sexta-feira, 22 de maio de 2020

Quanto tempo leva para o filtro da memória enfeitar os dias? Para o hoje se tornar algo tão distante a ponto de virar nostalgia?
Às vezes me pego pensando se algo desses tempos vai se tornar uma lembrança bonita mais pra frente.
Aquele instante em que você fecha os olhos e revive em pensamento algo tão intenso que se materializa no presente.

Quantos momentos assim nós temos? Quantas músicas e paisagens e pessoas parecem estar perfeitamente arranjadas para transformar um fato cotidiano em algo extraordinário?

Guardo a minha lucidez quase inédita, o meu estado de graça ao ver o céu todo estrelado.

Guardo as sensações, o perfume, as palavras. Tudo aquilo que foi intocado.

Tenho vivido à espera
Ansiado pelo que há de vir
Por tudo aquilo que de tão lindo também será eternizado
Na fotografia, na poesia, dentro de mim.

"When your life is so, so dreary
Dream."


terça-feira, 19 de maio de 2020

Parar de viver a vida pela ótica do que poderia ser
E me entregar a esse momento
Se estou preparada para receber o que quero? 
Deixo a cargo do Universo
O que vier eu vou agradecer

segunda-feira, 18 de maio de 2020

No processo de despertar, tudo parece sinal
As perguntas prescindem imediatas respostas
Somos tomados por uma lucidez repentina
Inundados de uma compreensão quase lógica

Tudo acontece no tempo certo
A mudança vem de dentro
Só precisamos estar atentos
E abertos.


domingo, 3 de maio de 2020


"Can you imagine when this race is won
Turn our golden faces into the Sun
Praising our leaders we're getting in tune
The music's played by the mad men."


Chorei ouvindo a música. E em meio à caminhada, prometi que iria aprender a letra pra poder cantar além do refrão.

Tenho feito muitas promessas. Não sei quantas delas se cumprirão.
Troco os dias pelas noites. Me canso da programação da tv, mas não consigo pegar um livro e simplesmente ler. Desinstalei as redes sociais pra estar mais presente. E eu quase não paro de pensar no que passou. Ou no que vem depois. 
O fato é que estou atravessando os dias tentando extrair uma lição do que fica. Tentando melhorar como ser humano e sair dessa mais íntegra.

Tenho sentido medo. Tenho chorado com frequência. Às vezes me sinto culpada quando me pego gargalhando à toa, como se fosse uma ofensa experimentar alguma alegria. Eu não quero esquecer as perdas. Quero vivenciar o luto, mas também sei que não posso me render à tristeza. 

Nesses momentos de convivência intensa comigo mesma, a nostalgia me invade. Rememoro as lembranças mais antigas e pincelo cada uma delas com o verniz mais otimista, porque a vida é um bocado de histórias pra recordar. A gente filtra as lembranças. É um jeito da gente seguir em frente. De se conformar.

Vê, ou estou no ontem ou no amanhã. Deprimida ou ansiosa. O agora quase nunca me consola. 

Um pensamento me ocorre: por que a gente cresce? Por que além de perdermos as roupas que não nos cabem, perdemos um pouco a coragem? Crianças nem entendem a mecânica do tempo. Ele só passa. 
E quando você menos espera, está com quase trinta anos, chorando depois de mais uma noite insone, com pavor do que o mundo se tornou. Você se sente impotente, mas luta pra ter esperança, ser forte, pra tirar de tudo isso algo bom. Mas essa é só mais uma artimanha da vida. 
Amadurecer é comer a fruta proibida. 
A verdade é que eu sinto falta da ilusão. 

"Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever?
Forever young."