quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

a.C e d.C (ou o que aprendi com Clarice Lispector)

Foi com Água Viva, em meados de 2006, que mergulhei na poesia íntima de Clarice Lispector. Desconhecia o termo, mas me reconhecia em cada palavra da sua prosa poética. Eu lia Clarice e, como num espelho, me via ali, refletida. Eu lia Clarice e era tragada pela profundidade de sua escrita. E, como acontece quando a gente se apaixona, houve irremediável entrega. Foi amor à primeira linha.
Clarice é única. A sua escrita transcende o papel, rompe as fronteiras das páginas e muda o mundo que habita em você. Tudo passa a ter outro sentido, tudo é denso, caótico, por vezes doloroso, mas sempre verdadeiro. Há quem veja loucura. Eu enxergo a clareza e lucidez que nos tornam inteiros. Clarice cura.
Você não lê Clarice Lispector. Você não interpreta. Você sente, simplesmente. "Ou toca ou não toca".
A literatura de Clarice é catártica, epifânica e crua. Repleta de nós que ora são desfeitos, ora se emaranham em si mesmos. E que nos dão a real dimensão do ser/estar no mundo.

Clarice tece entrelinhas, filosofia e intuição. E ainda assim tudo soa claro, signo e significado. Ler Clarice é testemunhar uma revelação.
A minha rotina mudou sensivelmente após ter sido tocada pela vida nas palavras de Clarice Lispector. O meu olhar sobre a poesia, a paisagem interna, tudo em volta e sobretudo dentro. Abracei a minha inconstância, meus medos, minhas urgências. Porque Clarice nos força a sentir e pensar ainda que a compreensão sobre tudo seja por vezes escassa. Mas estamos vivos.
E a vida é vasta.

Antes eu era. 
Hoje eu estou.
E isso basta.


"O que te escrevo continua. E estou enfeitiçada."


À Clarice, toda a minha inspiração. Cada palavra escrita nos meus dias é dedicada a você. Obrigada pelos sopros de vida, pela aprendizagem, pela paixão.