Ok, você venceu. Acabei ficando por aqui mesmo, nesse apartamento, portas e janelas fechadas, sem saber direito como reagir, sem saber como pensar, no que pensar. Você não me deu possibilidades. Você simplesmente impôs seu ultimato, seja o que Deus quiser, mas isso, isso eu não quero. Resisto, hesito, tento modificar esse roteiro que você escreveu pra nós dois, você como escritor sabia muito bem que o nosso enredo não teria final feliz. Eu sei disso. E não quero que você apague o que já foi feito. Como eu bem disse, já foi feito. Impossível passar por cima disso como se nós dois fôssemos desprovidos de sentimentos. Porque eu sinto muito ainda. Sinto por conta da parcela de culpa que tive para chegarmos onde estamos. Sinto também, muito, além da dor, você. De todas as maneiras mais impensadas. Penso nas coisas que nós não fizemos juntos, penso nas músicas que fiquei com vergonha de te enviar, dos textos que não lhe remeti. Penso nas nossas viagens adiadas e nos telefonemas que eu, propositadamente, recusava. Eu precisava de espaço. Você sabe como eu sou. Queria estar com alguém que me deixasse a vontade quando eu quisesse estar só comigo. E eu tenho a maior dificuldade de expressar isso, antes me armo, me encho de espinhos, construo barreiras, e, facilmente, me afasto, me mudo para o lugar seguro do não-comprometimento, fico indiferente. E estar indiferente numa relação como a nossa é sinal de perigo.
Solidão compartilhada mata, é o que dizem. Cá estamos, vivos, mas muito feridos. Sinto saudade, agora que o que tínhamos findou, agora que eu tento explicar o que aconteceu, agora que eu tento me perdoar por ter sido tão covarde e egoísta. "Só agora?",você me indaga. Agora. Que perdi você, que caí na real, que percebi a minha burrada. Agora, na minha solidão, sinto a sua falta.
Vou te confessar uma coisa: eu tenho medo. Medo de amar, medo de me entregar, medo de estar num relacionamento, compartilhando minha rotina, meus hábitos, minhas manias e minha intimidade com um outro alguém. Não é estranho uma pessoa que era meramente desconhecida passar a ser tudo na sua vida? Assim, repentinamente?
Estou divagando, eu sei. O fato é que você não me era estranho. Pelo contrário, eu via muito de mim em você, me identifiquei de primeira, assim que você puxou papo no ônibus. Claro que a última edição de "Os Dragões não conhecem o paraíso" foi fundamental para que eu me encantasse. Eu me apaixonei por você. Pelo seu jeito engraçado de falar sobre cultura, como se só você soubesse daquilo. Pelo jeito que você abraça o travesseiro enquanto dorme. Por encher aquela xícara de café e deixá-la em cima dos móveis, de propósito, porque você sabe que eu tenho vontade de te matar quando faz isso. Coisas cotidianas, sabe? Agora olho pra minha mesa e lá está ela, a tal mancha que não consegui limpar.
Apesar de tudo, apesar de todos os apesares que surgiram nessa nossa história, com todos os dramas, e gritos, e lágrimas, até a lágrima final, te garanto, essa mancha vai continuar aqui dentro. Talvez não por muito tempo, talvez pelo tempo suficiente, até que eu compreenda tudo, até que eu chore tudo o que tenha que chorar e tenha forças para seguir em frente. Porque essa mancha é difícil demais de tirar. Não se surpreenda com essas palavras que saem da minha boca agora, depois de tantas babaquices que eu te disse. Elas são as mais honestas que posso te oferecer. Eu tenho a tendência de tentar consertar tudo, mesmo sabendo que o remendo nem de longe se compara à estrutura original. Mas eu tento. Por mim, por você. E, acima de tudo, pelo bom que havia entre a gente. Então, eu sigo, com um bocado de lembranças e com a esperança de que você releve as minhas loucuras, meus receios, e aquelas palavras não-ditas. Não é porque eu não as disse, você sabe...que eu não as sinta. Pra sempre sinto. Então sigo, outra vez. Sozinha, como sempre. Mas, agora, sem você.
Pelo amor de Deus, é a história da minha relação, simplesmente vc acaba comigo. Lindo demais! Chorando aqui!
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