segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"Tudo é tão pouco para os que sentem demais."

(Pe. Fábio de Melo)

domingo, 19 de outubro de 2014

Virgem e Peixes

Eu nunca soube pedir desculpas e você nunca soube ouvir. Partilhamos o silêncio do que não foi dito, e agora já nem sei mais se era realmente preciso. Nunca fomos de muitas palavras, é verdade. Até que um dia falamos demais, jogamos tanta raiva contida, tanto rancor, tanto, que penso, com certa resignação: a gente falou mais do que deveria. E aí sobrou um vazio dentro de mim pra me fazer companhia e algumas frases que tento elaborar quando estou sozinha " não foi por mal", "já passou", "entendi tudo errado". Penso que às vezes é ilógico se deixar afetar por tantas coisas sem fundamento e que sequer nos diziam respeito. Não é estranho? Conhecer alguém há tanto, tanto tempo e não saber o momento certo de dizer algo. Já nem sei se é necessário. Ou se quero chegar a algum ponto com tudo isso. Lá no fundo eu sei que você ouviu e aceitou meu pedido de desculpas, embora eu nada tenha dito. Eu sei que lá no seu íntimo você riu de tudo isso e achou que já se passou tempo demais desde quê. Porque eu sempre fui louca e você idiota. Uma amizade não dura tanto tempo assim à toa. Mesmo sem dizer as tais palavras, sei que a gente se perdoa.
Vagueio sem destino, sou composta de (des)caminhos. A estrada é meu lugar. Faço de qualquer canto abrigo. A maior riqueza que possuo é a minha vastidão, pois estou em paz comigo. Ela permite que eu cultive em mim o amor livre, os silêncios, os (des)encontros e a solidão. Fico à vontade com as minhas dúvidas e certezas, com essa lua que dentro de mim parece ser sempre cheia. Vivo num estado de inconstância e eterna mutação. Sou um paradoxo sem fim.

Entre as placas de aviso e o desconhecido eu escolho o sim.

 (por que não?)
As algemas ou grilhões não são a pior forma de prisão: tudo o que te impede de ir em frente porque você não está em equilíbrio consigo mesmo é autoflagelo. A maior(e melhor) liberdade está em fazer suas próprias escolhas e não temer suas consequências. A carta de alforria só se dá num estado de paz com o mundo. E em perfeita harmonia com sua consciência. 

Obrigada, Charlie Kaufman

"Everything is more complicated than you think. You only see a tenth of what is true. There are a million little strings attached to every choice you make; you can destroy your life every time you choose. But maybe you won't know for twenty years. And you'll never ever trace it to its source. And you only get one chance to play it out. Just try and figure out your own divorce. And they say there is no fate, but there is: it's what you create. Even though the world goes on for eons and eons, you are here for a fraction of a fraction of a second. Most of your time is spent being dead or not yet born. But while alive, you wait in vain, wasting years, for a phone call or a letter or a look from someone or something to make it all right. And it never comes or it seems to but doesn't really. And so you spend your time in vague regret or vaguer hope for something good to come along. Something to make you feel connected, to make you feel whole, to make you feel loved.
And the truth is I feel so angry, and the truth is I feel so fucking sad, and the truth is I've felt so fucking hurt for so fucking long and for just as long I've been pretending I'm OK, just to get along, just for, I don't know why, maybe because no one wants to hear about my misery, because they have their own. Well, fuck everybody. Amen."

(Synecdoque, New York)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Sempre foi muito difícil para mim tratar da ausência, ainda mais quando ela é tão repentina. E definitiva. Foi e ainda é muito difícil pra mim pensar nisso, talvez eu não seja tão evoluída espiritualmente para entender a dinâmica das coisas aqui  na Terra. A Jô foi embora sem despedidas, e eu não tive chance de agradecer pela inspiração que ela me deu, pelo sopro de vida, mesmo depois da sua morte. Foram muitos os silêncios e as reflexões e as lágrimas, até que eu entendi que esse luto tinha que se transformar em algo bonito, algo que desse algum sentido aos meus dias. Tenho certeza que era isso que ela queria de todos que ficaram aqui: alegria. Porque ela era a felicidade sem fim. Solar, obstinada, livre, extravagante e poética. De uma doçura e carisma incomparáveis. De uma beleza ímpar. 

A compreensão estava distante demais de mim, e eu, que sempre racionalizei tudo, inclusive os meus sentimentos, me recusava a aceitar qualquer explicação. Porque não havia respostas. Tudo se resumia a um aperto no peito forte demais e a um ponto de interrogação.


Foi aí então que eu descobri o blog que ela tinha criado naquele ano. Ler seus pensamentos e anseios me deu coragem de fazer o mesmo. Criei o blog não com o intuito de ser popular ou algo parecido, pelo contrário. Fiz desse lugar uma forma de abrigo, uma fuga desse mundo tão caótico e difícil através das palavras. Eu, que estava completamente perdida, achei meu lugar.

Esse texto é um agradecimento. Hoje ela completaria 25 anos e eu me pego pensando como seria se. Infelizmente não é. Então tento lidar com tudo isso , pois o que posso fazer por mim é viver da melhor maneira possível. Os clichês existem, embora os despreze, mas realmente não sabemos nada  e o tempo passa. O amanhã é apenas uma ilusão.

Jô, você que amou a vida ,  a liberdade e as borboletas, sempre teve um par se asas e foi chamada a voar. Os desígnios são desconhecidos por nós mas estou certa que existe um lugar para pessoas boas e iluminadas. Carrego você comigo sempre. Pela sua vida tão linda e inspiradora serei sempre grata.


Menina, é preciso correr sempre, passar pelos dias, beber aos litros a vida, sem culpa, sem mágoa. Não doi quase nada. Se doer, te garanto, você se cura. Não é impressão sua, a vida é mesmo rara. Não se assuste, sempre que tiver a chance, pule.

Você tem um par de asas.

Bagagem

Quase não sofro e não é por estar acostumada. Já nasci de partida, aprendi muito e tanto com a vida que a minha bagagem não me deixa sobrecarregada. Levo comigo apenas o que me é vital: amor. É o que me basta nessa jornada.


Dispenso o que não é essencial: a dor restou abandonada.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Não me defino com palavras emprestadas.
Não me encaixo em definições alheias.
Abro e fecho minhas próprias aspas:

eu não caibo em frases feitas.