São mudanças demais para uma garota (não consigo me enxergar como mulher ainda, quem sabe um dia). Cá estou, numa noite de domingo, encarando uma parede branca e um silêncio que às vezes é rompido pelo barulho da chuva na janela ou por alguma risada que vem do apartamento ao lado. Não vem daqui. Não há porque rir. Não estou triste, só não estou alegre, compreende? Não há motivos. Estou sozinha no meio de gente desconhecida, com vazios não-preenchidos e com a sensação de estar perdida nesse lugar. No meio do caminho. O que estou vivendo não pode ser chamado de crise existencial. Não estou questionando mais nada. Só estou ficando acostumada e de vez em quando me incomodo. Com a rotina de acordar, tomar banho, comer, trabalhar, voltar pra casa, tomar banho, estudar, estudar, estudar e dormir e depois repetir o mesmo ciclo que não tem fim, porque é escolha diária. Em meio ao cotidiano, me pego sentindo saudades, me questiono sobre todos os passos que dei até aqui, tortuosos, certamente, mas que me guiaram à tão almejada independência. Eu só não sabia que seria assim. Porque quando tudo parecia resolvido e bem, cá estou a milhas de distância de quem eu amo, sentindo a ausência de tanta coisa que até bem pouco tempo não fazia diferença. Saudade da minha mãe, das conversas com meu irmão, da presença dos amigos, de ouvir minhas músicas na caixa de som, de ler meus livros deitada no sofá, de dormir com a tv ligada. Coisas simples que eu nunca pensei que sentiria falta.
E sinto. E dói.
Acho que crescer é mais ou menos isso:
Espaços em branco, perguntas sem resposta, nostalgia e vazios.