquê. Sem que se possa compreender.