Ainda é permitido falar de amor por aqui? De amor, de qualquer outra coisa que rompa com o cinza dos prédios, com o sopro quente e pouco afável das tardes numa cidade grande. Todos correm. As pessoas se esbarram o tempo inteiro e sequer há contato. Olhos nos olhos, sorrisos, um bom dia mais espontâneo, um obrigado, qualquer coisa daquela lista sobre a qual fomos ensinados quando pequenos.
Parece que na métropole os sinais são sempre vermelhos. E todo mundo, mesmo junto, se sente sozinho.
Ainda se fala de coisas bonitas por aqui? Porque eu ainda me encanto quando vejo um rapaz vendendo algodão doce, quando vejo um casal de mãos dadas esbanjando paixão por aí. Tento me ater a essas doses de poesia que surgem inesperadas nos meus dias. É tanto lixo (literal e metaforicamente), que procuro voltar meus olhos ao que rompa com o cenário, que surpreenda de uma forma positiva. O que eu quero é dançar ao atravessar uma avenida.