sexta-feira, 25 de abril de 2008

Amar, verbo intransitivo

Este é um título de um livro de Mário de Andrade.Nunca tive a oportunidade de lê-lo, mas realmente achei uma colocação interessante.Conhecemos o verbo amar como sendo transitivo, ou seja, subentende-se que é necessário um complemento para que a oração faça sentido(penso comigo que amar muitas vezes não faz muito sentido...contudo...).Aprendemos gramática nas escola, mas às vezes, não aprendemos realmente como empregar o amor na nossa vida.Acabamos criando a necessidade de que amor, para ser amor, precisa estar relacionado a uma pessoa, a uma situação, a alguma coisa.O amor tem que estar ligado consigo mesmo.Amar deve ser um verbo que indica estado e não ação.Deve ser uma sensação e não atitude.O amor foi feito para ser sentido e por isso mesmo ser mais do que suficiente para que de alguma forma nos sintamos vivos.
Pensei muito tempo sobre isso e fazendo uma reflexão, amar é e tem que ser verbo intransitivo.Apenas se ama,não importa o que ou quem.Apenas se sente.Pura, completa e docemente.Amar por si só se basta.Amar por si só vale a pena.

E eu amo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Devaneios

Devaneios...Nessa madrugada fria, vento sussurrando em meu ouvido palavras que eu quase nem ouço e me arrepiando por dentro.Mudança de outono para inverno.De quarta para quinta, e já nem lembro em que dia quis rasgar o calendário e me esquecer por um breve instante que estou envelhecendo.Minha memória então perfeita já não é tão certa como antes.Por vezes entro no quarto com algum intuito...Qual?Não mais sei.Meu andar é menos apressado, vez ou outra tropeço em meus passos...Correr para quê?Não quero chegar antes...não quero chegar logo.Tropeço nas palavras,tropeço em meus sentidos.Sinto um vazio gélido no peito.Sinto uma navalha cortar funda e profundamente minha carne para que os instantes de dor sejam aproveitados assim,com deleite.Como se a fina linha de sangue fosse o limite entre prazer e agonia.De certo modo, crescer consiste nesta escolha.E eu não sei.Experimentei-os como um elixir da juventude(não há desejo mais intenso e secreto ).Bebi do prazer para me sentir eterno.Saboreei da angústia para me sentir real.E nada me satisfez pois estou vivo.Estou vivo: sob inconstância.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O bicho


"No hipersupermercado aberto de detritos, ao barulhar de caixotes em pressa de suor, mulheres magras e crianças rápidas catam a maior laranja podre, a mais bela batata refugada, juntam no passeio seu estoque de riquezas, entre risos e gritos."


Não pude me conter em relatar um fato por vezes comum para muitos, banal para tantos outros...Estava voltando de ônibus para casa hoje e observei pela janela várias mulheres e algumas crianças revirando caixotes com restos de legumes e frutas.
Carlos Drummond de Andrade, ao descrever esta cena, me comoveu muito.Mas nada se compara a observá-la.Acima de tudo, olhar de forma crítica e não apenas cômoda ao que acontece ao nosso redor.Talvez perguntemos:'No que isso me afeta?'Uma situação como essa quando não nos causa indignação, significa que algo realmente está errado.E mais, significa que estaremos sempre despreparados para lidar com algo mais amplo e mais direto, como a corrupção e a violência.Brasileiro tem que criticar mais, tem que tomar atitude. E essa atitude não consiste em dar esmola(como vejo sempre por aí...).Consiste em ser cidadão no modo mais arcaico da palavra.Consiste realmente, por mais que pareça clichê, em cumprir deveres e EXIGIR direitos.Só assim não seremos obrigados a ver uma situação tão mísera e triste.Até porque somos humanos. Somos iguais.



O Bicho

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)


terça-feira, 15 de abril de 2008

Do começo

Escrever...
Formar palavras de sentimento
Palavras de sentidos
De dor, devaneios, delícias

Escrever...
Buscar num papel em branco o sagrado
Transformá-lo num relicário
E porque não o melhor divã?