sábado, 22 de março de 2014

Tempo


Atravesso a manhã que mal começou com pressa. Ela está prestes a acabar. Sinto que os ponteiros estão cada vez mais velozes. Eu não caibo nesse dia. Apenas vejo o tempo passar. Há tempos não me olho no espelho. Quando isso acontece, percebo a presença de fios brancos ornando meus cabelos, rugas emoldurando meus olhos. 'Em vez de poetizar a velhice, preciso mesmo parar de fumar'. Penso, num rompante. Sequer consigo saber se pensei realmente ou se disse em voz alta. Preciso escrever. Preciso dormir. Há tempo? Tudo é frágil demais e desaparece conforme a vida segue. A vida abrange todas as pessoas. Eu não pertenço. Sinto aos poucos que estou me perdendo. Estou divagando, preciso correr sem tropeçar nas coisas, sem esbarrar nas pessoas. Minhas pernas parecem mais fracas. Um trago. Sinto que vou desmaiar. A cabeça pesa e os meus membros estão dormentes. Não posso cair. Não posso perder tempo. O que está acontecendo? Estou suando. Minhas mãos tremendo. Desapareço no meio do dia. Não há porque sonhar, afinal. Se há vida bastante em mim, sobra nos ponteiros. Eles me atingem. Abro os olhos: acabou o tempo.